sexta-feira, 25 de junho de 2004

Almodovar: "Mala educación"

Na newsletter da SIGNIS:
"In recent years, he has perfected his style, his ability to create intelligent melodramas, channel his flamboyant still into thoughtful and moving explorations of the human experience, often bizarre experiences. 'All About My Mother' won the Ecumenical award at Cannes in 1999.
'Bad Education' has been in planning stages for many years. In 2002, when Almodovar announced that he would move into production, there were immediate claims that the film would be anti-clerical. It would be a film about his own experiences of Catholic education in Spanish schools of the 1960s. This was re-iterated in articles and interviews and was the first question at the press conference in Cannes where 'Bad Education' was the film chosen for Opening Night.
However, Almodovar himself has been disclaiming the anti-clerical charge. He has said that had he made the film twenty years earlier, it would have been quite anti-clerical. He says now that he has mellowed and that, although he does not have what he calls 'the luxury' of believing in God, he values much of what he experienced in the Church (especially in liturgies, celebrations and art) during his childhood. He says he asked God to give him faith when he was a boy but God did not give it to him. He also said recently that the priests at school said that watching films was a sin and that he had to choose sin. These themes are incorporated into 'Bad Education'."

quinta-feira, 3 de junho de 2004

Cristãos?

Francisco Sarsfield Cabral, in Público, 3.5.2004

Um dos traços da recente evolução política nos Estados Unidos está na força eleitoral que ganhou a chamada direita cristã, hoje a mais importante base de apoio dos Republicanos. A um europeu custa imaginar que muitos americanos ainda considerem blasfema a teoria da evolução de Darwin. Mas, para os fundamentalistas, que são sobretudo protestantes evangélicos, a Bíblia tem apenas o sentido literal. O que os leva, também, a considerarem que a Palestina pertence a Israel por direito divino - daí a viragem de Washington a favor de Sharon. E os movimentos anti-aborto dos fundamentalistas não vêem contradição entre serem pró-vida e apoiarem com entusiasmo a pena de morte.

Só que falta ao actual poder em Washington o sentido ético que seria de esperar de cristãos. Não são apenas as ligações da Administração Bush a interesses económicos, como os petrolíferos ou a Enron. É o olímpico desprezo que esse Governo manifesta por tratados, pelo direito internacional, pelos aliados e pelos direitos dos suspeitos de terrorismo. Talvez sem se darem conta, estes propagandistas de valores alegadamente cristãos são, afinal, cultores pós-modernos do relativismo moral, fascinados pelo seu próprio poderio militar. Por isso prevalece o direito da força sobre a força do direito, como notou o Vaticano. Por isso Bush e o seu unilateralismo contrariam a importância que João Paulo II (como antes Paulo VI) atribui à ONU e à cooperação internacional. Por isso, ainda, o Papa se opôs à guerra do Iraque - e vê-se agora como tinha razão.

A retórica pretensamente cristã da Casa Branca e apoiantes servirá para ganhar votos. Mas ela encobre uma forma virulenta de paganismo, que valoriza acima de tudo o dinheiro e a força.