Exposição
Corpos
e rostos distorcidos, sombras de medo, cabeças de animais, pietás, anjos... A
exposição Os Desastres da Guerra, de
Graça Morais, parte de fotografias retiradas de jornais relativas a conflitos,
actos de violência, tragédias e guerra. Para mostrar um quadro que, na
expressão da própria pintora, fala da “fuga do caos e do abismo”. Explica ela:
“São milhões de seres humanos que migram em
busca de um futuro melhor. Fugidos de guerras, de genocídios, do terrorismo, de
catástrofes naturais, lutando numa cruzada contra a fome, a doença, as
injustiças sociais e as perseguições políticas.
É através destas pinturas que
faço uma reflexão profunda sobre a resistência de mulheres e homens que
procuram o seu lugar na Terra, lugar no qual recusam a fatalidade do Medo e a
indignidade do Mal.”
Esta
é uma pintura, assim, que nos fala das sombras e da caminhada do medo, mas
também da empatia, da fuga e da resistência. Num dos (excelentes) textos do
catálogo, escreve José Manuel dos Santos: “Estas obras dizem o nosso nome, usam
a nossa língua, olham-nos no nosso olhar. (...) fugimos na sua fuga,
paralisamos no seu medo, sofremos no seu sofrimento.” O autor cita mesmo
Octavio Paz para dar uma dimensão quase religiosa a esta obra: “Tu pintura es el lenzo de Verónica / de ese
Cristo sin rostro / que es el tempo.” Não por acaso, o tema da Pietá é um
dos que se repete neste conjunto.
Estes
quadros de Graça Morais dão, assim – escreve ainda José Manuel dos Santos –
“uma atenção à indiferença, uma proximidade à distância, uma recusa à
aceitação, um juízo de valor ao juízo da realidade”. E João Pinharanda,
comissário da exposição, acrescenta num outro texto que a vontade da pintora
com a sua obra é expulsar as sombras e vencer os “medos dos nossos dias de
chumbo”. Um grito de alma, um grito de arte.
(ilustração: A Caminhada do Medo V, 2011; este texto foi publicado no Mensageiro de Santo António, Abril 2013)
Os Desastres da Guerra
Pintura
de Graça Morais
Fundação
Arpad Szènes-Vieira da Silva
De
Quarta a Domingo, das 10h às 18h (entrada gratuita das 10h às 14h); até 14 de
Abril
Sábado, dia 6 de Abril – debate "E depois
da Guerra?"
15h
– visita à exposição, guiada pela artista
16h
– debate com Adelino Gomes, José Manuel dos Santos, José Tolentino Mendonça,
Luísa Soares de Oliveira e Viriato Soromenho-Marques
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