terça-feira, 30 de julho de 2013

A "revolução da ternura" e as tentações na evangelização, segundo o Papa

No âmbito da visita ao Brasil, o Papa Francisco reuniu-se na tarde do último domingo com a
coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Na ocasião, proferiu um discurso muito voltado para a evangelização no contexto da América Latina e do Caribe, mas com possíveis contributos e interpelações para outras partes do mundo. Ali reafirmou linhas que vem defendendo e outras novas. Alguns exemplos:

  • "A posição do discípulo missionário não é uma posição de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias...";
  • "A Igreja é instituição, mas, quando se erige em 'centro, funcionaliza-se e, pouco a pouco, se transforma numa ONG";
  • "Existem pastorais 'distantes', pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a 'revolução da ternura', que provocou a encarnação do Verbo";
  • "Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham 'psicologia de príncipes'".

Transcreve-se do discurso uma parte em que enuncia "o fundamento do diálogo com o mundo" e as tentações que podem surgir nessa busca da 'proximidade e do encontro com as pessoas e as comunidades concretas:

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mudança na Igreja: do mofo ao arejamento

Sob o título "Os desafios de uma Igreja autista", o Público traz hoje um editorial que cita uma declaração do atual Papa Francisco, quando era cardeal de Buenos Aires, e que foi publicada no livro-entrevista (entretanto traduzido para português), intitulado "El Jesuíta":
"A uma Igreja que se limita a administrar o trabalho paroquial, que vive fechada na sua comunidade, acontece-lhe o mesmo que a uma pessoa fechada: atrofia-se física e mentalmente. Ou deteriora-se como um quarto fechado, onde o mofo e a humidade se expandem. A uma Igreja auto-referencial acontece-lhe o mesmo que a uma pessoa auto-referencial: fica paranóica, autista."
[“A una Iglesia que se limita a administrar el trabajo parroquial, que vive encerrada en su comunidad, le pasa lo mismo que a una persona encerrada: se atrofia física y mentalmente. O se deteriora como un cuarto encerrado, donde se expande el moho y la humedad. A una Iglesia autorreferencial le sucede lo mismo que a una persona autorreferencial: se pone paranoica, autista”].
"Hoje, quatro anos depois - observa o editorial - Bergoglio é Papa. Ainda não o ouvimos falar com esta frontalidade em público". 
Não parece muito informado o jornal, já que desde o conclave e, em múltiplas ocasiões, depois de eleito, Francisco não se tem cansado de repisar essa mesma ideia.

Idem quando sugere que o facto de a sua primeira visita oficial não ter sido ao Brasil "por acaso" , já que corresponderia a uma "estratégia" para "travar o contínuo desaparecimento de fiéis". Primeiro é discutível que a viagem ao Brasil tenha sido a primeira. Se se entender por oficial o que o Papa faz como 'chefe de Estado', sim. Mas esta é uma viagem pastoral e, desse ponto de vista, também o foi a viagem-relâmpago (altamente significativa) que fez à ilha de Lampedusa, já este mês. Nesse sentido a que decorre neste momento não seria a primeira, mas a segunda. Acresce que a viagem do Papa estava prevista há dois anos, desde a anterior Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada em Madrid. Tendo ocorrido a renúncia de Bento XVI, nada mais lógico que o novo Papa mantivesse a viagem ao Rio de Janeiro, sendo ele, para mais, oriundo da América Latina. O que o Público poderia ou quereria sublinhar é que a marcação da JMJ deste ano para o Brasil correspondeu a um propósito da Igreja Católica de dinamizar a presença dos católicos na sociedade brasileira e aí estaríamos de acordo.
O editorial do Público termina dizendo que, para uma "Igreja doente" não basta ao Papa Francisco intervir como tem feito, antes terá que provocar uns abanões no interior da instituição. Segundo o artigo:
"No Brasil, o seu discurso foi político - capitalismo, droga, urbanismo, consumo -, mas sobretudo sobre os seus temas de eleição, só aparentemente simples: a força da solidariedade contra a "cultura do egoísmo"; os valores da entreajuda contra a paixão pelos "ídolos efémeros"; a infelicidade e violência que resultam de "uma sociedade que abandona na periferia uma parte de si mesma". Não são, no entanto, estas missas mediáticas que vão dar à Igreja as respostas que procura. O diagnóstico está feito: temos uma "Igreja doente" e o Papa diz que prefere uma "Igreja acidentada". Se não arriscar uns tropeções, Francisco não mudará nada."

