segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Mulheres na Igreja Católica: elas não existem só para obedecer (e algumas trapalhadas)






 Picasso, Tête de femme (imagem reproduzida daqui)

A historiadora italiana Lucetta Scaraffia escreve que, em todos os papéis de colaboração das mulheres com a instituição eclesiástica, elas são leigas “e precisamente por isso representam o coração do problema”. Num artigo cuja tradução portuguesa foi publicada na página da Pastoral da Cultura, a consultora de L’Osservatore Romano, jornal da Santa Sé, observa:

Quando se fala de colaboração com os leigos, na vida da Igreja, fala-se sobretudo de mulheres. São elas, com efeito, em grandíssima maioria, a desenvolver tarefas de ajuda e assistência ao clero, dos trabalhos domésticos ao catecismo. E ainda para mais é só como leigas que as mulheres se relacionam com a instituição eclesiástica. Nunca tinha pensado nisso, mas quando, no fim do Sínodo sobre a família, me pediram para tomar lugar na fotografia de recordação com o papa – os leigos no Sínodo –, vi junto a mim as poucas religiosas convidadas. Perante o meu espanto, recordaram-me que elas também são leigas.
As mulheres, portanto, em todo o papel de colaboração com a instituição eclesiástica, são leigas, e precisamente por isso representam o coração do problema. Ou seja, é a relação com elas que define – tirando poucas exceções – a relação entre o clero e os leigos. É precisamente daqui que deriva a fragilidade da sua presença na comunidade católica? Este é um problema que não é desacertado colocar-se: só enfrentando a questão da colaboração com as mulheres, efetivamente, é possível sair do modelo paternalista, e quase sempre sufocante, ainda prevalecente na Igreja.
(a tradução do texto pode ser lida aqui)

Nas suas duas últimas crónicas no Público, frei Bento Domingues também regressou ao tema, com o título As trapalhadas com as mulheres na Igreja. No primeiro deles, escrevia:

Como nem todos os homens querem ser padres, também nem todas as mulheres querem ser ordenadas. O que está em causa é uma outra interrogação: que deficiência haverá nas mulheres para que não possam ser chamadas à ordenação presbiteral ou episcopal para servirem, com a sua sensibilidade, as comunidades cristãs, para as colocar ao serviço da sociedade?
(artigo disponível na íntegra aqui)

No segundo texto, acrescentava:
Em nome de uma disciplina canónica inadequada, estamos a deixar as paróquias, os grupos e os movimentos católicos à deriva. Insiste-se na celebração da Eucaristia como o sacramento dos sacramentos. Com toda a razão. As comunidades de baptizados têm direito a participar na sua celebração. De facto, arranjam-se cenários para as impedirem. O pretexto é sempre o mesmo: não há padres. Se não há, façam-nos. Não faltam candidatos e candidatas preparados, ou que podem ser preparados, com desejo de receberem esse ministério. Mas não nos moldes actuais. O modelo presente já não pode ser o único. Sem imaginação, sem vontade de alimentar e dinamizar as comunidades católicas, as lideranças da Igreja só se podem queixar de si mesmas.
(artigo disponível na íntegra aqui)

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