domingo, 28 de dezembro de 2008

Taizé em Bruxelas - A promessa do Natal, fonte de perseverança



Nesta segunda-feira, 29 de Dezembro, inicia-se em Bruxelas mais um encontro anual de jovens da Peregrinação de Confiança sobre a Terra, animada pela comunidade de Taizé. No Público de hoje, a notícia que escrevi (abaixo reproduzida) chama a atenção para a carta por uma Europa Aberta e Solidária, dirigida aos responsáveis da União Europeia. No site de Taizé o encontro pode ser acompanhado, com fotos, textos e várias outras propostas. Na meditação que escreveu para o Dia de Natal, o prior da comunidade, irmão Aloïs, escreve: “O Evangelho conta a maneira inacreditável como Deus age com a humanidade. Em Jesus, ele vem pedir a cada uma e cada um, geração após geração, para participar na sua obra de reconciliação. Então, mesmo nas horas sombrias, a promessa do Natal é fonte de perseverança para os que procuram construir a paz onde ela é ameaçada.


Encontro com 40 mil jovens de toda a Europa inicia-se hoje em Bruxelas; o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, enviou mensagem


A Comunidade de Taizé (França), que integra monges católicos e protestantes, propõe um serviço cívico europeu no âmbito das iniciativas de solidariedade entre povos. A sugestão consta de uma mensagem à União Europeia, que há dias foi entregue ao presidente da Comissão Europeia e hoje mesmo começa a ser distribuída aos 40 mil jovens (pelo menos uns 600 portugueses) que participam, em Bruxelas, no encontro europeu anual que a comunidade promove numa cidade europeia - em 2004, foi em Lisboa.
No texto Por Uma
Europa Aberta e Solidária, os monges de Taizé acrescentam que a actual situação de crise económica exige a adaptação das instituições e dos mecanismos europeus de auxílio para apoiar países mais pobres. E caracterizam o processo de construção europeia como "uma aventura sem precedentes".
"A Europa conseguiu abrir um período de paz sem precedentes na sua história. O caminho percorrido desperta uma enorme esperança noutras regiões do mundo. Depois de tantas fracturas, a paz é um bem inestimável", mas não adquirido "de uma vez para sempre: cada geração precisa de a construir".
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, gravou, em pouco mais de quatro minutos, uma mensagem para os participantes (pode ser vista em https://webmail.publico.pt/OWA/redir.aspx?C=796a783395f349f19e95a6979dbecf01&URL=http%3a%2f%2fjornal.publico.clix.pt%2f%253Ca%2520target%3d/pt_article7914.html">https://webmail.publico.pt/OWA/redir.aspx?C=796a783395f349f19e95a6979dbecf01&URL=http%3a%2f%2fwww.taize.fr%2f/pt_article7914.html). Nela repete também: o projecto europeu "constitui um passo em frente sem precedentes na história humana"; a paz, democracia e liberdade que hoje fazem "parte da ordem natural das coisas" não devem ser vistos como "garantidos para o futuro". "Preservar a liberdade e a democracia onde elas existem, combater por elas onde ainda não existem, continua a ser o nosso objectivo comum", diz.
Na mensagem entregue a Barroso pelo irmão Aloïs, prior da comunidade, diz-se que a construção europeia encontra o seu sentido integral se a Europa "se mostrar solidária" com "os povos mais pobres".
Solidariedade global
"Muitos jovens pedem que à mundialização da economia se associe uma mundialização da solidariedade", escrevem os monges de Taizé - o nome designa a aldeia da Borgonha onde a comunidade foi fundada, em 1940, pelo irmão Roger Schutz.
Sobre a crise financeira actual, o documento entregue a Barroso diz ainda que ela "mostra que, sem seguir normas éticas, a economia não se pode desenvolver sustentavelmente". O tema será, aliás, objecto de um dos vários workshops que decorrem nos pavilhões da Brussels Expo, até ao próximo dia 1 de Janeiro, quando termina o encontro. Europa, uma comunidade de valores, uma comunidade acolhedora será tema de outro dos debates, neste caso com a participação do vice-presidente da Comissão Jacques Barrot.
Mais generosidade dos países ricos, acolhimento "digno" dos imigrantes de países em vias de desenvolvimento e "partilha de dons" e da "diversidade" europeia são os âmbitos que levam os monges a propor "iniciativas como um serviço cívico europeu".
Na carta, os monges afirmam que as instituições europeias são por vezes vistas "com incompreensão e com um certo desalento". Mas cabe também aos líderes nacionais "apoiar um novo impulso, renunciando a designar injustamente, na hora das decisões difíceis, as instituições europeias como o 'bode expiatório'".
Num outro texto, destinado aos debates entre os jovens, a Carta do Quénia (escrita a pretexto de um encontro que, em Novembro, reuniu 7000 jovens em Nairobi), o irmão Aloïs apela a ultrapassar "as compartimentações das nossas sociedades". E recorda os que sofrem, os que são maltratados e os imigrantes.
O encontro prevê tempos de oração nos pavilhões da Brussels Expo, sendo os jovens acolhidos por famílias de 180 paróquias católicas, protestantes e ortodoxas de Bruxelas e cidades vizinhas.
Os jovens que participam nesta etapa da Peregrinação de Confiança, como Taizé designa a iniciativa, receberam ainda mensagens do secretário-geral da ONU, do Papa Bento XVI, do arcebispo anglicano de Cantuária e de outros líderes cristãos. Em todas elas (disponíveis em https://webmail.publico.pt/OWA/redir.aspx?C=796a783395f349f19e95a6979dbecf01&URL=http%3a%2f%2fwww.taize.fr%2f), os responsáveis falam dos principais problemas do mundo e do papel das gerações mais novas.

Islão e estereótipos

"En el imaginario social y religioso de Occidente ha calado la idea de Samuel Huntington de que el islam es "la civilización menos tolerante de las religiones monoteístas". Estamos ante un estereotipo que constituye uno de los obstáculos más serios para el diálogo interreligioso, junto con el desconocimiento que unas religiones tienen de las otras, incluso entre sectores cultos. Las descalificaciones son tanto más gruesas y viscerales cuanto mayor es el desconocimiento mutuo. Los prejuicios sustituyen a las descripciones objetivas. Las opiniones, muchas veces infundadas, se elevan a la categoría de axiomas. Las certezas se refuerzan cuanto más crasa es la ignorancia. A la hora de juzgar y valorar a las otras religiones no se suele partir de análisis y estudios rigorosos, sino de estereotipos o versiones interesadas que terminan por deformar el sentido profundo de la religión o por ofrecer una caricatura de la misma".

Assim começa o artigo que o teólogo Juan José Tamayo publica hoje no diário El País. A Parte mais significativa do texto ocupa-se, precisamente, em analisar esses "esterótipos ou versões interessadas" que, segundo ele, "dificultam um acesso sereno ao mesmo e impedem uma relação despreconceituosa com os crentes desse religião".

