Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
"Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome"
"O ano em que o Papa declarou guerra à pedofilia"
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
"O preço da felicidade"
Sobre o assunto, comenta o jornalista:
Independentemente do que for, há o mérito de nos pôr a pensar sobre as nossas prioridades e sobre o que é isso de ser feliz. Será difícil existir um consenso internacional na elaboração de um indicador que substitua o PIB, mas será positivo se algumas das conclusões tiradas tiverem peso nas políticas públicas.
A verdade é que alcançamos progresso tecnológico, científico e material, aumentámos produtividade e consumo, mas isso não nos levou a ganhos claros de bem-estar subjectivo. Talvez seja hora de voltar a pensar até que ponto as nossas opções nos têm conduzido à criação de condições para uma existência mais digna e plena. Regressar à pergunta de sempre: o que significa ser feliz?
Cf. Público - O preço da felicidade- acesso condicionado a assinantes)
«Este menino está aqui para ser sinal de contradição»
Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo:Mais de dois mil anos depois, esse menino - Emanuel - continua, e de que maneira, a ser sinal de contradição.
«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo,
porque os meus olhos viram a Salvação
que ofereceste a todos os povos,
Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.»
Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
Simeão abençoou os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição (...)»
Lc, 2, 31-34
(Crédito da imagem: William Blake, 1800)
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Porque não inquirir os motivos do abandono da missa dominical
Segundo aquela publicação, em 50 anos, mais concretamente entre 1955 e 2005, a participação dos católicos na missa dominical passou, nos Estados Unidos da América, de 75% para 45% [em termos comparativos, no mesmo período, a participação dominical entre as confissões protestantes passou de 42% para 45%]. Comentando estes dados, um especialista em gestão, citado pela revista, dizia, não há muito tempo, que se uma empresa perdesse clientes ao ritmo a que a Igreja Católica tem perdido fiéis praticantes naquele país, alguém teria já feito inquéritos sobre o abandono. E é isso que o articulista defende que deveria ser feito.
Prestes a iniciar-se o ano de 2011, durante o qual a Igreja Católica em Portugal vai repetir o recenseamento da prática da missa dominical, poderia ser interessante que, em simultâneo, e recorrendo aos recursos que possui, nomeadamente na Universidade Católica, mas não só, algo do género fosse levado a cabo aqui. A queda da ida à missa dominical é provavelmente bem maior entre nós do que nos Estados Unidos. As condições e contexto cultural são diversos, mas a necessidade de se conhecer os motivos da deserção não são menores. Mudanças nos valores dominantes e nas características na vida social? Qualidade das liturgias e das homilias? Questões doutrinais? Outros motivos? Não seria importante conhecer-se as razões?
É importante saber quantos vão. Igualmente importante seria saber por que vão. Mas talvez mais instrutivo ainda seria conhecer os motivos daqueles que não vão ou que deixaram de ir.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Músicas que falam com Deus (9) - para o tempo de Natal#3 - Huron Carol
domingo, 26 de dezembro de 2010
"A Igreja sabe o que quer?"
No “Público” de hoje, um artigo para pensar a Igreja Católica em Portugal em 2011: “O próximo ano trará uma pequena revolução à Igreja em Portugal”.
António Marujo aponta o que está em questão: eleições para a Conferência Episcopal Portuguesa (presidente, mas também para outros cargos e comissões), novos bispos, em breve, nas dioceses de Coimbra, Lamego, Bragança-Miranda e Lisboa, e o resultado da reflexão sobre o documento “Repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal”.
Ler comentário de António Marujo, "A Igreja sabe o que quer?" aqui.
sábado, 25 de dezembro de 2010
Bom Natal
As maravilhas desta clara noite excedem todas quantas viram os antigos Servos de Deus: porque, como diz um Santo, os nossos padres antigos muitas e grandes maravilhas de Deus viram. O Céu lhes orvalhou manjar de Anjos para seu mantimento. O Mar Roxo se lhes abriu em carreiras para que pudessem passar a pé enxuto. O rio Jordão se retirou para a fonte donde nascia para lhes dar livre passagem. Os muros fortíssimos da cidade de Jericó caíram subitamente a som de trombeta. O Sol se deteve no Céu por um grande espaço sem se mover, para que o povo de Deus, que pelejava contra seus inimigos, acabasse de os destruir. Estas e outras maravilhas viram: mas não lhes foi dado ver a verdadeira Luz Eterna, coberta com a nuvenzinha de carne de menino e posta em um presépio por amor de nós.
Bartolomeu dos Mártires
[Antologia de Espirituais Portugueses. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994. Imagem: instalação de Dan Flavin]
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Um dia triste
uma mulher jovem, já com três filhos, está grávida do quarto, e encontra-se afectada por uma doença grave, medicamente comprovada, que com elevado grau de probabilidade, a levará à morte juntamente com o bebé. Se for feito um aborto, poder-se-á salvar a mãe.
