domingo, 28 de outubro de 2012

Igreja no mundo “mediático”: do dilema ao conteúdo

A Igreja está no mundo, sujeita ao escrutínio. E carece de uma profunda reflexão sobre a forma de se posicionar no desafiante universo da comunicação, secularizado, desencantado mas inebriante. O problema não se limita à linguagem, não é apenas “técnico”. É também de conteúdo, de interpretação antropológica e sociológica. De que serve recorrer às técnicas mais vanguardistas para insistir num conteúdo distante dos homens e mulheres de hoje?
Impõe-se, no entanto, a pergunta: está a Igreja institucional preparada - ou interessada… - para ponderar inevitáveis cedências na aproximação ao mundo secularizado, mediático, com os seus defeitos e virtudes?

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Vaticano II: reinventar o futuro

O Concílio Ecuménico Vaticano II começou por ser uma atitude de abertura ao mundo, a todas as Procuras de boa vontade, com “verdade” e consequência. Se reconciliar a Igreja com a história é tarefa permanente dos cristãos. Actualizar é um movimento imparável, uma dinâmica irreversível. Deus não morreu, mas o homem reencontra-O com as novas formas do mundo plural e globalizado. Não há retorno. Neste contexto, o Vaticano II não foi só um grito das circunstâncias. Ganhou uma dimensão que o ultrapassa.

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Mais dia, menos dia

(...) No dealbar das civilizações, o dia cíclico – do culto, da festa e da divindade – assumiu-se como pausa natural e inquestionável, descanso, regeneração pessoal e da comunidade.
O que estamos a verificar é uma tendência para fazer do domingo – que herdou, na nossa cultura, estas características – um dia igual aos outros, sem o que lhe é antropologicamente intrínseco. Um dia que é para a família, para a comunidade, o encontro, o gratuito e a gratuidade, a natureza, o ócio e o lazer que quebra rotinas, o simbólico e o espiritual, tende a ficar ao serviço do apetite voraz do lucro, com reflexo nas leis laborais e na organização empresarial. Numa visão exagerada – ou talvez não –, seria apenas um dia transformado em horas para troca, numa semana sem calendário, com descanso avulso.
Rever o sentido do domingo é um percurso que “poderia, mais «laicamente», fazer descobrir o sentido profundo do ser e do devir em que todos estamos mergulhados”

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sábado, 27 de outubro de 2012

Modos de usar o corpo na oração


 Pode o corpo ajudar à oração? Pode haver sensualidade nos modos de rezar? Saberá o corpo rezar melhor que a alma? É possível pôr deficientes ou idosos a rezar através dos afectos? E o que pode um beijo? Ou o que têm em comum um sermão de Bernardo de Claraval sobre o Cântico dos Cânticos, uma tela como a Conversão de São Paulo, de Caravaggio (ao lado), o Êxtase de Santa Teresa, de Bernini, ou Bill T. Jones a dançar a Chaconne?...
As III Jornadas de Teologia Prática, sobre “sentidos, práticas e figuras orantes”, que esta sexta-feira decorreram na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, provocaram o debate sobre o lugar do corpo na oração.
“Deus passa pelo corpo, por um corpo encarnado. E é nesse corpo que tenho que viver a oração”, disse Helena Presas num dos painéis. Catequista no Campo Grande (Lisboa) e animadora de um grupo de oração para idosos, Helena Presas destacou o valor dos afectos na experiência da oração: “Muitas destas pessoas já não têm afectos há anos. Ou nos entregamos a Deus e deixamos que a Palavra de Deus nos encha de alegria ou o que está à frente é o sofrimento, o vazio, a doença e a morte.”
Responsável do Movimento Fé e Luz, que trabalha com pessoas com deficiência, Alice Caldeira Cabral falou da necessidade de acolher os limites e de tornar os sacramentos acessíveis a todos. E destacou igualmente as linguagens do corpo na oração: o gesto, o toque, os silêncios, as músicas, os símbolos e a participação activa são aspectos fundamentais para a oração. Helena Presas acrescentou, a propósito do sentido de pertença: “Hoje, na cidade, as pessoas não pertencem a coisa nenhuma; e mesmo na Igreja pertencem muito pouco.”