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O texto da polémica

A polémica do discurso que Bento XVI dirigiu dia 22 aos membros da Cúria Romana e do governo da Cidade do Vaticano, no tradicional encontro de Natal foi motivada pela seguinte passagem:

Antes de tudo está a afirmação que nos apresenta o início da narração da criação: nela se fala do Espírito criador que voa por cima das águas, cria o mundo e o renova continuamente. A fé no Espírito criador é um conteúdo essencial do Criador cristão. O fato de que a matéria leva em si uma estrutura matemática, está cheia de espírito, é o fundamento sobre o qual se baseiam as modernas ciências da natureza. Só porque a matéria está estruturada de maneira inteligente, nosso espírito é capaz de compreendê-la e de remodelá-la ativamente. O fato de que esta estrutura inteligente proceda do mesmo Espírito criador que também nos doou o espírito, implica ao mesmo tempo uma tarefa e uma responsabilidade. Na fé sobre a criação está o fundamento último de nossa responsabilidade com a terra. Não é simplesmente uma propriedade nossa, da qual nos podemos aproveitar segundo nossos interesses e desejos. É mais dom do Criador, que desenhou os ordenamentos intrínsecos e deste modo nos deu sinais de orientação que devemos respeitar como administradores de sua criação. O fato de que a terra, o cosmos, refletem o Espírito criador, significa também que suas estruturas racionais – que muito além da ordem matemática, no experimento, se tornam quase palpáveis – levam em si uma orientação ética. O Espírito que as plasmou é mais que matemática, é o Bem em pessoa que, através da linguagem da criação, nos indica o caminho para o reto caminho.

Dado que a fé no Criador é uma parte essencial do credo cristão, a Igreja não pode e não deve limitar-se a transmitir a seus fiéis só a mensagem da salvação. Também tem uma responsabilidade com a criação e tem de cumprir esta responsabilidade em público. E, ao fazê-lo, não só tem de defender a terra, a água, o ar, como dons da criação que pertencem a todos. Tem de proteger também o homem contra sua própria destruição. É necessário que haja algo como uma ecologia do homem, entendida no sentido justo. Quando a Igreja fala da natureza do ser humano como homem e mulher e pede que se respeite esta ordem da criação, não está expondo uma metafísica superada. Aqui se trata, de fato, da fé no Criador e da escuta da linguagem da criação, cujo desprezo significaria uma auto-destruição do homem e, portanto, uma destruição da própria ordem de Deus.

O que com frequência se expressa e entende com o termo «gender», se sintetiza em definitivo na auto-emancipação do homem da criação do Criador. O homem quer fazer-se por sua conta, e decidir sempre e exclusivamente sozinho sobre o que lhe afeta. Mas deste modo vive contra a verdade, vive contra o Espírito criador. Os bosques tropicais merecem, certamente, nossa proteção, mas não menos a merece o homem como criatura, no qual está inscrita uma mensagem que não contradiz a nossa liberdade, mas que é sua condição. Grandes teólogos da Escolástica qualificaram o matrimônio, ou seja, o laço para a vida toda entre o homem e a mulher, como sacramento da criação, instituído pelo Criador, e que Cristo – sem modificar a mensagem da criação – acolheu depois na história de sua aliança com os homens. Faz parte do anúncio que a Igreja deve oferecer o testemunho a favor do Espírito criador presente na natureza em seu conjunto e de maneira especial na natureza do homem criado à imagem de Deus. A partir desta perspectiva, seria preciso ler a encíclica Humanae Vitae: a intenção do Papa Paulo VI era a de defender o amor contra a sexualidade como consumo, o futuro contra a pretendida exclusividade do presente, e a natureza do homem contra a sua manipulação.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Bispo do Porto envia mensagem de Natal pelo YouTube

Um feminismo disfarçado?

Ao longo dos anos, fui construindo a ideia de que, na cultura católica dominante, existe um desequilíbrio doutrinal em favor do culto da "Virgem Mãe".
O celebrante da missa de hoje foi de uma eloquência notável, neste ponto. Enaltecendo a maternidade, como uma das maiores belezas e feitos da humanidade, e Maria por ter dado à luz o Salvador, discorreu sobre a actualidade desta tarefa (que para aqui não vem, agora , ao caso). O que inquieta, nesta visão das coisas, que muito clérigo partilha, é que o homem e o seu papel como que se eclipsa, ficando a Mulher-Mãe no centro e no altar da veneração (quando não da adoração).
Ora, se esta hipótese for consistente, não deixa de ser curiosa, porque parece conduzir a um modelo de maternidade e de família que está nos antípodas daquele que a Igreja defende: um modelo binário Mãe-Filho/a, em lugar de um modelo trinitário Mãe-Pai-Filho/a.
Se a hipótese for consistente, ela configuraria um feminismo encapotado, que não precisa da figura masculina, naquilo que, neste contexto, é relevante.
Tenho consciência de que o assunto é denso e vasto. Mas poderia, eventualmente, abrigar a chave para alguns problemas e controvérsias da actualidade eclesial. Não sou um expert na matéria, muito longe disso, mas deixo a reflexão. Pode ser que alguém contribua para fazer luz sobre o assunto.
(Crédito da imagem: Maia e o Menino, de Albert Dürer)

sábado, 20 de dezembro de 2008

"There's probably no God (...)"

Um movimento que se confessa ateu pretende lançar proximamente, na cidade de Londres, uma campanha pública de afirmação, que tem o seguinte mote: There's probably no God. Now stop worring and enjoy your life" (Provavelmente Deus não existe. Então, deixe de preocupar-se e desfrute a vida).
Anselmo Borges comenta, no DN, o sentido e alcance desta iniciativa, que ele - tal como vários dirigentes religiosos britânicos - considera "interessante", visto que "obrigaria as pessoas a pensar nas questões essenciais, e Deus é uma dessas questões decisivas". E acrescenta estes complementos:
"É significativo aquele 'provavelmente'. Dawkins [biólogo darwinista e professor da Universidade de Oxford, envolvido na campanha] não sabe que Deus não existe e, por isso, escreve: 'Provavelmente.' A existência de Deus não é objecto de saber de ciência, à maneira das matemáticas ou das ciências verificáveis experimentalmente. Nisso, Kant viu bem: ninguém pode gloriar-se de saber que Deus existe e que haverá uma vida futura; se alguém o souber, "esse é o homem que há muito procuro, porque todo o saber é comunicável e eu poderia participar nele". Afinal, também há razões para não crer, mas, quando se pensa na contingência do mundo, no dinamismo da esperança em conexão com a moral e na exigência de sentido último, não se pode negar que é razoável acreditar no Deus pessoal, criador e salvador, que dá sentido final a todas as coisas. Numa e noutra posição - crente e não crente -, entra sempre também algo de opcional."
"Mas, nos cartazes - escreve Anselmo Borges - o mais impressionante é a segunda parte: 'Deixe de preocupar-se e desfrute a vida.' É claro que o que está subjacente a esta conclusão é a ideia de um Deus invejoso da vida e da alegria dos homens e das mulheres. Se a primeira parte obriga os crentes a pensar, retirando da fé tudo o que de ridículo - pense-se em todas as superstições - lhe tem andado colado, a segunda tem de levá-los a "evangelizar" Deus. É preciso, de facto, reconhecer que houve e há muitos a quem "Deus" tolheu a vida, de tal modo que teria sido preferível nunca terem ouvido falar no seu nome - pense-se no horror do inferno, nas guerras e ódios em seu nome, no envenenamento da sexualidade, na estreiteza e humilhação a que ficaram sujeitos. Agora que está aí o Natal, é ocasião para meditar no Deus que manifesta a sua benevolência e magnanimidade criadoras no rosto de uma criança.(...)".
(Texto completo AQUI)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A ex-centricidade do Messias

(...) O que mais ameaça o natal é o próprio natal, isto é, a sua representação diminuída, estagnada culturalmente entre a quinquilharia dos símbolos e a oportunidade comercial, domesticada pela pieguice das frases feitas e das boas-maneiras.
«Toda a repetição é anti-espiritual», dizia Óscar Wilde, não para acusar a acessibilidade permanente do mistério, mas para pôr-nos em guarda quanto ao uso sonâmbulo e aos melíferos tiques de freguês avezado.
E, contudo, bastaria considerar como o Messias Jesus é ex-cêntrico ou é outro, desde o seu nascimento: por um lado cumpre as expectativas messiânicas linha a linha, mas depois também as despista, revolve e transcende. Jesus de Nazareth constitui aquela “infinita diferença qualitativa”, como explicaram Kierkegaard e Karl Barth nos últimos dois séculos. Um cristianismo
cultural não basta. (...)

