sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A revolução franciscana (8) – Entre a reforma e os opositores, os temas difíceis do Papa

Sob o título genérico A revolução franciscana, publiquei no Jornal de Notícias, durante o mês de Dezembro, oito trabalhos sobre o Papa Francisco, que tentam fazer um balanço do que tem sido este ainda curto mas intenso pontificado. Este é o oitavo e último trabalho da série. 


O Papa Francisco com cardeais, no Vaticano 
(foto reproduzida daqui)

Pressente-se a urgência na sua forma de agir: a reforma da Cúria Romana terá de avançar e ser concluída antes de o Papa se retirar. Mas, até lá, e apesar do que já conseguiu, Francisco tem ainda muito trabalho pela frente. E muita oposição que se adivinha.

Não sendo a sua questão essencial - o que o Papa quer, em primeiro lugar, é que todos os católicos assumam de forma mais intensa a sua relação com o Evangelho e com as consequências da fé no agir quotidiano -, a reforma da Cúria Romana iniciada já por Francisco é um desafio importante para poder concretizar todos os outros de forma plena.
Os problemas da Cúria foram uma das razões que levaram Bento XVI a resignar do cargo e o Papa Bergoglio quer cumprir o mandato dos cardeais. Nas reuniões preparatórias do conclave, foram muitas as vozes a pedir uma clara reforma da instituição.
(o texto pode continuar a ser lido aqui)


Aprofundar o debate sobre o lugar da mulher na Igreja
Na sua primeira longa entrevista, ao padre jesuíta Antonio Spadaro, o Papa Francisco afirmava: “É necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja.” O Papa criticava a “ideologia machista”, defendendo que a mulher é “imprescindível” para a Igreja e que é preciso “trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher”, bem como “reflectir sobre o lugar específico da mulher, precisamente também onde se exerce a autoridade nos vários âmbitos da Igreja.”
A exegese bíblica das últimas décadas tem destacado cada vez mais o lugar importante que as mulheres tiveram no grupo dos seguidores de Jesus e as mulheres concretas que São Paulo deixou a liderar comunidades por ele criadas.


Mesmo tendo já dito que a ordenação de mulheres é uma porta fechada no catolicismo, as afirmações do Papa – repetidas, por outras palavras, em diferentes momentos – abrem espaço a um debate até aqui quase só dogmatizado. Também por isso, Francisco nomeou mais mulheres para a Comissão Teológica Internacional, do Vaticano, pedindo que elas não sejam apenas a “cereja no topo do bolo”.
Uma das escolhidas, a irmã Mary Prudence Allen, que se considera “uma nova filósofa feminista na linha” do Papa João Paulo II, dizia há um ano que quer “enriquecer a compreensão da mulher na Igreja” e “ajudar a remover os obstáculos para o pleno desenvolvimento das mulheres em áreas de discriminação, exploração e violência – um desejo que é compartilhado com feministas de outras tradições.”

Avançar o ecumenismo na consciência
Há pouco mais de um mês, na Igreja Luterana de Roma, uma senhora disse ao Papa que é casada com um católico mas os dois, sendo cristãos, não podem comungar juntos nas respectivas igrejas. “Que podemos fazer?”, perguntou Anke de Bernardinis a Francisco. O Papa admitiu que há ainda dificuldades teológicas a resolver mas acrescentou que deve ser a consciência de cada um a decidir. “A vida é maior do que as explicações e interpretações. (...) Falai com Deus e ide em frente. Não me atrevo a dizer mais.” Este é o seu modo de aproximar as diferentes tradições cristãs: que os crentes tomem a iniciativa e abram caminhos de colaboração, em consciência, unidos no essencial.

Divorciados, um teste à arte de conciliação
O documento que o Papa redigirá a partir das conclusões do Sínodo dos Bispos sobre a família pode originar mais contestação. Francisco pode vir a abrir a possibilidade de, em condições muito concretas, as pessoas que se divorciaram e voltaram a casar possam comungar na missa – o que hoje lhes está interdito. Quando, em Setembro, o Papa mudou as regras para aligeirar e tronar tendencialmente gratuitos os processos para verificação da nulidade do matrimónio, já foi acusado por alguns de estar a promover um “divórcio católico”. Por isso, o novo documento será um grande teste à sua arte de promover a mudança mas criando o máximo de pontes possível.

Contra as tentações do clero
Problemas como o celibato obrigatório, a solidão de muitos membros do clero – que leva por vezes à depressão, ao alcoolismo e a outros problemas graves –, a pedofilia ou outros abusos sexuais cometidos por padres (por exemplo, sobre algumas freiras, como acontece em algumas regiões africanas), são outra questão que o Papa quer continuar a enfrentar. Francisco tem insistido na vocação religiosa como uma missão de serviço à comunidade, contestando as tentações do carreirismo ou do exercício do poder. Como também contesta o “dizer mal pelas costas”, como fez no discurso à Cúria Romana, de 2014, precisamente uma das tentações de muitos membros do clero que aplaudem o Papa em público, sabendo da sua popularidade e, em privado, o contestam cada vez mais. 

Não (ab)usar do nome de Deus

A aproximação ecuménica (a cristãos ortodoxos, protestantes, anglicanos e evangélicos) e inter-religiosa (judeus, muçulmanos, budistas ou hindus) é uma obrigação urgente para o Papa Francisco. Mas ele está confrontado, neste campo, com o exacerbamento dos fenómenos extremistas (incluindo o terrorismo), que reivindicam o nome de Deus para as suas acções. Um abuso que Bergoglio não se tem cansado de condenar, como fez ainda na sua mensagem de Natal. O crescimento da violência de invocação religiosa será também um desafio aos valores essenciais que o Papa propõe.

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Vence a indiferença e conquista a paz - uma vigília de oração pela paz em Lisboa

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Um Papa que se mete na economia e na política


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