O que pode um beijo?
Num outro painel, Paulo Pires do Vale, professor da UCP e da Escola Superior de Educação Maria Ulrich, referiu-se à oração como “hospitalidade carnal”, citando a tela de Vermeer, Cristo em Casa de Marta e Maria. Esta dimensão vai mais fundo, “como uma penetração no próprio corpo”, numa obra como o Êxtase de Santa Teresa, de Bernini, acrescentou. No texto que dá origem a esta obra, Santa Teresa fala de “uma lança de fogo, que repetidamente [se] cravava no [seu] corpo e penetrava o [seu] coração”. Uma linguagem que remete para metáforas de natureza sensual e sexual – de tal modo que os confessores pediram a Teresa d’Ávila que não as referisse.
Paulo Vale perguntou, com Espinoza e Deleuze: “O que pode um corpo?” Para responder, citando o filósofo: “A alma e o corpo são uma só e a mesma coisa; ninguém determinou até ao presente o que pode o corpo; o corpo, só pelas leis da sua natureza, pode muitas coisas que causam espanto à própria alma.” O corpo, acrescentava Paulo Vale, “sabe primeiro que nós” o que se passa, por exemplo nos sintomas de uma doença ou no modo como nos relacionamos com alguém de quem gostamos, mesmo antes de termos consciência dessa paixão...
Saberá então o corpo rezar melhor que a alma? “O corpo é esse lugar aberto onde o mundo e os outros se tornam a nossa própria carne. Antes de nos mostrar que somos finitos, mostra que somos abertos.” Bataille, acrescentava Paulo Vale, fala do erotismo como a negação do fechamento.
E o que pode um beijo? Num sermão sobre o Cântico dos Cânticos, São Bernardo explica acerca da primeira frase daquele livro bíblico (“Beija-me com um beijo da tua boca”): “O verbo que encarna é a boca que beija; a carne que ele toma é a boca que recebe o beijo; o beijo que se forma sobre os lábios é a pessoa de Jesus Cristo, mediador entre Deus e os homens.” Bernardo sugeria o beijo nos pés, nas mãos e na boca como símbolo da progressão espiritual.
A importância do corpo na oração, para lá de todos os discursos, parece exigir, como nas palavras de Rainer Maria Rilke, "muda a tua vida", concluía Paulo Vale. 

Liturgias rigorosamente coreografadas
Professora na Escola Superior de Dança, Maria José Fazenda referiu-se aos rituais litúrgicos como “rigorosamente coreografados”.
Fazendo um percurso pelos dois últimos séculos da história da dança, falou da “metáfora do desejo de ascender” presente no bailado romântico, na comunhão do corpo com a natureza que Isabora Duncan pretendeu ou dos próprios corpos na oração, como no uso de um canto gregoriano por Ruth St Denis. Ou ainda na descida à terra que o corpo masculino propõe, como nos bailados de Ted Shawn.
O corpo pode ser esse lugar que oscila entre o movimento e a redenção. Como na espantosa criação de Bill T. Jones em “Chaconne”, com música de Bach. Uma peça inspirada, aliás, na experiência do próprio compositor, quando um dia chegou a casa e teve a notícia de que a sua mulher morrera. “Quando a deixei ela estava muito fraca. Tudo o que ela queria era cantar. Canta.”, propõe a coreografia de Jones [no vídeo a seguir, cedido por Maria José Fazenda a partir do DVD "Chaconne", realizado por D. Kent e editado por Bel Air Media (2008), pode ver-se um excerto do final dessa criação; para outras notícias sobre as jornadas, ler aqui e aqui].



Luto(s). Por quem os sinos dobram

Na sua crónica de hoje no DN, Anselmo Borges fala sobre os lutos. Começa por manifestar a sua discordância com a decisão de abolir o feriado de 1 de Novembro, que a Santa Sé assumiu. Depois, diz que é preciso reflectir sobre a morte, não para ter um pensamento mórbido sobre o tema, mas para defender a importância de nos reconciliarmos e convivermos "de modo sadio com a morte própria". A reflexão terá continuação na próxima semana. O texto completo de hoje está aqui 

À procura da palavra - O exemplo

"Quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos.” (Evangelho segundo São Marcos, 10, 43)
Domingo XXIX do tempo comum - ano B

A teoria sabemo-la todos: cristianismo rima com serviço, louvor rima com compromisso, amor a Deus com amor ao próximo. Por isso o “saber mais” em questão de fé implica “viver melhor” o próprio conteúdo da fé, que não se trata de belíssimas definições ou elaborados discursos, mas um conteúdo que se fez carne, Jesus Cristo. Por isso, perante comunidades que são “super-organizações” e organigramas de estruturas eclesiais de fazer inveja a muitas empresas, pergunto-me muitas vezes que espírito por ali vive e que humanidade ali cresce. Não se trata de elogiar a desorganização ou a anarquia mas as estruturas eclesiais poderiam aprender a ser mais como o nosso corpo: adaptáveis, reconvertíveis após acidentes ou fracturas, curáveis, sempre aprendendo com os erros, necessitadas de abraços e de amor, e também mortais. Há estruturas que são como as pirâmides: quase eternas, mas verdadeiros sepulcros! 

