segunda-feira, 13 de maio de 2013

Da (falta de) arte das homilias


Comentário

O tema é recorrente e quase não é afrontado: a qualidade das homilias (no caso, nas celebrações católicas) deixa muito a desejar. Falo, claro, do que predomina, não entro aqui em linha de conta com as boas e felizes excepções, que também as há.
Em muitos casos, a referência bíblica é quase inexistente. Ou não é aprofundada seriamente, o que vai dar ao mesmo. Nem se cultiva a preparação digna das homilias ou o bom gosto da linguagem.
Por outro lado, ignora-se a vida das pessoas, não se toca na corda sensível do que se anda a viver. Utiliza-se uma linguagem etérea, que não cola com a realidade, que não diz nada de significativo às pessoas. No final, tanto faz. E ninguém recorda nada de substancial ou significativo que o celebrante tenha dito.
O exemplo do actual Papa deveria motivar quem faz homilias a rever algumas práticas: intervenções curtas, que cruzam a Bíblia e a vida das pessoas, que apontam caminhos para a relação com o mundo e os outros.
Falha importante é também a falta de percepção dos auditórios que se têm diante de si. Em Fátima, por exemplo, não é positivo ver sucederem-se tantos bispos e cardeais que se esquecem das condições físicas em que os milhares de peregrinos se encontram – quase sempre, debaixo de frio ou de muito calor. E que, também neste caso, não têm nada de muito importante para dizer, aos milhares de pessoas que aqui acorrem – e aos milhões que seguem pela televisão e pelos outros media. Uma ocasião soberana de dizer algo de substantivo e significativo, e que é soberanamente desperdiçada na maior parte das ocasiões.
Este 12-13 de Maio não foi dos casos mais notórios no que respeita às duas homilias do presidente das celebrações, o arcebispo do Rio de Janeiro, Orani João Tempesta. Mas fica-se com a sensação de que muito mais se poderia dizer e fazer nestes momentos. Desde logo, é pena que as personalidades convidadas para presidir a estas celebrações não se interroguem sobre as condições, a proveniência e a expectativa deste auditório - que, em muitos casos, não está disponível para experiências deste género em outras ocasiões. Fátima tem sido um lugar de formação e renovação pastoral em vários campos. Mas é pena que, neste casopouco sirva de exemplo à renovação da linguagem das homilias, que deve fazer parte de um processo mais vasto de mudanças necessárias no catolicismo. Falta arte na palavra.

(Foto: o arcebispo do Rio de Janeiro, em Fátima, a 13 de Maio; foto de Luís Oliveira/Santuário de Fátima)

2 comentários:

Lucy disse...

tão verdade

HD disse...

Isto ainda é mais gritante, quando algum Clero tem maioritariamente na assembleia jovens...são mt poucos os que fazem diferença.
Depois lamentamos que os jovens não escutem a Igreja...
HDias