As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz,
de
Joseph Haydn, é a obra que o Quarteto Lacerda e o actor Luís Miguel Cintra,
como recitante, executarão nesta quarta-feira,
28 de Março, às 19h, no Convento dos Cardaes, em Lisboa. A obra de Haydn
foi composta para as celebrações de Sexta-Feira Santa na Igreja de Santa Cueva,
na cidade de Cádis (sul de Espanha), em 1787.
Na
apresentação do programa, pode ler-se: “Quer na sua versão sinfónica quer
na
sua versão para quarteto de cordas a obra surpreende pela extrema delicadeza
com que vai acompanhando, nos diferentes andamentos, as palavras de Cristo
referidas na Bíblia. Nesta interpretação, o Quarteto Lacerda faz anteceder a
cada um dos andamentos, uma voz de narrador que profere as citações do texto
dos diferentes evangelistas e reintegram a obra no seu contexto religioso e
revelam em Haydn uma surpreendente clareza teológica. O concerto quase adquire
o carácter de uma celebração.”
Para
recriar esse carácter celebrativo (*), a obra será executada por Alexander
Stewart (primeiro violino), Regina Aires (segundo violino), Paul Wakabayashi
(viola) e
Luís André Ferreira (violoncelo), além da recitação de Luís Miguel Cintra,
no Convento dos Cardaes. Construído
entre os séculos XVII e XVIII, o convento
é um complexo notável da arquitectura
e decoração barroca e, como diz a apresentação do programa, “resistiu ao
terramoto, à extinção das Ordens Religiosas em 1833 e, posteriormente, à
expulsão pela República”. Hoje, é a casa onde habitam 38 pessoas deficientes e uma
comunidade religiosa de cinco irmãs dominicanas. “A Igreja é um repositório das
artes decorativas do período barroco português, notável pela talha, pela
pintura, pelos mármores embutidos e por uma considerável colecção de azulejos
holandeses assinados.”
Mas
nem só desta obra de Haydn se faz a arte desta Semana Santa. A Paixão Segundo São Mateus, de Bach, pode
ser vista e ouvida também em Lisboa (Fundação Gulbenkian), entre hoje e quarta-feira; o III Festival de
Música Religiosa, de Guimarães, encerra dia
31 (sábado), com o Requiem, de
João Domingos Bontempo; obras de Bach e Händel serão tocadas no dia 28, na Casa da Música, no Porto; e
Quinta-Feira Santa, dia 29, o CCB acolhe a Sinfónica Portuguesa e o Coro do
Teatro Nacional de São Carlos, que executam o Stabat Mater, de Rossini.
Mais
informações sobre estes programas podem ser lidas aqui (com
a ressalva de que duas das sugestões ali referidas já decorreram no último
fim-de-semana).
* Foi
também com a ideia da recriação que Jordi Savall e o seu Le Concert des Nations
gravaram Septem Verba Christi in Cruce, de Joseph Haydn, na mesma igreja para a
qual ela foi composta. Desse trabalho resultou um DVD, publicado em 2009, com
comentários do escritor José Saramago e do filósofo e teólogo Raimon Panikkar. Essa gravação é histórica, como escreve Richard Edwards no livro
que acompanha o disco: pela primeira vez, uma interpretação da versão original
da obra para orquestra foi filmada no mesmo lugar onde ocorreu a estreia d’As Sete Últimas Palavras, em Cádis. Mais
ainda, a realização tentou recriar o ambiente que terá existido na primeira
execução. A gravação acrescenta também, ao texto musical de Haydn, as reflexões
de Pannikar e Saramago (é interessante ver o Nobel expressar aqui as suas
dúvidas sobre Deus – quando coloca Jesus a perguntar, por exemplo, “Quem sou
eu?”). O DVD inclui ainda imagens da Semana Santa andaluza, intercaladas com
momentos da gravação. Se As Sete Últimas
Palavras já é uma das obras mais intensas sobre a Paixão de Jesus, esta
edição é verdadeiramente um tesouro. A
introdução e os sete andamentos da peça, na execução de Le Concert des Nations
dirigido por Savall, podem ser escutados aqui em
versão de concerto (que não dispensa a audição do DVD).
Ilustração: Crucificação, de José de Ribera (1591-1652), imagem utilizada na capa do DVD de Jordi Savall, reproduzida daqui; o texto sobre o DVD é adaptado do artigo publicado na revista Além-Mar, de Dezembro de 2009.
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