Crónicas
Na sua
crónica de domingo passado, no Público, que pode ser lida na íntegra aqui, frei Bento
Domingues escreveu sobre O segredo da alegria de João XXIII. E cita o próprio
Angelo Roncalli, no seu Diário Íntimo:
“Desde o dia em que o Senhor me chamou, miserável
como sou, para este grande serviço, já não me sinto pertencer a nada de
particular na vida: família, pátria terrena, nação, orientações particulares em
matéria de estudos, de projectos, por melhores que sejam. Agora, mais do que
nunca, apenas me reconheço como indigno servo dos servos de Deus. O mundo
inteiro constitui a minha família. Este sentido de pertença universal deve dar
vigor e vivacidade ao meu espírito, ao meu coração. (…) Estou, sobretudo, grato
ao Senhor pelo temperamento que me deu, que me preserva de incómodas
inquietações e de desânimos (…) O bom acolhimento à minha pobre pessoa,
imediatamente dispensado e mantido por quantos de mim se aproximam, é sempre
motivo de surpresa.”
Na crónica
Ao encontro da Palavra, o padre Vítor Gonçalves escreve sobre a Santíssima
Trindade, com o título Intimidade:
Quando olhamos o extraordinário ícone de Andrei Rublev,
que representa a Trindade nos três personagens que visitaram Abraão e lhe
prometeram o nascimento de Isaac, sentimos a força desse movimento, e da
intimidade que transmite.
No “sermão da planície” de São Lucas, Jesus diz que “a boca fala da abundância do coração”
(Lc 9, 45). É aquilo que vivemos no íntimo que se faz palavra e comunicação.
Conhecer alguém é entrar na sua intimidade, mas isso só é possível se também o
acolhemos na nossa. E pergunto-me do que falamos em tantas palavras ditas? Nas
palavras da liturgia e do direito eclesiástico, nas palavras dos dogmas e do
perdão, comunicamos a intimidade do amor de Deus que é mistério de atracção? E
como entramos numa intimidade a não ser pela porta estreita da humildade,
deixando de fora títulos, egoísmos e soberbas? Não se conhece de fora o
mistério de Deus: só do interior! Na intimidade.
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