Tolentino Mendonça, Página 1 /RR, 18.12.2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Leituras do dia

É, por vezes, tão surpreendente e retemperante, a Palavra que cada dia nos é dada:
"O que acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Foi ter com o mais velho e disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha'.
O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois arrependeu-se, e foi.
O pai dirigiu-se ao outro filho e disse-lhe a mesma coisa. Esse respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi.
Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O filho mais velho." Então Jesus disse-lhes: "Pois eu garanto: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu.
Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não acreditaram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram nele. Vocês, porém, mesmo vendo isso, não se arrependeram para acreditar nele."
Mt.21,28-32
Javé está perto dos corações feridos, e salva os que estão desanimados.
Sal.34, 19

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nem só de pão vive o homem

A crise financeira, as excomunhões e o sentido dos presentes e do Natal passam pela última crónica de frei Bento Domingues no Público de domingo.

1.Nem só de pão vive o homem, mas sem pão é difícil. O Diabo sabia disso quando pôs Jesus à prova no deserto. Hoje, diante dos efeitos económicos da especulação financeira, a nível global e local, a oração pelo “pão nosso de cada dia” – que não dispensa o trabalho – continua a fazer todo o sentido.
Quanto à crise, consultei o site da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE). Estava com pouca luz. O filósofo André Comte-Sponville – um ateu meio cristão – realça o primado evangélico do amor, alma de uma ética superior, mas não perde o sentido do realismo mais chão: “A ética vale mais do que a moral. A moral vale mais do que o direito. Mas a moral é mais necessária do que o amor, o direito é mais realista do que a moral. Se não formos capazes de viver à altura do Novo Testamento, respeitemos, ao menos, o Antigo”.
São afirmações lapidares e insuficientes. Encontrei alguns fervorosos católicos lamentando que o Papa – embora com alguns recados à Banca – não tenha excomungado os maiores responsáveis por uma crise que continua mais misteriosa do que a Santíssima Trindade.
A receita das excomunhões não me entusiasma e as determinações papais só contam para quem as deseja acolher. Por outro lado, os textos do Novo Testamento colocaram na boca de Jesus de Nazaré e de sua Mãe textos assustadores sobre os ricos. Na escola de S. Paulo, sustentava-se que “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6, 10). Os cristãos que alinham com sistemas de exploração e com práticas de corrupção sabem muito bem o que fazem e sabem que estão, pelo efeito da sua actuação perversa, a excomungar-se da comunidade humana.
2. Estamos no Advento, mas a necessidade de vigilância não é exclusiva desta quadra litúrgica. Hoje, mesmo fora dos espaços eclesiais, é frequente ouvir: não se pode permitir aos mercados que façam o que lhes apetece sem qualquer controle. Não basta, no entanto, aproveitar a crise para ter mais cuidado com a gestão da vida económica. Quem ficar por aí, vai sonhar com o fim deste pesadelo para voltar a pautar a vida pessoal, profissional e social pela mesma escala de preocupações. Ora, o que está em causa é o sentido que cada um dá à sua vida, a responsabilidade que assume em relação ao bem comum e o espírito de compaixão pelos que vivem sós e abandonados: justiça e gratuidade.
A alteração de critérios deve começar já pela preparação deste Natal. É evidente que ainda há muito sentimento humano para que os sem abrigo e os velhos e novos pobres não sejam totalmente esquecidos. Os meios de comunicação podem fazer imenso para avivar o sentido da solidariedade e nem são precisas “300 ideias” para os atender. Mas, se ficarmos por aí, é porque pensamos que as pessoas “só vivem de pão”. Além da satisfação das necessidades materiais básicas – e estamos muito longe destas serem atendidas, apesar de todos os programas de combate à pobreza – as pessoas vivem, sobretudo, de afectos e beleza. Quando os presentes de Natal não são investimentos, valem na medida em que forem concretizações de presença pessoal, de reconhecimento, isto é, de que os outros contam para nós. É normal que o marketing se esforce por encontrar modelos de gastos de Natal para tempos de crise, porque presentes de luxo para gente de luxo são negócios, válidos apenas como negócios, mais ou menos honestos, investimentos talvez mais seguros do que a oscilação dos jogos da Bolsa. A ética desses investimentos e jogos é anti-solidária: a riqueza de uns implica a pobreza de outros.
3. Na perspectiva de revisão de vida, neste tempo de Advento, talvez possamos mudar de registo sem muitos gastos. É um momento privilegiado para descobrir a aliança entre a pobreza voluntária e a beleza. A pobreza, quando imposta, é feia e destruidora. Quando voluntária, pode ser azeda por moralismo, como a de João Baptista, ou bela como a de Jesus e Francisco de Assis. Os Evangelhos encheram de música o curral do nascimento do filho de Maria e o “Poverello” foi o grande poeta do presépio e da natureza. Fra Angélico só gastou alguma tinta para encher de beleza o convento de S. Marcos de Florença.
Somos europeus. G. Ravasi, presente do Conselho Pontifício para a Cultura, numa conferência na Universidade de Salamanca – no começo do próximo ano estará em Portugal – insistiu na redescoberta da nossa herança cultural multifacetada. Na apologia da vertente cristã, lembrou algumas afirmações de grandes figuras da cultura europeia: para Goethe, a língua materna da Europa é o cristianismo; segundo I. Kant, a fonte da qual brotou a nossa civilização é o Evangelho; T.S. Eliot, foi mais explicito: “Um cidadão europeu pode não pensar que o cristianismo seja verdadeiro e, contudo, o que diz e faz brota da cultura cristã da qual é herdeiro. Sem o cristianismo não teria havido nem sequer um Voltaire ou um Nietzsche. Se o cristianismo desaparece, desaparece também o nosso rosto”.
Encontrar-se, hoje, com o nosso património artístico, expressão da fé cristã, é fácil e barato. Para refazer a nossa alma na beleza e na pobreza, basta acolher a graça do Presépio.

A Imaculada Conceição

No seu texto deste sábado, no DN, Anselmo Borges fala do feriado que hoje, dia 8, se assinalou, e do seu significado teológico e pastoral.

