terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Timothy Radcliffe: “Escutar, na Igreja, aqueles que têm opiniões diferentes”



Timothy Radcliffe (foto reproduzida daqui)

Muitas vezes, infelizmente, a Igreja mostrou ter medo de “escutar aqueles que têm visões diferentes” mas, no coração do cristianismo, “está o prazer da diferença”: “A verdade de Jesus é retratada em quatro Evangelhos. A Bíblia abraça a diferença entre Antigo e Novo Testamento. Jesus, a maior de todas: entre Deus e a humanidade. A Igreja só será aceita como mestra se estivermos dispostos a aprender com quem tem sabedoria ou verdade para compartilhar.”
As afirmações são do biblista, teólogo e antigo geral da Ordem dos Dominicanos, frei Timothy Radcliffe, que acrescenta: “A partir do século XVI, a Europa se caracterizou por uma crescente cultura do controle. Vemos isso na evolução do Estado moderno, que supervisiona todos os aspectos das nossas vidas. A Igreja foi contagiada por isso e contribuiu com essa cultura. O Papa Francisco está tentando descentralizar. Isso requer abrir mão do controle. Mas crer no Espírito Santo é sempre um abrir mão do controle, porque não sabemos antecipadamente aonde seremos levados. Pode assustar, mas também é empolgante!”
Timothy Radcliffe afirma ainda que é preciso que cada um se sinta “em casa, na Igreja, independentemente do tipo de relação” com que esteja envolvido: “Jesus comeu e bebeu com todos. Mas uma boa casa também é desafiadora. Convida você a se tornar mais virtuoso, mais coerente, mais comprometido, mais honesto. Ao acolher as pessoas, sempre fruto de histórias complexas, partimos de onde elas estão e de quem elas são. Em vez de ver os divorciados em segunda união como fracassados, poderíamos considerá-los como corajosos que não renunciam ao desejo de um compromisso para sempre. As pessoas gays possuem dons para enriquecer a Igreja e a sociedade. Todos somos peregrinos em busca do caminho para Deus.”
Nesta entrevista, onde também fala do Brexit, dos fundamentalismos e da questão dos migrantes e refugiados, Timothy Radcliffe responde também a uma pergunta sobre a eventual ordenação de mulheres: “O lugar delas na Igreja é uma das maiores questões a serem abordadas. Não é tão central a ordenação, mas sim dar às mulheres tanto autoridade quanto voz. As santas Catarina de Siena, Teresa d’Ávila, Teresa de Lisieux e muitas outras são grandes teólogas. Ora, como essa autoridade pode ser inserida nas estruturas da Igreja? Eu espero que haja mulheres diáconos, de modo que a voz delas seja escutar a partir dos nossos púlpitos. E por que não uma mulher cardeal, como o cardeal Tobin sugeriu?”
A entrevista, publicada inicialmente pelo Corriere della Sera, pode ser lida aqui na sua tradução em português.

(Uma outra entrevista com Radcliffe tinha sido publicada aqui)

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