O Papa Francisco à chegada ao
Chile (foto reproduzida daqui)
O Papa Francisco já está no Chile
desde ontem para uma viagem que o levará também, entre quinta-feira e Domingo,
ao Peru. Uma viagem que o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin,
considerou que seria difícil, ao mesmo tempo, emocionante.
No ReligionDigital, José Manuel
Vidal comentou os temas espinhosos para estes dias de regresso de Bergoglio à
América Latina: no Chile, houve protestos violentos contra os custos da visita
(cerca de seis milhões de dólares), mas o Papa terá de enfrentar questões como
os abusos sexuais cometidos por membros do clero, a situação dos índios
mapuches, a perda de credibilidade da Igreja, além do crescimento económico que
está a gerar graves desigualdades e a
questão política do acesso da Bolívia ao mar; no Peru, será de novo a questão
dos abusos, dos indígenas e, ainda, de uma Igreja cuja liderança está partida
em dois, com um sector claramente do lado das reformas desejadas pelo Papa e o
outro a querer prosseguir uma linha de conluio com os poderes político e
económico; ao mesmo tempo, o país vive dias de agitação política, depois do
perdão presidencial ao antigo Presidente Fujimori. (O texto de Vidal, que
sugere alguns gestos que o Papa pode protagonizar durante estes dias, pode ser
lido, na íntegra, aqui em castelhano.)
No seu primeiro discurso, o Papa
referiu-se precisamente à questão dos abusos (dos quais pediu perdão) e à “sabedoria dos povos indígenas”. Depois, Francisco foi rezar junto do túmulo de Enrique Alvear, que ficou conhecido como “bispo dos pobres” e
morreu em 29 de Abril de 1982, com 66 anos - um dos gestos que Vidal escreve, no seu texto, que ele poderia protagonizar.
Precisamente no Peru, onde o Papa
chega na quinta-feira, o Vaticano nomeou, na semana passada, um bispo colombiano para
liderar uma importante organização católica, que tem alguns dos seus responsáveis acusados
de abusos.
Esta viagem surge num contexto em
que aumenta claramente a oposição interna ao Papa, no interior da Igreja
Católica. Um dos últimos episódios foram as acusações dirigidas ao cardeal
Oscar Maradiaga, coordenador do C-9, o grupo de cardeais conselheiros do Papa e
um dos homens mais próximos de Francisco. Em causa estariam casos de utilização
de fundos indevidos e uma investigação a um bispo auxiliar de Maradiaga – que,
no entanto, terá sido ordenada pelo próprio cardeal.
O próprio Papa telefonou ao
cardeal, depois de surgidas as notícias, afirmando a sua solidariedade e
manifestando a sua dor com o que estaria a ser feito, como Maradiaga contou numa entrevista.
Este é o mesmo Papa que, no
entanto, inspira muitas coisas, em muitas pessoas – cristãs ou não-cristãs,
crentes ou não-crentes – como escrevia, há duas semanas, Alexandra Lucas Coelho:
“Não é pouco que muitos milhões de cristãos no mundo tenham
em Francisco a sua referência de carne-e-osso. Não é pouco o que ele inspira em
não-cristãos, talvez especialmente não-crentes. Talvez Francisco ainda venha a
ser a pessoa que fará da Igreja Católica uma instituição menos injusta, mais à
altura do papa que hoje tem. E como nessa nova imaginação sonhada por ele
fariam diferença contra-poderes assim à frente de outras crenças. Diferença
política, para todos nós.” (O texto integral pode ser lido aqui)
(Uma síntese do que tem sido a oposição
declarada ao Papa foi publicada no Guardian e traduzida pelo Público, aqui; um dos capítulos do livro Papa Francisco - A Revolução Imparável, que publiquei com Joaquim Franco, desenvolve também este tema.)
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