texto de Jorge Wemans
Texto
de intervenção na paróquia de Santa Isabel (Lisboa), 12 de março de 2014; o autor deste texto desafiara os leitores do Religionline a comentar a exortação do Papa; o resultado foram vários textos publicados neste blogue, em Novembro e Dezembro de 2013, sob o título A Alegria de Ler Francisco)
(imagem reproduzida daqui)
Não
sou perito em análise de documentos do Vaticano nem tenho qualquer outra
competência específica para me debruçar sobre a exortação Evangelii Gaudium. Reajo a ela na minha qualidade de católico comum.
Tal como qualquer outro. Embora, ao contrário de uns quantos, sentindo que
estamos perante um documento de uma novidade inescapável. Um documento que nos
exige definir com urgência e convicção as prioridades da nossa comunidade para
os próximos anos.
Partilho
estas minhas reflexões sem esquecer os muitos “comentários” já tornados públicos
com aquele objetivo referido pelo Papa Francisco (nº 271): desenvolver
interpretações que despojam a exortação da sua força interpeladora, do seu
caráter claro e contundente!
Por nada deste mundo gostaria de
fazer parte desse grupo, mas tenho algum receio de o integrar, mesmo não o
querendo. E o problema não será meu, é, isso sim, da própria exortação. Ela é,
sem dúvida nenhuma, um texto claríssimo e contundente, mas também profundamente
interpelador e muitíssimo exigente. Não admira que, dentro e fora da Igreja, se
tenham multiplicado os comentários tentando tornar velho o que ela tem de novo
(e tem tanto!), ou nebuloso o que ela tem de límpido como água – na realidade,
ninguém gosta de ser questionado nas suas autojustificações e de ser
desassossegado do doce remanso em que todos tendemos a nos deixar adormecer.
Espero com este comentário nada retirar à exortação no que ela tem de direto,
contundente e de convite à mudança!
Inesgotável
A primeira caraterística da Evangelii Gaudium que quero salientar é
a de ela ser inesgotável, assim como um imenso banquete que convida a que seja
lida devagar e a ser meditada em cada um dos seus 288 pontos.
Talvez mais do que um banquete, possamos
comparar a exortação a uma paisagem em que descobrimos sempre coisas novas de
cada vez que a voltamos a contemplar, uma paisagem em que vislumbramos em
diversos lugares os mesmos verdes, ou os mesmo tons de azul, os quais, embora
repetindo-se não são repetitivos, pois em enquadramentos diferentes acabam por
não ser exatamente os mesmos verdes ou os mesmos azuis.