Futebol, a nova religião
"(...)São sinais que resultam de o futebol se ter transformado numa nova religião, uma religião laica, com a sua ideologia, a sua fé, as suas massas, as suas cerimónias e ritos, as suas "catedrais" e clero, a sua economia. Não admira que a Conferência Episcopal portuguesa tenha alertado há meses, em invulgar comunicado, para o peso excessivo que o futebol vem assumindo no país: o futebol é, de facto, a única crença e instituição que pode tomar o lugar do catolicismo na sociedade portuguesa.
Apesar dos conflitos entre clubes e seus adeptos, o futebol une a nação: une pobres e ricos em torno do mesmo tema, o único possível para esse diálogo; une os portugueses até nas divergências, pois no futebol mesmo o ódio fornece uma linguagem comum a todos, que substitui a da religião. Ora, ao fazê-lo, o futebol fornece muito do que é necessário para se manter a coesão social. Em democracia, a política precisa dessa única linguagem comum na sociedade, e por isso apropria-se dela.
Além disso, o futebol substitui o debate sobre os problemas sociais, económicos e políticos, o que é um alívio para todos os políticos, nomeadamente para os que estão no poder. Se o povo falasse de política como fala de futebol nem os do Bloco de Esquerda tinham descanso perante a descoberta das suas carecas, quanto mais os partidos da área do poder governativo."
Eduardo Cintra Torres, Público, 31.5.2004
segunda-feira, 31 de maio de 2004
quarta-feira, 19 de maio de 2004
Concordata
António Costa Pinto, no DN:
"A Concordata da democracia foi finalmente assinada. Ultrapassamos assim a do Estado Novo, assinada em 1940 por um devoto Salazar, ainda que renitente em oferecer à Igreja Católica tudo o que ela queria. Precisávamos de uma nova ou bastava deixar cair a antiga? Os Estados democráticos não ganham muito com elas, mas a história é madrasta e a das relações entre Estado e Igreja no século XX não foi famosa.
A 1.ª República viu na Igreja um dos factores centrais do atraso português, tentou «limpar-lhe» a base de apoio e levou com ela em cima no final dos anos 20. Ainda assim, Salazar, apesar de pio católico, esteve longe das concessões do seu vizinho Franco e manteve grande parte da herança republicana.
O salazarismo ofereceu à Igreja grande parte do «monopólio das almas», o que para uma ditadura de direita até não foi mau.
A alternativa não seria a democrática, mas a fascista dos braços estendidos, bem mais preocupante. A Concordata de 1940 cede no divórcio e em muito mais, mas pede a «catolicização do império», ainda muito atrasada. Nos anos 50, a Acção Católica já mobilizava mais do que o Regime e dominava muito das suas organizações oficiais, e Salazar teme a dissidência. Esta acabou por vir, pois a Igreja Católica, ao contrário do que pensam os que a vêem de fora, é mais plural do que eles imaginam. Dito isto, em termos de teoria política liberal não sei se precisávamos de uma nova Concordata. Mas, lido o texto, também não se vê grande mal no que foi assinado."
António Costa Pinto, no DN:
"A Concordata da democracia foi finalmente assinada. Ultrapassamos assim a do Estado Novo, assinada em 1940 por um devoto Salazar, ainda que renitente em oferecer à Igreja Católica tudo o que ela queria. Precisávamos de uma nova ou bastava deixar cair a antiga? Os Estados democráticos não ganham muito com elas, mas a história é madrasta e a das relações entre Estado e Igreja no século XX não foi famosa.
A 1.ª República viu na Igreja um dos factores centrais do atraso português, tentou «limpar-lhe» a base de apoio e levou com ela em cima no final dos anos 20. Ainda assim, Salazar, apesar de pio católico, esteve longe das concessões do seu vizinho Franco e manteve grande parte da herança republicana.
O salazarismo ofereceu à Igreja grande parte do «monopólio das almas», o que para uma ditadura de direita até não foi mau.