Não sei se a maioria dos portugueses conhece o motivo do feriado no dia 8 de Dezembro. Os católicos praticantes saberão que se trata de uma festa ligada a Nossa Senhora. Se interrogados, talvez respondessem, na quase totalidade, que tem a ver com a virgindade de Maria.
Aí está, pois, uma festa infestada com equívocos. Logo à partida, que pode significar Imaculada Conceição? De facto, não se refere directamente à virgindade, mas não lhe é completamente alheia. Do que se trata, na realidade, é da afirmação de que Maria, a Mãe de Jesus, foi concebida sem pecado.
Mas, aqui, sem hermenêutica, isto é, sem interpretação, pode albergar-se uma série de confusões, profundamente ofensivas sobretudo para as mulheres, minando, desgraçadamente, a mensagem do Evangelho enquanto notícia boa e felicitante.
Foi concretamente Santo Agostinho que elaborou a doutrina do pecado original, no sentido de um pecado cometido pelos primeiros pais (Adão e Eva) e transmitido a todos por herança, no acto sexual. Houve uma excepção: Maria foi concebida sem a mancha do pecado original.
Deste modo, porém, a sexualidade ficou manchada e as mulheres acabavam por sentir-se discriminadas, tanto mais quanto, associando a concepção de Jesus a uma geração virginal, se lhes propunha o ideal impossível de virgem e mãe.
Sub-repticiamente, esta doutrina causou imensos danos ao cristianismo, concretamente à mulher, à visão do sexo e do casamento.
Assim, um cristão atento e reflexivo sabe que é necessário e urgente rever o dogma, mostrando o seu verdadeiro sentido. O próprio Papa João Paulo II deu a chave, ao escrever que "o Natal de Jesus revela o sentido profundo de todo o nascimento humano". Afinal, quando percebe que o ser humano não é redutível à biologia, o crente verá em toda a nova geração a presença do Espírito, como aconteceu com Jesus. Por outro lado, nascer é vir à luz e, portanto, dar à luz não constitui uma mancha para a mãe, como supõe a doutrina da virgindade de Maria, antes, no e depois do parto.
Um dia, numa entrevista, um jornalista atirou-me: "Não acha que Nossa Senhora é a mulher mais poderosa de Portugal?" Nunca tinha pensado nisso, mas é bem possível. Basta pensar em Fátima e no que Fátima representa para os portugueses. Aliás, Nossa Senhora "concede" dois feriados nacionais: Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e Assunção (15 de Agosto).
Mas, se se pensar bem, estas festas são metáforas de esperança e salvação: todo o ser humano é concebido sem pecado, mas, entrado no mundo, terá de lutar contra a maldade e o pecado, na esperança de um mundo melhor, e também na morte pode contar com o Deus amor e a sua graça de vida eterna.
Podemos então compreender, como dizia o teólogo Karl Rahner, que, nestes domínios, por exemplo, da virgindade de Maria, não se trata de biologia. Referindo-se à narrativa do Evangelho de São Mateus sobre a geração de Jesus por obra do Espírito Santo, escreveu o exegeta Jean Radermakers: "Tomando imagens das mitologias pagãs, depuradas pela reflexão judaica, Mateus não se situa num plano de fisiologia, medicina, ginecologia ou sexologia, mas no de uma realidade mais profunda. Deveríamos reler a nossa experiência do dar à luz e da responsabilidade parental a partir do nascimento de Jesus. Toda a criatura recém-nascida vem de Deus. Assumir uma maternidade e paternidade humanas é deixar que Deus se revele na criatura nascida. A missão de todo o varão e toda a mulher que se unem é dar lugar a que apareça no mundo a realidade do Emanuel, Deus connosco."
Criticando os mal-entendidos da leitura do Evangelho a partir de pressupostos negativos em relação à sexualidade, o teólogo Juan Masiá põe na boca do anjo estas palavras dirigidas a São José: "Não deixes de levar Maria contigo. Não penses que pelo facto da intervenção do Espírito o teu papel como varão está a mais. Não tens que afastar-te para permitir que Deus faça algo grande com a tua família. Com a tua relação com Maria, não vais entrar em concorrência com o Espírito. O teu papel é compatível com a acção de Deus e com que Jesus seja o Cristo."

sábado, 6 de dezembro de 2008

Morreu Alexis II, o patriarca da Igreja Ortodoxa russa

A notícia é desta sexta-feira: morreu o líder de 140 millhões de cristãos ortodoxos, o patriarca Alexis II, do patriarcado de Moscovo. O texto que a seguir se reproduz é extraído do site do Público, que este sábado traz mais elementos sobre o processo de sucessão. No La Croix há também um excelente dossiê sobre o tema. No Público há também um vídeo e no la Croix um interessante conjunto de 13 imagens.

Alexis II, o patriarca de Moscovo e o homem que restaurou a influência da Igreja Ortodoxa russa após a queda do regime comunista, morreu hoje, aos 79 anos."O santo patriarca faleceu na sua residência de Peredelkino (perto de Moscovo), durante a manhã", precisou o chefe do serviço de imprensa, Vladimir Viguilianski, citado pelas agências russas.Os sinos de 600 igrejas de Moscovo começaram imediatamente a repicar, anunciando a morte do patriarca, e as televisões russas começaram imediatamente a transmitir documentários consagrados ao patriarca. O Santo Sínodo foi convocado para uma reunião de emergência, que terá lugar amanhã, durante a qual se irá nomear o sucessor interino de Alexis II. Em conformidade com o estatuto da Igreja russa, um novo patriarca deverá ser eleito num prazo de seis meses por um concílio composto por vários tipos de religiosos e simples fiéis. O novo líder espiritual de 135 milhões de fiéis ortodoxos poderá ser, de acordo com a imprensa russa, o metropolita Kiril, de Smolensk y Kaliningrado, responsável pelo departamento do Exterior Eclesiástico da Igreja Ortodoxa Russa. Kyril tinha, aliás, prevista uma visita a Lisboa na próxima semana – a primeira de um responsável de alto nível do Patriarcado de Moscovo. Neste momento, a Embaixada da Rússia em Lisboa, envolvida na preparação da visita, ainda não sabe se o metropolita mantém ou não a sua deslocação. O patriarca Alexis, próximo do primeiro-ministro e ex-Presidente Vladimir Putin, contribuiu para a reunificação histórica da sua Igreja com a ortodoxia russa no estrangeiro em Maio de 2007, pondo fim a 80 anos de um cisma que datava desde a revolução bolchevique de 1917.Durante o seu patriarcado, Alexis II teve uma influência preponderante na sociedade russa, ainda que a Constituição nacional estipule que a Rússia é um Estado composto por várias confissões religiosas, integrado por ortodoxos, muçulmanos, judeus e budistas.Alexis II, nascido em Tartu, na Estónia, a 23 de Fevereiro de 1929, era o patriarca da Igreja Ortodoxa russa há 18 anos. Descendia de uma antiga família de nobres da zona báltica que abraçou a ortodoxia por volta do século XVIII. Eleito em 1990 para o cargo, pediu desde o início ao Governo que reintroduzisse o ensino da religião nas escolas. Durante o golpe de estado contra o último Presidente soviético, Mikhail Gorbatchov, colocou-se do lado do homem da “perestroika” e contra os golpistas, pedindo ao Exército para manter a calma, de modo a evitar um banho de sangue. Hoje, Gorbatchov manifestou-se “comovido” com a notícia da morte e afirmou “respeitar profundamente” a memória do patriarca. Alexis II tinha fama de ser uma pessoa conciliadora e disciplinada, tendo reabilitado vários santos e mártires perseguidos pelo regime comunista. Em 2000 acabou por reabilitar religiosamente a figura do último czar russo, Nicolau II, e da sua família.Durante a recta final do seu patriarcado deu impulso a um aproximar da sua ortodoxia à Igreja Católica – embora durante muito tempo tenha acusado os católicos de proselitismo –, apesar de se ter oposto no passado a uma viagem do falecido Papa João Paulo II à Rússia, argumentando que o Vaticano estaria a tentar promover a fé católica no país. Sucessivos encontros entre Alexis e João Paulo II foram sendo previstos, em território neutro, mas foram sempre adiados, por oposição do patriarca russo. Só com a eleição do alemão Joseph Ratzinger para Papa – Bento XVI – Alexis começou a mostrar sinais de abertura a uma aproximação mais efectiva ao Vaticano. Numa primeira reacção à morte do religioso russo, a Santa Sé exprimiu a sua "surpresa" e a sua "dor" perante o anúncio da morte do patriarca.No campo da ortodoxia, Alexis disputou ao patriarca de Constantinopla (actual Istambul), a primazia de honra. A Igreja Ortodoxa não tem um líder semelhante ao Papa (em rigor, deve falar-se de diferentes Igrejas Ortodoxas, consoante o país), mas o patriarca de Constantinopla sempre foi visto como um primus inter pares, por ter sido em Constantinopla que se deu a ruptura, em 1054, entre cristãos do Ocidente e do Oriente. Depois da queda do comunismo, em 1989, o patriarcado russo – que lidera a maior Igreja Ortodoxa, em número de fiéis – apareceu sempre a querer afirmar-se como o mais importante dentro da ortodoxia.

