quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Iria Hans Rosling dizer em Davos que as Nações Unidas estão loucas?





Se o médico e académico sueco Hans Rosling (27 de Julho de 1948 – 7 de Fevereiro de 2017) ainda estivesse vivo e fosse convidado para ir ao Fórum Económico Mundial que estes dias está a decorrer em Davos (Suíça), talvez fosse dizer que as Nações Unidas estavam loucas quando anunciaram o objectivo de erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas até 2030, no âmbito dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável
Provavelmente, Hans Rosling também diria que não podemos continuar a ter um mundo em que mais de 80 por cento da riqueza criada em todo o mundo vai parar aos mais ricos, que representam apenas um por cento da população mundial, como nos diz o relatório da Oxfam divulgado no início desta semana. 
Olhando para as realidades das pessoas mais pobres, o objectivo de erradicar a pobreza extrema parece impossível, diz a apresentação deste vídeo, gravado há pouco mais de dois anos. Nesse ano, não houve chuva no Malawi, mas a muitas pessoas – como mostram alguns exemplos apontados por Hans Rosling – basta muito pouco, como uma pequena colheita de milho, para quebrar o ciclo vicioso da pobreza.
Quando, em Setembro de 2015, os Chefes de Estado ou Governo dos países do mundo estabeleceram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou ‘Agenda 2030’ e declararam a sua determinação em acabar com a pobreza e a fome, muitas pessoas poderiam abanar a cabeça e pensar como Astérix Estes romanos são doidos”.
O médico sueco voluntariou-se para ir trabalhar em Moçambique quando a descolonização deixou o país sem assistência médica. Muitas voltas depois acabou a ensinar saúde internacional no seu país e criou a página Gapminder na internet, onde ajuda a dar significado às estatísticas. 
Hans Rosling, que morreu há pouco menos de um ano, deixou um conjunto de mensagens fundamentadas de esperança e incentivo a persistir no combate às injustiças (iniquidades, como se diz habitualmente no campo da saúde) no acesso aos bens da terra e aos cuidados de saúde. 
No vídeo acima reproduzido, Hans Rosling mostra como tem sido a evolução de indicadores de saúde no ultimo século, o que significa viver com um dólar por dia ou como são as casas das pessoas que vivem com um ou dez dólares por dia. Mostra o que acontece quando essas pessoas estão doentes e como é importante olhar para a história de todo o século XX.
“Loucas estariam as nações se não quisessem acabar com a pobreza.” Assim, o objectivo de erradicar a pobreza extrema não é inatingível. Só o é, como explica Hans Rosling, porque a visão de muitas pessoas altamente letradas está atrasada em seis décadas. 

(Este texto teve o contributo de Cláudia Conceição; sobre o fórum de Davos, pode ler-se aqui, em inglês, o teor da intervenção do secretário-geral do Conselho Ecuménico de Igrejas, Olav Fykse Tveit, que falou sobre o perigo nuclear)


1 comentário:

António d'Alte da Veiga disse...

Excelente.
Hans Rosling não precisou de muitas palavras para pôr o dedo na ferida.