A alternativa não seria a democrática, mas a fascista dos braços estendidos, bem mais preocupante. A Concordata de 1940 cede no divórcio e em muito mais, mas pede a «catolicização do império», ainda muito atrasada. Nos anos 50, a Acção Católica já mobilizava mais do que o Regime e dominava muito das suas organizações oficiais, e Salazar teme a dissidência. Esta acabou por vir, pois a Igreja Católica, ao contrário do que pensam os que a vêem de fora, é mais plural do que eles imaginam. Dito isto, em termos de teoria política liberal não sei se precisávamos de uma nova Concordata. Mas, lido o texto, também não se vê grande mal no que foi assinado."
terça-feira, 18 de maio de 2004
Quatro perguntas sobre a Concordata
António Marujo, no Público: Quatro perguntas sobre a Concordata:
"Era necessária uma nova Concordata?
Quando o Governo presidido por António Guterres decidiu encetar o processo de elaborar uma nova Lei de Liberdade Religiosa (LLR), debateu-se a necessidade de um acordo específico com a Igreja Católica. Para alguns, esta deveria entrar na lógica das restantes confissões religiosas, submetendo-se à lei geral. Para outros, o facto de ser a confissão maioritária dos portugueses deveria levar o Estado a contemplar essa especificidade. O próprio patriarca de Lisboa, entrando no debate, admitiu (entrevista ao Público, Junho de 2001) que uma lei seria suficiente, mas que a Concordata dava aos católicos portugueses 'uma estabilidade legislativa' que uma lei ordinária não permitiria.
Na radicalidade da sua doutrina, o cristianismo afirma-se despojado e desligado do poder - mesmo se, em vários momentos da História, o poder foi (muito mal) ligado à profissão da fé e exercido de forma arbitrária. Aceitar um tratado internacional que dê determinadas garantias à comunidade dos crentes do país estaria assim em contradição - ou pelo menos em desacordo - com aquela perspectiva.
O problema está na 'estabilidade' legislativa que a Concordata garante - ao contrário da lei ordinária, que poderia variar ao sabor das maiorias governativas. A hierarquia católica, escaldada pela História - Marquês de Pombal, liberalismo, I República - preferiu jogar à defesa. Ainda mais com alguns argumentos ouvidos durante o debate sobre a LLR e a Concordata, que faziam temer o pior: colocavam a dimensão religiosa como legítima para a sacristia ou mesmo para qualquer esfera extra-terrestre. Para os crentes, e para o cristianismo em particular, a fé tem uma dimensão pública que não se pode escamotear - e que o Estado, representando todos os cidadãos, tem o dever de levar em conta em todos os aspectos, já que também contempla a dimensão educativa, cultural, de saúde, desportiva ou outras.
Jogando à defesa, a hierarquia católica não arriscou o que poderia ter arriscado. Poderia tê-lo feito e com isso estaria a ser mais profética, como se diz em linguagem teológica. Mas, pesando uma e outra argumentação, aceita-se que, neste momento, possa haver uma nova Concordata. (...)"
Continuar a ler AQUI.
António Marujo, no Público: Quatro perguntas sobre a Concordata:
"Era necessária uma nova Concordata?
Quando o Governo presidido por António Guterres decidiu encetar o processo de elaborar uma nova Lei de Liberdade Religiosa (LLR), debateu-se a necessidade de um acordo específico com a Igreja Católica. Para alguns, esta deveria entrar na lógica das restantes confissões religiosas, submetendo-se à lei geral. Para outros, o facto de ser a confissão maioritária dos portugueses deveria levar o Estado a contemplar essa especificidade. O próprio patriarca de Lisboa, entrando no debate, admitiu (entrevista ao Público, Junho de 2001) que uma lei seria suficiente, mas que a Concordata dava aos católicos portugueses 'uma estabilidade legislativa' que uma lei ordinária não permitiria.
Na radicalidade da sua doutrina, o cristianismo afirma-se despojado e desligado do poder - mesmo se, em vários momentos da História, o poder foi (muito mal) ligado à profissão da fé e exercido de forma arbitrária. Aceitar um tratado internacional que dê determinadas garantias à comunidade dos crentes do país estaria assim em contradição - ou pelo menos em desacordo - com aquela perspectiva.
