As
igrejas cristãs têm que ser uma voz profética no actual contexto de crise
económica e social, constituindo-se como “espaço de conforto e esperança”, diz o
novo bispo da Igreja Lusitana, que esta quinta-feira, 25, será sagrado na
catedral de São Paulo, em Lisboa (à Rua das Janelas Verdes), em cerimónia que
se realiza a partir das 15h.
Em
entrevista ao RELIGIONLINE, Jorge Pina Cabral diz que o recente Sínodo da Igreja
Lusitana (que integra a Comunhão Anglicana) criticou a “governação sem rosto
humano” que existe actualmente. E que as igrejas cristãs “têm que denunciar
estas políticas neoliberais, de austeridade, que põem em causa a estabilidade
das pessoas, quando as atiram, às centenas de milhar, para o desemprego”.
As
igrejas cristãs deveriam ouvir-se “em conjunto”, acrescenta Jorge Pina Cabral. “A
voz das igrejas será tanto mais reconhecida quanto, em conjunto, forem capazes
de fazer afirmações denunciando políticas que estão a pôr em causa a dignidade
das pessoas e a atirar muitas pessoas para a pobreza.”
Sobre
o anglicanismo, Jorge Pina Cabral diz que ele se caracteriza pela “capacidade
de assumir as diferenças e procurar estabelecer pontes, não desprezando aquilo
que considera que é essencial para a sua missão nos tempos de hoje”. O debate
que hoje se coloca ao anglicanismo “não é propriamente uma questão de
identidade, mas o modo como interiormente se organiza”, acrescenta.
Nascido
do catolicismo, o anglicanismo, caracteriza o novo bispo, é uma “experiência da
universalidade da Igreja, com abertura grande de inclusividade”, que pretende “acolher
muitas pessoas que não se revêem noutras formas de Igreja”. Por isso,
considera, a Igreja Lusitana tem um “espaço próprio”.
O
nascimento do anglicanismo é tradicionalmente relacionado com os divórcios de
Henrique VIII e a sua zanga com o papado. Jorge Pina Cabral diz que ele tem
antes a ver com “a reforma da Igreja” e com a vontade “de assumir uma outra
forma de governo da própria Igreja – mais autónoma, com maior grau de
participação e de democracia”. A grande reforma da Igreja Inglesa, diz, foi a
litúrgica, trazendo o ritual e a Bíblia para o povo.
A
identidade anglicana assenta na fidelidade da Igreja à Bíblia, à vivência
sacramental e à sucessão apostólica, diz Pina Cabral. Mas essa identidade “pode e deve assumir a
natural diversidade que se joga no seio das próprias igrejas – sabemos que a
própria Igreja inglesa tem diversas sensibilidades, mas aprendeu a conviver com
essas sensibilidades”, pois “o anglicanismo caracteriza-se por esta capacidade
de assumir as diferenças e procurar estabelecer pontes, não desprezando aquilo
que considera que é essencial para a sua missão nos tempos de hoje”.
Nesta
entrevista, Jorge Pina Cabral fala ainda de questões como a ordenação de
mulheres ou a homossexualidade, que têm provocado tensões e conflitos também no
interior da Comunhão Anglicana. O novo arcebispo de Cantuária, Justin Welby –
que foi sagrado dia 21 de Março – será “uma pessoa de diálogo e sensibilidade”,
acredita o novo bispo lusitano.
Há
quatro gerações que a família de Jorge Pina Cabral está na Igreja Lusitana. Até
aqui presbítero da Igreja Lusitana, José Jorge Pina Cabral sucede a D. Fernando
Soares (que presidirá à celebração de quinta-feira) na cátedra de bispo da Igreja Lusitana.
Com
46 anos, casado e pai de dois filhos, Pina Cabral tem tido várias
responsabilidades quer na Igreja Lusitana, quer no Conselho Português de Igrejas
Cristãs, quer ainda em iniciativas ecuménicas. Em termos académicos, licenciou-se em Ciências Religiosas na Universidade Católica e tem uma pós-graduação em gestão de
organizações sem fins lucrativos, depois de se ter formado em Educação Física.
Será
o novo cargo de bispo uma prova de esforço?... A resposta está aqui:
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