Maria da Conceição Moita a ser libertada de Caxias,
na noite de 26 de Abril de 1974
Maria da
Conceição Moita era uma das pessoas que estava presa em Caxias no dia 25 de Abril
de 1974. Detida a 6 de Dezembro de 1973, onze meses depois de ter lido, na
Capela do Rato, o manifesto dos cristãos que ali decidiram permanecer em
vigília de oração pela paz, ela recorda, nesta entrevista à Ecclesia, esses tempos da militância por um país livre, bem
como os dias da sua prisão e da libertação.
Na conversa com Paulo Rocha, Conceição
Moita diz que a liberdade reconquistada a 26 de Abril, já noite, “teve um significado pessoal enorme”. Era a saída do
“cativeiro”, pois já tinha passado por sessões de tortura e dias de isolamento.
Mas ela significou também “a libertação do meu país, que tanto desejava” e o
“fim da ditadura e a conquista da palavra ‘liberdade’ que faltava”.
As
encíclicas dos papas João XXIII e Paulo VI tiveram um papel importante na
consciencialização de muitos católicos, recorda ainda Conceição Moita. Esses
documentos “apontavam para a grande importância do desenvolvimento humano, da
democracia e da vivência em liberdade, o que era incompatível com o que
acontecia em Portugal” e com a guerra nas colónias, diz.
“Houve pessoas
e marcos de referência. Mas a tomada de consciência da situação em que se vivia
aconteceu em grupo. Aí debatíamos e combinávamos como ajudar outros cristãos a
tomar consciência destas realidades, concertávamos estratégias para ações
concretas”, recorda. “E estas ações foram cada vez mais importantes à medida
que nos aproximávamos do 25 de abril. Aumentava o número de participantes, de
vários quadrantes e com várias sensibilidades políticas que tomavam medidas
quer pessoais quer em grupo para dar volta à situação”, aponta ainda, como
também se conta no texto Histórias do catolicismo militante que salvou a Igreja.
Conceição
Moita lembra ainda o papel que tiveram publicações como O Tempo e o Modo, liderado por Alçada Baptista e um grupo de “intelectuais
que abriram um grande clarão na Igreja ‘cinzenta’ a que estávamos habituados”;
bem como o Direito à Informação,
publicação clandestina que era escrita à máquina por três mulheres; os Cadernos
Gedoc, em que cada número tinha um título com um nome da Bíblia; e o Boletim Anti-Colonial, com um papel
fundamental “na divulgação do que se passava nos palcos de guerra”; ou o
trabalho de padres como Felicidade Alves e Alberto Neto, cujas homilias eram
escutadas por agentes da PIDE.
A
história da luta de muitos católicos e da prisão que vários deles tiveram de
sofrer está contada também em pormenor no livro Os Últimos Presos do Estado Novo – Tortura e Desespero em Vésperas do 25 de Abril, de
Joana Pereira Bastos. Além do testemunho de Conceição, o livro inclui o relato
e as histórias do seu irmão Luís Moita, que tinha sido padre, e de Nuno
Teotónio Pereira, arquitecto e dinamizador de vários grupos e movimentos de
oposição católica ao regime.
Luís
Moita recorda como a frequência da Universidade Pontifícia Gregoriana mudou as
perspectivas da sua vida e como viu uma manifestação de trabalhadores em que a
polícia abri caminho aos manifestantes em vez de lhes bater.
Com
Nuno Teotónio Pereira, Luís Moita começou a fazer o BAC, depois do Direito à Informação.
Foi esse um dos factores que levou os dois amigos às prisão. Presos ambos no
final de Novembro, foram ambos sujeitos a torturas violentíssimas, tal como
sucederia dias depois com Conceição Moita. Uma situação que lhe deu a ela a
percepção de uma “fragilidade extrema” e a ter noção dos limites do seu corpo e
da sua consciência. Tal como Luís, que se sentiu “humano e frágil” depois dessa
experiência-limite.
Essas
histórias de militância são também recordadas no trabalho de Ricardo Perna com o título O “dedo” católico no 25 de Abril, publicado
no último número da Família Cristã, que a seguir fica reproduzido em pdf (para ler, clicar em cima de cada imagem):
Próximo texto, dia 21 de Abril
Tribuna Livre - o 25 de Abril dos padres
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