Supõe-se que o Público defende que a cura da tal doença passa por medidas internas e, em boa parte, terá razão. Contudo, o que o editorialista não parece ver é que não é tanto ou só pelo que diz que o Papa pode mudar, mas pelo que faz. E aí ele já está a mudar. Porque o modo como ele vai ao encontro das pessoas e das suas situações, o modo como vive e exerce o seu ministério, como se faz próximo de quem está nas periferias, já está a perturbar muita gente instalada no seu catolicismo, até (ou sobretudo) ao mais alto nível da Igreja. Isso de dar tropeções tem muito que se lhe diga.
[Foto - Papa Francisco na favela da Varginha, em 25.7.2013. Crédito : Globo]

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Papa Francisco acrescenta mais água no feijão


(foto: o Papa Francisco na Varginha; foto reproduzida daqui)

Queria bater a cada porta, pedir um copo de água fresca, beber um cafezinho mas não um copo de cachaça. Foi desse modo que o Papa Francisco se dirigiu a mais de 30 mil pessoas que o escutaram na favela da Varginha, em Manguinhos (Rio de Janeiro), na tarde de hoje.
Em pouco mais de uma hora, o Papa saudou e conversou com muitas pessoas, esteve quase dez minutos em casa de uma família, fez um enorme elogio à generosidade dos mais pobres, um apelo à mudança das estruturas sociais e à redução da miséria e um desafio aos jovens a que mantenham viva a esperança de que a realidade pode ser melhor.
Começando por ouvir um clamoroso “bom dia” (a visita decorreu ao final da manhã, hora local), o Papa disse ainda que os pobres podem dar uma “grande lição de solidariedade” – palavra que, acrescentou, é “frequentemente esquecida e desprezada, porque é incómoda”
O Papa Francisco acrescentou que, quando as pessoas são generosas, são capazes de partilhar algo com quem aparece, seja o acolhimento em casa, seja a comida. “Quando alguém precisa de comer e batem à vossa porta, sempre se pode colocar mais água no feijão”, acrescentou, citando o provérbio popular e arrancando risos e aplausos á multidão. Não se fica mais pobre quando se partilha, disse, pois “a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração”. O texto completo do discurso pode ser lido aqui.
A visita, que decorreu sempre sob chuva, foi muito calorosa. Havia famílias que tinham testemunhado ter café preparado para oferecer ao Papa Bergoglio – e até uma feijoada, como noticiou a Renascença. A favela (uma das mais de 170 recenseadas no Rio de Janeiro, onde vive um quinto da população da cidade) saiu em peso para acolher Francisco. Todos queriam saudar o Papa, havia mesmo quem literalmente se atirasse por cima dos cordões de segurança para o cumprimentar. Em momentos diferentes, Bergoglio recebeu um cachecol do San Lorenzo, a sua equipa de futebol, e duas t-shirts de oferta, que colocou diante de si, como quem experimentava o tamanho. Depois desse passeio lento pelas ruas da favela, e antes do discurso que fez, o Papa deteve-se dez minutos numa das casas.

Formação do clero católico passa a ser feita apenas em Lisboa, Porto e Braga

Na edição de hoje do jornal i, noticia-se que o Vaticano quer que os candidatos a padres passem a estudar apenas nos centros da Faculdade de Teologia da Universidade Católica (Lisboa, Porto e Braga). O Instituto Superior de Teologia de Viseu – onde estudavam 28 seminaristas das dioceses da Guarda, Bragança e Lamego –, encerrou no início deste mês e já não voltará a abrir portas. A escola de Évora fechará no próximo ano, de acordo com a notícia, que revela também os problemas financeiros que se verificava, em diversos seminários, tendo em conta o reduzido número de seminaristas. O texto pode ser lido na íntegra aqui.


Francisco e a teologia da bagagem de mão


Por Enzo Bianchi
Agência ANSA, 22.7.2013

Muitos estão falando de novo de "primavera da Igreja", inaugurada pelo Papa Francisco. Quem viveu a primavera anunciada por Pio XII em maio de 1958 e inaugurada pelo Papa João XXIII e pelo Concílio Vaticano II, não esperava mais uma nova estação rica em esperança e aberturas. Principalmente depois das duas últimas décadas.