O problema está na 'estabilidade' legislativa que a Concordata garante - ao contrário da lei ordinária, que poderia variar ao sabor das maiorias governativas. A hierarquia católica, escaldada pela História - Marquês de Pombal, liberalismo, I República - preferiu jogar à defesa. Ainda mais com alguns argumentos ouvidos durante o debate sobre a LLR e a Concordata, que faziam temer o pior: colocavam a dimensão religiosa como legítima para a sacristia ou mesmo para qualquer esfera extra-terrestre. Para os crentes, e para o cristianismo em particular, a fé tem uma dimensão pública que não se pode escamotear - e que o Estado, representando todos os cidadãos, tem o dever de levar em conta em todos os aspectos, já que também contempla a dimensão educativa, cultural, de saúde, desportiva ou outras.
Jogando à defesa, a hierarquia católica não arriscou o que poderia ter arriscado. Poderia tê-lo feito e com isso estaria a ser mais profética, como se diz em linguagem teológica. Mas, pesando uma e outra argumentação, aceita-se que, neste momento, possa haver uma nova Concordata. (...)"
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segunda-feira, 10 de maio de 2004
As religiões e a cultura da Paz
Frei Bento Domingues
Mário Figueirinhas Editor, Porto, 2004
Este livro, que tem o prefácio de Lídia Jorge, é hoje apresentado no Porto, nos anexos da Igreja de Cristo Rei (à Avenida Gomes da Costa), pelas 18.30. A ocasião será pretexto também para uma homenagem ao editor, promovida pela Paróquia de Cristo Rei e pelo Centro D. António Ferreira Gomes.
Frei Bento Domingues
Mário Figueirinhas Editor, Porto, 2004
Este livro, que tem o prefácio de Lídia Jorge, é hoje apresentado no Porto, nos anexos da Igreja de Cristo Rei (à Avenida Gomes da Costa), pelas 18.30. A ocasião será pretexto também para uma homenagem ao editor, promovida pela Paróquia de Cristo Rei e pelo Centro D. António Ferreira Gomes.
domingo, 2 de maio de 2004
Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA:
"We worship the prince of peace, not war"
"When I was younger, almost all Baptists were strongly committed on a theological basis to the separation of church and state. It was only 25 years ago when there began to be a melding of the Republican Party with fundamentalist Christianity, particularly with the Southern Baptist Convention. This is a fairly new development, and I think it was brought about by the abandonment of some of the basic principles of Christianity.
First of all, we worship the prince of peace, not war. And those of us who have advocated for the resolution of international conflict in a peaceful fashion are looked upon as being unpatriotic, branded that way by right-wing religious groups, the Bush administration, and other Republicans.
Secondly, Christ was committed to compassion for the most destitute, poor, needy, and forgotten people in our society. Today there is a stark difference [between conservative ideology and Christian teaching] because most of the people most strongly committed to the Republican philosophy have adopted the proposition that help for the rich is the best way to help even poor people (by letting some of the financial benefits drip down to those most deeply in need). I would say there has been a schism drawn – on theology and practical politics and economics between the two groups."
Former President Jimmy Carter, America's first evangelical Christian president
in The American Prospect
April 9, 2004
"We worship the prince of peace, not war"
"When I was younger, almost all Baptists were strongly committed on a theological basis to the separation of church and state. It was only 25 years ago when there began to be a melding of the Republican Party with fundamentalist Christianity, particularly with the Southern Baptist Convention. This is a fairly new development, and I think it was brought about by the abandonment of some of the basic principles of Christianity.
First of all, we worship the prince of peace, not war. And those of us who have advocated for the resolution of international conflict in a peaceful fashion are looked upon as being unpatriotic, branded that way by right-wing religious groups, the Bush administration, and other Republicans.
Secondly, Christ was committed to compassion for the most destitute, poor, needy, and forgotten people in our society. Today there is a stark difference [between conservative ideology and Christian teaching] because most of the people most strongly committed to the Republican philosophy have adopted the proposition that help for the rich is the best way to help even poor people (by letting some of the financial benefits drip down to those most deeply in need). I would say there has been a schism drawn – on theology and practical politics and economics between the two groups."
Former President Jimmy Carter, America's first evangelical Christian president
in The American Prospect
April 9, 2004
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