Continuando a explorar temas que não são muito frequentes no espaço católico, o teólogo, poeta e actual director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, José Tolentino Mendonça é protagonista de duas iniciativas, nos próximos dias.
Na próxima sexta-feira, dia 3 de Junho, às 21h30, fará uma conferência, no CAB - Centro Académico de Braga, com o tema “Há uma erótica cristã? – Um debate actual”, com entrada livre, na qual reflectirá "acerca do amor e da relação humanas, e dos seus ecos na perspectiva bíblica e eclesial".
No dia 7 de Junho aquele sacerdote e intelectual lança em Lisboa o livro “Um Deus que dança – Itinerários para a oração", um volume com textos que foram originalmente escritos para serem escutados nomeadamente no site “www.passo-a-rezar.net” e na Rádio Renascença (daí que a publicação venha acompanhada de um CD contendo leituras feitas pelos atores Pedro Granger e Susana Arrais). A obra tem prefácio do encenador Luís Miguel Cintra e ilustrações do arquiteto e padre jesuíta João Norton.
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
À procura da Palavra - O MANUAL DE INSTRUÇÕES
(Crónica do P. Vítor Gonçalves, de comentário aos textos da liturgia católica)
“…o Espírito da verdade... habita convosco e está em vós.”
(Evangelho de S. João 14, 17 - VI Domingo da Páscoa, 29 de Maio)
Quem ainda nunca sentiu o fascínio que é montar um móvel comprado na IKEA (passe a publicidade)? Começa logo na escolha das inúmeras possibilidades de combinações e a promessa de cada um poder ser um verdadeiro carpinteiro e decorador. Depois é a aventura de seguir, passo a passo, as instruções do manual como se fosse um livro mágico que, de placas e parafusos caóticos, convida a criar a obra prima que poderemos apresentar aos amigos (ou obriga a telefonar a quem entenda porque a mesa se transformou em estante!). Alguém já lhe chamou o “lego” dos adultos, capaz de devolver uma certa nostalgia perdida de cada um dar um toque pessoal até àquilo que reveste a sua casa. Os materiais podem não ser muito duráveis, mas isso também tem o aliciante de uma renovação de tempos a tempos.
Maravilha-me o tempo pascal porque ele nos remete sempre aos tempos iniciais da Igreja e da criação das primeiras comunidades. De como com aqueles materiais frágeis dos discípulos e até dos seus erros e pecados Deus foi consolidando comunidades irradiadoras da Boa Nova. Foram também as circunstâncias que criaram possibilidades de novos serviços e até as perseguições ajudaram a não enclausurar o evangelho. E, tudo isto, sem um manual de instruções! Ou melhor, descobrindo que o verdadeiro manual de instruções se chama Espírito Santo. Os materiais eram e são simples: a vida vivida com autenticidade, os mandamentos de Jesus acolhidos e cumpridos, o respeito e a liberdade perante a tradição, o amor a consolidar tudo. E o Espírito da verdade a habitar connosco e em nós.
Por isso, pior que o erro e o engano é aprisionar a liberdade de escolher, é aguentar uma “meia-vida” porque “tem de ser” e não aceitar que se errou e é possível uma transformação. São Pedro seria, na lógica de muitas organizações, uma improvável escolha para a missão de “confirmar os irmãos na fé”. Claro que o Espírito da verdade o ajudou a trazer ao de cima do coração e da boca o que nele era essencial: “Senhor, sabes tudo, bem sabes que te amo!”. Nele se confirma a sábia frase que o filme “Encontrarás dragões” (sobre a guerra civil espanhola e os primeiros anos da vida de S. Josemaria Escrivá) apresenta nos seus cartazes: “Todos os santos têm um passado”. Falta acrescentar a segunda parte: “E todos os pecadores, um futuro”!
Acreditar que o Espírito Santo é “manual de instruções” para a Igreja e para a vida de cada cristão é assumir a sua escuta como tarefa quotidiana e encarar os erros como novas possibilidades de construção. Não somos “pau para toda a colher”, não temos os dons todos nem somos capazes de tudo. Mas aquilo que damos com alegria Deus sabe multiplicar. E, como diz um amigo meu:” Sei que, ainda que erre no meu caminho, Deus não desistirá de me chamar à vida em plenitude!”
“…o Espírito da verdade... habita convosco e está em vós.”
(Evangelho de S. João 14, 17 - VI Domingo da Páscoa, 29 de Maio)
Quem ainda nunca sentiu o fascínio que é montar um móvel comprado na IKEA (passe a publicidade)? Começa logo na escolha das inúmeras possibilidades de combinações e a promessa de cada um poder ser um verdadeiro carpinteiro e decorador. Depois é a aventura de seguir, passo a passo, as instruções do manual como se fosse um livro mágico que, de placas e parafusos caóticos, convida a criar a obra prima que poderemos apresentar aos amigos (ou obriga a telefonar a quem entenda porque a mesa se transformou em estante!). Alguém já lhe chamou o “lego” dos adultos, capaz de devolver uma certa nostalgia perdida de cada um dar um toque pessoal até àquilo que reveste a sua casa. Os materiais podem não ser muito duráveis, mas isso também tem o aliciante de uma renovação de tempos a tempos.