E ao invés? Isso também deve ser reconhecido: o Papa Francisco acendeu nos corações uma expectativa, esperanças de uma Igreja que se renova, que continua a sua incessante reforma. Esse juízo positivo e acima de tudo essa expectativa dependem de algumas palavras e de alguns gestos: como os feitos nessa segunda-feira, que nos mostram pela primeira vez um papa subindo a escada do avião carregando nas mãos a sua maleta, sem confiá-la aos seus colaboradores.

Como se Francisco dissesse: ninguém deve portar um peso no meu lugar. E depois, tendo aterrissado no Brasil, subiu em um pequeno carro, um Fiat Idea, que era o menor carro do cortejo. Comecemos, portanto, pelos gestos. Em quatro meses, não podem ser muitos, mesmo que aqueles poucos tenha sido imediatamente relatados como "os floreios do Papa Francisco", por serem simples, eloquentes e também singulares, como as do Pobrezinho de Assis. Eleito papa no dia 13 de março, Francisco se assomou à Praça de São Pedro e, antes de conceder a bênção apostólica ao povo, pediu que o povo invocasse para ele a bênção de Deus e se inclinou em um silêncio de adoração a Deus, de oração a Deus, mas também de profunda comunhão.

Essa ação de Francisco, que surpreendeu e tocou os corações daqueles que no mundo queriam conhecer a identidade do novo papa, deve ser avaliada em si mesma, como um gesto seu, pessoal, que pertence ao seu estilo no exercício do ministério pastoral. Sim, com o Papa Francisco sentiu-se "algo de novo hoje debaixo do sol" (Giovanni Pascoli)... E assim, sem aumentar, mas também sem esquecer tal ato, é preciso contar a sua vontade de simplicidade, da qual os crentes tinham nostalgia desde a morte do Papa João XXIII. (...)

Ler a parte restante do artigo AQUI.

(Texto original publicado no jornal italiano La Repubblica e traduzido por Moisés Sbardelotto na newsletter do Instituto Humanitas Unisinos).

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Um novo modelo para as viagens papais

Esta quinta-feira, a partir das 15h de Lisboa, o Papa Francisco vai visitar uma favela do Rio de Janeiro. De acordo com uma reportagem da SICo Papa irá entrar pelo menos na casa de uma família, falando com os habitantes do bairro.
Esta iniciativa pode ser o primeiro passo de uma mudança necessária no modelo das viagens papais. Depois de João XXIII e Paulo VI terem dado os primeiros passos, saindo do Vaticano, João Paulo II tornou-se no peregrino global, deslocando-se a todos os cantos do mundo – 133 países visitados em 104 viagens. Esse facto foi uma evolução positiva. Mas agora é preciso mais.
No início, recorde-se, João Paulo II ainda era saudado por pessoas das comunidades locais representativas dos sectores com os quais se encontrava. Na primeira visita a Portugal, por exemplo, em 1982, o Papa Wojtyla foi saudado por representantes do operariado, dos estudantes, do sector agrícola, dos consagrados,... consoante os diferentes momentos e encontros.
Há três anos, no final da visita de Bento XVI a Portugal, escrevi no Público, como comentário:

“Uma visita de um papa a um país permite apenas a comunicação unidireccional. O Papa veio a Portugal, pronunciou discursos, saudações e homilias, foi saudado em cada encontro que teve por alguém representativo e foi escutado, mal ou bem, pelas multidões ou convidados que acorreram às diferentes iniciativas.
Longe vão os tempos das primeiras viagens de João Paulo II, quando nas intervenções com que era saudado, o Papa Wojtyla ouviu mesmo referências críticas a posições da hierarquia – como aconteceu uma vez nos Estados Unidos. Também já não é praticamente possível a relação directa do Papa com as pessoas. As razões de segurança sobrepuseram-se às razões da comunidade e hoje o Papa é super-protegido e afastado dos fiéis.
Mesmo se Ratzinger foi surpreendente em Lisboa, em Fátima e no Porto, quebrando essas regras e aproximando-se das pessoas por diversas vezes, isso não é suficiente para que o Papa possa perceber sentires mais profundos das comunidades para lá do emotivo. Se a festa colectiva é importante, a dimensão comunitária que o cristianismo reivindica como original não pode ser obscurecida e o Papa deve também poder escutar anseios e expectativas dos crentes.”

O Papa Francisco já mostrou que irá mudar o modelo de viagens, fazendo-o evoluir. Sobretudo porque quer estar próximo das pessoas, ouvi-las, sentir os seus anseios, perceber as suas necessidades e alegrias, os seus sofrimentos e desencantos. Por isso, as questões de segurança são para ele secundaríssimas.

