O
Papa Francisco, que leva mês e meio de pontificado, é alguém capaz de
uma “liderança real”, disse o padre Miguel Yanez, jesuíta como Jorge Mario Bergoglio. Num debate realizado há dias em Roma, Yanez contou que, na década de 1970, quando Bergoglio foi
provincial dos jesuítas argentinos, com 33 anos, o actual Papa concebeu um
modelo de formação muito próximo da cultura das pessoas, que era também
alimentado pela história e pela literatura.
“Se
a teologia [de Bergoglio] não era uma ‘teologia da libertação’, era uma ‘teologia do povo’, que tinha também em conta todos os aspectos da religião
popular e mariana”, afirmou. E era esse “contacto com as pessoas normais” que
levava o então padre Jorge Mario a alimentar o tipo de formação que ele
pretendia para os jovens que queriam ser jesuítas.
Miguel
Yanez contou, na mesma sessão, que, já cardeal, Bergoglio foi um dia almoçar ao
seminário. Convidado pelo reitor a falar aos seminaristas, no final da
refeição, disse-lhes simplesmente: “Vamos lavar a louça”. E foi ele mesmo dar o
exemplo.
No
La Croix podem ser lidos mais pormenores sobre este debate de Roma acerca do
novo Papa.
Outros aspectos podem ser aprofundados também numa
série de reportagens que o National Catholic Reporter tem publicado desde a
Páscoa. Conta John Allen Jr., que esteve na Argentina durante uma semana, que
na terra natal de Bergoglio se diz que, para compreender o novo Papa, tem que
se conhecer as villa miseria, os
bairros degradados da cidade. Foi ali, dizia o padre Juan Isasmendi, que o
actual Papa respirou o “oxigénio” do que ele pretende para a Igreja. A
revolução pastoral de Bergoglio, conta-se no mesmo trabalho, consistiu em
colocar padres a viver e trabalhar nesses bairros, de modo a partilhar a vida
das pessoas que ali vivem.
Essa nova visão pastoral foi reconhecida pela
própria Hebe Pastor de Bonafini, fundadora das Mães da Praça de Maio. Depois
de, durante anos, ter acusado Bergoglio de representar a Igreja oficial que não
se interessava pela sorte dos mais pobres e das vítimas da ditadura, Bonafini
escreveu ao Papa manifestando-lhe espanto pelo trabalho que entretanto
conhecera dele, enquanto arcebispo de Buenos Aires. “Estou surpreendida, depois
de ouvir os meus companheiros a explicar-me o seu compromisso nos bairros
pobres. Não sabia do seu trabalho pastoral.”
Neste segundo texto, John Allen Jr. resume a
personalidade de Bergoglio a partir dos testemunhos que recolheu em Buenos
Aires, como sendo alguém que pretende uma Igreja missionária, a quem sobretudo
se opôs a direita política argentina e que tem uma forte capacidade de
liderança.
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