Maravilha-me o tempo pascal porque ele nos remete sempre aos tempos iniciais da Igreja e da criação das primeiras comunidades. De como com aqueles materiais frágeis dos discípulos e até dos seus erros e pecados Deus foi consolidando comunidades irradiadoras da Boa Nova. Foram também as circunstâncias que criaram possibilidades de novos serviços e até as perseguições ajudaram a não enclausurar o evangelho. E, tudo isto, sem um manual de instruções! Ou melhor, descobrindo que o verdadeiro manual de instruções se chama Espírito Santo. Os materiais eram e são simples: a vida vivida com autenticidade, os mandamentos de Jesus acolhidos e cumpridos, o respeito e a liberdade perante a tradição, o amor a consolidar tudo. E o Espírito da verdade a habitar connosco e em nós.
Por isso, pior que o erro e o engano é aprisionar a liberdade de escolher, é aguentar uma “meia-vida” porque “tem de ser” e não aceitar que se errou e é possível uma transformação. São Pedro seria, na lógica de muitas organizações, uma improvável escolha para a missão de “confirmar os irmãos na fé”. Claro que o Espírito da verdade o ajudou a trazer ao de cima do coração e da boca o que nele era essencial: “Senhor, sabes tudo, bem sabes que te amo!”. Nele se confirma a sábia frase que o filme “Encontrarás dragões” (sobre a guerra civil espanhola e os primeiros anos da vida de S. Josemaria Escrivá) apresenta nos seus cartazes: “Todos os santos têm um passado”. Falta acrescentar a segunda parte: “E todos os pecadores, um futuro”!
Acreditar que o Espírito Santo é “manual de instruções” para a Igreja e para a vida de cada cristão é assumir a sua escuta como tarefa quotidiana e encarar os erros como novas possibilidades de construção. Não somos “pau para toda a colher”, não temos os dons todos nem somos capazes de tudo. Mas aquilo que damos com alegria Deus sabe multiplicar. E, como diz um amigo meu:” Sei que, ainda que erre no meu caminho, Deus não desistirá de me chamar à vida em plenitude!”
À procura da Palavra - OS MILAGRES PRÓXIMOS
(Crónica do P. Vítor Gonçalves, de comentário aos textos da liturgia católica)
“Quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará ainda maiores do que estas.”
(Evangelho de S. João, 14,12 - V Domingo da Páscoa, 22 de Maio)
Voltaram os jacarandás a encher de flores lilases o céu sobre as nossas cabeças. Será que outras cidades têm o privilégio desta “visita” a anunciar o verão? Lisboa parece pintada por Van Gog ali no Parque Eduardo VII, na avenida D. Carlos, na 5 de Outubro e noutras ruas e pequenos pátios. Parar para os contemplar é obrigatório! É um pequeno milagre oferecido de graça por entre a azáfama e o coração apertado.
Não é fácil falar de milagres. Há quem contemple tudo como milagre, descobrindo em cada coisa a maravilha da existência, e também quem o não faça, recusando qualquer dimensão sobrenatural naquilo que nos rodeia. À procura de milagres “salta-se” de igreja em igreja, de culto em culto. É verdade que o próprio Jesus, que realizou alguns milagres, recusou o título de “milagreiro”, tão do agrado de quantos vivem a relação com Deus na esperança destes “rebuçados” que vêm ao encontro dos seus desejos. Especialmente na cruz, tentado a uma saída espetacular e convincente, Jesus revela o milagre na fidelidade, no amor até ao fim. O seu caminho provoca-nos e interpela-nos.
Fui há dias ver o filme “Lourdes” de Jessica Hauser que, como o título indica, decorre à volta do santuário de Nossa Senhora de Lourdes e de um grupo de peregrinos nos quais se destaca Christine, uma jovem mulher com esclerose múltipla, presa a uma cadeira de rodas. É um filme denso, cuja realizadora diz não acreditar em milagres, mas ao mesmo tempo aberto ao mistério. Questiona uma certa linguagem “espiritual” à volta do sofrimento e do próprio Deus, cheia de “respostas feitas” ou de afirmações que não recolhem a dor de quem sofre. Tem presente o dilema de Epicuro sobre a bondade e omnipotência de Deus aqui simplificado: se é bom não é omnipotente pois então acabaria com o mal; se é omnipotente não é bom, pela mesma razão. Abre-se à possibilidade de diálogo e de debate. Diálogo sobre os milagres e sobre Deus, sobre a fé e a graça, o sofrimento e a felicidade. Mas ninguém conte com um filme fácil!
A dúvida de Tomé e a pergunta de Filipe a Jesus são registo da procura constante que é o acreditar em Jesus. “Saber o caminho” e “ver o Pai” coincidem em Jesus. É Ele o maior milagre. A sua pessoa. A vida de comunhão que tem com o Pai e partilha connosco. Tudo o que diz e faz aponta para essa vida abundante. Vida que é criativa como mostra a “invenção” dos diáconos e dos muitos serviços da comunidade cristã na sua presença no mundo; vida que substitui os sacrifícios da antiga aliança pelo dom de cada um; vida que nos transforma e nos faz realizar obras maiores que as suas. Estamos atentos a estes milagres tão próximos de nós?
“Quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará ainda maiores do que estas.”
(Evangelho de S. João, 14,12 - V Domingo da Páscoa, 22 de Maio)
Voltaram os jacarandás a encher de flores lilases o céu sobre as nossas cabeças. Será que outras cidades têm o privilégio desta “visita” a anunciar o verão? Lisboa parece pintada por Van Gog ali no Parque Eduardo VII, na avenida D. Carlos, na 5 de Outubro e noutras ruas e pequenos pátios. Parar para os contemplar é obrigatório! É um pequeno milagre oferecido de graça por entre a azáfama e o coração apertado.