 Além dessa proximidade afectiva, é necessária também uma proximidade comunitária, que concretize a possibilidade de o pastor ter o “cheiro” do seu rebanho. Veremos o que acontece nestes dias cariocas do Papa Francisco e que, à semelhança dos primeiros meses de pontificado, também dará sinais sobre o que aí vem.


(foto: o Papa Francisco depois da chegada ao Rio de Janeiro, cercado pela multidão; reproduzida daqui)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Indulgências pelo Twitter?

(ilustração: Twitter)

O anúncio de que o Vaticano teria concedido indulgências a todos os que participassem à distância na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) fez levantar uma pequena polémica nos media. Afinal, os católicos podem agora ser perdoados através das redes sociais? E faz sentido manter a prática das indulgências, que se tornou um dos temas mais importantes a conduzir à Reforma de Lutero?
Verdade seja dita que, ao contrário do que foi publicado em muitos sítios, os sete milhões de seguidores do Papa na rede social Twitter não terão o perdão dos seus pecados apenas porque acompanham a JMJ.
Num texto publicado hoje pelo semanário francês La Vieexplica-se que o decreto do Vaticano sobre o tema apenas refere que os fiéis podem beneficiar das indulgência mediante certas condições: confessar-se, participar na missa, rezar e submeter-se filialmente “ao soberano pontífice”. Depois, seguindo pela rádio, televisão ou pelos “novos meios de comunicação” os principais actos da JMJ, poder-se-à beneficiar do perdão da indulgência. A medida, explica ainda o semanário, pretende atingir sobretudo os jovens que quereriam ir ao Rio de Janeiro mas que, não podendo fazê-lo, podem seguir o acontecimento através de telefones ou computadores.
A pergunta que se coloca é se faz sentido, para as actuais gerações de cristãos – e mais ainda para os jovens – manter uma prática como esta. Além da linguagem, que já pouco tem a ver com a cultura contemporânea, a própria teologia evoluiu e fala hoje muito mais do perdão gratuito de Deus do que de práticas quase mecânicas para o obter.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Papa a caminho da JMJ: o “risco de uma geração sem trabalho”

O Papa Francisco viajou hoje para o Rio de Janeiro, onde aterra dentro de minutos, para presidir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) . Durante o voo, depois de subir a bordo levando ele próprio a pasta com os seus documentos, o Papa alertou para “o risco de ter uma geração que não teve trabalho e do trabalho vem a dignidade da pessoa”.
De acordo com a síntese da Ecclesiao Papa Francisco disse que “a crise mundial não faz coisas boas aos jovens” e que, contrário, provoca altas taxas de desemprego. Ao mesmo tempo, voltou a criticar a “cultura do descartável”: “Fazemo-lo muitas vezes com os mais velhos e é uma injustiça, porque os deixamos de lado, como se não tivessem nada para dar, mas pelo contrário eles transmitem-nos a sabedoria e os valores da vida, o amor pela pátria, o amor pela família, todas coisas de que temos necessidade.” E esta realidade agora também atinge os jovens.


Antes destas declarações, já o teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmara que “Francisco é um libertador sem usar a expressão Teologia da Libertação”. Autor de uma biografia sobre São Francisco de Assis e do recente O Cuidado Necessário (ed. Vozes), este expoente da teologia da libertação acrescenta, em declarações ao Público:
 É um Papa para reforçar as pastorais sociais, dos sem-tecto, das mulheres, dos indígenas, do ambiente. Ele vem desse tipo de Igreja, que não é romana, europeia e vai continuar a linha dessa igreja. O discurso dele é o que fazemos há muitos anos. Ele próprio diz que é um peronista, da teologia da cultura popular. Faz críticas duras ao sistema capitalista global, que está a martirizar países como a Grécia e Portugal. Ele vai fazer polémica contra isso, reconciliando a comunidade teológica.” (Por uma questão de rigor, refira-se que foi Boff quem decidiu abandonar o ministério de padre e não o Vaticano a afastá-lo, ao contrário do que se diz na notícia do jornal – sabendo, no entanto, que o afastamento surgiu depois de muitas pressões e dois processos contra Boff)
A insistência do Papa Francisco nos problemas das “periferias” da existência – imigração ilegal, desemprego, fome... – traduz uma mudança de paradigma no papado, por ele ser alguém que vem de fora da Cúria Romana e da Europa, como analisa Eugenio Lira Rugarcía, secretário-geral da Conferência do Episcopado Latino-americano, nesta interessante entrevista.
No mesmo sentido, parecem apontar testemunhos recolhidos ao acaso nas ruas do Rio de Janeiro, ainda antes da chegada do Papa. “Para nós, mudou totalmente a história e vai continuar a revolucionar muitas coisas”, diz um latino-americano à reportagem da SIC.
Para quem quiser acompanhar a visita mais em pormenor, pode ver a página especial que a Ecclesia dedica ao acontecimento. A Renascença acompanhará em directo, via vídeo, alguns momentos da visita e a SIC tem também enviados especiais no Rio de Janeiro.
Esta primeira viagem do Papa Francisco fora de Itália (a primeira saída de Roma foi a sua histórica visita a Lampedusa, para homenagear os imigrantes mortos tentar chegar à Europa) começa poucos dias depois de mais um conjunto de decisões tendentes a limpar o sector financeiro do Vaticano: depois da confirmação de demissões de responsáveis do Instituto para as Obras da Religião (o “banco do Vaticano”) e da detenção de um padre acusado de lavagem de dinheiro, o Papa nomeou, sexta-feira passada, uma comissão para a reforma económica e administrativa do Vaticano.
(foto: Giampiero Sposito/Reuters, reproduzida daqui)