No hospital em que a grávida se encontra internada, reúne-se o comité de ética, ouve-se a paciente, a sua família e outros prestadores de cuidados. Todos consideram que deve ser adoptada a via que preserva a vida da mãe, na impossibilidade de salvar ambas. Esse caminho é seguido, o aborto é praticado e a mulher salva-se.
O bom senso prevaleceu. Em nome do direito à vida, se não se pode salvar duas vidas, mas apenas uma, essa vida deve ser salva. Um mal menor, certamente. Mas salva-se uma vida.
Um mal menor?
Nem pensar. Não há mal menor. Há simplesmente mal. E matar uma vida é intrinsecamente um mal, independentemente das circunstâncias, pelo que o hospital em causa nunca deveria ter praticado o aborto que salvou a mãe.
Quem assim pensa e em consonância actua é o bispo da diocese, porque o hospital, sendo católico, deve agir de acordo com a interpretação que o bispo faz da doutrina da Igreja. E a Igreja - diz ele, socorrendo-se da doutrina do Magistério e das normas éticas da Conferência dos Bispos dos EUA - não aceita que tal possa acontecer.
Para começar, fez saber que a religiosa que presidia ao Comité de Ética e que era simultaneamente vice-presidente do hospital,se deveria considerar automaticamente excomungada. E, na sequência de contactos com os responsáveis da instituição hospitalar, durante os quais não conseguiu demovê-los da posição que tinham assumido em consciência, o bispo acaba de anunciar, em conferência de imprensa,que o hospital já não pode mais considerar-se católico.
Um caso destes é muito triste e, diria mesmo, revoltante. Posso compreender que existam outros factos que tenham pesado também na decisão do bispo. Mas no caso que desencadeia a sua intervenção drástica, não parece haver lugar para grandes dúvidas,salvo melhor opinião: se medicamente é comprovado (de acordo com os conhecimentos e a experiência existentes) que há real risco de morte para mãe e filho e que é possível, com uma intervenção (que redunda em aborto), salvar uma das vidas, deve-se deixar o processo correr, sacrificando as duas? Em nome de que ética? Se o hospital, esgotando todas as possibilidades, agindo com todas as precauções (e não se provou que o não tivesse feito), chega à conclusão de que pode salvar uma vida, essa atitude não é mil vezes preferível à do bispo que, em nome de um princípio cegamente aplicado, pretende obrigar à adopção de uma prática que sacrifica as duas?
Que o bispo deseje que ninguém seja sacrificado e que defenda que ninguém deve ser morto, aceita-se e aplaude-se. Mas isso também os médicos e o comité de ética - e, antes de mais ninguém, a mãe da bebé - certamente desejavam. Mas a decisão ética está precisamente aí - em ponderar valores e, em último caso, em salvar o que pode ser salvo.
Não creio que o bispo de Phoenix tenha prestado um bom serviço à causa da defesa da vida e este fundamentalismo no modo de actuar não desacredita apenas esses movimentos, desacredita a própria Igreja. E deixa-a, com o tempo, a falar sozinha. É isso que dói e é isso que faz do dia de hoje um dia triste.
É assim, pelo menos, que, em consciência, acho.
...E exaltou os humildes
«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»
Lucas 1,46-55
domingo, 19 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Anselmo Borges: Religião, felicidade e infelicidade
Anselmo Borges no DN deste sábado:
Quando se toma o poder sacro em nome de Deus, os perigos são imensos e terríveis. Até surge a tentação de "administrar" Deus. Então, quem não está com os "administradores" de Deus é herético e condenado. Lá está o perigo do fanatismo: somos a única religião verdadeira e todas as outras devem ser combatidas. Lá está o impedimento da liberdade de pensar e a censura. O pior é a imagem de um deus mesquinho, cruel, violento, causa de ateísmo e de infelicidade.
Esses "administradores" da religião e do próprio Deus arrogam-se também o direito de administrar a moral e são eles então quem determina o que é bem e mal, o que se deve fazer e não fazer. E lá está o controlo do prazer pelo poder, porque o prazer subverte o poder. Lá está então uma sexualidade envenenada, a proibição dos contraceptivos, o celibato eclesiástico obrigatório e a sua grandeza e miséria. Lá está a pedofilia dos clérigos, ocultada para tentar preservar a instituição-poder.
Ler tudo aqui.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
John L. Allen entrevista o editor-chefe do "L'Osservatore Romano"
Giovanni Maria Vian afirma que o jornal é escrito com grande independência: “Tecnicamente, a única parte «oficial» do jornal é a coluna «Nossa informação» [geralmente publicada na primeira página, essa coluna é uma breve lista de indicações, audiências e outros atos oficiais papais] (…). Naturalmente, o L'Osservatore Romano é o único jornal do Vaticano, e por isso ele tem uma certa autoridade. No entanto, é uma autoridade derivada da sua longa história e da sua capacidade de interpretar do ponto de vista da Santa Sé, do Papa e da Secretaria de Estado, e não de ser diretamente aprovado. O Papa é o nosso "editor" no sentido de ser o dono do jornal, por meio da Secretaria de Estado e do substituto. Mas somos publicados todos os dias, e não é possível que alguém aprove o conteúdo de antemão”.