Não é fácil falar de milagres. Há quem contemple tudo como milagre, descobrindo em cada coisa a maravilha da existência, e também quem o não faça, recusando qualquer dimensão sobrenatural naquilo que nos rodeia. À procura de milagres “salta-se” de igreja em igreja, de culto em culto. É verdade que o próprio Jesus, que realizou alguns milagres, recusou o título de “milagreiro”, tão do agrado de quantos vivem a relação com Deus na esperança destes “rebuçados” que vêm ao encontro dos seus desejos. Especialmente na cruz, tentado a uma saída espetacular e convincente, Jesus revela o milagre na fidelidade, no amor até ao fim. O seu caminho provoca-nos e interpela-nos.
Fui há dias ver o filme “Lourdes” de Jessica Hauser que, como o título indica, decorre à volta do santuário de Nossa Senhora de Lourdes e de um grupo de peregrinos nos quais se destaca Christine, uma jovem mulher com esclerose múltipla, presa a uma cadeira de rodas. É um filme denso, cuja realizadora diz não acreditar em milagres, mas ao mesmo tempo aberto ao mistério. Questiona uma certa linguagem “espiritual” à volta do sofrimento e do próprio Deus, cheia de “respostas feitas” ou de afirmações que não recolhem a dor de quem sofre. Tem presente o dilema de Epicuro sobre a bondade e omnipotência de Deus aqui simplificado: se é bom não é omnipotente pois então acabaria com o mal; se é omnipotente não é bom, pela mesma razão. Abre-se à possibilidade de diálogo e de debate. Diálogo sobre os milagres e sobre Deus, sobre a fé e a graça, o sofrimento e a felicidade. Mas ninguém conte com um filme fácil!
A dúvida de Tomé e a pergunta de Filipe a Jesus são registo da procura constante que é o acreditar em Jesus. “Saber o caminho” e “ver o Pai” coincidem em Jesus. É Ele o maior milagre. A sua pessoa. A vida de comunhão que tem com o Pai e partilha connosco. Tudo o que diz e faz aponta para essa vida abundante. Vida que é criativa como mostra a “invenção” dos diáconos e dos muitos serviços da comunidade cristã na sua presença no mundo; vida que substitui os sacrifícios da antiga aliança pelo dom de cada um; vida que nos transforma e nos faz realizar obras maiores que as suas. Estamos atentos a estes milagres tão próximos de nós?
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Partidos e mudanças na Igreja por Bento Domingues e Anselmo Borges
Textos de Bento Domingues no "Público" de 22 de Maio e de Anselmo Borges no "Diário de Notícias" de 21 de Maio.
Não falta quem se irrite com o simples nome de Hans Küng, acusando-o inclusivamente de ressentido: não teria ainda perdoado a João Paulo II nem a Bento XVI a condenação. Mas quem tenha boa fé sabe que Küng se confessa convictamente cristão - para ele, ser cristão é ter Jesus Cristo como determinante na vida e na morte - e não pode ignorar o seu contributo incalculável para o encontro da fé com o mundo moderno e pós-moderno e um ethos global. Leia-se, por exemplo, a sua recente obra Was ich glaube, várias vezes aqui citada e agora traduzida para espanhol - Lo que yo creo -, onde, de modo profundo e pessoal, responde às perguntas essenciais: em que posso acreditar?, em que posso confiar?, em que posso esperar?, como posso configurar a minha vida?
Ler mais aqui.
domingo, 22 de maio de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
A fraternidade é o tema da Jornada da Pastoral da Cultura
"Elogio da fraternidade" é o tema da 7.ª Jornada da Pastoral da Cultura, que se realiza em Fátima, em 17 de Junho próximo. As inscrições encontram-se abertas até ao dia do evento e podem ser feitas por via digital ou por correio.
Entre os comunicantes convidados contam-se José Mattoso (historiador), Lídia Jorge (escritora), Mário Gajo de Carvalho (realizador), António Jorge Cerejeira Fontes e André Cerejeira Fontes (arquitetos) e Joaquim Félix de Carvalho (teólogo). A parte da tarde será ocupada com uma mesa-redonda sobre o tema da jornada, intervindo D. Manuel Clemente (presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais), Manuel Braga da Cruz (reitor da Universidade Católica Portuguesa) e Manuel Carvalho da Silva (secretário-geral da CGTP). A moderação será da jornalista Rebecca Abecassis.
Mais informações: AQUI.
Entre os comunicantes convidados contam-se José Mattoso (historiador), Lídia Jorge (escritora), Mário Gajo de Carvalho (realizador), António Jorge Cerejeira Fontes e André Cerejeira Fontes (arquitetos) e Joaquim Félix de Carvalho (teólogo). A parte da tarde será ocupada com uma mesa-redonda sobre o tema da jornada, intervindo D. Manuel Clemente (presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais), Manuel Braga da Cruz (reitor da Universidade Católica Portuguesa) e Manuel Carvalho da Silva (secretário-geral da CGTP). A moderação será da jornalista Rebecca Abecassis.
Mais informações: AQUI.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Conferência de Joseph Weiler, o defensor dos crucifixos, na Católica
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Nos bastidores da Humanae Vitae
A agência Zenit publicou ontem um texto intitulado "Pe. Ford, Paulo VI e o controle de natalidade" que faz luz sobre os debates e as polémicas que antecederam e sucederam a publicação da controversa encíclica Humanae Vitae, de 25 de Julho de 1968.
