quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A importância do Canadá na restauração da Ordem Dominicana em Portugal

Agenda



Túmulo da Princesa Santa Joana, 
no antigo convento das dominicanas em Aveiro, hoje museu

A importância dos frades dominicanos do Canadá na restauração da Ordem dos Pregadores em Portugal, na segunda metade do século XX, será um dos temas das Jornadas de História “Os Dominicanos em Portugal (1216-2016): História. Memória. Património”, que decorrem em Aveiro, sexta-feira e sábado.
Participam na iniciativa três investigadores estrangeiros. Um deles, frei Darren Dias, tem ascendência goesa, é professor de Teologia em Toronto e um dos grandes especialistas contemporâneos em questões do pluralismo e diversidade religiosa.
Criada por São Domingos de Gusmão e confirmada em 1216, a Ordem Dominicana cumpre oito séculos em 2016. As jornadas de Aveiro são a primeira etapa de um programa que pretende evocar os 800 anos daquela data. Entendendo a efeméride como uma oportunidade para a promoção da investigação e para a divulgação do trabalho científico, o Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), da Universidade Católica Portuguesa, e o Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) decidiram concretizar em conjunto um programa de atividades com o objetivo de promover a revisão historiográfica sobre a Ordem Dominicana e valorizar a herança cultural da sua presença em Portugal. Deste programa, que decorrerá até ao início de 2017, destacam-se um conjunto de três jornadas.
O programa da jornada, que inclui ainda um concerto de música e uma visita orientada à presença dominicana no Museu de Aveiro (onde decorre a iniciativa), pode ser consultado aquiA participação é gratuita, mas sujeita a inscrição, conforme instruções no referido sítio.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A conversão do desejo e os antibióticos do Papa

Crónicas

Na sua crónica de dia 17 de Janeiro, no Público, que ainda aqui não tinha sido referida, frei Bento Domingues concluía, com o terceiro texto, a resposta à pergunta Com quem começar o novo ano:

O seu programa de libertação dos oprimidos resulta do jubileu da pura graça de Deus. Rompe e fecha para sempre o dia da sua ira e vê o mundo a partir das periferias sociais e religiosas.
Qual o maior obstáculo dos discípulos em entenderem o Mestre? Desejavam o mundo que Jesus recusou nas tentações messiânicas. Vem tudo no Evangelho de S. Marcos. Cristo teve de convocar uma reunião de emergência para resolver o mal-estar no grupo que o seguia. Primeiro de forma surda e depois de modo explícito verificou que só lhes interessava o poder. Jesus apenas os queria preparar para servir e eles preparavam-se para mandar.
Sem a conversão do desejo não há reforma possível. O Papa Francisco que o diga.
(texto para ler aqui na íntegra)


Domingo passado, Bento Domingues escrevia sobre Os antibióticos do Papa:

Dizem-me que a Igreja Católica, em Portugal, está a cair de sono. Alguns acrescentam: pode dormir à vontade porque só quando Fátima entrar em crise é que será preciso algum cuidado. Ainda não chegamos aí.
Bocas são bocas e má-língua é má-língua. Para o confronto com a realidade, talvez fosse preferível promover algumas sondagens e iniciativas de jornalismo de investigação para responder às seguintes questões:
Como reagem, que dizem e fazem os católicos portugueses – sejam eles leigos, religiosos, padres e/ou bispos - perante as actitudes, as intervenções, os gestos e as declarações do Papa Francisco?
Qual a influência das suas orientações no modo de viver a fé cristã nas paróquias, nas dioceses, nos movimentos, nas congregações religiosas, nos colégios e na universidade católica?
Como é recebida na vida pessoal, familiar, profissional, na intervenção social e política o seu exemplo e as suas propostas?
Será verdade que, na Igreja em Portugal, se desenvolvem várias formas de resistência activa e passiva à linha pastoral de Bergoglio?
Ter-se-á passado da papolatria para a Bergoglio-alergia?
Disseram-me que era muito duvidoso que alguém se pudesse interessar por um projecto desses. De qualquer forma, aqui fica a sugestão.
(texto para continuar a ler aqui)

