João Paulo II, visto pela artista polaca Anna Gulak
Em
dia de duas importantes canonizações na Igreja Católica, será importante
reflectir sobre os santos não canonizados e os que seriam incanonizáveis – essa
é a proposta de frei Bento Domingues, num curto texto proposto no blogue do
movimento Nós Somos Igreja (NSI). Escreve ele: “Seria bom habituarmo-nos a não
medir a misericórdia de Deus pelas leis que fabricamos na Igreja ou fora dela.
O beatério não é o melhor juiz para avaliar os misteriosos desígnios de Deus.”
O
texto integral pode ser lido aqui.
Precisamente
o NSI critica, em comunicado disponível para já em inglês, o processo de
canonização de João Paulo II. “Todo o sistema das canonizações é questionável e
a sua democratização é essencial”, propõe o movimento, que sugere reformas na
governação, transparência e prestação de contas tal como já iniciadas pelo papa
Francisco. A santidade deve ser um apelo e uma vocação universal de todos os
crentes, como sugere a constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium (11).
O
texto refere ainda o papel do Papa João Paulo II na questão dos abusos sexuais
de membros do clero, nomeadamente do padre Maciel, fundador dos Legionários de
Cristo, bem como na simplificação dos processos de canonização, que fez com que
tenha acabado a verificação de eventuais contra-indicações para verificar a
vida de alguém que pode ser canonizado.
Para
o NSI não estão em causa as qualidades humanas e santas de João XXIII ou João
Paulo II, mas a forma como estes processos são organizados. O texto pode ser
lido aqui em inglês.
No
La Croix, há um extenso dossiê sobre
as canonizações que este domingo decorrem em Roma. Com João XXIII (1958-63), o
Papa Francisco como que “canoniza” o Concílio Vaticano II; e com João Paulo II
(1978-2005), que protagonizou um dos mais longos pontificados da história,
consagra “uma personalidade fora do comum, com a qual se identifica uma geração
de católicos.
O dossiê pode ser consultado aqui.
Nele
são incluídos perfis biográficos de João XXIII que, considerado no início como
um Papa de transição, surpreendeu tudo e todos ao convocar o Vaticano II e
acabou por ter um pontificado curto, mas visionário.
João Paulo II é, para
muitos, um Papa grande, mas o seu pontificado não ficou isento de sombras como
recorda o respectivo perfil biográfico preparado pelo mesmo jornal. Viajante
incansável, opositor firme do comunismo no leste europeu – para cuja queda
acabou por contribuir –, deu ao papado uma nova dimensão mas foi incapaz de
renovar a Cúria, dela ficando prisioneiro, analisa o La Croix. E terá sido essa uma das razões para que a sua acção em
relação aos abusos sexuais de membros do clero não tenha tido a eficácia
pretendida – nomeadamente em relação ao fundador dos Legionários de Cristo
(sobre a questão da pedofilia, o porta-voz de João Paulo II, Joaquin Navarro
Valls, disse esta semana em Roma que o Papa não entendeu a gravidade do assunto
desde o início, mas que, quando isso aconteceu, começou logo a tomar decisões, como noticia a Ecclesia).
Preocupado com a coesão hierárquica da Igreja, João Paulo II acabou
ainda assim por ter gestos de abertura ao diálogo inter-religioso, como escreve Guillaume
Goubert no texto.
Este
dossiê explica ainda as razões da proclamação da santidade e responde a outras quatro questões ligadas à canonização e
apresenta quinze datas essenciais do pontificado de João XXIII e
outras tantas do de João Paulo II.
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