terça-feira, 28 de maio de 2013

A alegria de João XXIII e a Trindade

Crónicas

Na sua crónica de domingo passado, no Público, que pode ser lida na íntegra aqui, frei Bento Domingues escreveu sobre O segredo da alegria de João XXIII. E cita o próprio Angelo Roncalli, no seu Diário Íntimo:

“Desde o dia em que o Senhor me chamou, miserável como sou, para este grande serviço, já não me sinto pertencer a nada de particular na vida: família, pátria terrena, nação, orientações particulares em matéria de estudos, de projectos, por melhores que sejam. Agora, mais do que nunca, apenas me reconheço como indigno servo dos servos de Deus. O mundo inteiro constitui a minha família. Este sentido de pertença universal deve dar vigor e vivacidade ao meu espírito, ao meu coração. (…) Estou, sobretudo, grato ao Senhor pelo temperamento que me deu, que me preserva de incómodas inquietações e de desânimos (…) O bom acolhimento à minha pobre pessoa, imediatamente dispensado e mantido por quantos de mim se aproximam, é sempre motivo de surpresa.”

Na crónica Ao encontro da Palavra, o padre Vítor Gonçalves escreve sobre a Santíssima Trindade, com o título Intimidade:

Quando olhamos o extraordinário ícone de Andrei Rublev, que representa a Trindade nos três personagens que visitaram Abraão e lhe prometeram o nascimento de Isaac, sentimos a força desse movimento, e da intimidade que transmite.

No “sermão da planície” de São Lucas, Jesus diz que “a boca fala da abundância do coração” (Lc 9, 45). É aquilo que vivemos no íntimo que se faz palavra e comunicação. Conhecer alguém é entrar na sua intimidade, mas isso só é possível se também o acolhemos na nossa. E pergunto-me do que falamos em tantas palavras ditas? Nas palavras da liturgia e do direito eclesiástico, nas palavras dos dogmas e do perdão, comunicamos a intimidade do amor de Deus que é mistério de atracção? E como entramos numa intimidade a não ser pela porta estreita da humildade, deixando de fora títulos, egoísmos e soberbas? Não se conhece de fora o mistério de Deus: só do interior! Na intimidade.

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