Quatro Cardeais da Nova Evangelização querem Igreja mais aberta ao mundo
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Os quatro cardeais promotores do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, a decorrer em Viena de 23 de Maio a 1 de Junho, sentaram-se diante de uma famosa apresentadora de televisão na manhã de ontem, 29 de Maio, e tomaram posição em favor de uma Igreja decididamente aberta ao mundo.
Os cardeais Christoph Schönborn, Jean-Marie Lustiger, Godfried Danneels e José Policarpo responderam às questões de Barbara Stoeckl sobre a proximidade da Igreja com o homem moderno, o lugar das mulheres na Igreja e a abertura da Europa em direcção ao Leste.
O Cardeal Schönborn foi confrontado com o facto de ter vindo a passar mais tempo na rua, nos cafés, etc. “A função de Cardeal cria uma distância para com as pessoas, mas não me limita irremediavelmente. Nunca me hei-de esquecer do que me disse um comerciante, ao receber-me no seu estabelecimento: Você deve ir para o meio das pessoas”, retorquiu o Cardeal de Viena.
Em relação à utilização dos Meios de Comunicação Social, o Cardeal Lustiger não hesitou em defender a sua utilização para difundir o Evangelho. “Quem pensar em fazer penetrar a Fé na cultura moderna deve colocar o Evangelho nas mãos de especialistas de Marketing e relações públicas. A nossa civilização remonta às origens do cristianismo, mas o Evangelho continua jovem no meio dessa velha civilização”, destacou.
A assembleia teve o seu momento de riso quando os cardeais fizeram menção de passar uns para os outros a responsabilidade de responder à questão sobre o sacerdócio das mulheres. “A questão está mal colocada, mas isso não resolve o problema”, respondeu o Cardeal Danneels. “É preciso voltar ao que fez Jesus: escolheu uma mãe, a primeira pessoa que o viu depois da ressurreição foi Maria Madalena e era preciso ser uma mulher para acolher o mistério e o segredo deste facto”, acrescentou.
Foi o Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, quem completou a resposta: “O que eu espero de uma mulher na Igreja é que ela exprima com muita eloquência o coração dessa mesma Igreja, com toda a sua ternura. Se estiverdes convencidas de que quereis ser sacerdotes – disse o Cardeal Patriarca às mulheres presentes – dizei-o a Deus e ao Espírito Santo, porque não somos nós quem pode resolver este problema. Só o Espírito Santo!”, concluiu.
(Fonte: Agência Ecclesia, 30.5.2003)
sábado, 31 de maio de 2003
terça-feira, 27 de maio de 2003
Excerto de uma entrevista a Jorge Luís Borges, feita em 1963 por Mario Vargas Llosa:
-Para terminar, le voy a hacer otra pregunta convencional: si tuviera que pasar el resto de sus días en una isla desierta con cinco libros, ¿cuáles elegiría?
-Es una pregunta difícil, porque cinco es poco o es demasiado. Además, no sé si se trata de cinco libros o de cinco volúmenes.
-Digamos, cinco volúmenes.
-¿Cinco volúmenes? Bueno, yo creo que llevaría la "Historia de la Declinación y Caída del lmperio Romano" de Gibbons. No creo que llevaría ninguna novela, sino más bien un libro de historia. Bueno, vamos a suponer que eso sea en una edición de dos volúmenes. Luego, me gustaría llevar algún libro que yo no comprendiera del todo, para poder leerlo y releerlo, digamos la "Introducción a la Filosofía de las Matemáticas" de Russell, o algún libro de Henri Poincaré. Me gustaría llevar eso también. Ya tenemos tres volúmenes. Luego, podría llevar un volumen cualquiera, elegido el azar, de una enciclopedia. Ahí ya podría haber muchas lecturas. Sobre todo, no de una enciclopedia actual, porque las enciclopedias actuales son libros de consulta, sino de una enciclopedia publicada hacia 1910 o 1911, algún volumen de Brockhaus, o de Mayer, o de la Enciclopedia Británica, es decir cuando las enciclopedias eran todavía libros de lectura. Tenemos cuatro. Y luego, para el último, voy a hacer una trampa, voy a llevar un libro que es una biblioteca, es decir llevaría la Biblia. Y en cuanto a la poesía, que está ausente de este catálogo, eso me obligaría a encargarme yo, y entonces no leería versos. Además, mí memoria está tan poblada de versos que creo que no necesito libros. Yo mismo soy una especie de antología de muchas literaturas. Yo, que recuerdo mal las circunstancias de mi propia vida, puedo decirle indefinidamente y tediosamente versos en latín, en español, en inglés, en inglés antiguo, en francés, en italiano, en portugués. No sé si he contestado bien a su pregunta.
