terça-feira, 29 de abril de 2014

Os católicos na luta contra a ditadura (13) – Memórias de uma tripla libertação

25 de Abril, 40 anos

No programa Ecclesia, Maria da Conceição Moita e Jorge Wemans recordaram histórias e memórias da luta dos católicos contra o Estado Novo e do que significou a libertação do 25 de Abril. Para ver aqui:



Os 40 anos do 25 de Abril de 1974 continuam a motivar outras crónicas e textos. No DN de sábado passado, Anselmo Borges escrevia, sob o título 40 anos depois:

Precisamos de mais e melhor democracia. Temos de assumir todos mais responsabilidade na coisa pública. Precisamos de um consenso mínimo entre os partidos sobre temas fundamentais, como a reforma do Estado, a justiça social, o investimento reprodutivo para criar riqueza e emprego. Precisamos de insubordinação frente à plutocracia e de assegurar a dignidade de todos. Precisamos de erguer o futuro pela educação. Se, por insanidade do poder político, os sacrifícios entretanto feitos forem deitados a perder, é preciso preparar-se para o pior.
(o texto pode ser lido aqui na íntegra)

Na agência Ecclesia, também alguns investigadores fazem um curto balanço do impacto da revolução na Igreja Católica em Portugal:

(...) Jorge Revez dedica a sua reflexão aos chamados “vencidos do catolicismo”, crentes que, a seguir ao Concílio, colocaram grandes esperanças na reforma da Igreja, e inclusivamente na mudança de atitude da hierarquia católica face ao Estado Novo. (...)
“A efervescência daquele período revela-nos uma reconfiguração da identidade católica, em especial o relevo que as questões da liberdade e da cidadania assumem para alguns destes homens e mulheres”, conclui.
(o texto pode ser lido aqui na íntegra)


Sob o título Abril Católico, Fernando Calado Rodrigues dedica a sua crónica de sexta no Correio da Manhã aos trabalhos deste blogue sobre a luta dos católicos contra a ditadura; para concluir:

Quarenta anos depois, o país e a Igreja continuam a precisar que os leigos aprofundem os seus conhecimentos teológicos. Que debatam os problemas que afetam a humanidade à luz dos valores do Evangelho. E que se empenhem na “ação militante” contra a “ditadura dos mercados” e a “economia que mata”.
(o texto pode ser lido aqui na íntegra)


Próximo texto, dia 2 de Maio
A falta de lucidez da Igreja em relação à guerra colonial (anunciado inicialmente para dia 28 de Abril)

O texto anterior desta série pode ser lido aqui.


Textos anteriores do blogue: sobre as canonizações de domingo passado: crónica de frei Bento Domingues, notícia da homilia do Papa Francisco e um dossiê sobre o tema; e ainda uma notícia sobre a tenda de oração no Enterro do Ano da Universidade de Aveiro. 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Domingo de canonizações

Na sua última crónica no Público, sob o título Domingo de canonizações, frei Bento Domingues escrevia:

Seria longo explicar a razão de João XXIII ter surgido como uma espantosa surpresa para a Igreja e para o mundo: como foi possível, depois de Pio XII e de todos as condenações desde o séc. XIX, começar a dar a palavra a toda a Igreja, convocando o Vaticano II, aberto às outras Igrejas cristãs, às outras religiões, a todos os seres humanos de boa vontade? Apesar de todos os esforços para abafar essa revolução e para o esquecer, hoje, muitos se alegram e outros perguntam: afinal quem foi ele?
João Paulo II, quem o esqueceu? Para vergonha de todos temos o cardeal Bertone.

(o texto pode ser lido aqui na íntegra)


Aveiro: Silêncio no meio do barulho do "Enterro" – ou uma foto com o Papa Francisco



A tenda de oração do CUF no espaço do 
Enterro do Ano, em Aveiro

Trata-se de propor silêncio no meio de uma as festas mais barulhentas do ano, o Enterro do Ano, na Universidade de Aveiro (equivalente à queima das fitas, em outras universidades do país): o Centro Universitário Fé e Cultura (CUFC), estrutura da diocese que há 27 anos dinamiza atividades no meio universitário, propõe aos estudantes que, entre as 23h30 e as 3h30 da manhã, possam recolher-se, numa pequena “tenda de oração”, plantada em pleno recinto do Enterro. A iniciativa, que se iniciou na cidade da ria dia 24, prossegue ainda até à próxima quinta, dia 1 de Maio, quando termina a Semana.
Há ainda a possibilidade de poder tirar uma foto com o Papa Francisco. Na realidade, o Papa continua em Roma mas, quem o desejar, pode fazer-se fotografar junto de uma foto de Francisco. “É uma maneira de provocar o diálogo”, dizem os responsáveis do CUFC.
“No mundo de hoje, a construção da paz, do respeito, da verdade, da honestidade faz-se na rua, no mundo, nos lugares onde as pessoas estão. A religião é um dos bons veículos que religam estes valores de paz, de fé, de direitos humanos no mundo”, acrescenta o CUFC, que recorda que “não é nos espaços fechados que se manifesta a diversidade cultural e religiosa das pessoas”. E sendo a diversão “algo positivo, mas que implica escolhas”, o CUFC faz esta proposta com o sentido de ser a Igreja Católica a propor um espaço de tranquilidade para os jovens.
O mote para a iniciativa deste ano é “STOD –  Se Tens Olhos Dá...” Em cada dia, a proposta é dar um sorriso, um abraço ou outro gesto. Um grupo de estudantes envolveu-se na preparação do espaço e, em cada noite, vai distribuindo centenas de convites, desafiando os jovens a entrar na tenda.
A iniciativa da tenda de oração realizou-se pela primeira vez há dois anos, no Integr@te, a festa de acolhimento aos caloiros da Universidade de Aveiro. Foi repetida no Enterro do Ano de 2013, com o então bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos (agora no Porto), presente numa das noites. Já neste ano lectivo, a iniciativa foi repetida no Integr@te, em Outubro.

