Segundo o site da revista
Témoignage Chrétien, são já cerca de metade dos 400 professores católicos alemães de Teologia aqueles que subscreveram o manifesto "Kirche 2011, Ein notwendiger Aufbruch"("Igreja 2011: uma renovação indispensável"), publicado na passada quinta-feira no diário alemão Süddeutsche Zeitung.
Ao contrário do que alguns meios de comunicação noticiaram, o documento não se limita a propor mudanças na disciplina da Igreja Católica relativamente ao celibato dos padres, à ordenção de mulheres ou à aceitação de casamentos de pessoas do mesmo sexo. Aborda igualmente a crise da vida das paróquias, com a falta de clero e o estabelecimento de unidades 'administrativas' cada vez mais amplas; a necessidade de estrturas participativas na vida da comunidade eclesial, e, ainda, a liberdade de consciência, a reconciliação e o culto.
O parágrafo inicial dá o tom:
Faz agora um ano que os casos de abuso sexual de crianças e adolescentes por padres e religiosos no Colégio Canisius, em Berlim, foram tornados públicos. O ano que se seguiu lançou a Igreja da Alemanha numa crise sem precedentes. A imagem hoje dada a ver é ambivalente: muito tem sido feito para levar justiça às vítimas, reavaliar o mal que foi feito e voltar às causas que levaram ao silêncio, aos abusos e ao discurso duplo nas nossas próprias fileiras. Depois de um primeiro movimento de terror, a ideia impôs-se a muitos cristãos e líderes cristãos, ordenados ou não, quanto à necessidade de reformas fundamentais. Este convite para um diálogo aberto sobre as estruturas de poder e de comunicação, sobre a forma dos ministérios e a participação dos fiéis na responsabilidade eclesial, assim como sobre a moral e a sexualidade, gerou expectativas, mas também uma preocupação. Será que, numa espécie de esperar para ver e para minimizar a crise, se vai deixar passar aquela que é talvez a última oportunidade para romper com a paralisia e a resignação? O tumulto que pode gerar um diálogo aberto, sem tabus, pode preocupar alguns, especialmente a escassos meses de uma visita papal. Mas a alternativa, o silêncio sepulcral que resultaria de uma aniquilação de todas as esperanças, não é aceitável.
Como seria de esperar, esta tomada de posição suscitou (e certamente vai continuar a suscitar) reacções e comentários de sentido contraditório. No site La Bussola Quotidiana do italiano de Il Giornale, Andrea Tornielli, em
"La protesta dei 143 teologi e la fede nell'Occidente secolarizzato" [número inicial de subscritores], pergunta se é em torno da disciplina do celibato ou da ordenação de mulheres que se centram hoje os problemas da Igreja Católica. Um outro jornalista, Vittorio Messori, interroga, no mesmo local, [
Che noia le ideologie clericali] os professores de Teologia sobre se as matérias relativamente ás quais é proposta uma mudança de práticas não estão devidamente clarificadas, com os debates e a doutrina definidos desde os anos 60 até hoje.
Mas a Conferência dos Bispos da Alemanha mostra-se, aparentemente, menos contundente no desacordo e mais acolhedora dos argumentos e dos contributos dos subscritores do manifesto, segundo se pode concluir da comparação entre uma curta nota da agência
Zenit e um trabalho publicado no
Periodista Digital.
A escassos meses de uma nova visita de Bento XVI ao seu país natal - ele que também subscreveu, quando padre e teólogo jovem, um manifesto com alguns pontos comuns a este - as propostas dos teólogos não deixarão de animar os debates. Que não são certamente questões exclusivas da Igreja alemã.