De humildade e coragem foram as palavras de D. António Couto, Bispo de Lamego, esta semana no Sínodo dos Bispos. Dizer que a Igreja “deverá ter a dinâmica das primeiras comunidades cristãs”, como um “átrio permanente da fraternidade aberta ao mundo”, poderá ter algum sabor a teoria. Mas apontar que deve ser “uma Igreja anunciadora, completamente vinculada ao seu Senhor, não seduzida pelas novidades da última moda”, vivendo um “estilo de vida pobre, humilde, despojado, feliz, apaixonado, audaz, próximo e dedicado”, aí já mexe com os nossos hábitos e tradições de sermos igreja. O ritualismo, o fácil julgamento, a ânsia dissimulada pelo poder e pelo controle, podem ser o contexto para a pergunta que nos deixa: “porque é que os santos lutaram tanto, e com tanta alegria, para serem pobres e humildes, mas nós esforçamo-nos tanto para ser ricos e importantes?”.

Dei-vos o exemplo” é uma palavra que Jesus diz após o lava-pés aos discípulos. Esse gesto, que se faz pleno cruz revela o “vir para servir e dar a vida” que escutamos no evangelho de hoje. Séneca, pensador romano contemporâneo de Jesus dizia: “O homem acredita mais com os olhos do que com os ouvidos. Por isso longo é o caminho através de regras e normas, curto e eficaz através do exemplo.” Em tudo, na educação e no trabalho, na família e na sociedade, o exemplo é sempre a melhor escola. E muita da indignação e escândalo que sentimos, nos muitos campos em que a nossa vida circula, provém da ausência de exemplo ou do acumular de maus exemplos. Jesus põe-se a si como exemplo e não ensina a buscar triunfo ou poder mas a servir quem mais precisa. E onde isso acontece, com maior ou menor organização, experimentamos a presença de Deus. Consequentemente, o exemplo não é só para os mais responsáveis: é para todos. Seria fácil dizer que só os mais responsáveis o deveriam dar, pois somos especialistas em bem culpar outros! O certo é que, lugares à direita e à esquerda de Jesus não existem, porque Ele nunca está quieto!

P. Vitor Gonçalves
(in Jornal Voz da Verdade 21.10.2012)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Colóquio internacional "O corpo nas teologias feministas"

Realiza-se em 16 e 17 de Novembro, em Lisboa o 2º Colóquio Internacional de Teologias Feministas em torno do tema «'Quem me tocou?' - O corpo nas teologias feministas». A iniciativa é do Observatório para a Diversidade Cultural e Religiosa na Europa do Sul (POLICREDOS) em parceria com a Associação Portuguesa de Teologias Feministas e decorre na Sala 3, CES-Lisboa, Picoas Plaza, Rua do Viriato, 13, Lj. 117/118. O programa é o seguinte:

Dia 16 de novembro
9h30 - Abertura do II Colóquio Internacional de Teologias Feministas
9h45 - El cuerpo: un territorio en disputa. Cuerpo e identidad en los inícios de la Tradición Cristiana - Cármen Barnabé (Espanha)
11h15 - Intervalo
11h45 - “Cântico dos Cânticos” e o elogio da alteridade - Isabel Allegro De Magalhães
14h30 - "Não é o que entra, mas o que sai da boca que envenena os homens e mulheres" - André Barroso
15h00 - “Mulheres, que fazeis aqui?” – Ana Vicente
15h30 - O Corpo e as teologias protestantes - Eva Michel
16h00 - Debate
16h45 - Intervalo
17h00 - Entre corpos. Afecto Inclusivo - Marijke De Koning
17h30 - Maria de Lourdes Pintasilgo. “Retratos sem moldura” - Helena Silva Costa
18h00 -  Mártires cristãs do Bolchevismo. As violações de alemãs na Segunda Guerra Mundial sob um olhar alemão católico - Júlia Garraio
18h30 - Debate
19h00 - Lançamento do livro: "Mulheres que ousam ficar - contributos para a teologia feminista"

Dia 17 de novembro
10h00 - Human corporeality in Christian doctrine and symbolism. Historical impact and feminist critique - Kari Elisabeth Børresen (Noruega)
11h30 - Intervalo
12h00 - Sallie McFague e o corpo de Deus - uma teologia ecológica para o nosso tempo - Luísa Ribeiro Ferreira
15h00 – Mesa Redonda: “Uma religião com corpo” – Maria Julieta Mendes Dias, Maria Fernanda Henriques, Maria Carlos Ramos, Teresa Martinho Toldy, Ilda Pires

Mais informações e inscrição (obrigatória): aqui.