Mais informações no sítio do CUFC na net (aqui) e na página do Facebook (aqui). 



domingo, 27 de abril de 2014

Francisco canonizou os papas da coragem



Roma viveu esta manhã a canonização dos papas João XXIII e João Paulo II. No sítio do DN na internet, publiquei uma notícia depois da conclusão da homilia do Papa Francisco:

Foram ambos papas que "tiveram a coragem" de aceitar o evangelho e de ver em cada pessoa a "carne do irmão". O Papa Francisco referiu-se deste modo aos seus dois predecessores que acabou de proclamar como santos, pouco depois das 10h da manhã, em Roma (9h em Lisboa): João XXIII foi o Papa da "docilidade ao Espírito Santo" e João Paulo II "o Papa da família". Ambos fizeram por "restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária".
(texto completo disponível aqui)



Os novos santos, os que não são canonizados e os que seriam incanonizáveis


João Paulo II, visto pela artista polaca Anna Gulak

Em dia de duas importantes canonizações na Igreja Católica, será importante reflectir sobre os santos não canonizados e os que seriam incanonizáveis – essa é a proposta de frei Bento Domingues, num curto texto proposto no blogue do movimento Nós Somos Igreja (NSI). Escreve ele: “Seria bom habituarmo-nos a não medir a misericórdia de Deus pelas leis que fabricamos na Igreja ou fora dela. O beatério não é o melhor juiz para avaliar os misteriosos desígnios de Deus.”
O texto integral pode ser lido aqui.

Precisamente o NSI critica, em comunicado disponível para já em inglês, o processo de canonização de João Paulo II. “Todo o sistema das canonizações é questionável e a sua democratização é essencial”, propõe o movimento, que sugere reformas na governação, transparência e prestação de contas tal como já iniciadas pelo papa Francisco. A santidade deve ser um apelo e uma vocação universal de todos os crentes, como sugere a constituição do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, Lumen Gentium (11).
O texto refere ainda o papel do Papa João Paulo II na questão dos abusos sexuais de membros do clero, nomeadamente do padre Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, bem como na simplificação dos processos de canonização, que fez com que tenha acabado a verificação de eventuais contra-indicações para verificar a vida de alguém que pode ser canonizado.
Para o NSI não estão em causa as qualidades humanas e santas de João XXIII ou João Paulo II, mas a forma como estes processos são organizados. O texto pode ser lido aqui em inglês.

No La Croix, há um extenso dossiê sobre as canonizações que este domingo decorrem em Roma. Com João XXIII (1958-63), o Papa Francisco como que “canoniza” o Concílio Vaticano II; e com João Paulo II (1978-2005), que protagonizou um dos mais longos pontificados da história, consagra “uma personalidade fora do comum, com a qual se identifica uma geração de católicos.
O dossiê pode ser consultado aqui.

Nele são incluídos perfis biográficos de João XXIII que, considerado no início como um Papa de transição, surpreendeu tudo e todos ao convocar o Vaticano II e acabou por ter um pontificado curto, mas visionário.

João Paulo II é, para muitos, um Papa grande, mas o seu pontificado não ficou isento de sombras como recorda o respectivo perfil biográfico preparado pelo mesmo jornal. Viajante incansável, opositor firme do comunismo no leste europeu – para cuja queda acabou por contribuir –, deu ao papado uma nova dimensão mas foi incapaz de renovar a Cúria, dela ficando prisioneiro, analisa o La Croix. E terá sido essa uma das razões para que a sua acção em relação aos abusos sexuais de membros do clero não tenha tido a eficácia pretendida – nomeadamente em relação ao fundador dos Legionários de Cristo (sobre a questão da pedofilia, o porta-voz de João Paulo II, Joaquin Navarro Valls, disse esta semana em Roma que o Papa não entendeu a gravidade do assunto desde o início, mas que, quando isso aconteceu, começou logo a tomar decisões, como noticia a Ecclesia).

Preocupado com a coesão hierárquica da Igreja, João Paulo II acabou ainda assim por ter gestos de abertura ao diálogo inter-religioso, como escreve Guillaume Goubert no texto.
Este dossiê explica ainda as razões da proclamação da santidade e responde a outras quatro questões ligadas à canonização e apresenta quinze datas essenciais do pontificado de João XXIII e outras tantas do de João Paulo II