Manifestação das minorias religiosas no Paquistão a favor da libertação de Asia Bibi
(foto reproduzida daqui)
O enviado especial
da União Europeia (UE) para a promoção da liberdade religiosa, o eslovaco Ján Figel,
afirmou que a UE pode não renovar o acordo comercial com o Paquistão se o Paquistão
não libertar Asia Bibi, a cristã condenada à morte por blasfémia, que está na
prisão a aguardar um último recurso na justiça.
A informação,
desenvolvida nesta notícia da AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), tem a ver com o
estatuto privilegiado de que goza aquele país, nas trocas comerciais com a UE,
que se traduz na isenção de direitos no acesso ao mercado comunitário.
Se isso se concretizar,
será uma atitude inédita da parte da UE, cujos governos e instâncias
comunitárias se têm limitado, na prática, às declarações inconsequentes de condenação.
Em Setembro de 2011,
a jornalista francesa Anne-Isabel Tollet, que trabalhou durante três anos como
correspondente da France 24 em Islamabad (Paquistão), dizia, numa entrevista que lhe fiz para o Público:
“O que é difícil para os países europeus é que
eles podem dizer o que pensam, mas não podem impor nada. O Paquistão é um país
muito orgulhoso, que tem a bomba nuclear, que deve continuar um parceiro
diplomático importante para evitar que a situação se torne um barril de pólvora
e que haja o risco de atentados através do mundo.”
Foi enquanto
jornalista que Anne-Isabel se interessou pelo caso de Asia Bibi, a mulher
cristã que está presa acusada de “blasfémia” mas que, na realidade, foi detida
em 2009 por ter retirado água de um poço que lhe estava interdito, enquanto
trabalhava no campo. Acusada por mulheres muçulmanas de conspurcar a água que
lhes pertencia, reagiu, defendendo-se a si mesma e à fé cristã que professava e
que as colegas de trabalho puseram em causa. Na entrevista citada, Anne-Isabel
Tollet conta vários pormenores da história de Asia Bibi.
Foi esse facto que
lhe valeu a acusação de blasfémia e a pena de morte, entretanto adiada em
sucessivos avanços e recuos. Asia Bibi não pode ver ninguém, à excepção do marido
(que tem vivido escondido, tal como os filhos do casal) e do advogado. E foi
para contar todo esse caso que Anne-Isabel Tollet escreveu Blasfémia, publicado em Portugal pela Aletheia.
Tragicamente, as
questões de liberdade religiosa (sobretudo quando são cristãos que estão em
causa) continuam a não merecer muita atenção da comunidade internacional,
acantonada à manifestação de preconceitos ideológicos ou político-económicos.
Com poucas excepções, a regra é a do silêncio ou a das declarações
inconsequentes: à esquerda, o carimbo do religioso como sinónimo de
fundamentalismo ou conservador, à direita por causa dos interesses financeiros,
económicos, comerciais e políticos.
Pode ser que, desta
vez, Asia Bibi tenha um mínimo de sorte (se se pode considerar sorte ser
libertada de uma prisão injusta ao fim de nove anos). Mas o calvário continuará
para muitas pessoas que não têm, sequer, quem conheça e divulgue os seus casos.
Sem comentários:
Enviar um comentário