Ao longo dos anos, fui construindo a ideia de que, na cultura católica dominante, existe um desequilíbrio doutrinal em favor do culto da "Virgem Mãe".
O celebrante da missa de hoje foi de uma eloquência notável, neste ponto. Enaltecendo a maternidade, como uma das maiores belezas e feitos da humanidade, e Maria por ter dado à luz o Salvador, discorreu sobre a actualidade desta tarefa (que para aqui não vem, agora , ao caso). O que inquieta, nesta visão das coisas, que muito clérigo partilha, é que o homem e o seu papel como que se eclipsa, ficando a Mulher-Mãe no centro e no altar da veneração (quando não da adoração).
Ora, se esta hipótese for consistente, não deixa de ser curiosa, porque parece conduzir a um modelo de maternidade e de família que está nos antípodas daquele que a Igreja defende: um modelo binário Mãe-Filho/a, em lugar de um modelo trinitário Mãe-Pai-Filho/a.
Se a hipótese for consistente, ela configuraria um feminismo encapotado, que não precisa da figura masculina, naquilo que, neste contexto, é relevante.
Tenho consciência de que o assunto é denso e vasto. Mas poderia, eventualmente, abrigar a chave para alguns problemas e controvérsias da actualidade eclesial. Não sou um expert na matéria, muito longe disso, mas deixo a reflexão. Pode ser que alguém contribua para fazer luz sobre o assunto.
(Crédito da imagem: Maia e o Menino, de Albert Dürer)
1 comentário:
muito interessante. há quem defenda que o enveredar pela vocação ao presbiterado tem a ver com um lado intenso feminino que só se aceita assumir assim...
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