Adiada visita a Portugal do provável sucessor do patriarca da Igreja Ortodoxa russa

A visita a Portugal do metropolita Kirill, número “dois” da Igreja Ortodoxa Russa até à morte do patriarca Alexis II, que estava prevista para a próxima semana, foi adiada e não tem ainda nova data marcada, soube o PÚBLICO junto de fonte oficial da embaixada russa em Lisboa.Responsável pela secção de relações exteriores do Patriarcado de Moscovo, o metropolita Kirill é apontado como um dos nomes mais prováveis à sucessão de Alexis, de acordo com a imprensa russa de hoje, citada pelas agências internacionais. A concretizar-se a visita, Kirill, metropolita das cidades de Smolensk e Kalininegrado, seria o primeiro alto responsável da ortodoxia russa a estar em Portugal.A partir de segunda-feira, o roteiro da visita previa deslocações ao Porto, Faro e Lisboa. Várias celebrações litúrgicas e encontros com as comunidades ortodoxas (na maioria, compostas por imigrantes a trabalhar em Portugal) estavam marcados, a par de audiências com autoridades do Estado e com responsáveis da Igreja Católica. No dia 14, a visita terminaria com a celebração da divina liturgia (nome dado pelos ortodoxos à eucaristia), na capela ortodoxa da Boa Nova, em Lisboa. A nova data não está ainda prevista.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A religião não se foi embora, só mudou de face e de lugar

Na edição de hoje do Público/P2, publico um texto a partir das entrevistas a dois dos nomes de topo da sociologia religiosa contemporânea. Deus, afinal, não morreu na sociedade, dizem Thomas Luckmann e José Casanova.

Dois dos nomes de topo da sociologia religiosa contemporânea falaram em Lisboa das mudanças na religião na Europa secular e pós-moderna. Confessaram qual é o seu inimigo e referiram que a Europa repete hoje o discurso americano do século XIX

Morte de Deus? Retorno do religioso? Menos gente nas missas? O século XXI será religioso ou não? Esqueçam-se os chavões. A religião nunca deixou de estar presente na vida das pessoas e das sociedades. Thomas Luckmann, um dos mais importantes nomes da sociologia religiosa contemporânea, que esteve em Lisboa na semana passada, corta rente: "O religioso nunca se foi embora, só mudou a sua face."Autor de The Invisible Religion - The Problem of Religion in Modern Society (A Religião Invisível - O Problema da Religião na Sociedade Moderna), Luckmann abalou a análise sociológica da religião quando publicou a obra, em 1967. No livro, cunhava a expressão "religião invisível" e verificava que o fenómeno religioso mudara de lugar: da esfera pública para a individual.
Para Luckmann, a religião continuava a ter um lugar importante na vida das pessoas. Mas as suas manifestações principais tinham deixado de ser a frequência de uma igreja ou templo, passando a uma expressão cada vez mais pessoal e individualizada.
Menos de três décadas depois, em 1994, o espanhol José Casanova (radicado nos Estados Unidos desde 1973), publicou Public Religions in the Modern World (Religiões Públicas no Mundo Moderno). Para baralhar de novo, concluía que, na década de 80 do século XX, manifestações como o islão fundamentalista ou a teologia católica da libertação tinham devolvido a religião ao espaço público. Era a desprivatização do fenómeno.
Casanova esteve também em Lisboa onde, com Luckmann, falou sobre Sociedades seculares pós-modernas - mudanças religiosas na Europa, a convite do Instituto de Ciências Sociais. E, apesar de terem analisado diferentes realidades do fenómeno, Luckmann afirmou, ainda no debate, que partilha, com Casanova, "um inimigo intelectual comum: a teoria da secularização".
O espanhol decifra, em entrevista ao P2: "A teoria da secularização, que explicava este processo como a diminuição das crenças e das práticas religiosas, é uma visão muito pobre do que é o dinamismo moderno da religião."
Também em conversa com o P2, Thomas Luckmann acrescenta: "Para alguns, a sociedade tinha-se secularizado e agora dizem que há um retorno ao religioso. Não se trata disso."
É verdade: a prática religiosa diminui desde há décadas, na Europa, em todas as igrejas cristãs - e não apenas no catolicismo. "Ainda que aceitemos a diminuição enorme das práticas religiosas e das crenças oficiais nas sociedades europeias, isso não se explica por as sociedades serem mais modernas", diz Casanova.
Para o sociólogo espanhol, "o que a teoria da secularização dizia é que mais modernização leva necessariamente" a menos religião. "Esse é um modelo teórico muito pobre, não explica nada. Veja-se a sociedade americana: é a mais secular e também a mais religiosa."
Outro exemplo, aponta: na Dinamarca, a esmagadora maioria (96 por cento) das pessoas declara-se luterana; mas a frequência dos cultos dominicais da Igreja Luterana é residual. A realidade portuguesa não anda muito longe desta, com cerca de 20 por cento de pessoas que vão à missa ao domingo, apesar dos 90 por cento que se dizem católicos.

