sábado, 30 de outubro de 2010

Anselmo Borges: Os finados

Anselmo Borges no DN de hoje:

Característica essencial do nosso tempo é fazer da morte tabu, talvez o último tabu. Nunca tinha acontecido na história da humanidade.

De qualquer modo, as nossas sociedades ainda mantêm dois dias por ano (1 e 2 de Novembro) em que permitem a visita dos mortos. Os cemitérios enchem-se e as pessoas ali estão ou por ali andam, numa recordação, talvez numa prece, num choro íntimo ou exteriorizado, e interrogando-se sobre o mistério da morte, esse mistério absolutamente opaco e laminante. Ler mais aqui.

Na Suécia é assim...


Ao ver este vídeo sobre a vida dos Deputados suecos, quando estão na capital, em serviço, é difícil não fazer comparações, mesmo correndo o risco de alguma demagogia. Eu conheço um ou outro caso, em Portugal, mesmo de ministro, que não anda longe do retrato aqui pintado. Mas a nossa "cultura" é bem outra: exercer cargos públicos (e privados) significa mudar de vida, exibir prerrogativas, subir no status. Como se o valor estivesse associado a este tipo de sinais e de estilo de vida.
É a mesma coisa com o exercício de outro tipo de cargos, dos mais altos aos mais humildes, nos mais diversos sectores: exercê-los significa para muitos - independentemente de ideologias, arranjar criados que lhes façam serviços, em vez de prestarem eles próprios serviço aos outros.
Enquanto assim for, "não vamos lá"! Até a crise se enfrentaria melhor. Ou não?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O que nos pede a crise, segundo a JOC e a LOC/MTC

(imagem reproduzida daqui)

As equipas executivas da Juventude Operária Católica e da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos acabam de divulgar um comunicado sobre o actual momento de crise. Um texto que vale a pena ler e debater:

O momento que vivemos marcado principalmente: pelo trabalho precário e desemprego estruturante, geradores de muitas angústias e incertezas na vida dos trabalhadores, dos jovens e das famílias; pela situação económica e social e as políticas neoliberais que visam o emagrecimento do estado através dos cortes nas despesas sociais, motivaram uma reflexão conjunta da JOC – Juventude Operária Católica e da LOC/MTC – Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, a qual tornamos pública.

Vivendo num tempo de grande evolução tecnológica e científica, com algum progresso económico e social, constatamos o acentuar escandaloso das desigualdades, que tem provocado um aumento da pobreza e da exclusão social. Sublinha-se ainda a baixa produtividade, a corrupção e a economia paralela como factores que agravam ainda mais a situação. Deste modo continuamos a assistir a um desenvolvimento económico sem regras nem ética, onde muita da riqueza criada vem da especulação financeira.

Constantemente é questionado o estado social e diminuídos os apoios, quando estes foram uma solução imediata para muitos homens e mulheres que, ao fim de muitos anos de trabalho produtivo e criador de riqueza se viram sem trabalho. Para milhares de trabalhadores e de outros cidadãos mais pobres, são o subsídio de desemprego ou o precário rendimento de inserção social que lhes permite continuar a sobreviver nesta sociedade.
Sentimo-nos indignados porque cresce na União Europeia da liberdade, da democracia e da carta social a ideia de que a imigração é também causa dos problemas económicos e do aumento dos conflitos sociais, levando a um crescente sentimento xenófobo, quando as realidades e as estatísticas comprovam o grande contributo dos imigrantes no desenvolvimento económico, no crescimento demográfico e na riqueza da diversidade cultural.

É inadmissível que sejam os bancos e o poder económico a impor as regras dos financiamentos das dívidas públicas e privadas com as incertezas e as especulações que continuamos a assistir.

As principais vítimas destes usurpadores de riqueza não produtiva e insustentável, são os países que enfrentam actualmente dificuldades financeiras, com défices orçamentais e dívida pública, mas os mais sacrificados são os trabalhadores e as populações mais pobres.

Apesar das realidades, dos fazedores de opinião pública e das estruturas do poder nos fazerem crer que não há outro caminho, nós reafirmamos com convicção que é possível e viável outro modelo de desenvolvimento mais justo que visa em primeiro lugar a dignidade da pessoa e não o lucro. Provam-no a história do movimento operário, o contributo dos trabalhadores e a nossa fé sustentada no projecto de Deus para a humanidade.