Sabia-se que a Comissão Pontifícia sobre a População, Família e Natalidade, constituída pelo Papa João XXIII em 27 de abril de 1963, seis meses depois do começo do Concílio Vaticano II, se tinha pronunciado por clara maioria, já no tempo de Paulo VI, no sentido da revisão da doutrina tradicional da Igreja Católica sobre as questões da contracepção, mas que o Papa não aceitou esse parecer. Os documentos recentemente revelados dão conta dos bastidores dos trabalhos dessa Comissão e das posições que então se contrapuseram.
O assunto está longe de ter perdido actualidade e, ainda que alguns dos documentos dados a conhecer (outros já tinham sido objecto de 'fuga de informação' na altura dos trabalhos) se encontrem em italiano e mesmo em latim e sublinhem sobretudo a posição vencida, vale a pena disponibilizá-los, para quem os possa ler e interpretar.
A sua contextualização e apresentação pode ser encontrada no site "The Way of the Lord Jesus" e consta dos seguintes documentos:
Sabia-se que a Comissão Pontifícia sobre a População, Família e Natalidade, constituída pelo Papa João XXIII em 27 de abril de 1963, seis meses depois do começo do Concílio Vaticano II, se tinha pronunciado por clara maioria, já no tempo de Paulo VI, no sentido da revisão da doutrina tradicional da Igreja Católica sobre as questões da contracepção, mas que o Papa não aceitou esse parecer. Os documentos recentemente revelados dão conta dos bastidores dos trabalhos dessa Comissão e das posições que então se contrapuseram.
O assunto está longe de ter perdido actualidade e, ainda que alguns dos documentos dados a conhecer (outros já tinham sido objecto de 'fuga de informação' na altura dos trabalhos) se encontrem em italiano e mesmo em latim e sublinhem sobretudo a posição vencida, vale a pena disponibilizá-los, para quem os possa ler e interpretar.
A sua contextualização e apresentação pode ser encontrada no site "The Way of the Lord Jesus" e consta dos seguintes documentos:
- Report on the Fourth Session of the Commission Set Up by the Holy See to Study the Problems of Population, Family, and Birth-rate (Rome — 25–28 March 1965)
- Status Quaestionis: Doctrina Ecclesiae Eiusque Status
- Documentum Syntheticum de Moralitate Regulationis Nativitatum
- Grisez’s Comments on the Two Papers
- Schema Quoddam Declarationis Pontificiae circa Anticonceptionem
- De Riedmatten’s Relatio Generalis
- Rapport Final
- Quali Sono le Alternative che Rimangono Aperte per il S. Padre?
- Materials Prepared by Ford and Grisez at the Request of Cardinal Ottaviani - 1
- Materials Prepared by Ford and Grisez at the Request of Cardinal Ottaviani - 2
- Materials Prepared by Ford and Grisez at the Request of Cardinal Ottaviani - 3
- Materials Prepared by Ford and Grisez at the Request of Cardinal Ottaviani - 4
domingo, 15 de maio de 2011
À procura da Palavra - COM QUE VOZ!
(Crónica do P. Vítor Gonçalves, de comentário aos textos da liturgia católica)
“…as ovelhas seguem-no porque conhecem a sua voz.” (Evangelho de São João 10, 4 - Domingo IV da Páscoa)
“…as ovelhas seguem-no porque conhecem a sua voz.” (Evangelho de São João 10, 4 - Domingo IV da Páscoa)
(Ilustração: Michelangelo, A Criação de Adão, na Capela Sistina)
Dizem os pediatras que é na barriga das mães que começamos a reconhecer as vozes da mãe e do pai, e de outros que nos falem habitualmente. Parece que tudo o que é vivo gosta que se lhe fale, e até as plantas e os animais reagem às palavras e a expressões da comunicação humana, como a música, por exemplo. Não sei quem me disse que as plantas que tinha em casa andavam mais viçosas e vivazes desde que começara a falar com elas (é claro que não podia dizer isso às vizinhas senão chamar-lhe-iam “maluquinha”!). E também que as vacas davam melhor leite quando ouviam música clássica! Quantas vezes não experimentámos o acelerar do coração ao ouvir a voz de alguém que amamos? E não é pela voz, mais até pelo modo como dizemos, que revelamos o que vai por dentro de cada um?
Gosto de lembrar o primeiro relato da criação e o modo como Deus cria com a sua palavra: “Haja luz… e águas… e terra… e plantas e animais… e o homem e a mulher.” E também como se foi revelando pela voz com que chamou, escolheu e fez aliança. Chamou os profetas para falarem em seu nome. Enviou o Filho como Verbo feito carne, a Voz feita choro de criança e palavra salvadora: “Levanta-te… vai em paz… os teus pecados estão perdoados… Lázaro, sai para fora... amai-vos como Eu vos amei.” Com que agitação interior escutavam as suas palavras todos os que O ouviam! E como se sentiam reconhecidos e amados mesmo com as suas vidas enredadas e enganadas por mil outras vozes! Aquela voz que dava vista aos cegos, energia aos paralíticos, vida aos mortos prolonga-se na voz dos seus discípulos: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”, disse Pedro ao paralítico da porta do Templo chamada Formosa!