-Sí, muy bien, Jorge Luis Borges. Muchas gracias."
(dica de A Montanha Mágica)
-Para terminar, le voy a hacer otra pregunta convencional: si tuviera que pasar el resto de sus días en una isla desierta con cinco libros, ¿cuáles elegiría?
-Es una pregunta difícil, porque cinco es poco o es demasiado. Además, no sé si se trata de cinco libros o de cinco volúmenes.
-Digamos, cinco volúmenes.
-¿Cinco volúmenes? Bueno, yo creo que llevaría la "Historia de la Declinación y Caída del lmperio Romano" de Gibbons. No creo que llevaría ninguna novela, sino más bien un libro de historia. Bueno, vamos a suponer que eso sea en una edición de dos volúmenes. Luego, me gustaría llevar algún libro que yo no comprendiera del todo, para poder leerlo y releerlo, digamos la "Introducción a la Filosofía de las Matemáticas" de Russell, o algún libro de Henri Poincaré. Me gustaría llevar eso también. Ya tenemos tres volúmenes. Luego, podría llevar un volumen cualquiera, elegido el azar, de una enciclopedia. Ahí ya podría haber muchas lecturas. Sobre todo, no de una enciclopedia actual, porque las enciclopedias actuales son libros de consulta, sino de una enciclopedia publicada hacia 1910 o 1911, algún volumen de Brockhaus, o de Mayer, o de la Enciclopedia Británica, es decir cuando las enciclopedias eran todavía libros de lectura. Tenemos cuatro. Y luego, para el último, voy a hacer una trampa, voy a llevar un libro que es una biblioteca, es decir llevaría la Biblia. Y en cuanto a la poesía, que está ausente de este catálogo, eso me obligaría a encargarme yo, y entonces no leería versos. Además, mí memoria está tan poblada de versos que creo que no necesito libros. Yo mismo soy una especie de antología de muchas literaturas. Yo, que recuerdo mal las circunstancias de mi propia vida, puedo decirle indefinidamente y tediosamente versos en latín, en español, en inglés, en inglés antiguo, en francés, en italiano, en portugués. No sé si he contestado bien a su pregunta.
-Sí, muy bien, Jorge Luis Borges. Muchas gracias."
(dica de A Montanha Mágica)
domingo, 25 de maio de 2003
Grandeza e miséria do mundo
(...) Cá onde o mal se afina e o bem se dana (...)
Luís de Camões, Os Lusíadas
Há tempos assim, em que a vertigem dos acontecimentos se acelera e nos deixa como que paralisados, perante a iminência de todos os pesadelos. Em que as sequelas de cada acontecimento se multiplicam, de modo a deixar sem nexo à tarde o (sem-)sentido de manhã construído.
Não, não me refiro apenas ao escândalo da Casa Pia e ao avolumar dos sinais inquietantes de que aos submundos da degradação moral se somam os caminhos tortuosos como se faz justiça no nosso país.
Este é, porventura, o caso em que, por episódios sucessivos, fomos todos levados àquele ponto de encruzilhada em que, em lugar de escolher entre a boa e a má saída da floresta, sentimos que ambos os caminhos que se desenham pela frente podem ser perigosos.
Mas, ao lado daquele que é “o caso”, vemos outros, de dimensão maior ou menor, cá dentro e lá fora, todos indiciadores de que haverá que arrepiar caminho.
Quando alguém foge à justiça e muitos “alguens” saúdam essa fuga e agridem quem a contesta; quando alguém se escuda na imunidade parlamentar para não assumir claramente actos praticados; quando alguém invoca a discordância da lei para não acarretar com as consequências de circular quase ao dobro da velocidade permitida; quando alguém, como em Itália, chega a chefe de governo e se ocupa a denegrir a magistratura e a criar mecanismos para passar impune em processos que correm contra si; quando alguém utiliza factos manipulados para convencer o mundo a apoiar uma guerra; quando uma nação que comprovadamente viola os direitos e a dignidade dos seus cidadãos é eleita para presidir à comissão dos direitos humanos e quando essa comissão não se entende, depois, para condenar países, como Cuba, onde esses direitos são atropelados; quando tudo isto acontece não é apenas o caso ou a situação concreta que está em causa, é, antes, uma (des)ordem moral que está em causa. E é também o risco de tocar naquele fio invisível e frágil, mas vital para manter a vida social de pé e a respirar, que é a confiança.