Para alterar o actual modelo de desenvolvimento e criar uma nova ordem mundial, como referiu o papa Bento XVI aquando do despoletar da crise económica, necessitamos:

• De uma União Europeia forte, que aposte no desenvolvimento democrático, social e equitativo, como sempre foram os seus princípios; que crie regulamentação e vigilância sobre os capitais e as offshore; que se revejam também os altos salários e as reformas dos cargos públicos e privados.

• De concretizar uma democracia mais participativa, principalmente nas autarquias e nas comunidades, de forma a serem encontradas respostas concretas e eficazes para as dificuldades e pobreza com que nos confrontamos.

• De rever urgentemente os nossos níveis de consumo, tanto do estado, como dos privados e principalmente das famílias. Por isso reprovamos a medida tomada, que incentiva a abertura dos estabelecimentos comerciais ao Domingo.

Como movimentos operários cristãos propomo-nos:

• Incentivar as comunidades cristãs a terem mais presente na sua reflexão e acção pastoral aquilo que são as angústias e anseios dos trabalhadores, dos jovens e desempregados a fim de contribuírem, à luz do Evangelho e do Ensino Social da Igreja, para uma sociedade mais humanizada.

• Apelar aos militantes dos movimentos operários cristãos para participar nas estruturas sindicais, sociais e eclesiais, no sentido de fazer destes, espaços de denúncia e busca de propostas de acção que levem a uma transformação fazendo renascer a esperança dos trabalhadores.

• Sensibilizar os trabalhadores, jovens, desempregados e reformados a viverem efectivamente a sua cidadania em todas as possíveis expressões que contribuam para a dignificação da pessoa.

Lisboa, 29 de Outubro de 2010

As equipas executivas da JOC e da LOC/MTC

Visita de Bento XVI a Barcelona dá lucro à cidade

A visita do Papa a Barcelona, aonde chega na noite de 6 de Novembro (de Compostela) para ficar até às 19h15 do dia seguinte, dará à cidade 29,8 milhões de euros em receitas, entre alojamento, restauração, compras, transportes de fiéis e “projecção da imagem de Barcelona no mundo”, segundo Assumpta Escarp, porta-voz do governo municipal.

Sem contar com as despesas da limpeza e da Guarda Urbana, o “Ayuntamiento” prevê gastar 370 mil euros na delimitação do percurso que o Papa vai percorrer, em mensagens de boas-vindas, casas de banho e na atenção a “emergências sociais”.

O porta-voz teve o cuidado de esclarecer que nenhum dos custos tem a ver com o culto, não vá alguma associação de ateus criticar os gastos tidos sempre como desmesurados de uma visita papal.

Fonte: Religión Digital

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Crónica: Um segredo de um casamento feliz

Miguel Esteves Cardoso tem este texto apaixonado, no Público: Crónica: Um segredo de um casamento feliz. Um 'aperitivo':

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.
(...)
Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

José Mattoso: "A minha concepção de Deus foi-se aperfeiçoando"

José Mattoso tem uma extensa entrevista no Público, na qual faz, através das perguntas de Anabela Mota Ribeiro, uma revsião e uma leitura de alguns dos momentos da sua trajectória de vida. Intitula-se (de forma algo redutora): José Mattoso diz que não é um génio.

Do que diz, fica um extracto no qual fala da sua experiência-visão de Deus e dos humanos:

Porque é que é tão importante não dar nada por adquirido, não cristalizar nas coisas? Ter várias vidas.

Não há nada neste mundo que possa preencher todos os nossos desejos, todas as oportunidades que a vida nos oferece. A vida oferece tantas... Só podemos responder a uma parte muito pequena dessas. Isto é o que me ensina uma reflexão sobre o Ser, uma reflexão sobre Deus, sobre a "espantosa realidade das coisas".

Nunca deixou de acreditar em Deus? Teve momentos de profunda dúvida?

Não. Simplesmente a minha concepção de Deus foi-se - não sei se é pretensão de mais dizê-lo - aperfeiçoando. Foi perdendo os aspectos antropomórficos, os aspectos lógicos. Os Vedas falam na meditação da escuridão que cobre a escuridão. A escuridão é o mistério de Deus, coberta por outra escuridão, e essa se calhar ainda por outra escuridão, e por outra, e por outra. Temos de encontrar o que está por detrás, que nunca é exprimível. Há aproximações metafóricas, metafísicas, conceptuais.

O seu Deus foi perdendo aspectos antropomórficos. Mas isso coincide com o período da sua vida em que mais está entre os homens, no terreno, com a vida de todos os dias.