No meio de tantas vozes, que a instabilidade económica e política propicia, temos sede de confiança. Não bastam vozes esperançosas ou denunciadoras; é preciso que quem fala seja merecedor de confiança. Não se pede que seja perfeito, mas que seja humilde, que seja coerente, que não ceda à corrupção ou ao oportunismo. Que arrisque a vida por aquilo que diz, restaurando a dignidade das palavras, e levando quem escuta a comprometer-se na mudança. Se muitas vozes servem mais para dividir e buscar glórias pessoais, ou para adormecer e fazer crescer a desconfiança, estamos a matar as palavras! Como é a nossa voz de cristãos por entre o imenso ruído de fundo deste tempo? É voz que acolhe, que liberta, que promove, que não julga mas procura salvar? Acreditamos mesmo que a voz de Cristo passa pelos nossos lábios? E como Igreja a palavra precisa encarnar primeiro em nós?
Quando conhecemos a voz de quem nos quer bem e nos estimula a ser mais; voz que suscita diálogo e não adormecimento; voz que lança pontes e abre portas à beleza; voz que é encontro com Deus e nos convoca para mudar o que está mal; também queremos seguir o pastor que nos cativou! Mas o inverso também é verdade!
Dizem os pediatras que é na barriga das mães que começamos a reconhecer as vozes da mãe e do pai, e de outros que nos falem habitualmente. Parece que tudo o que é vivo gosta que se lhe fale, e até as plantas e os animais reagem às palavras e a expressões da comunicação humana, como a música, por exemplo. Não sei quem me disse que as plantas que tinha em casa andavam mais viçosas e vivazes desde que começara a falar com elas (é claro que não podia dizer isso às vizinhas senão chamar-lhe-iam “maluquinha”!). E também que as vacas davam melhor leite quando ouviam música clássica! Quantas vezes não experimentámos o acelerar do coração ao ouvir a voz de alguém que amamos? E não é pela voz, mais até pelo modo como dizemos, que revelamos o que vai por dentro de cada um?
Gosto de lembrar o primeiro relato da criação e o modo como Deus cria com a sua palavra: “Haja luz… e águas… e terra… e plantas e animais… e o homem e a mulher.” E também como se foi revelando pela voz com que chamou, escolheu e fez aliança. Chamou os profetas para falarem em seu nome. Enviou o Filho como Verbo feito carne, a Voz feita choro de criança e palavra salvadora: “Levanta-te… vai em paz… os teus pecados estão perdoados… Lázaro, sai para fora... amai-vos como Eu vos amei.” Com que agitação interior escutavam as suas palavras todos os que O ouviam! E como se sentiam reconhecidos e amados mesmo com as suas vidas enredadas e enganadas por mil outras vozes! Aquela voz que dava vista aos cegos, energia aos paralíticos, vida aos mortos prolonga-se na voz dos seus discípulos: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”, disse Pedro ao paralítico da porta do Templo chamada Formosa!
No meio de tantas vozes, que a instabilidade económica e política propicia, temos sede de confiança. Não bastam vozes esperançosas ou denunciadoras; é preciso que quem fala seja merecedor de confiança. Não se pede que seja perfeito, mas que seja humilde, que seja coerente, que não ceda à corrupção ou ao oportunismo. Que arrisque a vida por aquilo que diz, restaurando a dignidade das palavras, e levando quem escuta a comprometer-se na mudança. Se muitas vozes servem mais para dividir e buscar glórias pessoais, ou para adormecer e fazer crescer a desconfiança, estamos a matar as palavras! Como é a nossa voz de cristãos por entre o imenso ruído de fundo deste tempo? É voz que acolhe, que liberta, que promove, que não julga mas procura salvar? Acreditamos mesmo que a voz de Cristo passa pelos nossos lábios? E como Igreja a palavra precisa encarnar primeiro em nós?
Quando conhecemos a voz de quem nos quer bem e nos estimula a ser mais; voz que suscita diálogo e não adormecimento; voz que lança pontes e abre portas à beleza; voz que é encontro com Deus e nos convoca para mudar o que está mal; também queremos seguir o pastor que nos cativou! Mas o inverso também é verdade!
(Por indisponibilidade, as duas anteriores crónicas À Procura da Palavra não foram publicadas no blogue; podem ser lidas aqui.)
Bento e Anselmo: Deus, a morte e o mal
Texto de Bento Domingues no "Público" de hoje, 15 de Maio. No DN de ontem, Anselmo Borges reflectiu sobre Deus e o mal a partir do pensamento do teólogo Queiruga.
Penso que Andrés Torres Queiruga, da Universidade de Santiago de Compostela, é um dos mais vigorosos e penetrantes teólogos católicos vivos, numa ousadia única de colocar a fé cristã em confronto radical com a modernidade e vice-versa. Acaba de publicar em castelhano uma obra seriamente original sobre o tema em epígrafe: Repensar el mal, que obriga a pensar.
Lá está o famoso dilema de Epicuro: Ou Deus pôde evitar o mal e não quis; então, não é bom. Ou quis e não pôde; então, não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal?
São precisamente os pressupostos do dilema que o autor começa por desmontar, a partir de uma ponerologia (de ponerós, mau): tratar do mal, antes de qualquer referência a Deus. De facto, o mal atinge a todos, crentes e não crentes, os próprios animais também sofrem. Todos passam por crises e doenças e todos morrem. E perguntamos: donde vem o mal? Ler mais aqui.
domingo, 8 de maio de 2011
Textos de Bento Domingues e Anselmo Borges
Bento Domingues no "Público" deste domingo, 8 de Maio.