Falta faz a serenidade. Não só a serenidade da mera contenção, freneticamente requerida nos últimos dias, mas a que permita a introspecção pessoal e colectiva.
Ao desconcerto percebido do mundo talvez falte o tempero da multiplicidade de gestos e modos de viver discretos e solidários, que pouco valem no “mercado” das lógicas mediáticas dominantes. Porque o mundo é mais vasto e interessante do que a pintura carregada que diariamente nos fornecem.
(Crónica no DM de amanhã)
(...) Cá onde o mal se afina e o bem se dana (...)
Luís de Camões, Os Lusíadas
Há tempos assim, em que a vertigem dos acontecimentos se acelera e nos deixa como que paralisados, perante a iminência de todos os pesadelos. Em que as sequelas de cada acontecimento se multiplicam, de modo a deixar sem nexo à tarde o (sem-)sentido de manhã construído.
Não, não me refiro apenas ao escândalo da Casa Pia e ao avolumar dos sinais inquietantes de que aos submundos da degradação moral se somam os caminhos tortuosos como se faz justiça no nosso país.
Este é, porventura, o caso em que, por episódios sucessivos, fomos todos levados àquele ponto de encruzilhada em que, em lugar de escolher entre a boa e a má saída da floresta, sentimos que ambos os caminhos que se desenham pela frente podem ser perigosos.
Mas, ao lado daquele que é “o caso”, vemos outros, de dimensão maior ou menor, cá dentro e lá fora, todos indiciadores de que haverá que arrepiar caminho.
Quando alguém foge à justiça e muitos “alguens” saúdam essa fuga e agridem quem a contesta; quando alguém se escuda na imunidade parlamentar para não assumir claramente actos praticados; quando alguém invoca a discordância da lei para não acarretar com as consequências de circular quase ao dobro da velocidade permitida; quando alguém, como em Itália, chega a chefe de governo e se ocupa a denegrir a magistratura e a criar mecanismos para passar impune em processos que correm contra si; quando alguém utiliza factos manipulados para convencer o mundo a apoiar uma guerra; quando uma nação que comprovadamente viola os direitos e a dignidade dos seus cidadãos é eleita para presidir à comissão dos direitos humanos e quando essa comissão não se entende, depois, para condenar países, como Cuba, onde esses direitos são atropelados; quando tudo isto acontece não é apenas o caso ou a situação concreta que está em causa, é, antes, uma (des)ordem moral que está em causa. E é também o risco de tocar naquele fio invisível e frágil, mas vital para manter a vida social de pé e a respirar, que é a confiança.
Falta faz a serenidade. Não só a serenidade da mera contenção, freneticamente requerida nos últimos dias, mas a que permita a introspecção pessoal e colectiva.
Ao desconcerto percebido do mundo talvez falte o tempero da multiplicidade de gestos e modos de viver discretos e solidários, que pouco valem no “mercado” das lógicas mediáticas dominantes. Porque o mundo é mais vasto e interessante do que a pintura carregada que diariamente nos fornecem.
(Crónica no DM de amanhã)
"Aqui, um caminho leva à evidência, à telepatia, aos extraterrestres, às ciências ocultas, à magia. Acolá, adivinhais ramos retorcidos da reincarnação, do karma, das auras, das energias e outras hipóteses extravagantes.
"Avançai no mato e não tardareis a descobrir a arborescência ramalhuda das famosas técnicas da nova era onde se cultiva o desenvolvimento pessoal, a autorização, a expansão da consciência.
"É uma geografia complexa que mistura a meditação, a psicologia, as técnicas de alteração dos estados da consciência, as terapias suaves, as práticas corporais, a dietéctica...
"Ao lado está a luxuriante vegetação das ciências onde especulações sobre a Gaia e a cibernética planetária se entrelaçam com a física das partículas, a cosmologia, tudo sobre um fundo de crise ecológica e de interrogação sobre o destino futuro da humanidade.
"Continuando o caminho, ireis cair, de certeza, sobre raízes linguísticas sábias e retorcidas, como 'holismo', 'novo paradigma', 'holograma', 'Uno', 'múltiplo', 'não-separabilidade'. Esta floresta encantada tem mil rostos."
Michel Lacroix, La Spiritualité Totalitaire. New Age et les Sectes, Plon: Paris, 1995.
