Crónicas
Na sua crónica no Correio da Manhã de sexta-feira, Calado Rodrigues fala da questão da ordenação de mulheres:
Na sua crónica no Correio da Manhã de sexta-feira, Calado Rodrigues fala da questão da ordenação de mulheres:
"Não se está à espera que, de um momento para
o outro, se permita a ordenação de mulheres– até porque decisões precipitadas
provocam convulsões desnecessárias, como as verificadas na Igreja Anglicana.
Deseja-se, contudo, que a "primavera franciscana" que se vive na
Igreja permita, ao menos, o debate sereno e profícuo desta e de outras
questões."
Sábado,
no DN, Anselmo
Borges falou dos animais humanos e dos outros: Se admitimos a evolução,
não é de estranhar que encontremos já nos chimpanzés, gorilas, bononos,
antecedentes do que caracteriza os humanos. No entanto, com o homem, o salto
foi para uma realidade essencialmente nova. Para lá das notas apontadas e
outras que poderíamos apresentar, como a criação e contemplação da beleza, o
levantamento de edifícios jurídicos para dirimir pleitos, o sorriso e a
sepultura, está o facto de só o homem levar consigo precisamente a questão da
diferença entre ele e os outros animais. Só ele tem deveres para com eles, sem
reciprocidade.
Vítor
Gonçalves continuou a sua série de cartas que tem publicado na Voz da
Verdade, escrevendo desta vez aos apóstolos que olhavam para o céu:
"Ficar a olhar para o céu é ainda uma tentação
nossa. Esperar que Deus resolva aquilo que não queremos olhar de frente, que
exige a nossa conversão e o despojamento de algumas ideias de grandeza que nos
absorvem, é muito comum. Claro que às vezes também nos metemos a tentar mudar
tudo e todos um bocadinho “à bruta”, convencidos que temos a verdade toda e que
fazemos a vontade de Deus. Acabamos sempre por descobrir que deixámos de
escutar o Espírito Santo e de amar aquilo que precisava ser mudado. É o risco
de Jesus nos ter deixado como “manual de instruções” o mandamento do amor e a
presença do Espírito Santo! Lembram-se como Ele gostava de vos devolver as
perguntas que lhe punham, confiado que encontrariam resposta dentro do vosso
coração? Creio que continua a fazer o mesmo connosco."
Domingo,
no Público, frei Bento Domingues, diz, a propósito do país e também da Igreja,
que “Ainda há muito que fazer” – e que “não basta estar sempre a olhar para o céu”:
1. São
sobretudo os portugueses que, actualmente, vivem bem e muito bem que acusam os
outros de terem andado a viver acima das suas possibilidades. Encontrei, por
acaso, um conhecido que já não via há muito tempo, que me exibiu uma estratégia
para acabar com as aldrabices dessa conversa inconsequente e para me convencer
a desistir das minhas homilias dominicais. O importante não é saber quantos
habitantes estão a mais em Portugal, mas como os eliminar sem dor.
Para
ele, a política ou falta de política tornou-se um falatório de ilusionistas.
Portugal, sem batota, nunca terá recursos nem habilidades para manter mais de
três milhões de pessoas. O governo, aliás, sabe que é assim. Segue o caminho
certo e tomou medidas que já começam a dar frutos: os jovens que não emigrarem
e que não tiverem emprego não podem ter filhos. A população, a prazo, será
controlada. Os idosos, privados dos modernos cuidados de saúde, morrem mais
depressa e “o ambiente agradece”.
Para
um pragmático puro e duro, esse caminho é excessivamente demorado para resolver
problemas e pagar dívidas que estão sempre a aumentar. A solução tem de ser
mais rápida e radical.
Hoje,
já é possível controlar os nascimentos e determinar quantos são os desejáveis
do sexo masculino e feminino. Para evitar gastos com a saúde de bebés, só devem
nascer aqueles que mostrarem estar isentos de qualquer doença, real ou
potencial. Aos setenta e cinco anos deve ser imposta a reforma da vida para
todos. Os funerais serão baratos. Esta medida libertará recursos económicos e
financeiros para fins mais produtivos.
Poderíamos,
desta maneira, ser pioneiros na resolução de problemas postos a nível mundial.
Se os sete mil milhões de seres humanos na terra tivessem o nível de vida dos
EUA seriam necessários, pelo menos, mais seis planetas, para satisfazer as suas
necessidades. No período em que a população cresceu 100%, a área cultivável só
aumentou 10%. Assim não dá.
A
solução do referido pragmático não é um atentado à vida humana pois, agora por
agora, a morte é certa. O método proposto apressa o céu aos crentes. Os não
crentes na vida depois da morte são poupados às doenças, aos hospitais e aos
lares que tornam a vida um inferno laico. Os que acreditam na reencarnação só
começam mais depressa a nova experiência de vida. Quem insiste em convicções
humanistas e religiosas, sobretudo as que destacam o valor absoluto da pessoa
humana, criada à imagem de Deus, não se podem queixar, pois a divindade só pode
ver com bons olhos uma solução que evita sofrimentos desnecessários.
Esta
pragmática tão despachada é uma divindade despótica, própria de uma era que não
acredita em milagres de bondade e solidariedade mas, sobretudo, por já ter o
futuro todo previsto e desenhado. Depois de ter transformado o ser humano numa
coisa, sem sentimentos, sem liberdade e sem interrogações, é fácil determinar o
que convém e não convém a essa estranha criatura.
2. Não
nos devemos admirar muito por ainda não termos encontrado boas saídas para os
enigmas da aventura humana. Os casos individuais, apesar da medicina, não levam
muito tempo a resolver. Para a humanidade enquanto tal surgem repetidos
anúncios do fim do mundo.
A
mais antiga narrativa cristã acerca deste tema vem na primeira carta aos
Tessalonicenses. Com a vitória de Cristo sobre a morte, o último inimigo a
vencer, as primeiras gerações cristãs encontraram a boa solução: juntarem-se a
Cristo Ressuscitado o mais depressa possível e entrar no Reino da Alegria. S.
Paulo até organizou o programa dessa viagem definitiva: “Se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou assim também, os que morreram em Jesus, Deus há-de
levá-los em sua companhia. Por isso vos declaramos, segundo a palavra do
Senhor: que os vivos, os que ainda estivermos lá para a Vinda do Senhor, não
passaremos à frente dos que morreram. Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do
Arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; em seguida, nós os vivos que estivermos lá, seremos
arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares. Assim,
estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros, com
estas palavras” (1Ts 4, 13-18).
Paulo,
imprudente, esqueceu-se de marcar a data do arrebatamento. Se o fim estivesse
mesmo a chegar, para quê trabalhar? Na segunda carta, Paulo está a colher os
frutos da sua sementeira, pois há muitos que levam a vida à toa, muito
atarefados a não fazer nada. Não dispõe de argumentos teológicos para
os mover. Torna-se, então, muito pragmático: quem não quer trabalhar,
que também não coma (2 Ts 3, 6-12).
3. Na
celebração deste Domingo, Jesus ressuscitado, antes de se despedir, deixa-nos
algumas recomendações: abandonar a inveterada vontade de poder e mantermo-nos
disponíveis para as aventuras do Espírito de Deus. Há muito que fazer e não
basta estar sempre a olhar para o céu (Lc 24, 46-53; Act 1, 6-11). A história
da Igreja no mundo está aberta, é nosso encargo. Não nos deixou um manual
de instruções do tudo previsto. Os que depois nos arranjaram, não
satisfazem.
(Foto: Francisco Marujo)
(Foto: Francisco Marujo)
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