(Crónica do P.
Vítor Gonçalves, de comentário aos textos da liturgia católica)
"Maria
Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do
sepulcro."
(Evangelho
Segundo S. João 20, 1 - Domingo de Páscoa)
Não
sei bem como tratar-te: irmã, amiga, mulher. Respeitosamente devia tratar-te
por santa mas algumas imagens que fizémos de ti representam-te tão
"Madalena arrependida", ou de olhos postos no alto que, à maneira de
tantos outros santos, quase não pareces ter andado neste mundo. E se foste uma
"mulher do mundo" ou "libertada de sete espíritos", o que
sabemos é que o encontro com Jesus te transformou.
Algumas
vezes foste identificada com a mulher adúltera, com uma prostituta, com Maria
irmã de Marta e de Lázaro, e com tantas Marias do Evangelho. Talvez em ti
houvesse um bocadinho de todas elas e de outras que foram discípulas de Jesus.
Não fizeste parte dos Doze, mas bebeste as mesmas palavras recriadoras e
acompanhaste os gestos luminosos que Jesus ia oferecendo. Estavas também na Ceia?
A que distância fizeste o caminho doloroso para o Calvário? Como amparaste a
mãe de Jesus e ficaste junto à cruz? Que turbilhão de sentimentos, de sonhos
desfeitos, de trevas lhe encheram a alma? Era preciso tanto sofrimento?
Em
muitas pinturas ainda levas o vaso de perfume para ungir o corpo de Jesus. Apressaste
a aurora e nem a escuridão te meteu medo para ires ao sepulcro. Precisavas
tocar o corpo sem vida daquele que fazia reviver tudo, para acreditar que era
verdade e não fora um sonho mau. Quando viste a pedra retirada do sepulcro
pensaste que alguém tinha roubado o corpo de Jesus. E correste contar a Pedro e
a João. Ficaste ainda mais perdida e mais só? Quantas vezes nos sentimos também
assim!
Quando
a rotina e a dureza do coração nos acomodam, e já não procuramos reavivar o
amor. Ficaste por ali, certamente, depois de eles partirem. Choravas quando
alguém te falou. "O jardineiro", pensaste que tinha sido ele a levar
Jesus? E só quanto Jesus disse o teu nome O reconheceste! Porque é um encontro
pessoal e único que Ele quer fazer com cada um. Um encontro e não uma
doutrinação, uma lição de teologia E só aí a alegria verdadeira nos enche. A
mesma alegria que te fará correr de novo para os discípulos a dizer-lhes o que
Jesus te pediu. Reparaste? Pela primeira vez Jesus chamou-lhes, e a nós,
"irmãos". Que palavra espantosa! E que responsabilidade! Como seria
diferente o poder se fosse habitado por mais fraternidade!
Mais
nada sabemos de ti pelos evangelhos. E muitas teorias se fizeram sobre o teu
amor a Jesus. Mas eu vejo-te em tantas mulheres que são como tu, anunciadoras
de Jesus vivo, pelos muitos gestos de coragem, de ousadia, de procura, de
persistência, de justiça, de amor sincero que transformam as trevas em luz.
Obrigado,
santa e irmã, Maria Madalena, por me ensinares a amar Jesus!
(in
Voz da Verdade 31 de Março de 2013; ilustração: Ilda David’, Encontro de Jesus
com Maria Madalena, in Bíblia Ilustrada, vol. VII, ed. Assírio &
Alvim/Círculo de Leitores)
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