Comentário de Bento Domingues, no Público de hoje (de onde o trecho anterior foi retirado):
" (...) Nas sociedades secularizadas - como verificava a última Congregação Geral dos Jesuítas - a vida espiritual dos seres humanos não morreu. Desenvolve-se, porém, fora da Igreja e, deve-se acrescentar, em muitos casos, fora das religiões.
Mattew Fox vai ao ponto de sustentar que o programa para o terceiro milénio passa por "despir as religiões até à experiência espiritual", desenvolvendo formas de devoção que despertem as pessoas, em vez de as aborrecer.
Como diz o jornalista Michel Brown, no seu livro "O Turista Espiritual", a espiritualidade tornou-se num chavão. Nas suas deambulações ouviu muitas vezes as expressões: "Estou a tentar cultivar o meu lado espiritual" ou "estou a aprender a entrar em contacto com o meu lado espiritual". Geralmente, é mais uma falta que se sente do que uma realidade que se vive.
Muitos dos movimentos espirituais cintilam e extinguem-se como anúncios comerciais. À semelhança do que acontece no emprego e no casamento, também já não há religião ou espiritualidade para toda a vida. A religião ou a espiritualidade "à la carte" são facilmente descartáveis.(...)".
"Avançai no mato e não tardareis a descobrir a arborescência ramalhuda das famosas técnicas da nova era onde se cultiva o desenvolvimento pessoal, a autorização, a expansão da consciência.
"É uma geografia complexa que mistura a meditação, a psicologia, as técnicas de alteração dos estados da consciência, as terapias suaves, as práticas corporais, a dietéctica...
"Ao lado está a luxuriante vegetação das ciências onde especulações sobre a Gaia e a cibernética planetária se entrelaçam com a física das partículas, a cosmologia, tudo sobre um fundo de crise ecológica e de interrogação sobre o destino futuro da humanidade.
"Continuando o caminho, ireis cair, de certeza, sobre raízes linguísticas sábias e retorcidas, como 'holismo', 'novo paradigma', 'holograma', 'Uno', 'múltiplo', 'não-separabilidade'. Esta floresta encantada tem mil rostos."
Michel Lacroix, La Spiritualité Totalitaire. New Age et les Sectes, Plon: Paris, 1995.
Comentário de Bento Domingues, no Público de hoje (de onde o trecho anterior foi retirado):
" (...) Nas sociedades secularizadas - como verificava a última Congregação Geral dos Jesuítas - a vida espiritual dos seres humanos não morreu. Desenvolve-se, porém, fora da Igreja e, deve-se acrescentar, em muitos casos, fora das religiões.
Mattew Fox vai ao ponto de sustentar que o programa para o terceiro milénio passa por "despir as religiões até à experiência espiritual", desenvolvendo formas de devoção que despertem as pessoas, em vez de as aborrecer.
Como diz o jornalista Michel Brown, no seu livro "O Turista Espiritual", a espiritualidade tornou-se num chavão. Nas suas deambulações ouviu muitas vezes as expressões: "Estou a tentar cultivar o meu lado espiritual" ou "estou a aprender a entrar em contacto com o meu lado espiritual". Geralmente, é mais uma falta que se sente do que uma realidade que se vive.
Muitos dos movimentos espirituais cintilam e extinguem-se como anúncios comerciais. À semelhança do que acontece no emprego e no casamento, também já não há religião ou espiritualidade para toda a vida. A religião ou a espiritualidade "à la carte" são facilmente descartáveis.(...)".
domingo, 18 de maio de 2003
(...)
Muito do desemprego nos últimos meses resulta de falências em série de empresas de média e grande dimensão, muitas delas encerrando aqui para irem abrir em países com mão de obra mais barata. Temos ouvido argumentar, ao nível governamental (cf. “Diário de Notícias” de sexta-feira) que estas falências “dão verdade à situação económica” e conduzem à “transparência do mercado”. Pode ser que assim seja, mas pegar assim em problemas sociais desta gravidade e delicadeza parece-me assemelhar-se àqueles que, normalmente ganhando bem, discutem as estatísticas de desemprego como se de manipulações de laboratório ou operações de contabilidade se tratasse.
Sabemos que a crise não tem as suas origens apenas no último ano e também não ignoramos que a agulha do clima internacional aponta mais para o lado recessivo do que para o expansivo.