Rede e bricolage
Ambos, Luckmann e Casanova, têm centrado a sua análise no que se passa na Europa e Américas. Thomas Luckmann, de origem eslovena, leccionou na Áustria, Alemanha e Estados Unidos, vivendo hoje na Suíça. Verifica que, nos continentes europeu e americano, "privatização e dimensão pública da religião vão a par". Estruturalmente, afirma, "a religião mudou o seu lugar na sociedade e a sua relação com outras instituições e com a conduta da vida individual".
Para a socióloga francesa Danièle Hervieu-Léger, conceitos como liberdade pessoal e autonomia são também importantes. Em O Peregrino e o Convertido - A Religião em Movimento (ed. Gradiva), a socióloga utiliza expressões como "rede" ou "bricolage", para caracterizar a religiosidade sem compromissos hierárquicos ou comunitários muito fortes.
Na modernidade, explica Casanova, "as igrejas perdem o monopólio que tinham" - o da salvação num território concreto, como definia Max Weber. As chamadas seitas - que Hervieu-Léger define como a religião "incontrolável" - assumem-se como grupos de adesão voluntária e não-territorial. Mais ainda, a rede permite a construção de cumplicidades a partir do universo de cada pessoa. E a bricolage, acrescenta o sociólogo espanhol, permite que cada indivíduo "construa o mundo desde si, tomando daqui e dali e elaborando a sua própria religião".
O processo individual relaciona-se com dinamismos colectivos. Na Europa, houve igrejas oficiais em todos os Estados. "Nos EUA, nunca houve uma Igreja estatal ao nível federal", observa Luckmann. Ao contrário do que acontecia na Europa - "se se nasce num país católico ou luterano, fica-se católico ou luterano, a não ser que haja um processo de desvinculação" -, nos Estados Unidos a religião foi sempre objecto de uma escolha individual.
Na Europa, Luckmann apenas identifica modelos diferentes de relação entre Igreja e Estado se se entrar em detalhes: nesse caso, "haveria 50 modelos diferentes". Mas, observa, há pequenas diferenças entre a ortodoxia a Leste (Grécia, Sérvia, Bulgária, Rússia e Leste da Ucrânia), o anglicanismo como religião oficial no Reino Unido, o "recente des-estabelecimento" das igrejas na Europa do Sul e o des-estabelecimento comunista nos países de Leste.
Nos Estados Unidos, acrescenta Casanova, apesar de ter sido ali que se concretizou "o primeiro modelo de separação Igreja-Estado", a religião "esteve sempre presente na vida pública, com um papel político muito forte, à esquerda e à direita". "Nos movimentos de direitos civis dos negros todo o discurso é religioso, na direita conservadora o discurso é religioso", afirma. Exemplos recentes? A oração de um pastor baptista no momento da consagração da vitória eleitoral de Barack Obama ou o modo como o Presidente cessante justificou com uma espécie de nova cruzada a invasão do Iraque.
A realidade dos EUA, que na Europa seria encarada como promiscuidade entre religião e Estado, faz com que "nenhuma Igreja tenha privilégios na esfera pública, mas que haja liberdade total da religião na sociedade", nota José Casanova. O Estado nem sequer "tem direito a perguntar quantas religiões existem nem ninguém tem que ter qualquer autorização para criar uma igreja". Mais trabalho para os investigadores, portanto.
O sociólogo espanhol observa ainda que esse discurso religioso se fez muito no campo do Partido Democrata. Foi depois tomado pelos republicanos, com Ronald Reagan. "A crise do Partido Democrata coincidiu com o abandono desse discurso, que foi agora recuperado", processo que ajudou também na vitória de Obama. O processo de individualização da religião é uma "componente estrutural da religião nas sociedades americana e europeia, mas com histórias diferentes", observa Thomas Luckmann. Essa é a semelhança do fenómeno nos dois lados do Atlântico. Tal individualização - os sociólogos preferem este termo a privatização, "expressão mais negativa", diz Casanova - é positiva: "Os indivíduos fazem-se mais livres, porque assumem a sua autonomia também perante as instituições religiosas."
O processo de privatização das últimas três décadas teve outra consequência paradoxal: foi ele "a condição para que igrejas e religiões voltassem à esfera pública, já não como interlocutores privilegiados" do Estado, mas como "uma voz na esfera pública das sociedades, com direito a apresentar os seus valores e ideias, mas em que a sua voz é contrastada por outras vozes".
Do lado católico, Casanova situa a mudança no Concílio Vaticano II, quando a Igreja assumiu o seu "des-estabelecimento", perdendo a confessionalidade estatal. "Mas a Igreja Católica não aceitou nem aceitará nunca ser uma coisa privada, porque a moral é intersubjectiva. Aceitou perder a posição de confissão de Estado, aceitou não mobilizar partidos, mas nunca aceitaria perder o direito a ter uma voz pública."
O que se passa agora na Europa é que a entrada da Polónia e a possível integração da Turquia na União Europeia trazem, além dos imigrantes, novas realidades. Casanova comenta: "A Polónia, e sobretudo os imigrantes muçulmanos, trazem um discurso novo à esfera pública europeia. De repente, os países europeus, seculares e cristãos, confrontam-se com imigrantes que não são nem seculares nem cristãos."
A Turquia é um caso exemplar: "Antes era secular e menos democrática e agora é mais muçulmana e mais democrática. Foi a incorporação da massa turca, que era muçulmana, na política que levou o islão à esfera pública e que está a criar as condições reais para que a Turquia possa ser membro da UE."
Um processo em tudo semelhante ao dos partidos democratas-cristãos na Europa, nota Casanova: "Foram esses partidos que democratizaram as sociedades europeias depois da II Guerra Mundial. Através do partido religioso, deu-se a democratização do sistema."
Tal como a origem da construção europeia: "A UE foi um projecto democrata-cristão com a bênção do Vaticano, mesmo em França, onde os democratas-cristãos eram minoritários. O processo da UE está baseado em dois princípios: a reconciliação entre França e Alemanha e entre católicos e protestantes."

Turquia, caso exemplar
O caso turco e os imigrantes muçulmanos levaram mesmo o cardeal francês Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, do Vaticano, a declarar que Deus regressou às sociedades europeias "graças aos muçulmanos". Foi esta "importante minoria" que pediu "espaço para Deus na sociedade", disse Tauran na faculdade de Teologia de Nápoles (Sul de Itália), citado na semana passada pela AFP.
Certo é que muitos europeus convivem mal com este Deus recolocado na praça pública pelos muçulmanos - ou, pelo menos, com uma certa imagem desse Deus. Mas José Casanova não vê nada de muito novo neste fenómeno: no século XIX, os Estados Unidos definiam-se como "um país cristão, mas com a esfera pública dominada pelos protestantes".
Os católicos, que começavam então a chegar da Irlanda, eram considerados antimodernos, anti-seculares e seguidistas do Papa de Roma. "Foi de tal modo que a Igreja Católica adoptou um discurso antimoderno e anti-secular. Mas, hoje, o discurso em relação aos católicos do século XIX está a repetir-se na Europa... em relação aos muçulmanos."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Perdão, o contrário do esquecimento

O padre jesuíta Juan Masiá Clavel escreve, na sua coluna do Religion Digital, sobre o perdão. Este é contrário do esquecimento:

