Algumas freiras, “ao
serviço de homens da Igreja, levantam-se de madrugada para preparar o
pequeno-almoço e só se deitam depois de o jantar estar servido, a casa
arrumada, as roupas lavadas e engomadas… Para este tipo de ‘serviço’ não existe
um horário preciso e regulamentado, como há para os leigos, e a retribuição é
aleatória, muitas vezes bastante modesta”, diz a irmã Maria, um nome fictício,
num trabalho publicado pela revista Donne
Chiesa Mondo (Mulheres Igreja Mundo),
suplemento mensal de L’Osservatore Romano,
o jornal oficial da Santa Sé. Neste número de Março (que se encontra disponível
aqui, em italiano, num ficheiro pdf), o tema de fundo da
revista é Mulheres e Trabalho.
A reportagem,
publicada na edição da revista desta quinta-feira, dia 1 de Março (e disponível aqui, também em italiano), denuncia o trabalho “gratuito
ou mal pago”, “pouco reconhecido” e que
dá azo a “ambiguidade” ou a “grande injustiça”, de muitas religiosas em
instituições católicas.
A mesma freira
citada refere que muitas religiosas raramente são convidadas a sentar-se nas
mesas que servem: “Um eclesiástico acha que pode ter uma refeição servida por
uma irmã e depois deixá-la a comer sozinha na cozinha, depois de ser servido? É
normal, para um consagrado, ser servido desta forma por uma outra consagrada?” [Resumos da
reportagem podem ser lidos aqui numa notícia da Ecclesia, e também nesta notícia do Público (corrigindo o título da revista, que é italiano
e não inglês) e ainda aqui, na página da Unisinos na internet, em português do Brasil, num texto que dá
mais elementos de contextualização sobre o problema.]
Este trabalho da Donne Chiesa Mondo surge poucos dias
depois de ter sido divulgado um texto em que o Papa manifesta a sua
preocupação com o facto de “na própria Igreja, o papel de serviço a que todo o
cristão é chamado deslize, no caso da mulher, algumas vezes, para papéis que
são mais de servidão do que de verdadeiro serviço”.
No prólogo do livro Diez Cosas que el Papa Francisco Propone a las
Mujeres, Francisco manifesta ainda a sua preocupação pela persistência de “uma
certa mentalidade machista, inclusive nas sociedades mais avançadas, nas quais
se consumam atos de violência contra a mulher”. E critica ainda o facto de as
mulheres serem “objecto de maus-tratos, tráfico e lucro, assim como de
exploração na publicidade e na indústria do consumo e da diversão”.
A obra, que será
editada dia 7 (quarta-feira próxima), pelas Publicações Claretianas, em Madrid
(Espanha), é da autoria de María Teresa Compte Grau, directora do curso de
Doutrina Social da Igreja na Universidade Pontifícia de Salamanca. No livro, a
autora pretende analisar o magistério do Papa Francisco sobre a mulher, bem
como as linhas por ele abertas para conseguir “uma presença mais incisiva” na
Igreja (uma notícia mais desenvolvida sobre este texto do Papa pode ser lida aqui).
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