terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Papa Francisco no Chile e Peru: uma viagem difícil mas emocionante





O Papa Francisco à chegada ao Chile (foto reproduzida daqui)

O Papa Francisco já está no Chile desde ontem para uma viagem que o levará também, entre quinta-feira e Domingo, ao Peru. Uma viagem que o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, considerou que seria difícil, ao mesmo tempo, emocionante
No ReligionDigital, José Manuel Vidal comentou os temas espinhosos para estes dias de regresso de Bergoglio à América Latina: no Chile, houve protestos violentos contra os custos da visita (cerca de seis milhões de dólares), mas o Papa terá de enfrentar questões como os abusos sexuais cometidos por membros do clero, a situação dos índios mapuches, a perda de credibilidade da Igreja, além do crescimento económico que está a gerar  graves desigualdades e a questão política do acesso da Bolívia ao mar; no Peru, será de novo a questão dos abusos, dos indígenas e, ainda, de uma Igreja cuja liderança está partida em dois, com um sector claramente do lado das reformas desejadas pelo Papa e o outro a querer prosseguir uma linha de conluio com os poderes político e económico; ao mesmo tempo, o país vive dias de agitação política, depois do perdão presidencial ao antigo Presidente Fujimori. (O texto de Vidal, que sugere alguns gestos que o Papa pode protagonizar durante estes dias, pode ser lido, na íntegra, aqui em castelhano.)
No seu primeiro discurso, o Papa referiu-se precisamente à questão dos abusos (dos quais pediu perdão) e à sabedoria dos povos indígenas. Depois, Francisco foi rezar junto do túmulo de Enrique Alvear, que ficou conhecido como “bispo dos pobres” e morreu em 29 de Abril de 1982, com 66 anos - um dos gestos que Vidal escreve, no seu texto, que ele poderia protagonizar.
Precisamente no Peru, onde o Papa chega na quinta-feira, o Vaticano nomeou, na semana passada, um bispo colombiano para liderar uma importante organização católica, que tem alguns dos seus responsáveis acusados de abusos.
Esta viagem surge num contexto em que aumenta claramente a oposição interna ao Papa, no interior da Igreja Católica. Um dos últimos episódios foram as acusações dirigidas ao cardeal Oscar Maradiaga, coordenador do C-9, o grupo de cardeais conselheiros do Papa e um dos homens mais próximos de Francisco. Em causa estariam casos de utilização de fundos indevidos e uma investigação a um bispo auxiliar de Maradiaga – que, no entanto, terá sido ordenada pelo próprio cardeal.
O próprio Papa telefonou ao cardeal, depois de surgidas as notícias, afirmando a sua solidariedade e manifestando a sua dor com o que estaria a ser feito, como Maradiaga contou numa entrevista.
Este é o mesmo Papa que, no entanto, inspira muitas coisas, em muitas pessoas – cristãs ou não-cristãs, crentes ou não-crentes – como escrevia, há duas semanas, Alexandra Lucas Coelho: “Não é pouco que muitos milhões de cristãos no mundo tenham em Francisco a sua referência de carne-e-osso. Não é pouco o que ele inspira em não-cristãos, talvez especialmente não-crentes. Talvez Francisco ainda venha a ser a pessoa que fará da Igreja Católica uma instituição menos injusta, mais à altura do papa que hoje tem. E como nessa nova imaginação sonhada por ele fariam diferença contra-poderes assim à frente de outras crenças. Diferença política, para todos nós.” (O texto integral pode ser lido aqui)

(Uma síntese do que tem sido a oposição declarada ao Papa foi publicada no Guardian e traduzida pelo Público, aqui; um dos capítulos do livro Papa Francisco - A Revolução Imparável, que publiquei com Joaquim Franco, desenvolve também este tema.)


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