Padre José Ornelas Carvalho
(foto reproduzida daqui)
O padre José Ornelas
Carvalho, superior-geral dos Padres Dehonianos até Junho deste ano, foi nomeado
nesta segunda-feira como novo bispo de Setúbal.
Preparava-se, depois
de deixar o cargo que ocupou desde 2003, para ser missionário em Angola. “Queres
ir em missão, a tua missão vai ser em Setúbal”, disse-lhe o Papa, segundo
contou o próprio à Ecclesia, depois de ter sido convocado para um encontro
pessoal, no qual lhe pediu para aceitar o cargo de bispo de Setúbal.
Biblista de formação, José
Ornelas já antes se vira de voltas trocadas, como contava, há cinco anos, num
curto perfil que escrevi no Público (1 de Maio de 2010) e no qual falava também
da sua relação com a cidade de Roma. Reproduz-se a seguir esse texto:
Mãos na Bíblia e o espanto no Panteão
O padre José Ornelas
Carvalho, nascido em 1954 em Porto da Cruz (Madeira), gosta de Roma, do
cruzamento de civilizações e movimentos de todo o género que aqui se vê. A
cidade é "fácil de viver, é internacional, multicolor, mesmo dentro da
Igreja". Mas também tem dificuldades: “Por exemplo, a impressão de 'nadar'
em água benta.”
Numa das suas
primeiras visitas como superior-geral dos Padres do Sagrado Coração de Jesus,
ou dehonianos (do nome do fundador, no século XIX, o francês Léon Dehon), José
Ornelas esteve no Congo. Foi no pós-guerra civil e nada fácil: apanhou tifo e malária
ao mesmo tempo, sentiu “o sofrimento e a dificuldade de poder ajudar”.
Teve de “aceitar que
não se pode fazer tudo”, vendo a fome e a miséria. “É uma realidade dramática
onde se toca o mais doloroso da humanidade.” Padre desde 1981, José Ornelas
decidira ser missionário. Ainda viu as revoltas dos musseques em Luanda, viveu a
independência de Moçambique (“Vi depois o descalabro do sonho, os campos de
concentração, as nacionalizações...”), acabando em Roma, em 1976, para se
doutorar em Bíblia.
A “grande mudança” na
sua vida foi, em 2003, a eleição para superior da congregação. “Tinha dito que
não voltaria cá...” A formação bíblica levava-o a querer “sujar as mãos com a
realidade de cada dia e a querer que o sonho inspire a vida”. A Bíblia, a sua “raiz”,
não é “um livro escrito no passado, é um confronto da alma humana com Deus.”
Como superior da congregação, vê o “perigo” de se viver a vida religiosa com
mesa posta e sem problemas.
“Temos de mudar. Um
dos grandes temas da vida religiosa é a comunhão. As comunidades nunca serão
perfeitas, mas temos de fazer da vida comunitária o centro do nosso estilo de
vida.” Uma das experiências positivas que viu, nas visitas às comunidades
dehonianas (metade do tempo como superior é para essa tarefa) foi a das
comunidades terapêuticas para toxicodependentes no Brasil. Envolvem religiosos
e leigos, ideia que sempre o acompanhou.
Roma, de novo. O pouco
tempo livre é para ler. Quando vem alguém amigo, mostra o obrigatório:
Vaticano, Coliseu, Fórum Romano, Capitólio, Ostia, os Colli Romani (os montes à
volta de Roma)... Mas reconhece: “Gosto do espaço livre e da amplitude da
Basílica de São Paulo. E olho sempre espantadíssimo para o Panteão, para deixar
a emoção estética dominar-me.”
Texto anterior neste blogue:
As mulheres nas religiões; a política, a ecologia e Taizé na voz do Papa - crónicas de Anselmo Borges e Fernando Calado Rodrigues
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