Ontem, no DN, Anselmo Borges escreveu sobre o manifesto dos teólogos alemães:
Ontem, no DN, Anselmo Borges escreveu sobre o manifesto dos teólogos alemães:
Na Alemanha, a Teologia está nas universidades públicas e o estatuto das faculdades de Teologia é o mesmo das outras faculdades. Inevitavelmente, impõe-se o rigor científico e crítico, e o diálogo com os outros saberes é uma exigência natural.Recentemente, um terço dos 400 teólogos de fala alemã, residentes na Alemanha, na Suíça e na Áustria (144 professores de Teologia católica), a que se foram juntando muitos outros, subscreveram um "Memorandum", no qual pedem reformas profundas na Igreja. O texto do documento, "Kirche 2011. Ein notwendiger Aufbruch" (Igreja 2011. Necessidade de um novo começo) é ao mesmo tempo exigente e sereno, apelando a um diálogo aberto. Ler tudo aqui.
Bento e o Pentecostes; e Anselmo e João Paulo II
Texto de Bento Domingos no "Público" de 1 de Maio de 2011.
No DN de 30 de Abril, Anselmo Borges escreveu sobre João Paulo II:
No DN de 30 de Abril, Anselmo Borges escreveu sobre João Paulo II:
Se admirei João Paulo II? Admirei e admiro. Era um homem de convicções, corajoso, crente no Deus de Jesus; afirmou e reafirmou os Direitos Humanos; contribuiu para a queda do Muro de Berlim; escreveu uma grande encíclica sobre os direitos dos trabalhadores (Laborem exercens); perdoou àquele que quis assassiná-lo; reuniu em Assis os representantes das religiões mundiais para a oração; fez o possível para evitar a invasão do Iraque; foi um lutador incansável pelo que considerava ser a sua missão; viajou pelo mundo como mensageiro da Paz.Foi dos homens mais populares do seu tempo. O mundo agradeceu-lhe, despedindo-se dele com milhões de pessoas no funeral. E o povo gritou que queria vê-lo rapidamente canonizado: "Santo subito."Mas João Paulo II era apenas um homem, um homem do seu tempo, que vinha do leste e tinha uma certa visão da Igreja. Ler tudo aqui.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Memorando da troika: ficaram esquecidas as desigualdades
Na linha da defesa que vem fazendo o blog "A Areia dos Dias" e, especialmente, uma das suas animadoras, a Prof. Manuela Silva, no sentido de inscrever a questão das desigualdades no nosso país no debate e nas políticas públicas, escreve ela, naquele blog:
O texto do memorando de entendimento ente o Governo português e a troika responsável pelo empréstimo a Portugal, agora divulgado, surpreende pelo detalhe das medidas propostas e também pelas áreas abrangidas neste tipo de instrumentos (a saúde, a educação, a justiça …), indo ao ponto de impor orientações de natureza política para estes sectores que, manifestamente, extravasam o estrito domínio dos equilíbrios financeiros.Ver o post completo: AQUI.
Não obstante esta preocupação pela exaustividade, ficou esquecido que a erradicação da pobreza e a correcção das desigualdades na repartição do rendimento e da riqueza, não só deveriam ser considerados objectivos de justiça social básicos, como não deveriam ser ignorados enquanto factores bloqueadores do próprio crescimento da economia, com consequente impacto nos visados equilíbrios financeiros.
Marcadores:
Desenvolvimento sustentável,
Justiça social
quinta-feira, 5 de maio de 2011
José Augusto Mourão. in memoriam
SALMO
Cantai a seiva que sobe das raízes,
O arado do tempo cortando o nevoeiro;
Cantai a vida que sangra e incendeia,
Vós todos que lavrais a terra, tecelões e pedreiros
Entrai na força escondida do desejo,
Domadores de cavalos, aguadeiros,
Pois vossas mãos acenderam candeias
E vossos olhos alumiaram a noite
Trazei à taça da vida nova que se anuncia
Os trapos velhos das dores enterradas;
Joalheiros de dedos magoados,
Vós todos que esperais o parto das sementes
Assinalai a pedra onde caístes
E a madeira em que vos crucificaram:
Porque há música nos ritos da tortura
Que canta o dia novo que não tarda
Enquanto não sabemos o caminho,
Cantemos já o dom de caminhar;
Se estamos juntos não teremos medo:
Alguém no invisível nos espera
Plantemos flores à beira do abismo
Há-de haver no deserto um lugar de água
Alguém que nos chame pelo nome
E nos acolhe ao termo da viagem.
José Augusto Mourão
in O Nome e a Forma
Outras fontes:
Visão: José Augusto Mourão - Ignoto Deo
Pàgina 1: O Vazio Verde.
Cantai a seiva que sobe das raízes,
O arado do tempo cortando o nevoeiro;
Cantai a vida que sangra e incendeia,
Vós todos que lavrais a terra, tecelões e pedreiros
Entrai na força escondida do desejo,
Domadores de cavalos, aguadeiros,
Pois vossas mãos acenderam candeias
E vossos olhos alumiaram a noite
Trazei à taça da vida nova que se anuncia
Os trapos velhos das dores enterradas;
Joalheiros de dedos magoados,
Vós todos que esperais o parto das sementes
Assinalai a pedra onde caístes
E a madeira em que vos crucificaram:
Porque há música nos ritos da tortura
Que canta o dia novo que não tarda
Enquanto não sabemos o caminho,
Cantemos já o dom de caminhar;
Se estamos juntos não teremos medo:
Alguém no invisível nos espera
Plantemos flores à beira do abismo
Há-de haver no deserto um lugar de água
Alguém que nos chame pelo nome
E nos acolhe ao termo da viagem.