Sim. A revelação de Deus é feita pelo filho do Homem, pelo filho de Deus. Antropomorfismo centrado na personalidade de Jesus Cristo, nos valores que ele representa, e que podem ser do nível da dignidade, do sofrimento, da abnegação, da confiança, da ternura para com o Pai, na atenção aos pobres, do fascínio pelas crianças. Isto tem alguma relação com aquilo que eu dizia quando falava da nossa família: cada um de nós nunca procurou ser nada de especial neste mundo. Deus revela-se também no homem quotidiano.

Ter constituído a sua família, amar uma mulher, foi uma coisa que mudou completamente a sua vida? É uma dimensão que não estava contemplada nas primeiras opções da sua vida.

Acho que isso se relaciona ainda com essa concepção da humanidade. O Homem é homem e mulher. O amor faz parte daquilo que completa o Homem. Se não existir, é uma mutilação. É uma falha irreparável. A relação entre o masculino e o feminino faz parte disso que estava a dizer - viver várias vidas, haver muita coisa que não se chega a completar.

domingo, 24 de outubro de 2010

Cristianismo: religião da alegria?

Rafael Velasco é um padre jesuíta de 43 anos e reitor da Universidade Católica de Córdoba, Argentina. Polakoff é rabino, tem 44 anos e é o presidente da iAsamblea Rabínica Latinoamericana. Juntaram-se e escreveram o livro “En el nombre del padre y del rabino”. A apresentação vem na revista Ñ do jornal argentino Clarín.
Uma conversa com os dois autores pode ser lida AQUI (de onde foi colhida a foto deste post, da autoria de Darío Galiano)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Santa Teresa de Ávila

Hoje é o dia de Santa Teresa de Avila (1515-1582) e nada melhor do que um dos seus escritos para evocar a mística:

Vivo sin vivir en mí

Vivo sin vivir en mí,
y de tal manera espero,
que muero porque no muero.

Vivo ya fuera de mí
después que muero de amor;
porque vivo en el Señor,
que me quiso para sí;
cuando el corazón le di
puse en él este letrero:
que muero porque no muero.

Esta divina prisión
del amor con que yo vivo
ha hecho a Dios mi cautivo,
y libre mi corazón;
y causa en mí tal pasión
ver a Dios mi prisionero,
que muero porque no muero.

¡Ay, qué larga es esta vida!
¡Qué duros estos destierros,
esta cárcel, estos hierros
en que el alma está metida!
Sólo esperar la salida
me causa dolor tan fiero,
que muero porque no muero.

¡Ay, qué vida tan amarga
do no se goza el Señor!
Porque si es dulce el amor,
no lo es la esperanza larga.
Quíteme Dios esta carga,
más pesada que el acero,
que muero porque no muero.

Sólo con la confianza
vivo de que he de morir,
porque muriendo, el vivir
me asegura mi esperanza.
Muerte do el vivir se alcanza,
no te tardes, que te espero,
que muero porque no muero.

Mira que el amor es fuerte,
vida, no me seas molesta;
mira que sólo te resta,
para ganarte, perderte.
Venga ya la dulce muerte,
el morir venga ligero,
que muero porque no muero.

Aquella vida de arriba
es la vida verdadera;
hasta que esta vida muera,
no se goza estando viva.
Muerte, no me seas esquiva;
viva muriendo primero,
que muero porque no muero.

Vida, ¿qué puedo yo darle
a mi Dios, que vive en mí,
si no es el perderte a ti
para mejor a Él gozarle?
Quiero muriendo alcanzarle,
pues tanto a mi Amado quiero,
que muero porque no muero.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Salmos - conferência em Lisboa

Conferência organizada pela Fundação Betânia, evocando os 20 anos da publicação dos seus estatutos.
Luciano Manicardi nasceu em Itália, em 1957. Formou-se na Universidade de Bolonha. Desde 1980 é monge da  Comunidade de Bose, onde continuou os Estudos Bíblicos e é responsável pela formação cultural.
Autor com vasta obra publicada, colabora também em diversas revistas.
[Créditos de Imagem: Reprodução da Abertura do Salmo 102 do  Saltério de Arundel - (1050-1060)  Fotógrafo: Philip Spruyt. 2002 - COLECÇÃO: Historical Picture Library © Stapleton Collection/Corbis]

Bento Domingues: Elogio da participação na política

No "Público" de 10 de Outubro de 2010