O melhor de Portugal: por ele continuamos a existir
"Porquê e para quê - Pensar com esperança o Portugal de Hoje” é o título da mais recente obra de D. Manuel Clemente. O livro foi apresentado terça-feira à noite, no Palácio da Bolsa, no Porto, por Manuel António Pina, e recolhe 18 intervenções recentes (2009 e 2010) do bispo do Porto na área da cultura e da reflexão sobre Portugal.
No livro, edição da Assírio & Alvim, incluem-se textos como o da recepção do Prémio Pessoa, a entrevista ao Público feita por Teresa de Sousa, em Setembro deste ano, e ainda outros sobre temas como o centenário da I República, as repercussões das Invasões Francesas no catolicismo português, o diálogo entre religião e ciência, o monaquismo, a regionalização, e a trilogia liberdade-igualdade-fraternidade.
D. Manuel diz que a crise que Portugal vive é profunda, mas recorda que as dificuldades vividas no país ao longo de vários séculos nunca levaram ao fim da pátria, mesmo com todas as fragilidades de um país pequeno e periférico. Por mais pessimismo que o presente inspire, o bispo do Porto rejeita o conformismo e lembra que são agora bem mais visíveis os bons exemplos de esperança de gente concreta que procura dar a volta por cima.
Escreve o bispo do Porto: "O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe e por ele mesmo continuamos nós a existir. Apesar de tudo, mas não apesar de nós."
Na introdução, a editora refere que o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais “coloca em relação passado e presente, comum e singular, religioso e profano, as verdades penúltimas que seguimos e aquelas que se desenham misteriosamente últimas”.
Num “tempo português carregado de incertezas, esta antologia pretende documentar a vivacidade de um pensamento rigoroso e polifónico que se abre, e nos abre, à esperança”, acrescenta o texto de introdução à obra.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Já é Natal em Alborán
Igual que hace dos mil años, María huía del futuro dictado por los Herodes de la miseria y la corrupción. En esta ocasión no viajaba a lomos de un burro, sino en el húmedo vientre de una patera. Como entonces, le llegó el momento del parto en pleno viaje y el pesebre fue sustituido por un desvencijado cayuco. No había posada ni para ella, ni para los 32 subsaharianos que la acompañaban, entre ellos siete embarazadas más y seis menores.
La estrella de Oriente se adaptó a los nuevos tiempos y se transmutó en una llamada de móvil que un ángel anónimo hizo desde Marruecos avisando de la salida de la embarcación la tarde anterior.
El calor que otrora dieron al niño un buey y una mula, ayer lo ofreció el regazo del guardia civil que durante dos horas, hasta llegar a Motril, protegió a la pequeña del intenso frío.
¿A qué esperamos para salir corriendo a Alborán y poner a los pies de la niña el requesón, la manteca y el vino de nuestras rebosantes despensas? ¿A qué esperan los políticos y sabios para ir a ofrecerle el oro, el incienso y la mirra de un futuro lleno de posibilidades? ¿Vamos a dejar que, dos mil años después, la sombra de una cruz se proyecte sobre el porvenir de esa niña? En cada crío que nace se juega la salvación compartida de un futuro mejor para todos, empezando por los últimos. Alegrémonos con los pastores porque ya es Navidad en Alborán.
Do Site Eclesalia
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Enrique Morente
Aqui interpretando Cantar del alma que se huelga de conocer a Dios por fe, de S. João da Cruz, Enrique Morente morreu hoje aos 67 anos, em Madrid.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Bento Domingues: O Evangelho é divertido
Águas jorrarão no deserto
vão alegrar-se,
a estepe exultará
e dará flores belas
como narcisos.
Ela vai cobrir-se de flores
e transbordar de júbilo
e de alegria.
Tem a glória do Líbano,
a formosura do monte Carmelo
e da planície de Saron.
Será vista a glória do Senhor
e a magnificência do nosso Deus.
Fortificai as mãos desfalecidas,
robustecei os joelhos vacilantes.
Dizei àqueles que têm o coração perturbado:
Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso Deus!
(...)
Então se abrirão os olhos do cego.
E se desimpedirão os ouvidos dos surdos;
então o coxo saltará como um cervo,
e a língua do mudo dará gritos alegres.
Porque águas jorrarão no deserto
e torrentes, na estepe.
A terra queimada se converterá num lago,
e a região da sede, em fontes.
No covil dos chacais crescerão caniços e papiros.
E haverá uma vereda pura,
que se chamará o caminho santo;
nenhum ser impuro passará por ele,
e os insensatos não rondarão por ali.
Nele não se encontrará leão,
nenhum animal feroz transitará por ele;
mas por ali caminharão os remidos,
por ali voltarão aqueles
que o Senhor tiver libertado.