Brasil: um país em mudança, também religiosa

O Brasil onde chega hoje o Papa Francisco tem conhecido mudanças profundas não apenas na sociedade, na economia e na política, mas também no plano religioso (cf quadro).

O catolicismo continua a ser a confissão religiosa mais importante, mas a percentagem dos brasileiros que se identificam como católicos caiu de 92 para 65% em 40 anos (1970-2010), segundo dados recentemente publicados pelo norteamericano Pew Research Centre.

O protestantismo é que tem crescido de forma significativa: só entre 2000 e 2010 passaram de 26 a 42 milhões: não tanto as expressões consideradas históricas - luteranas, calvinistas e metodistas - mas as mais jovens, pentecostais e evangélicas, algumas fundadas no próprio país, como a Igreja Universal do Reino de Deus.

Desde 1970 para cá, o grupo de pessoas que se dizem sem religião, agnósticos e ateus cresceu também de forma significativa,de um para 15 milhões.

A diminuição do número de católicos afeta sobretudo as zonas urbanas e a população mais jovem. No Rio de Janeiro, cidade que acolhe esta semana as Jornadas Mundiais da Juventude, os que se dizem católicos representam menos de metade da população(46%).

[Fonte e mais informação: AQUI]

domingo, 21 de julho de 2013

Paciência com Deus


(foto: Mikola Gnisyuk, Pessoas em Árvores, Centro de Fotografia Irmãos Lumière, Moscovo, foto reproduzida daqui e utilizada na capa do livro Paciência Com Deus)

Crónicas

Nestes três últimos domingos, frei Bento Domingues falou, nas suas crónicas no Público, do livro Paciência Com Deus, uma notável obra publicada recentemente pelas Paulinas. No sítio da Livraria Fundamentos na internet, podem ler-se as três crónicas, como aperitivo à leitura do livro. Aqui ficam três excertos dessas crónicas:

T. Halík escreveu uma obra de teologia, num estilo pouco habitual. (...) Não admira que seja saudada uma teologia que continua a apresentar-se com perguntas antes de respostas feitas e que incita o pensamento a caminhar pelo mundo do desassossego, das interrogações e dúvidas, o território onde se vive a ‘paciência de Deus’ (...)

[Este livro] é um suave diluente das certezas eclesiásticas reconstruídas, de modo estridente, nos anos 80-90 (...). Recupera, com mansidão, a memória interdita dos ‘padres operários’, o sentido da teologia da libertaçãoo, os caminhos ocultos de deus na sociedade secular ocidental, sem se perder nas disputas e desavenças entre ‘conservadores’ e ‘progressistas’. (...) O tecido desta obra é construído por tudo o que tem sido desvalorizado, ocultado, marginalizado ou desfigurado na apologética eclesiástica (...) O que realmente o preocupa é (...) o tempo de escuta e de atenção a quem anda por outros caminhos, por carreiros e lugares ‘mal frequentados’. O próprio Jesus tinha sido acusado de andar em más companhias.

O livro Paciência com Deus não pretende ser nenhum manual de viagem. É um testemunho, muito reflectido e documentado, de uma grande peregrinação, atenta a tudo o que encontrou pelo caminho, sem dar lições.