domingo, 26 de janeiro de 2003

Organizações Católicas Internacionais contra guerra no Iraque

O Comité de coordenação da Conferência de Organizações Católicas Internacionais (COCI) apresenta uma posição crítica sobre a possibilidade de um ataque norte-americano ao Iraque, num comunicado de Imprensa datado de 19 de Janeiro.
A oposição a um ataque ao povo iraquiano é justificado por três pontos fundamentais, em que se refere que “não há provas convincentes da existência de armas de destruição maciça no Iraque”, que “os riscos de uma operação militar na zona são desproporcionados para a população e para o equilíbrio da região” e que “compete à ONU avaliar as condições para uma intervenção no Iraque”.
A COCI faz ainda referência às mensagens de João Paulo II sobre o tema da paz, ao mesmo tempo que sugere que no dia 2 de Fevereiro os seus associados se juntem em Oração, “porque o Senhor é a última instância a que podemos recorrer
para evitar esta tragédia”.
Esta organização agrupa 40 organizações laicais, presentes em mais de 150 países, e conta com cerca de 150 milhões de associados.

Fonte:Ecclesia

sábado, 4 de janeiro de 2003

João Maria van den Hurk, ss.cc.
Manuel Pinto

A campaínha tocou eram sete da manhã de um domingo cinzento. Dois agentes da PIDE-DGS apresentaram-se com ordens para levar o João Maria. Coisa breve, diziam. Mas lá iam sugerindo que talvez não fosse má ideia meter o pijama e uma escova de dentes num saco. Desculpando-se por serem simples agentes a cumprir ordens superiores, conduziram o padre num automóvel, para a sede da Rua do Heroísmo. As portas fecharam-se, de seguida, e o silêncio instalou-se.
Umas horas depois, telefonava o próprio da Holanda, onde acabara de chegar num voo da TAP. Num dos dias anteriores, a polícia política havia reservado uma viagem sem regresso deste cidadão holandês.
O motivo: na homilia do Dia Mundial da Paz, acabado de celebrar, atrevera-se a exprimir o sonho de que também nas ex-colónias fosse possível a paz. Não certamente a paz dos cemitérios, a paz do esmagamento dos direitos humanos, mas a paz que é fruto da justiça e que assenta no reconhecimento da dignidade de todos.
Neste caso, nem sequer se pode dizer que o João Maria fosse um revolucionário. Era, de facto, a pessoa mais pacífica deste mundo: um calmeirão bem disposto, com um coração acolhedor e solidário. Para ele, falar da paz num dia como aquele, sem referir a guerra sangrenta que se travava há uma década na Guiné, em Angola e em Moçambique era como estar perante uma paisagem bonita e fechar os olhos.
Os ouvidos do poder de então encostavam-se atrás das colunas das igrejas, para se assegurarem de que a Palavra de Deus se mantinha lá nas alturas, insípida, inofensiva e indolor e, se possível, com efeitos anestésicos.
A encíclica Pacem in Terris tinha, então, dez anos. O concílio Vaticano II lançara um sopro de vida na Igreja Católica. Começava a tornar-se evidente que o edifício do regime não aguentaria muito mais.
Nesse início de 1973, tinha acabado de acontecer o caso da Capela do Rato que ofuscou, naturalmente, uma multiplicidade de outros casos que se inscreviam numa consciência comum e numa vaga de fundo que começava a ganhar forma. Como este caso do João Maria, membro da Congregação dos Sagrados Corações, que agia não por estratégia política, mas por um indeclinável dever ético e por um imperativo evangélico.
Quando começa a ser de novo problemático defender a causa da paz – com as implicações éticas e políticas que essa causa reveste hoje e aqui - torna-se salutar recordar gestos simples e determinados como o do padre João Maria van den Hurk, ss.cc.
(Crónica para a RUM e para o DM de 6.1.2003)