Eles chegarão a Sião com cânticos de triunfo,
e uma alegria eterna coroará sua cabeça;
a alegria e o gozo possuí-los-ão;
a tristeza e os queixumes fugirão.
Isaías, 35
sábado, 11 de dezembro de 2010
Releitura (bem-humorada) da narrativa da natividade de Jesus
(Autoria: Excentric).
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
As Confissões, de Santo Agostinho, em debate em Lisboa
O ciclo, coordenado e moderado pela jornalista e escritora Filipa Melo, pretende promover o contacto com os grandes textos clássicos como “aventura mental e afectiva” e numa “relação viva e transmissível”. Em cada sessão, o leitor especialista fala do seu gosto por um título clássico de ficção ou pensamento, como herança universal sem tempo. A sessão é aberta a todos os interessados.
Mais informação pelo telefone 213 570 428 ou em http://www.almedina.net.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Músicas que falam com Deus (8) - para tempo de Natal#2 - Música romena em concertos
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Músicas que falam com Deus (7) - para o tempo de Natal #1 - Cantatas de Natal, de J.S.Bach
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Dos homens, dos deuses e do cinema
Um outro padre, desta vez do Luxemburgo, é o centro da história de O Nono Dia, baseado numa história real. O protagonista está preso no campo de concentração de Dachau e é libertado por nove dias. No final desse tempo deve decidir se apoia o regime nazi ou se mantém a sua oposição e regressa ao campo.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Igreja e cultura: cada vez mais longe?
" (...) Esta transformação da sensibilidade e dos valores, que leva à rejeição das normas e certezas tradicionais a favor de uma liberdade carente de referências firmes, é algo observável de um modo muito directo na conduta das gerações mais jovens. Estas tendem cada vez mais a gerir sua vida sexual quase exclusivamente em base ao critério da autenticidade afectiva. O casamento vai perdendo o carácter de horizonte natural do noivado, e aqueles que decidem casar-se o fazem hoje, em sua maioria, depois de experiências mais ou menos prolongadas de convivência. E não estamos falando de algo que aconteça só fora da Igreja. Muitos católicos adoptam estes novos estilos de vida sem sentir que estão pondo em jogo sua fé ou sua pertença religiosa.
Encontramos aqui um traço característico deste giro cultural: não se realiza contra a Igreja, isto é, não está necessariamente vinculado a uma postura de princípio contrário à fé ou à instituição eclesial (ainda que assim certas reivindicações particulares possam ser apresentadas publicamente). Pelo contrário, é uma mudança que acontece na maioria dos casos à margem da Igreja, isto é, em virtude de uma busca pessoal simplesmente alheia a tudo o que não for experimentado como significativo para si, muito além do que ela “diga” permita ou proíba.
Aqui parece localizar-se, então, o problema de fundo: a brecha crescente entre a Igreja e a cultura, entre seus ensinamentos e a vida da sociedade, sem excluir a vida dos fiéis. Não se trata tanto da verdade ou do valor da doutrina católica sobre a sexualidade em si mesma, quanto de sua relevância, isto é, de sua capacidade para modelar efectivamente a vida das pessoas. Precisamente, a percepção de uma perda dramática de relevância do ensino da Igreja está suscitando há anos profundas tensões no seio da mesma entre os que, por toda resposta, protegem a “doutrina segura”, e aqueles que no outro extremo procuram “chegar” às pessoas, através de propostas atraentes mas aventuradas, sem nenhuma continuidade possível com a Tradição(...)".
Eis-me aqui
(Is 65, 1)
domingo, 28 de novembro de 2010
Anselmo Borges: A Igreja e os sinais dos tempos
Anselmo Borges no DN de 27 de Novembro de 2010:
"Não foi por acaso que a revelação sobre o uso do preservativo apareceu no mesmo dia em que o Papa impôs o barrete a mais 24 cardeais. No dia seguinte, lembrou-lhes que devem estar sempre junto de Cristo na cruz. Mas cá está! No meio de todo aquele aparato do Vaticano, há aqui uma contradição entre a pompa e a cruz. Há aquele texto do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, que diz mais ou menos assim: vai Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Copenhaga, revestido de paramentos com filamentos de ouro e um báculo e uma mitra debruados de pedras preciosas, com todo o seu séquito em esplendor, senta-se num cadeirão de prata e dá início à sua homilia sobre a pobreza. E ninguém se ri!..."
Ler tudo aqui.
sábado, 27 de novembro de 2010
Vigília pela vida nascente. E pela vida e dignidade ameaçadas?
Ainda que não simpatize com algum fundamentalismo, obsessão e reduccionismo de movimentos que gravitam em torno da "defesa da vida", reconheço que é sempre pouco o que se faz para criar condições para que novos seres humanos possam vir ao mundo em condições de acolhimento do mistério da vida e de justiça e paz nos contextos de crescimento das crianças. É necessário promover a vida e combater o que a limita e entrava, nas suas causas mais profundas. O aborto será porventura um desses entraves, mas sou levado a crer que ele é mais um sintoma do que uma causa (ainda que de resultados trágicos).
