Dois democratas-cristãos e dois
verdes comentam referência do Papa no PE ao cuidado com a fragilidade
Como reagem quatro eurodeputados
aos apelos do Papa Francisco no Parlamento Europeu (PE)? Em Novembro, o Papa
fez um discurso em Estrasburgo que “desafiou os deputados a agir” mas,
“infelizmente, sem grandes consequências”.
Ou talvez não. A opinião pessimista
de Sven Giegold, eurodeputado dos Verdes Alemães, não é inteiramente partilhada
por Alojz Peterle, democrata-cristão e primeiro-ministro esloveno entre
1990-92, quando o país se tornou independente, após o fim da ex-Jugoslávia
comunista.
O discurso do Papa foi ouvido por
muitos deputados que, no seu trabalho parlamentar, procuram colocar os apelos
de Francisco em acto, defendeu Peterle.
Ambos os deputados participaram em
Taizé, esta semana, em debates sobre política e solidariedade, no âmbito do
encontro Por uma Nova Solidariedade.
Num dos debates, juntaram-se a
outros dois membros do Parlamento Europeu (PE): o húngaro Gyorgy Holvenyi,
democrata-cristão, e o belga Philippe Lamberts, dos Verdes.
O tema tomou uma frase do Papa no
discurso de Novembro aos eurodeputados: “Na vossa vocação de parlamentares,
sois chamados também a uma grande missão (...): cuidar da fragilidade, da
fragilidade dos povos e das pessoas.”
Sven Giegold, protestante, disse
que tem procurado fazer da sua fé o fundamento da sua intervenção política. E
foi muito contundente: o Papa desafiou duas vezes os eurodeputados a agir em
diferentes campos. “Sem consequências.”
Ao contrário do que deveria acontecer,
disse, apontando quatro âmbitos como exemplo.
“O Papa falou de opção pelos
pobres. Não é justo, por isso, que os mais ricos não paguem impostos” em vários
domínios. Francisco referiu-se ainda aos migrantes. “Muitos imigrantes vêm para
a Europa e continua a haver mortes e violências sobre eles. Não houve mudanças
neste âmbito.”
Também para com a questão da
dívida este eurodeputado é crítico: “A Bíblia mostra que não se deve matar
ninguém economicamente por causa de dívidas. Era esse o espírito do ano jubilar
na Bíblia.”
Finalmente, sobre a democracia: “O
Papa apelou a que houvesse mais democracia. Enquanto protestante, eu sugeria
que ele deveria começar por conseguir isso na sua Igreja. Mas é verdade: há
muita burocracia e pouca democracia na União Europeia.”
Alojz Peterle, que enquanto
primeiro-ministro liderou a transição da Eslovénia para a democracia, pensa que
“os problemas que hoje se vivem na Europa têm a ver com a mesma falta de
respeito pela dignidade humana que se vivia na ex-Jugoslávia”.
Peterle deu o exemplo da guerra
entre a Rússia e a Ucrânia, “duas nações cristãs e eslavas”. E perguntou, sobre
os imigrantes: “A solidariedade deve ser só distribuir recursos ou algo mais?”
Da mesma área política democrata-cristã,
o húngaro Gyorgy Holvenyi destacou a “capacidade” do Papa em “ligar crentes e
não-crentes”. Até porque não se pode pensar “numa única via” para resolver os
problemas, disse.
“Na Europa, temos tudo”, mas há
também problemas graves como a solidão, a pobreza, o desemprego, referiu.
Philippe Lamberts, deputado belga
pelos Verdes, disse que “a política que temos tido” desde o início da crise, em
2008, “agravou a pobreza e a exclusão social”
“Cada pessoa, e não apenas os deputados
do PE, é chamada a uma grande missão, que é cuidar da criação”, acrescentou.
O eurodeputado dos Verdes belgas referiu-se
ainda ao que se passou com o acordo da União Europeia com a Grécia:
“Basicamente, estamos a suspender a democracia num Estado-membro, impondo um
sistema colonial. O mercado passou a ser visto como um deus e o direito ao
lucro está acima de todos os outros: direitos sociais, justiça e democracia.”
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