domingo, 3 de julho de 2016

Papa quer Europa menos museu e mais doadora de tesouros

(Este blogue estará com um ritmo intermitente até Setembro)


O último acto do Juntos Pela Europa, em Munique, neste sábado à tarde
(foto reproduzida daqui)

Comunidade de Santo Egídio pede suspensão de artigo de Schengen para acolher refugiados em extrema  vulnerabilidade

O Papa Francisco quer que a Europa reflicta se o seu património é “parte de um museu” ou se “ainda é capaz de inspirar a cultura e de doar os seus tesouros à humanidade inteira”.
A pergunta foi feita pelo Papa numa mensagem gravada e transmitida, em vídeo, na Karlsplatz, no centro de Munique. Na capital da Baviera (Alemanha), terminou ontem, sábado, o congresso Juntos Pela Europa, iniciativa que reúne cerca de 300 movimentos e comunidades de diferentes igrejas cristãs – católicas, ortodoxas, protestantes, anglicanas e igrejas livres.
Dirigindo-se a umas quatro mil pessoas concentradas na praça – além dos participantes, também outros que apareceram para a sessão final, incluindo mais de um milhar de jovens –, o Papa afirmou que a Europa vive grandes problemas, que os cristãos de diferentes igrejas devem saber enfrentar com o “acolhimento e a solidariedade em relação aos mais débeis e desfavorecidos, construindo pontes e ultrapassando conflitos”.
Aludindo aos refugiados que buscam protecção no continente, Francisco insistiu na ideia de uma Europa que coloque no centro a pessoa humana, através do acolhimento e da cooperação económica, cultural e social. 
O documento final insiste numa ideia repetida por diferentes intervenientes e de muitos modos durante os três dias de trabalho: a Europa, com uma profunda crise a manifestar-se em vários aspectos – incapacidade de acolher os refugiados que buscam protecção, o “brexit” da semana passada, a crise financeira que não se ultrapassa –, não deve tornar-se “uma fortaleza e erigir novas fronteiras”. Pelo contrário, afirmam, “não há alternativa ao viver juntos”.
As “experiências terríveis de duas guerras mundiais” serve para mostrar onde pode acabar a lógica dos egoísmos nacionais ou culturais, avisam os participantes.

Um apelo às Igrejas: já chega de separação 

Também para os responsáveis das igrejas cristãs vai um apelo, um ano antes de se assinalarem, em 2017, os cinco séculos anos do início da Reforma protestante de Martinho Lutero, e reconhecendo o contra-testemunho que é dado pela divisão das igrejas: “Pedimos aos responsáveis das igrejas que ultrapassem as divisões. Enquanto cristãos, queremos viver juntos, na reconciliação e em plena comunhão.”

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Cristãos da Europa vão ao circo para defender integração dos muçulmanos

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O Circo Krone, em Munique, onde decorre o congresso Juntos Pela Europa, 
quinta-feira de manhã, antes da intervenção do cardeal Kasper

As luzes do Circo Krone, em Munique (Alemanha) acendem-se e piscam, a arena está montada, a orquestra dá o tom, mas as acrobacias que se aplaudem são outras: depois da “tragédia” da II Guerra Mundial e de os antigos inimigos se terem transformado em amigos, é preciso continuar a mostrar que os 70 anos de paz na Europa não foram “sonho, mas realidade” e que “a economia é a base da vida mas não é o sentido da vida”.
Foi o cardeal católico alemão Walter Kasper que, na abertura do congresso Juntos Pela Europa, que congrega dois mil participantes de uns 40 países, alertou: “A Europa precisa de mais do que de economia.” Kasper tem sido uma das vozes que, na Igreja Católica, mais tem apoiado o Papa Francisco no seu desejo de reforma – por exemplo, na questão da integração dos divorciados na Igreja Católica.
Uma Europa que integrou celtas, normandos e outros povos deve ser capaz, hoje, de integrar os muçulmanos, sublinhou Kasper, na sua curta intervenção na abertura do congresso. “Os problemas do mundo vêm ter connosco; e não são estatísticas, são pessoas com rosto”, acrescentou.
“Enquanto cristãos, católicos ou evangélicos, temos de mostrar que somos capazes de mostrar que o amor é mais forte do que o ódio, para que seja possível vivermos em conjunto na Europa, sem medo”, disse ainda o cardeal.
No início do congresso, que se prolonga até amanhã, sábado, foram várias as vozes a insistir na urgência de uma nova alma na construção europeia. “Depois do ‘brexit”, da semana passada, não podia haver um melhor momento para dar um testemunho de unidade”, disse Gerhard Proß, um dos responsáveis da iniciativa.
“Depois do ‘brexit’, o que devemos fazer a partir do Evangelho?” – perguntava o bispo luterano alemão, Heinrich Bedford-Strohm, que já presidiu ao Conselho Nacional das Igrejas Evangélicas (protestantes) da Alemanha.
“A Europa tem necessidade de uma nova força espiritual, porque não é só a economia que dá força” ao continente, acrescentou. “Devemos ser capazes de continuar a colocar no centro a dignidade da pessoa humana e é por isso que devemos continuar a falar de refugiados”, acrescentou.
A presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, acrescentava, na conferencia de imprensa de apresentação da iniciativa, ontem de manhã: “A tendência para o aumento dos nacionalismos e do racismo são fruto de uma Europa que esqueceu os seus valores”. Por isso, acrescentou, é importante os cristãos darem testemunho desses valores.