Un desafortunado refrán japonés dice: “Lo pasado, tirarlo al agua”. Es como “borrón y cuenta nueva”. Pero el auténtico perdón no es borrón y cuenta nueva, sino cuenta renovada, a pesar de que no se pueda hacer borrón de lo pasado.
El olvido del mal pasado conlleva dos males: 1) creer que lo pasado, pasado está y... aquí no ha pasado nada. 2) permitir o fomentar su repetición en el futuro.
“Hay abusos del olvido...Bajo formas institucionales de olvido se cruza demasiado fácilmente la frontera con la amnesia... La amnistía se convierte en caricatura del perdón,.. Imponer como deber el olvido sería fomentar la amnesia... Conservar la frontera entre amnistía y amnesia favorece la integración de la memoria, el duelo y el perdón”.
Así hablaba el filósofo Paul Ricoeur en su magistral obra La memoria, la historia y el olvido (2000). Habría que recomendar su lectura a quienes hablan superficialmente, para recomendar a la ligera e irresponsablemente el consejo del olvido; se corre el riesgo de manipular la memoria y fomentar, con la amnesia, la repetición de los errores pasados.
Los humanos compartimos la doble experiencia de ser autores y víctimas del mal. En el primer caso, a la imputación y acusación sigue la exigencia de pena y castigo. En el segundo, el sufrimiento de las víctimas sube en forma de clamor pidiendo que hagamos algo para remediarlo, evitarlo y que no se vuelva a repetir.
Al reconciliarnos con el pasado, a pesar de lo que ocurrió, y al apostar creativamente por el futuro, a pesar de la incertidumbre, nos humanizamos.
El ensañamiento vindicativo y la renuncia a volver a empezar nos deshumanizan. La justicia rehabilitadora de la memoria histórica recuerda el mal para que no se repita. La imaginación creativa capacita para prometer no repetirlo.
Nadie puede perdonar en lugar de la víctima, dice el filósofo francés, ni podemos obligar desde fuera a las víctimas a que perdonen. Pero tampoco puede nadie sustituir al agresor para pedir perdón en su lugar, así como de poco servirá imponerle forzadamente un arrepentimiento que no le brote de dentro.
Pero oramos para que cada persona reconozca que “otro yo es posible”, que hay, dentro de quien fue capaz de lo peor, la capacidad de lo mejor. Que despierte en el criminal la capacidad latente de prometer no repetir la agresión. Que despierte en la víctima la capacidad de renunciar a la venganza. Que despierte en la sociedad entera la capacidad de hacer justicia rehabilitadora y reconciliadora (no vindicativa), pero sin olvidar, manteniendo viva la memoria histórica del mal para no repetirlo y de imaginar creativamente caminos para volver a empezar siempre de nuevo.
Quienes compartan la fe evangélica comprenderán que perdonar no es olvidar, sino orar y confiar en que es posible volver a empezar, aunque “lo hecho, hecho esté” (la persona asesinada no resucita) y lo recordemos, no para reabrir heridas, sino para que no se reproduzcan las agresiones.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Centenário de Messiaen na Sé de Lisboa

O centenário do compositor Olivier Messiaen está a ser assinalado na Sé de Lisboa, desde sábado, com a execução da integral de concertos para órgão, numa organização do pároco da Sé, Luís Manuel Pereira da Silva. Aqui fica o programa dos concertos que ainda nos esperam. Os textos são de António Esteireiro, do Instituto Gregoriano de Lisboa:


Nascido a 10 de Dezembro de 1908, Olivier Messiaen tornou-se mundialmente conhecido não só como compositor mas também como executante, fundamentalmente das suas próprias composições. A sua música caracteriza-se por um profundo sentimento religioso aliado a uma grande componente mística, continuando ainda hoje, dezasseis anos após a sua morte a servir de inspiração a várias gerações de intérpretes e compositores. A apresentação da sua obra integral para órgão na Sé Patriarcal de Lisboa surge no contexto da comemoração do centésimo aniversário deste compositor profundamente católico. Como introdução aos seus textos musicais o compositor propõe textos bíblicos e patrísticos para reflexão que serão comentados no contexto do concerto pelo Cónego Luís Manuel Pereira da Silva. Através da apresentação destes concertos pretende a Sé Patriarcal de Lisboa, com a colaboração do Instituto Gregoriano de Lisboa, dar a conhecer uma parte fundamental do património musical do século XX.


Terça, 2 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre d’Orgue (1951-52)
Giampaolo Di Rosa/Roma-Porto
O terceiro concerto desta integral para órgão apresenta o ciclo mais complexo e abstracto que Messiaen dedicou ao seu instrumento de eleição durante mais de 60 anos. De carácter claramente especulativo e fazendo uso de várias técnicas combinatórias é resultado da influências dos cursos de Darmstadt, onde Messiaen também leccionou em 1951 e das paisagens montanhosas dos Alpes e Delfinato, local de criação deste ciclo. Este concerto traz mais uma vez até Lisboa Giampaolo Di Rosa, professor de Órgão da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto. Detentor de uma carreira de reconhecido mérito internacional, Giampaolo Di Rosa divide o seu tempo entre a uma intensa actividade artística e a investigação científica na área da música. O concerto será comentado pelo próprio intérprete que nos tentará ajudar a compreender um pouco melhor a complexidade desta proposta musical de Messiaen.


Sábado, 6 de Dezembro de 2008, 21h30
Meditations sur le Mystère de la Sainte Trinité (1969)
Edite Rocha e Classe de órgão da Universidade de Aveiro
No seguimento da celebração do centenário do nascimento de Olivier Messiaen, associa-se a esta integral outra das principais instituições de ensino superior de música em Portugal. O quarto concerto desta Integral das Obras para Órgão de Olivier Messiaen resulta de um projecto concretizado pela classe de órgão da Universidade de Aveiro sob a orientação da professora Edite Rocha. O ciclo de nove meditações sobre o Mistério da Santíssima Trindade foi à data da sua composição a maior obra para órgão escrita pelo compositor. Inspirado pela reinauguração do seu instrumento de eleição na Igreja da Santíssima Trindade em Paris, e pelas improvisações realizadas nesse concerto inaugural, Messiaen funde neste ciclo elementos fundamentais na sua escrita para órgão. Ao combinar o canto dos pássaros com citações de temas do repertório de canto gregoriano e com técnicas típicas da sua linguagem musical, consegue criar uma das mais importantes obras para órgão do século XX.


Terça, 9 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre du Saint Sacrement (I) (1984)
Filipe Veríssimo/Porto e João Santos/Leiria
Escrito em 1984 depois de uma encomenda da cidade de Detroit, o Livro do Santíssimo Sacramento é não só a maior obra para órgão de Olivier Messiaen, mas também a última escrita pelo compositor. Criado depois da ópera São Francisco de Assis (1975-83) que ocupou o compositor ao longo de oito anos é um regresso do autor à escrita para órgão em contexto litúrgico. Devido à sua duração total, superior a duas horas, este ciclo será apresentado em dois concertos distintos mas complementares. No primeiro desses concertos ouviremos dois organistas formados na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto. Primeiramente ouviremos Filipe Veríssimo, mestre-de-capela e organista titular do órgão Jann da Igreja da Lapa no Porto, um dos instrumentos mais emblemáticos do nosso país. As intervenções musicais de Filipe Veríssimo serão intercaladas pelas de João Santos, professor de órgão em Leiria e organista titular de outro dos melhores instrumentos portugueses, o órgão Heintz da Catedral de Leiria. Trata-se de uma ocasião única de poder ouvir estes dois intérpretes em Lisboa no melhor instrumento da capital.