José Augusto Mourão
in O Nome e a Forma
Outras fontes:
Visão: José Augusto Mourão - Ignoto Deo
Pàgina 1: O Vazio Verde.
"Tu, que me fizeste ver as trevas..."
O Papa Bento XVI iniciou ontem, no quadro das audiências gerais das quartas-feiras, no Vaticano, uma nova série de 'catequeses' que procura responder ao pedido dos apóstolos, referido em Lucas, 11, 1: "Senhor, ensina-nos a orar".
E começou, a jeito de introdução, por propor "alguns exemplos de oração presentes nas culturas antigas, para revelar como, praticamente sempre e em todos os lugares, os homens se dirigiram a Deus". Assim:
Fonte: Agência Zenit. Texto completo AQUI. Ilustração: Angelus, de Miller.
E começou, a jeito de introdução, por propor "alguns exemplos de oração presentes nas culturas antigas, para revelar como, praticamente sempre e em todos os lugares, os homens se dirigiram a Deus". Assim:
No Antigo Egito, por exemplo, um homem cego, pedindo à divindade que lhe restituísse a vista,
demonstra algo universalmente humano, como a pura e simples oração de petição de quem se encontra no sofrimento. Este homem reza: "Meu coração deseja ver-te... Tu, que me fizeste ver as trevas, cria a luz para mim. Que eu te veja! Inclina a mim teu rosto amado" (A. Barucq - F. Daumas, Hymnes et prières de l'Egypte ancienne, Paris 1980, trad. it. en Preghiere dell'umanità, Brescia 1993, p. 30).
Nas religiões da Mesopotâmia, dominava um sentimento de culpa arcano e paralisador, não carente de esperança da redenção e libertação por parte de Deus.
Podemos apreciar assim esta súplica por parte de um crente daqueles antigos cultos: "Ó Deus, que és indulgente inclusive com as culpas mais graves, absolve o meu pecado... Olha, Senhor, teu servo esgotado e sopra a tua brisa sobre ele: perdoa-o sem demora. Levanta teu severo castigo. Dissolvidos estes laços, permite que eu volte a respirar; rompe as minhas correntes, liberta-me das minhas ataduras" (M.-J. Seux, Hymnes et prières aux Dieux de Babylone et d'Assyrie, Paris 1976, trad. it. in Preghiere dell'umanità, op. cit., p. 37). São expressões que demonstram como o homem, em sua busca de Deus, intuiu, ainda que confusamente, por um lado a sua culpa, mas também aspectos de misericórdia e de bondade divinas.
Dentro da religião pagã da Grécia Antiga, assiste-se a uma evolução muito significava: as orações, ainda que continuem invocando ajuda divina para obter o favor celestial em todas as circunstâncias da vida cotidiana e para conseguir benefícios materiais, dirigem-se progressivamente a petições mais desinteressadas, que permitem ao homem crente aprofundar em sua relação com Deus e melhorar. Por exemplo, o grande filósofo Platão relata uma oração do seu mestre Sócrates, considerado justamente um dos fundadores do pensamento ocidental. Sócrates orava assim: "Fazei que eu seja belo por dentro. Que eu considere rico quem é sábio e que possua de dinheiro somente aquilo que o sábio possa tomar e levar. Não peço mais" (Obras I. Fedro 279c, trad. it. P. Pucci, Bari 1966). Ele queria ser sobretudo belo por dentro e sábio, não rico em dinheiro.
Naquelas obras-primas da literatura de todos os tempos, as tragédias gregas, ainda hoje, depois de vinte e cinco séculos, lidas, meditadas e representadas, há orações que expressam o desejo de conhecer a Deus e de adorar sua majestade. Uma delas diz assim: "Sustento da terra, que sobre a terra tens a tua sede, sejas quem for, é difícil de saber, Zeus, seja a tua lei por natureza ou por pensamento dos mortais, a ti me dirijo: já que tu, procedendo por caminhos silenciosos, guias as vicissitudes humanas segundo a justiça" (Eurípides, Troiane, 884-886, trad. it. G. Mancini, en Preghiere dell'umanità, op. Cit., p. 54). Deus continua sendo um pouco nebuloso e, no entanto, o homem conhece esse Deus desconhecido e reza Àquele que guia os caminhos da terra.
Também para os romanos, que constituíram aquele grande império no qual nasceu e se difundiu, em grande parte, o cristianismo das origens, a oração, ainda que se associasse a uma concepção utilitarista e fundamentalmente ligada à petição da proteção divina sobre a comunidade civil, abre-se, às vezes, a invocações admiráveis pelo fervor da piedade pessoal que se transforma em louvor e agradecimento. Disso é testemunha um autor da África romana do século II d.C., Apuleio. Em seus escritos, ele manifesta a insatisfação dos seus contemporâneos com relação à religião tradicional e o desejo de uma relação mais autêntica com Deus. Em sua obra-prima, intitulada "As metamorfoses", um crente se dirige a uma divindade feminina com estas palavras: "Tu és santa, tu és em todo tempo salvadora da espécie humana; tu, em tua generosidade, ofereces sempre auxílio aos mortais; tu ofereces aos miseráveis em aperto, o doce afeto de uma mãe. Nem dia nem noite, nem momento algum, por mais breve que seja, passa sem que tu o cumules dos teus benefícios" (Apuleio de Madaura, Metamorfosis IX, 25, trad. it. C. Annaratone, en Preghiere dell'umanità, op. cit., p. 79).
