Crónica
Sem
perder tempo com manifestos de aniversário, Bergoglio deixou passar quase em
branco o primeiro aniversário do pontificado e regressou de um retiro para
insistir no discurso social. Recebeu em audiência os trabalhadores de uma
fábrica italiana, recentemente comprada por um grupo alemão, e voltou a
criticar um sistema económico "incapaz de criar postos de trabalho”,
porque põe no centro “o ídolo dinheiro", que afeta "vários países
europeus". "Criatividade e solidariedade", com um estilo de vida
"mais sóbrio", sugere Bergoglio, que carrega a vivência do hemisfério
sul, da periferia e dos extremos.
Esta
oportuna obsessão pode ser dirigida à Igreja europeia, esmoler e pouco
empreendedora. Vai valendo a ação de muitas instituições. Por cá, algumas
Caritas, Misericórdias e outras IPSS's de e da Igreja,
rompem a lógica assistencialista com projetos de (re)conversão social, capazes
de repor a dignidade e agir politicamente onde a política «formal» não é capaz
de chegar. Mas falta a correspondência de uma narrativa institucional
clarificadora e denunciante. A hierarquia eclesiástica instalou-se. Receosa de
ser confundida com as motivações sindicais ou partidárias – como se a política,
em si, fosse um mal –, a Igreja vai oferecendo a resignação, a paciência e o
céu, quando o evangelho é da terra, da denúncia e da ação.
(crónica publicada
na SIC Notícias e parcialmente emitida no programa Princípio e Fim da
RR; texto integral aqui)
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