Mas, depois de o governo ter dado o mote do “país de tanga” – porventura para conquistar espaço de manobra política – nós não vimos, até ao presente, uma real preocupação social com os efeitos devastadores de políticas económicas que só poderiam conduzir onde conduziram. Mesmo dando de barato que as opções económicas tenham sido as mais adequadas ou, pelo menos, as possíveis, seria necessário que, em simultâneo, se desenvolvesse um esforço multissectorial e articulado de novas respostas que impedissem que milhares de pessoas fossem simplesmente atiradas pela borda do navio fora, por não haver no navio lugar para elas. Porque os 423.595 desempregados são pessoas. E isso talvez precise de ser dito e gritado àqueles que, nos gabinetes, não vêem senão números e estatísticas.
(da crónica de amanhã, no DM)
Muito do desemprego nos últimos meses resulta de falências em série de empresas de média e grande dimensão, muitas delas encerrando aqui para irem abrir em países com mão de obra mais barata. Temos ouvido argumentar, ao nível governamental (cf. “Diário de Notícias” de sexta-feira) que estas falências “dão verdade à situação económica” e conduzem à “transparência do mercado”. Pode ser que assim seja, mas pegar assim em problemas sociais desta gravidade e delicadeza parece-me assemelhar-se àqueles que, normalmente ganhando bem, discutem as estatísticas de desemprego como se de manipulações de laboratório ou operações de contabilidade se tratasse.
Sabemos que a crise não tem as suas origens apenas no último ano e também não ignoramos que a agulha do clima internacional aponta mais para o lado recessivo do que para o expansivo.
Mas, depois de o governo ter dado o mote do “país de tanga” – porventura para conquistar espaço de manobra política – nós não vimos, até ao presente, uma real preocupação social com os efeitos devastadores de políticas económicas que só poderiam conduzir onde conduziram. Mesmo dando de barato que as opções económicas tenham sido as mais adequadas ou, pelo menos, as possíveis, seria necessário que, em simultâneo, se desenvolvesse um esforço multissectorial e articulado de novas respostas que impedissem que milhares de pessoas fossem simplesmente atiradas pela borda do navio fora, por não haver no navio lugar para elas. Porque os 423.595 desempregados são pessoas. E isso talvez precise de ser dito e gritado àqueles que, nos gabinetes, não vêem senão números e estatísticas.
(da crónica de amanhã, no DM)
domingo, 11 de maio de 2003
Convento de Santo António de Varatojo
Varatojo é um lugar da freguesia de S. Pedro e Santiago, situado numa colina fronteira a Torres Vedras. Foi aí que o rei D. Afonso V mandou levantar um convento, em cumprimento de um voto que fizera a Santo António para que o auxiliasse nas conquistas do Norte de África. E “veio ele mesmo, com os fidalgos da sua real Câmara e grande acompanhamento de clero, nobreza e povo, desde a vila de Torres, lançar a primeira pedra em Fevereiro de 1470”. O primeiro grupo de monges franciscanos instalou-se quatro anos depois, fazendo daquele espaço um dos sítios de maior florescimento do espírito missionário da modernidade em Portugal. A história riquíssima desta instituição é, ao mesmo tempo, um testemunho das vicissitudes da história do país, nas épocas moderna e contemporânea. O sítio do Convento na Internet dá disso sobeja conta, passando em revista as etapas vividas desde as décadas finais do século XV até ao presente. E dá-nos também, com imagem e texto, preciosas indicações sobre o valor arquitectónico, escultórico e paisagístico do conjunto, sem esquecer a riqueza ao nível da azulejaria. Melhor, só a visita ao local. (Convento de Varatojo, 2560 Torres Vedras , Tel. 261314120, Fax. 261315350, E-mail: Conv.varatojo@mail.telepac.pt ).
Página de Pedro Casaldáliga
“Passaram-se dois anos do novo século XXI e o Mundo continua cruel e solidário, injusto e esperançado. Ainda há guerra e há império, e o império acaba de inventar a guerra preventiva. Ainda o Mundo se divide pelo menos em três: Primeiro, Terceiro e Quarto. A fome, a pobreza, a corrupção e a violência têm aumentado; mas aumentaram também a consciência, o protesto, a organização, a vontade explícita de alternatividade”.
É assim que se inicia a carta pastoral de 2003 da autoria de D. Pedro Casaldáliga, bispo de S. Félix do Araguaia (Brasil). Um bispo-poeta, solidário com os mais pobres, que este ano completa 75 anos de vida e, por essa razão, solicitou ao Vaticano a sua substituição. O site, em boa parte em espanhol, contém documentos, poesias e orações de grande beleza e profundidade. Estão lá várias das suas cartas pastorais, muitas poesias, várias delas evocando a Mãe de Jesus. Está lá também o texto da célebre Missa dos Quilombos, cuja música foi criada por Milton Nascimento.