Dito isto, não posso deixar de anotar que não vejo na Igreja a mesma acutilância, o mesmo investimento de energias noutros campos onde a vida (e a dignidade das pessoas) se joga, como ocorre com a "vida nascente". A prova é que, num contexto como o dos países europeus, nomeadamente, em que se vive uma crise gravíssima, que lança a cada dia milhares de pessoas para a valeta da sociedade, não há uma vigília da escala da de hoje, que alerte a consciência dos cristãos e de toda a sociedade. Quem diz uma vigília, diz outra forma de, liturgicamente, em ambiente celebrativo, fazer da crise e da procura de caminhos para a enfrentar o mote para a reunião dos cristãos.
Os jovens que não encontram de que viver e condições para constituir família; os de meia-idade que se vêm subitamente desempregados e tornados inúteis; os idosos cada vez mais abandonados e espoliados; os que trabalham e que, tantas vezes, se deparam com verdadeiros atentados à sua dignidade de trabalhadores; o mercado selvagem que tudo contamina - é a vida, o seu sentido e os seus limites, que está em causa. Olhe-se para a Irlanda, para a Grécia, para Espanha, para Portugal e vários outros países - se há "nova evangelização" em perspectiva, ou ela aterra aqui, nestes dramas, nestes impasses, nestes labirintos ou simplesmente não será.
"Não mais haverá noite"
No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de medicamento para as nações.
E ali nunca mais haverá nada maldito. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade e os seus servos hão-de adorá-lo e vê-lo face a face, e hão-de trazer gravado nas suas frontes o nome do Cordeiro.
Não mais haverá noite, nem terão necessidade da luz da lâmpada, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus irradiará sobre eles a sua luz e serão reis pelos séculos dos séculos.
Apocalipse 22,1-5
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Somos um país de ricos e de ...miseráveis
http://ww1.rtp.pt/noticias/?t=Reformas-na-Suica-com-tecto-maximo-de-1700-euros.rtp&headline=20&visual=9&article=390426&tm=7
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O Papa, o preservativo e o debate mediático
domingo, 21 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens agitados sem bússola onde repousem
Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados
Por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são sítios desviados
Do lugar
....
Homens que são como projectos de casas
Em suas varandas inclinadas para o mundo
Homens nas varandas voltadas para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de vasilhas esperando a chuva
Parados à espera
De um companheiro possível para o diálogo interior
Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber
Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior
...
Não levantemos os homens que se sentam à saída
Porque se movem em seus carreiros interiores
Equilibram com dificuldade uma ideia
Qualquer coisa muito nítida, semelhante
A uma folha vazia
E põem ninhos nas árvores para se libertarem
Da gaiola terrível, invisível muitas vezes
De tão dura
Não nos aproximemos dos homens que põem as mãos nas grades
Que encostam a cabeça aos ferros
Sem outras mãos onde agarrar as mãos
Sem outra cabeça onde encostar o coração
Não lhes toquemos senão com os materiais secretos
Do amor.
Não lhes peçamos para entrar
Porque a sua força é para fora e a sua espera
É a fé inabalável no mistério que inclina
Os homens por dentro
Não os levantemos
Nem nos sentemos ao lado deles.
Sentemo-nos
No lado oposto, onde eles podem vir para erguer-nos
A qualquer instante
Daniel Faria, “HOMENS QUE SÃO COMO LUGARES MAL SITUADOS”, 1998
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Comissão Justiça e Paz e o desafio da mudança
A Comissão Nacional Justiça e Paz e a Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa organizam neste sábado, em Lisboa, a conferência "O Desafio da Mudança Urgente – Caridade, Verdade e uma Encíclica". A entrada é livre, sendo, porém, solicitada confirmação de presença para o e-mail comissãonjp@mail.com ou para o telefone 218 855 480.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
À procura da Palavra – Estranha realeza
“Hoje estarás comigo no paraíso.” (Lc 23, 43)
Domingo de Cristo Rei
Ficamos impressionados (e talvez incomodados) com a mega operação de segurança em torno da Cimeira da Nato realizada nestes dias em Lisboa. A vinda de mais de 50 chefes de estado e de governo e as numerosas comitivas obriga a rigorosas medidas de segurança e logística. E se os perigos são reais, também cresce uma sensação de aparato e ostentação que os “senhores deste mundo” persistem em cultivar. As menos de 24 horas de encontros e trabalho real pela segurança do mundo e o seu desenvolvimento irão produzir algo verdadeiramente benéfico? Esperamos que sim, para que não fique destes dias um amargo sabor a vaidade e desperdício!
