Timothy Radcliffe (foto reproduzida daqui)
Muitas vezes,
infelizmente, a Igreja mostrou ter medo de “escutar aqueles que têm visões
diferentes” mas, no coração do cristianismo, “está o prazer da diferença”: “A
verdade de Jesus é retratada em quatro Evangelhos. A Bíblia
abraça a diferença entre Antigo e Novo Testamento. Jesus, a maior de todas: entre Deus e a
humanidade. A Igreja só será aceita como mestra se estivermos dispostos a
aprender com quem tem sabedoria ou verdade para compartilhar.”
As afirmações são do
biblista, teólogo e antigo geral da Ordem dos Dominicanos, frei Timothy
Radcliffe, que acrescenta: “A partir do século XVI, a Europa se
caracterizou por uma crescente cultura do controle. Vemos isso na evolução do
Estado moderno, que supervisiona todos os aspectos das nossas vidas. A Igreja
foi contagiada por isso e contribuiu com essa cultura. O Papa Francisco está
tentando descentralizar. Isso requer abrir mão do controle. Mas crer no
Espírito Santo é sempre um abrir mão do controle, porque não sabemos
antecipadamente aonde seremos levados. Pode assustar, mas também é empolgante!”
Timothy Radcliffe afirma ainda que
é preciso que cada um se sinta “em casa, na Igreja, independentemente do tipo
de relação” com que esteja envolvido: “Jesus comeu e bebeu com todos. Mas uma
boa casa também é desafiadora. Convida você a se tornar mais virtuoso, mais
coerente, mais comprometido, mais honesto. Ao acolher as pessoas, sempre fruto
de histórias complexas, partimos de onde elas estão e de quem elas são. Em vez
de ver os divorciados em segunda união como fracassados, poderíamos
considerá-los como corajosos que não renunciam ao desejo de um compromisso para
sempre. As pessoas gays possuem dons para enriquecer a Igreja e a sociedade.
Todos somos peregrinos em busca do caminho para Deus.”
Nesta entrevista, onde também fala
do Brexit, dos fundamentalismos e da questão dos migrantes e refugiados, Timothy
Radcliffe responde também a uma pergunta sobre a eventual ordenação de
mulheres: “O lugar delas na Igreja é uma das maiores questões a serem
abordadas. Não é tão central a ordenação, mas sim dar às mulheres tanto
autoridade quanto voz. As santas Catarina de Siena, Teresa d’Ávila, Teresa de
Lisieux e muitas outras são grandes teólogas. Ora, como essa autoridade pode
ser inserida nas estruturas da Igreja? Eu espero que haja mulheres diáconos, de
modo que a voz delas seja escutar a partir dos nossos púlpitos. E por que não
uma mulher cardeal, como o cardeal Tobin sugeriu?”
A entrevista, publicada
inicialmente pelo Corriere della Sera,
pode ser lida aqui na sua tradução em português.
(Uma outra entrevista
com Radcliffe tinha sido publicada aqui)
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