Este disco,
apresentado há um ano num espectáculo em Trancoso e agora editado numa gravação
de estúdio, traz-nos a devoção religiosa
popular e o “ciclo anual da natureza que renasce, se completa nas colheitas e
adormece em cada Inverno, sublimado na Paixão de Jesus Cristo”, como escreve
Domingos Morais no pequeno texto de apresentação do disco.
Mesmo se o tempo
litúrgico da Quaresma está no fim e os cristãos entram, neste Domingo, na sua
Semana Maior (excepção para os cristãos ortodoxos, que neste ano assinalam a
Páscoa a 8 de Abril), estes cantos são intemporais, próprios para este tempo e
para qualquer tempo em que se viva a dor e o sofrimento, a alegria e o júbilo.
Na recolha, que
inclui mesmo três Aleluias, dominam
as Beiras (e, nestas, a Beira Baixa, de onde provem metade das peças) e a
profundidade das vozes e melodias, que nos remetem para o horizonte largo dos
planaltos daquela região do país.
As músicas e os
poemas bebem no mais fundo da tradição popular dessas regiões (e ainda do
Alentejo e do Algarve, de onde provêm três músicas), mas a dupla de intérpretes
recria várias das peças, com as vozes e os instrumentos, revestindo-as de uma
nova intensidade. Isso é visível nas quatro encomendações das almas, mas também
em temas como Com o grande peso da Cruz
ou Martírios do Senhor. Uma bela descoberta,
que pode ser aqui experimentada, escutando Nome de Maria, e também no vídeo a seguir, onde se podem ver e ouvir excertos de algumas músicas do disco,
gravados num espectáculo ao vivo, em Alcains.
(texto redigido a
partir do artigo que será publicado na revista Além-Mar, de Abril 2018)
Cantos da
Quaresma
Intérpretes: César
Prata e Sara Vidal; ed. Sons Vadios
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