Prestes a dar o último suspiro, pregado na cruz, Jesus é interpelado, por três vezes, pela mesma frase: “Se és o Messias…, salva-te a ti mesmo.” Repete-se a tentação do deserto. Jesus procurou sempre batalhar contra as ideias erradas acerca da sua “realeza”: não se centra em si mesmo, não age em seu benefício, não usa o poder para dominar nem para criar dependência. A loucura da cruz incomoda, porque quem não procura salvar-se a si mesmo, e sim, salvar todos os que puder, revela um amor que nada pode destruir. Que ninguém pode dominar ou manipular. Estranha realeza esta, que recusa os métodos habituais de conquista das multidões e de senhorio do mundo. A realeza fraca e pobre de um Deus crucificado!
No meio da algazarra e do espectáculo doloroso do calvário, por entre as vozes de zombaria e insulto, Jesus é atraído pelo sofrimento de um dos malfeitores. Sempre quem sofre a ter um lugar único no seu coração! É muito difícil para nós, que vivemos a dor fechando-nos em nós próprios, nesses momentos compreender o sofrimento dos outros. Dor e amor parecem-nos irreconciliáveis. Mas Jesus, no meio da maior dor, mostra o maior amor do mundo. Tinha chamado os discípulos para andarem com Ele, e levava consigo um discípulo nascido no meio do maior sofrimento. Um discípulo sem currículo, com práticas muito reprováveis, mas capaz de se compadecer e de acreditar. Estranho rei que não tem guarda-costas nem exército, mas é defendido pelo mais improvável dos advogados. Aquele que não se fechou na sua dor e fez sua a dor de Jesus. Teve 20 valores na prova prática do mandamento do amor!
Fecha-se a cortina do ano litúrgico e anuncia-se o nascimento de um “Deus despido”. O calvário e Belém tão próximos. A cruz e a manjedoura: únicos tronos deste estranho rei! Escrevia o pastor protestante Bonhoeffer, morto por ordem de Hitler: “Deus deixa-se empurrar para fora do mundo e pregar na cruz. Deus é impotente e fraco no mundo, e assim somente, ele está connosco e nos ajuda…”.
Bento XVI e a Europa
- Why has Pope Benedict chosen a European strategy?, by Jean-Marie Guénois (Le Figaro);
- Pourquoi Benoît XVI choisit une stratégie européenne ? par Jean-Marie Guénois (Le Figaro).
Músicas que falam com Deus (6) - Liturgia e poesia em disco
Sinais que chegam da América
- Notícia "Hacia que Iglésia vamos?", do blog ENCOMUN
- Notícia "L'archevêque de New York élu président de la Conférence des évêques des USA", em La Croix [Sobre este último link, vale a pena complementar o que diz e sugere com a análise feita por Michael Sean Winters em "What happened in Baltimore?"
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Comunicar também é escutar
Onde é que esse modo hegemónico de comunicar prevalece?
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Um pequeno conforto
Torna-se finalmente claro que o conforto que falta à nossa vida é bem mais pequeno do que supomos. Basta-nos o conforto de atravessar ao lado de outros a nossa noite e assistir aí, esperançados, à chegada da manhã.
[Para ler a súmula da historia: AQUI.]
José Tolentino Mendonça, in Diário de Notícias da Madeira, 14.11.10
domingo, 14 de novembro de 2010
Papa pede reforma profunda da economia mundial
A actaul crise “reclama uma mensagem de firmeza apelando a uma profunda reforma do modelo de desenvolvimento económico mundial”, disse o Papa. “As economias dos países ricos não devem tentar alcançar alianças vantajosas que podem ter graves consequências para os países mais pobres”.
O essencial das afirmações de Bento XVI está aqui.
Causas dos abusos sexuais por parte de membros do clero
O vídeo refere-se a uma conferência que fez na semana passada em Sidney, Austrália, na Inaugural Australasian Clergy Abuse Reparation & Prevention Conference .
Informação complementar:
- Brian Coyne: Healing the victims of clerical sexual abuse and healing the institutional culture!, at Catholica
- Tom P. Doyle: Pope, cardinals don’t need prayer; they need to listen, at Nat. Catholic Reporter.
sábado, 13 de novembro de 2010
Anselmo Borges: Protesto, luto e reflexão
A sabedoria da história bíblica das vacas gordas e das vacas magras - armazenar no período da abundância para os tempos de dificuldade - há muito que foi esquecida entre nós. E aí está a crise, incalculável, na perplexidade, e sobretudo sem horizontes de futuro. Ninguém nos diz o que se pode razoavelmente esperar, depois de tanta crise e sacrifícios sem fim, e este é o perigo maior.
Há a crise mundial, uma imensa interrogação sobre o que ainda se chama União Europeia, a subordinação da política ao poder económico-financeiro. Entre nós, é tudo isto. Mas não só.
É certo que o País mudou, e nem tudo foi mau. A rede viária, por vezes até com excessos desnecessários - que interesses estavam em causa? -, permite comunicação rápida. Pôs-se fim ao analfabetismo. Há nichos de excelência na investigação e no ensino. Houve alguma mudança nas mentalidades, a convivência com outras culturas e religiões é boa. Grandes camadas da população viram o seu nível de vida melhorado.
