Sob o título genérico A revolução franciscana, publiquei no Jornal de Notícias, durante o mês de Dezembro, oito trabalhos
sobre o Papa Francisco, que tentam fazer um balanço do que tem sido este ainda
curto mas intenso pontificado. Este é o terceiro trabalho da série.
Mudança. A palavra atravessa, desde o início, os gestos, as decisões,
os apelos, as homilias do Papa Francisco.
Desde o primeiro momento,
pressentiu-se a mudança: o cardeal Jean-Louis Tauran chegou à varanda da
Basílica de São Pedro, no início da noite de 13 de Março de 2013, e anunciou
"habemus papam". Quando disse o nome escolhido pelo eleito,
Francisco, percebeu--se que muito mudaria. Mudou logo nos instantes iniciais:
as primeiras palavras dirigidas à multidão pelo até aí arcebispo de Buenos
Aires foram um aparentemente banal "boa noite". Mas o que parecia
normal trazia já o gérmen da novidade. O bispo e o povo caminham juntos, disse
logo a seguir, inclinando-se para pedir a bênção dos milhares de pessoas que
estavam na praça. Durante longos segundos, um silêncio esmagador tomou conta da
multidão que pressentia o tempo novo. E, a partir daí, o Papa habituará as
pessoas a um repetido pedido: "Rezem por mim..."
(o texto pode continuar a ser lido aqui)
Frases para a mudança
O Papa Francisco não se cansa de
pedir a mudança – seja em questões políticas e económicas, seja em matérias
internas da Igreja. E não enjeita mesmo haver temas, como o da mulher na
Igreja, em que a mudança deve acontecer, mesmo que ele pense que a doutrina
essencial deve ser mantida. Um breve dicionário de frases do Papa sobre a
mudança.
Uma reforma financeira que tivesse
em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos
dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e
clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O
dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas
tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os
pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade
desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia
ao ser humano. (Exortação A Alegria do
Evangelho, nº 58)
Toda a pretensão de cuidar e
melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de
produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as
sociedades. (Encíclica Laudato Si’,
nº 5)
A solidariedade é uma reacção
espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino
universal dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. A posse
privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a
servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a
decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde. Estas convicções e práticas
de solidariedade, quando se fazem carne, abrem caminho a outras transformações
estruturais e tornam-nas possíveis. Uma mudança nas estruturas, sem se gerar
novas convicções e atitudes, fará com que essas mesmas estruturas, mais cedo ou
mais tarde, se tornem corruptas, pesadas e ineficazes.
(Exortação A Alegria do Evangelho,
nº 189)
Uma
especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as
dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do
mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode
pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e
nos sofrimentos dos excluídos.
(Encíclica Laudato Si’, nº 13)
“Devemos prosseguir por este
caminho. O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e servir também
nas suas contradições, exige da Igreja o potenciamento das sinergias em todos
os âmbitos da sua missão. Precisamente o caminho da sinodalidade é o caminho
que Deus espera da Igreja do terceiro milênio. O que o Senhor nos pede, num
certo sentido, está tudo contido na palavra “Sínodo”. Caminhar juntos – leigos,
pastores, bispo de Roma – é um conceito fácil de ser expresso em palavras, mas
não tão fácil de ser colocado em prática”.
(Discurso sobre os 50 anos da
instituição do Sínodo dos Bispos, Outubro 2015)
“É
desejável, portanto, uma presença feminina mais ramificada e incisiva nas
comunidades, de modo que possamos ver muitas mulheres envolvidas nas
responsabilidades pastorais, no acompanhamento de pessoas, famílias e grupos,
assim como na reflexão teológica.”
(Discurso ao Conselho Pontifício
para a Cultura, Fevereiro 2015)
Mudança nas finanças, a boa notícia: Vaticano está a fazer “esforços”, diz Moneyval
A última boa notícia para o Papa e
as reformas que ele empreendeu chegou dia 9 de Dezembro: o Moneyval, comité do
Conselho da Europa que avalia medidas dos Estados contra a lavagem de dinheiro
e o financiamento do terrorismo, reconheceu que o Vaticano tem feito “esforços”
para prevenir delitos financeiros.
(o texto pode continuar a ser lido aqui)
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