No mesmo período, o imperador Marco Aurélio - que também era um filósofo que pensava na condição humana - afirma a necessidade de rezar para estabelecer uma cooperação frutífera entre ação divina e ação humana. Ele escreve em suas "Lembranças": "Quem te disse que os deuses não nos ajudam também no que depende de nós? Começa a rezar-lhes e verás" (Dictionnaire de Spiritualitè XII/2, col. 2213). Este conselho do imperador filósofo foi, efetivamente, colocado em prática por inúmeras gerações de homens antes de Cristo, demonstrando que a vida humana sem a oração, que abre nossa existência ao mistério de Deus, fica sem sentido e privada de referências. Em toda oração, de fato, expressa-se sempre a verdade da criatura humana, que experimenta, por um lado, fraqueza e indigência e, por isso, pede ajuda ao céu; e por outro, está dotada de uma dignidade extraordinária, porque se prepara para acolher a revelação divina, descobre-se capaz de entrar em comunhão com Deus.
Fonte: Agência Zenit. Texto completo AQUI. Ilustração: Angelus, de Miller.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Jornalismos
Está a decorrer no Vaticano um encontro de 150 bloggers, no quadro das iniciativas várias que a Igreja Católica vem fazendo no sentido de estar presente e tirar partido das novas plataformas digitais e redes sociais.
A Agência Lusa achou interesse na iniciativa e ouviu pelo menos duas pessoas para um trabalho que difundiu pelos seus clientes: o P. Calado Rodrigues, de Bragança, e o autor destas linhas. Quanto ao sacerdote e jornalista brigantino, sugere um caminho que não deixa de merecer consideração: se a Internet é um (ciber)espaço, não mereceria que existissem párocos a trabalhar assumidamente nesse âmbito? Mas as coisas, considera ele, avançam, a este nível "devagar, devagarinho".
Na parte que me toca, sustentei que não basta a adopção das novas ferramentas da web; é necessária uma nova atitude, uma comunicação menos unidireccional e mais interactiva, mais voltada para a escuta do mundo.
A jornalista captou mais ou menos o que fomos conversando, ainda que o registo das perguntas me tenha parecido o de quem estava a tratar um assunto com o seu quê de exótico - uma instituição milenar a organizar - no Vaticano - um encontro de bloggers, por exemplo.
Onde ela não entrou foi na definição que procurei dar-lhe deste blog: que não se tratava de um bog católico e. menos ainda, porta-voz da Igreja, mas um espaço de abertura ao multiforme fenómeno do religioso na nossa cultura, do qual o catolicismo é certamente uma expressão fundamental. Conclusão dela: "Manuel Pinto, bloguista religioso 'e não católico' (...)".
Tão interessante e sintomático como esta conclusão: vários media, alguns dos quais conhecedores de como me posiciono nesta matéria, lá transcrevem, fiel e caninamente, a agência Lusa, sem pestanejar nem corrigir. Enfim, jornalismos.
A Agência Lusa achou interesse na iniciativa e ouviu pelo menos duas pessoas para um trabalho que difundiu pelos seus clientes: o P. Calado Rodrigues, de Bragança, e o autor destas linhas. Quanto ao sacerdote e jornalista brigantino, sugere um caminho que não deixa de merecer consideração: se a Internet é um (ciber)espaço, não mereceria que existissem párocos a trabalhar assumidamente nesse âmbito? Mas as coisas, considera ele, avançam, a este nível "devagar, devagarinho".
Na parte que me toca, sustentei que não basta a adopção das novas ferramentas da web; é necessária uma nova atitude, uma comunicação menos unidireccional e mais interactiva, mais voltada para a escuta do mundo.
A jornalista captou mais ou menos o que fomos conversando, ainda que o registo das perguntas me tenha parecido o de quem estava a tratar um assunto com o seu quê de exótico - uma instituição milenar a organizar - no Vaticano - um encontro de bloggers, por exemplo.
Onde ela não entrou foi na definição que procurei dar-lhe deste blog: que não se tratava de um bog católico e. menos ainda, porta-voz da Igreja, mas um espaço de abertura ao multiforme fenómeno do religioso na nossa cultura, do qual o catolicismo é certamente uma expressão fundamental. Conclusão dela: "Manuel Pinto, bloguista religioso 'e não católico' (...)".
Tão interessante e sintomático como esta conclusão: vários media, alguns dos quais conhecedores de como me posiciono nesta matéria, lá transcrevem, fiel e caninamente, a agência Lusa, sem pestanejar nem corrigir. Enfim, jornalismos.
domingo, 1 de maio de 2011
Ciclo do CRC abre com Eduardo Lourenço e Tolentino Mendonça
Dia 2 - O mundo mudado depois do Vaticano II
Eduardo Lourenço
P. José Tolentino Mendonça
Dia 9 - Como organizar a Igreja? Com que estruturas e ministérios?
Fr. Bento Domingues, o.p.
Emília Nadal
Dia 16 - As questões não resolvidas
Pedro Mexia
Teresa Toldy
Dia 23 - Como continuar o Vaticano II?
Manuela Silva
P. Peter Stilwell
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