Mas, depois, há perguntas que inevitável e desesperadamente se colocam, e todas, quando se pensa na situação presente e no que aí vem, convergem para esta: como foi possível chegar à beira do abismo em que nos encontramos? (...)
Texto de Anselmo Borges no DN de hoje. Ler tudo aqui.
Morreu o compositor Henryk Górecki
O compositor polaco Henryk Górecki morreu ontem em Katowice, noticiou o Público. A Sinfonia n.º 3, a chamada "Sinfonia das Canções Tristes", editada em 1992 em homenagem às vítimas do Holocausto, é uma das suas obras mais conhecidas.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Estreia o filme "Dos Homens e dos Deuses"
Oito monges católicos franceses vivem em harmonia com a população muçulmana, até que, progressivamente, a violência e o terror tomam conta da região. Apesar das ameaças, os religiosos decidem resistir ao terrorismo e ficar. Esta é a história verídica dos monges de Tibhirine, raptados e assassinados por um grupo de fundamentalistas islâmicos durante a guerra civil argelina, em 1996.
(Nota de apresentação do Público).
Alguém que tenha visto o filme quer comentar aqui?
Informação complementar:
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Juan Masiá debate livro de Anselmo Borges
Secularismo: Teoria e Prática em Diálogo
Este curso de formação avançada irá apresentar um panorama das questões do secularismo, combinando várias disciplinas que o têm como objecto de investigação: teologia, filosofia, antropologia e sociologia. O curso de formação avançada será ainda complementado por uma discussão em mesa redonda com Fernando Catroga (FLUC) sobre o tema de uma das suas mais recentes obras – o secularismo e a república.
Oradores:
- AbdoolKarim Vakil (Department of Spanish, Portuguese and Latin American Studies/ Department of History, King's College London )
- Angelo Cardita (CES)
- Clemens Zobel (CES)
- João Cardoso Rosas (Universidade do Minho)
- Mathias Thaler (CES)
- Roberto Merrill (Universidade do Minho)
- Silas Oliveira
- Teresa Toldy (CES/Universidade Fernando Pessoa, Porto)
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Arcebispo de Bruxelas: condutor em contramão, sob fogo mediático
Tendo sucedido em Janeiro último ao cardeal Daneels, outrora um prestigiado membro da hierarquia da Igreja, mas que esteve nos últimos meses sob a acusação de ter dado cobertura a pelo menos um caso de abusos sexuais continuados, o do bispo de Bruges, o seu sucessor, o arcebispo-primaz André-Joseph Léonard, não se tem cansado de provocar a polémica. Primeiro, foi acusado de considerar a SIDA uma "justiça imanente", espécie de castigo para pessoas que abusaram do corpo. Noutra ocasião, referiu-se à homossexualidade em termos que suscitaram a associação a uma doença semelhante à anorexia. Mais recentemente, perante uma sociedade chocada com a Igreja por causa da pedofilia, foi ao ponto de sugerir que os padres acusados desse crime não deveriam ser punidos pelo poder eclesiástico, mas antes deveriam poder viver tranquilos os anos que lhes restam de vida.
A tudo isto o visado responde (extenso comunicado difundido ontem) considerando que se trata, em boa medida, de interpretações abusivas dos media e dos comentadores e de frases eventualmente retiradas do respectivo contexto. Sobre a doença de SIDA observa que se trata de umas afirmações feitas há cinco anos, num quadro de evolução da doença diverso do actual, e que ganham agora pertinência, com a tradução do livro de 2005 para flamengo. Relativamente à homossexualidade, recorda que se limitou, num debate televisivo, a comparar "a atitude que se adopta com as pessoas anoréxic e a que devemos ter para com as pessoas homossexuais", o que não autoriza a dizer-se tratar-se nos dois casos de pessoas "anormais" ou "doentes". Finalmente, acerca de padres pedófilos, observou que se referia a casos concretos de padres de idade avançada, alguns internados em lares, relativamente aos quais os crimes prescreveram e cujas vítimas se satisfizeram com o facto de os vitimizadores reconhecerem os abusos e pedirem perdão pelo que fizeram.
Pelo menos boa parte da opinião pública belga considera estar-se perante um hierarca desbocado. A verdade é que o mal-estar na Igreja daquele país tem-se vindo a acentuar nos últimos meses e há bispos, como de Namur, que fazem questão de se distanciar dos seus posicionamentos. Há dias, Léonard fez saber que se calaria até ao Natal, uma medida apoiada pelos responsáveis de duas revistas católicas do país, mas a promessa durou poucas horas e quem não aguentou mais foi o seu porta-voz, um jovem e prestigiado teólogo leigo que anunciou ontem, em comunicado, a demissão do cargo, salientando que "o copo transbordou". E comparou mesmo o arcebispo a um condutor em contramão, convencido de que todos os outros condutores é que estão errados. Declarações que configuram "algo nunca visto na história da Igreja da Bélgica", nas palavras do chefe de redacção da revista católica daquele país "Kerk & Leven".