domingo, 14 de outubro de 2012

Patriarca: um tiro no pé .. ou nos dois


Aparentemente, para D. José Policarpo, "o poder está na rua". Algo que parece apavorá-lo, mas que, para já, pelo menos, só existe na sua cabeça.
Talvez o facto de ter começado a ver e ouvir canções e palavras de ordem de 1974 o levem a concluir que estamos nas vésperas de um novo período revolucionário. Não será ver de mais?, perguntei-me ao ouvi-lo. Não existem órgãos de soberania a funcionar (ainda que com debilidades)?
E desde quando é que manifestar descontentamento e indignação com medidas de governo constitui motivo de repreensão moral, sobretudo quando, reconhecidamente, várias dessas medidas se caraterizam pela injustiça e pela iniquidade? Não é dever dos cidadãos dar conta desse sentimento e pressionar, de forma pacífica, no sentido de levar os governantes a arrepiar caminho enquanto é tempo?
Mas as palavras do Patriarca suscitam-me um problema bem mais sério e inquietante: desde quando é que um bispo - ainda por cima presidente da Conferência Episcopal - deve dar indicações sobre como devem os católicos e os cidadãos em geral atuar na vida social e política? Acaso não será tal indicação uma forma de intromissão na esfera da legítima liberdade e no campo dos direitos fundamentais reconhecidos na Constituição da República?
Por fim, é triste ver D. José Policarpo criticar os que vão para a rua protestar e calar-se perante uma política sem esperança, que já deu provas de estar a lançar para o abismo se não o país pelo menos largas franjas da população. Com que fundamentos defende a bondade das medidas de choque e nos quer mudos e quedos? Não será essa uma visão tão partidária como as que se lhe opõem?
Salvo melhor opinião, o Patriarca de Lisboa, que nos foi habituando a uma intervenção clarividente na leitura dos sinais dos tempos, assume aqui posições que não são do seu foro e silencia a miséria económica e moral que contraria o que o Evangelho e a doutrina social da Igreja defendem.
Porque entendeu fazê-lo é para mim um mistério. Porque o fez exatamente na véspera da manifestação das gentes da cultura em 20 cidades do país e do final da marcha pelo desemprego é outro. Não será certamente uma forma de pré-inaugurar o 'diálogo' do Pátio dos Gentios e de investir na "nova evangelização".

Complemento: Cardeal Patriarca considera que "não se resolve nada contestando"

(Crédito da foto: Lusa)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Magna latrocinia"


Marques Mendes diz que aumento do IRS é "assalto à mão armada"

Remota itaque iustitia quid sunt regna nisi magna latrocinia?
Santo Agostinho, De Civitate Dei - Livro 04, 04

[Que são os reinos senão bandos de ladrões, se a justiça lhes faltar?]

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

«Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia»

Leitura de hoje (Livro de Job, 1,6-22):
"Um dia os filhos de Deus apresentaram-se diante do Senhor, e Satanás ia também com eles.
O Senhor disse-lhe: «Donde vens tu?». Satanás respondeu: «Venho de dar uma volta ao mundo e percorrê-lo todo.»
O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: homem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal.»
Satanás respondeu ao Senhor: «Porventura Job teme a Deus desinteressadamente? Não rodeaste Tu com uma cerca protectora a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e os seus rebanhos cobrem toda a região. Mas se estenderes a tua mão e tocares nos seus bens, verás que te amaldiçoará, mesmo na tua frente.»
Então, o Senhor disse a Satanás: «Pois bem, tudo o que ele possui deixo-o em teu poder, mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa.» E Satanás saiu da presença do Senhor.
Ora, um dia em que os filhos e filhas de Job estavam à mesa, e bebiam vinho na casa do irmão mais velho, um mensageiro foi dizer a Job: «Os bois lavravam e as jumentas pastavam perto deles. De repente, apareceram os sabeus, roubaram tudo e passaram os servos a fio de espada. Só escapei eu para te trazer a notícia.»
Estava ainda este a falar, quando chegou outro e disse: «Um fogo terrível caiu do céu; queimou e reduziu a cinzas ovelhas e pastores. Só escapei eu para te trazer a notícia.»
Falava ainda este, e eis que chegou outro e disse: «Os caldeus, divididos em três grupos, lançaram-se sobre os camelos e levaram-nos, depois de terem passado os servos a fio de espada. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.»
Ainda este não acabara de falar, e eis que entrou outro e disse: «Os teus filhos e as tuas filhas estavam a comer e a beber vinho na casa do irmão mais velho quando, de repente, um furacão se levantou do outro lado do deserto e abalou os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens. Morreram todos. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.»
Então, Job levantou-se, rasgou as vestes e rapou a cabeça. Depois, prostrado por terra em adoração, disse: «Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!»
Em tudo isto, Job não cometeu pecado, nem proferiu contra Deus nenhuma insensatez".
Job és tu, sou eu, somos nós, já fomos ou seremos. Quem sabe?
Como não haveria ele de rasgar as vestes, se tudo à sua volta de repente ruiu, como um baralho de cartas - os bens e os próprios filhos?
Ali ficou ele, desapossado, só, nu, ele, sem próteses nem extensões, sem âncoras nem subterfúgios. O interesseiro, segundo Satanás, abriu a alma: «O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!»