O bispo despede-se de décadas de apostolado no Mato Grosso com um poema que exprime a sua energia interior, e que foi buscar a “El Hombre de la Mancha” : “Sonhar mais um sonho impossível./ Lutar quando é fácil ceder. / Vencer o inimigo invencível. /Negar quando a regra é vender. / Quantas guerras terei que vencer por um poço de paz!
E amanhã, se esse chão que eu beijei / for meu leito e perdão, / vou saber que valeu delirar / e morrer de paixão!”.
Varatojo é um lugar da freguesia de S. Pedro e Santiago, situado numa colina fronteira a Torres Vedras. Foi aí que o rei D. Afonso V mandou levantar um convento, em cumprimento de um voto que fizera a Santo António para que o auxiliasse nas conquistas do Norte de África. E “veio ele mesmo, com os fidalgos da sua real Câmara e grande acompanhamento de clero, nobreza e povo, desde a vila de Torres, lançar a primeira pedra em Fevereiro de 1470”. O primeiro grupo de monges franciscanos instalou-se quatro anos depois, fazendo daquele espaço um dos sítios de maior florescimento do espírito missionário da modernidade em Portugal. A história riquíssima desta instituição é, ao mesmo tempo, um testemunho das vicissitudes da história do país, nas épocas moderna e contemporânea. O sítio do Convento na Internet dá disso sobeja conta, passando em revista as etapas vividas desde as décadas finais do século XV até ao presente. E dá-nos também, com imagem e texto, preciosas indicações sobre o valor arquitectónico, escultórico e paisagístico do conjunto, sem esquecer a riqueza ao nível da azulejaria. Melhor, só a visita ao local. (Convento de Varatojo, 2560 Torres Vedras , Tel. 261314120, Fax. 261315350, E-mail: Conv.varatojo@mail.telepac.pt ).
Página de Pedro Casaldáliga
“Passaram-se dois anos do novo século XXI e o Mundo continua cruel e solidário, injusto e esperançado. Ainda há guerra e há império, e o império acaba de inventar a guerra preventiva. Ainda o Mundo se divide pelo menos em três: Primeiro, Terceiro e Quarto. A fome, a pobreza, a corrupção e a violência têm aumentado; mas aumentaram também a consciência, o protesto, a organização, a vontade explícita de alternatividade”.
É assim que se inicia a carta pastoral de 2003 da autoria de D. Pedro Casaldáliga, bispo de S. Félix do Araguaia (Brasil). Um bispo-poeta, solidário com os mais pobres, que este ano completa 75 anos de vida e, por essa razão, solicitou ao Vaticano a sua substituição. O site, em boa parte em espanhol, contém documentos, poesias e orações de grande beleza e profundidade. Estão lá várias das suas cartas pastorais, muitas poesias, várias delas evocando a Mãe de Jesus. Está lá também o texto da célebre Missa dos Quilombos, cuja música foi criada por Milton Nascimento.
O bispo despede-se de décadas de apostolado no Mato Grosso com um poema que exprime a sua energia interior, e que foi buscar a “El Hombre de la Mancha” : “Sonhar mais um sonho impossível./ Lutar quando é fácil ceder. / Vencer o inimigo invencível. /Negar quando a regra é vender. / Quantas guerras terei que vencer por um poço de paz!
E amanhã, se esse chão que eu beijei / for meu leito e perdão, / vou saber que valeu delirar / e morrer de paixão!”.
domingo, 4 de maio de 2003
"Cada uno de nosotros es un relato. Tú eres, esencialmente, una historia. Y yo. Con su principio y su final. Jean-Claude Carrière, guionista de tantas películas de Luis Buñuel, me lo contaba así: “Pregunté en cierta ocasión al neurólogo Oliver Sacks qué consideraba él una persona normal, mentalmente sana. ‘La capaz de contar su historia’, me respondió. O sea, la que sabe de dónde procede –su origen, su principio–, dónde está –su identidad– y cree saber adónde va –sus proyectos y su final, la muerte–: en suma, alguien capaz de saberse en el curso de un relato”.
VÍCTOR-M. AMELA -, in La Vanguardia, 04/05/2003
VÍCTOR-M. AMELA -, in La Vanguardia, 04/05/2003
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