O que é facto é que, como dizia recentemente um dirigente católico belga, a Igreja daquele país é uma "zona sinistrada" e os factos mais recentes não são de molde a reconstruir o que tem estado a desabar.
Ordens Religiosas em congresso inédito
(Ilustração: Giotto, Aparição de Sao Francisco no Capítulo de Arles)
Começou esta terça-feira em Lisboa (vai até sexta) o Congresso Ordens e Congregações Religiosas em Portugal - Memória, Presença e Diásporas. Este é o texto da notícia publicada aqui.
Apesar dos conflitos entre a I República e a Igreja Católica em Portugal — incluindo a medida inicial da extinção das ordens religiosas —, houve mais congregações religiosas criadas nos anos do novo regime que nas nove décadas de monarquia constitucional.
Quem o diz é o historiador José Eduardo Franco, coordenador-geral da organização do congresso Ordens e Congregações Religiosas em Portugal, que decorre entre amanhã e sexta-feira na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Só nos últimos três anos de República (1923-26) foram criadas em Portugal cinco novas congregações religiosas, quatro das quais de origem portuguesa, um dado que será apresentado nestes dias do congresso.
Esta é a primeira iniciativa do género no mundo a reunir tantos especialistas — há mais de 180 conferencistas oriundos de todos os continentes, e 600 participantes. Nos quatro dias de debates, serão dissecados todos os aspectos relativos às primeiras “multinacionais” católicas, as primeiras organizações a fazer a globalização, como se lhes refere o historiador.
As congregações fundadas na I República foram as Servas de Nossa Senhora de Fátima, Criaditas dos Pobres, Oblatas do Divino Coração e Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. De França, veio a primeira comunidade das Irmãs da Apresentação de Maria.
No tempo da Monarquia constitucional, apenas tinham sido criadas duas congregações religiosas: as Dominicanas de Santa Catarina de Sena, por iniciativa de Teresa de Saldanha, e as Irmãs Vitorianas, dinamizadas por Mary Wilson, uma inglesa que vivia no Funchal.
O próprio Afonso Costa, líder republicano, “começou a tolerar a existência de hospitais” pertencentes a ordens religiosas, diz Eduardo Franco. Mas as medidas da I República “só fizeram bem, porque tiveram um efeito propulsor” para a acção das ordens religiosas, avalia o historiador.
Questões de natureza social, teológica, antropológica, histórica, patrimonial ou artística serão dissecadas nestes quatro dias. A par das polémicas e do papel das ordens religiosas na educação, saúde, cultura, missionação, povoamento do país e reconquista.
Em 1910, havia 33 institutos religiosos em Portugal, com mais de 3100 membros e 80 colégios (dos quais 26 continuaram a funcionar). Em 2008 eram 139 as congregações em Portugal (100 femininas), com mais de 6500 membros (das quais 5200 freiras). Das mais de 180 escolas católicas existentes no país, quase todas são de ordens e congregações.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
"Estas coisas"
Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado.
Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.»
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»
[Jesus in Mt. 11, 25-30]
Uma vez, um sábio camponês de cabelos brancos aproximou-se com ar de apoquentado com esta questão: "Como é possível uma pessoa com muita instrução cometer um crime?". Comentava sob a forma de pergunta uma notícia ouvida no rádio. Ingénuo, se lhe poderia chamar. Sábio, antes, ainda que ingénuo.
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Anselmo Borges: Os finados
Anselmo Borges no DN de hoje:
Característica essencial do nosso tempo é fazer da morte tabu, talvez o último tabu. Nunca tinha acontecido na história da humanidade.
De qualquer modo, as nossas sociedades ainda mantêm dois dias por ano (1 e 2 de Novembro) em que permitem a visita dos mortos. Os cemitérios enchem-se e as pessoas ali estão ou por ali andam, numa recordação, talvez numa prece, num choro íntimo ou exteriorizado, e interrogando-se sobre o mistério da morte, esse mistério absolutamente opaco e laminante. Ler mais aqui.
Na Suécia é assim...
Ao ver este vídeo sobre a vida dos Deputados suecos, quando estão na capital, em serviço, é difícil não fazer comparações, mesmo correndo o risco de alguma demagogia. Eu conheço um ou outro caso, em Portugal, mesmo de ministro, que não anda longe do retrato aqui pintado. Mas a nossa "cultura" é bem outra: exercer cargos públicos (e privados) significa mudar de vida, exibir prerrogativas, subir no status. Como se o valor estivesse associado a este tipo de sinais e de estilo de vida.
É a mesma coisa com o exercício de outro tipo de cargos, dos mais altos aos mais humildes, nos mais diversos sectores: exercê-los significa para muitos - independentemente de ideologias, arranjar criados que lhes façam serviços, em vez de prestarem eles próprios serviço aos outros.
Enquanto assim for, "não vamos lá"! Até a crise se enfrentaria melhor. Ou não?