Quarta, 10 de Dezembro de 2008, 21h30
Missa em homenagem a Olivier Messiaen
António Esteireiro/Lisboa e Coro de Câmara e Coro Gregoriano do IGL
No dia 10 de Dezembro de 2008 celebraria Olivier Messiaen o seu centenário. Esta missa em homenagem a Olivier Messiaen repete o programa apresentado pelos mesmos intérpretes no último Festival Internacional de Órgão de Lisboa 2008, na Igreja de Nossa Senhora do Cabo em Linda-a-velha. A escolha do repertório para este recital tenta fazer uma síntese entre as várias práticas vividas por Olivier Messiaen na Igreja da Santíssima Trindade em Paris. Ao juntar no mesmo concerto obras do repertório solístico, com o Proprium gregoriano do dia e incluindo o motete O sacrum convivium, temos um pequeno vislumbre do contexto em que estas obras foram executadas originalmente. O repertório escolhido incide no período de composição que antecede a Segunda Guerra Mundial, em que foram compostos os primeiros três grandes ciclos para órgão. Os ciclos L’Ascension, La nativité du seigneur e Les corps glorieux fazem parte do repertório mais divulgado e executado de Messiaen. O Instituto Gregoriano de Lisboa é provavelmente a instituição portuguesa com maior tradição no ensino do órgão e da defesa e divulgação do repertório de canto gregoriano e associa-se a esta comemoração do centenário do nascimento de Messiaen através da realização deste concerto.


Sábado, 13 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre du Saint Sacrement (II) (1984)
Markus Rupprecht/Regensburg
A segunda parte do Livre du Saint Sacrement, cuja primeira parte foi apresentada no dia 9 de Dezembro, é apresentada em Lisboa por um dos mais promissores talentos da nova geração de organistas alemães. Oriundo da Baviera, Markus Rupprecht dividiu o seu tempo de estudos entre Regensburg, Piteå na Suécia e Viena, trabalhando com alguns dos mais reputados pedagogos do nosso tempo, como são os casos de Hans-Ola Ericsson, Michael Radulescu e Franz Josef Stoiber. Um dos focos principais do seu repertório reside no domínio integral das obras para órgão de Messiaen, que durante este ano de 2008 o levou a apresentar-se em várias cidades europeias da Alemanha, Suécia e Áustria. Neste ciclo Messiaen faz uma síntese de todos os recursos musicais utilizados ao longo da sua carreira enquanto compositor. A utilização de vários tipos de modos, do canto de alguns pássaros da Palestina, aspectos relacionados com simbolismos, linguagem comunicável ou mesmo a métrica grega, fazem desta obra um monumento incomparável no repertório para órgão do século XX. A última parte deste ciclo traz-nos as meditações cuja temática se refere a episódios relacionados com a Eucaristia.


Domingo, 14 de Dezembro de 2008, 21h30
La Nativité du Seigneur (1935)

Classe de Órgão da Universidade de Évora
No penúltimo concerto desta celebração do centenário do nascimento de Olivier Messiaen, associa-se a esta integral outra das principais instituições de ensino superior de música em Portugal. Este concerto resulta de um projecto concretizado pela classe de órgão da Universidade de Évora sob a orientação do professor João Vaz. O ciclo de nove meditações dedicado à Natividade do Senhor foi escrito em Grenoble no ano de 1935. Sendo um dos ciclos mais apreciados pelo próprio compositor, foi uma das obras que mais reconhecimento internacional lhe trouxe, devido à forma inovadora como abordou a escrita para órgão. A utilização sistemática dos modos de transposição limitada, de um componente rítmica muito inspirada pelos ritmos hindus e de temas do repertório gregoriano modificados, tornaram este ciclo um dos mais importantes marcos da escrita para órgão na primeira metade do século XX.


Olivier Messiaen em Braga

Ouvir música de Olivier Messiaen, afirma o professor catedrático de Composição e Música Electrónica na Universidade de Aveiro, João Pedro Oliveira, “é ouvir música sobre os anjos, o Paraíso, Deus, a Ressurreição dos mortos, a Transfiguração, o Apocalipse, e muitos outros dogmas e mistérios da fé cristã. Talvez em toda a História da Música não tenha havido outro compositor que tenha comunicado de forma tão enfática as suas convicções espirituais”.
Em Dezembro, no mês em que Olivier Messiaen nasceu há cem anos, no Auditório Vita, em Braga, presta-se uma homenagem ao singular compositor do séc. XX, que realizou em Portugal a estreia mundial de uma das suas obras, A Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Concertos
Integral das obras para Música de Câmara para instrumentos acústicos

Primeiro concerto
Dia 10, às 21.30 horas.
I Parte
Merle noir, para flauta e piano (1951) (c. 6’)
Fantasie, para violino e piano (1933) (c. 15’)
II Parte
Visions de l’Amén, para dois pianos (1943) (45’-50’)
I. Amen de la Création
II. Amen des étoiles, de la planète à l’anneau
III. Amen de l’Agonie de Jesús
IV. Amen du Désir
V. Amen des Anges, des Saints, du chant des oiseaux
VI. Amen du Jugement
VII Amen de la Consommation


Segundo concerto
Dia 13, às 21.30 horas.
I Parte
Theme et variations, para violino e piano (1932) (c. 10’)
Pièce pour piano et quatuor à cordes (c 4’)

II Parte
Quatuor pour la fin du temps, para violino, clarinete em si bemol, violoncelo e piano (45’-50’)

António Saiote, clarinete
Gerardo Ribeiro, violino
Marta Zabaleta, piano
Miguel Borges Coelho, piano
Nuno Inácio, flauta
Paulo Gaio Lima, violoncelo

Quarteto de Cordas de Matosinhos:
Vitor Vieira, I violino
Juan Maggiorani, II violino
Jorge Alves, viola
Marco Pereira, violoncelo



Colóquio
“Vivemos tempos sombrios”
Dia 11, às 21.30 horas.

Colóquio“Vivemos tempos sombrios”Dia 11, às 21.30 horas. “Vivemos tempos sombrios”, diz um verso de Bertolt Brecht. Foi em tempos sombrios que Olivier Messiaen viveu uma parte da sua vida, nos anos em que, prisioneiro num campo de concentração nazi, compôs o Quarteto para o Fim dos Tempos. Sobre esses “tempos sombrios” e sobre as mulheres e os homens que os testemunharam, realizar-se-á um colóquio com: João Pedro Oliveira, compositor e professor catedrático de Composição e Música Electrónica na Universidade de Aveiro; Teresa Martinho Toldy, teóloga; José Tolentino de Mendonça, director da colecção Teofanias, no âmbito da qual se publicaram obras de Simone Weil, Dietrich Bonhoeffer e Etty Hillesum, que testemunharam esses “tempos sombrios”; e João Duque, teólogo [moderador]



Filme
Le Charme des impossibilités [O Charme das impossibilidades]
Dia 12, às 21.30 horas.

O filme, que é exibido pela primeira vez em Portugal, conta a história da génese de uma obra musical, o Quarteto para o Fim dos Tempos, que foi composta e interpretada pela primeira vez, durante a Segunda Guerra Mundial, num campo de prisioneiros de guerra. Um compositor, três intérpretes com instrumentos em muito mau estado vão desafiar a detenção, a guerra, o frio, a fome, o tempo e tentar o impossível.
Nicolás Buenaventura Vidal é o realizador deste filme de 2006 em que participam o pianista François-René Duchâble, o clarinetista Paul Meyer, o violinista Régis Pasquier e o violoncelista Roland Pidoux.
[O filme tem 80 minutos e é exibido na versão original, com legendas em inglês]