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Unidade dos cristãos: ideias novas, experiências concretas e um casal ecuménico

A propósito da Semana pela Unidade dos Cristãos, que hoje termina, o padre Pablo Lima, de Viana do Castelo, propõe algumas ideias concretas. Num artigo com o título Um novo modelo de unidade, escreve:

Com certeza, ainda há muito por fazer, mesmo no campo prático e acessível a todos. Neste ano jubilar da misericórdia, a um ano de distância dos quinto centenário da Reforma, um uso pastoral inteligente do tema das “indulgências” não pode esquecer que foi essa questão prática a provocar o cisma de Ocidente… Uma nova sensibilidade teológica deveria evitar que, num jornal católico, se chame “calvinista” a um teólogo da Reforma, porque o termo é paralelo ao título “papista” aplicado aos católicos, ou ainda, anunciar uma celebração ecuménica com o título de “encontro inter-religioso”. E seria também oportuno que, sendo a comunhão sob as duas espécies aquela que é referida nos textos evangélicos e a forma privilegiada pela reforma litúrgica, se pudesse tornar normal que, em cada eucaristia, ao menos alguns fiéis junto com o presbítero, pudessem comungar sob as duas espécies, até conseguirmos o mesmo para a totalidade da assembleia celebrante.
(artigo completo para ler aqui)


Num outro texto, o padre Paulo Terroso, de Braga, escreve sobre Bose: onde a utopia da unidade dos cristãos é um lugar
“Sem nunca os ter procurado – assim se pode ler no página da internet da comunidade – mas fruto de um grande dom do Espírito, desde o princípio fazem parte da comunidade cristãos de várias confissões». Este dom do Espírito levou a comunidade a “fazer um compromisso para a Unidade de todos os cristãos na fidelidade à palavra de Cristo: ‘Que todos sejam um’ (Jo 17,21)”.
(texto completo aqui)



Na semana em que se celebra o diálogo e a oração ecuménica de modo mais efectivo, a Ecclesia registou, na rádio, o testemunho de Dina Rego, católica, e Alberto Teixeira, ortodoxo, que casaram em Julho de 1994, segundo o ritual ortodoxo, numa pequena capela à beira-Sado, em Setúbal.
Na celebração, Dina e Alberto tiveram amigos católicos, ortodoxos e protestantes. Duas décadas depois, dizem que é possível viver em casal diferentes realidades eclesiais: “Ou se ama a pessoa inteira ou não há outra maneira”, diz ela. “Para a Dina, talvez tenha sido mais difícil”, passando dos 45 minutos da missa católica para as quatro horas que por vezes duram as liturgias ortodoxas, acrescenta ele.
A entrevista pode ser ouvida aqui.


Também a Rádio Vaticano foi ao encontro da experiência de três jovens – uma italiana, uma irlandesa e uma alemã – que estão na paróquia do Bonfim (Porto), a viver uma fraternidade provisória durante um mês, proposta pela comunidade ecuménica de Taizé (França). A reportagem pode ser ouvida aqui.



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Papa vai à Suécia celebrar Lutero - uma comemoração dos 500 anos da Reforma protestante

Papa vai à Suécia celebrar Lutero

O Vaticano anunciou hoje, último dia da Semana pela Unidade dos Cristãos, que o Papa estará presente, em Outubro, numa comemoração ecuménica conjunta do início da Reforma protestante.
A celebração decorrerá em Lund (Suécia), a 31 de Outubro, e com o Papa estarão o bispo Munib A. Younan e o reverendo Martin Junge, respectivamente presidente e secretário-geral da Federação Luterana Mundial.
A comemoração acontece um ano antes de se completarem cinco séculos sobre a data considerada o início da Reforma de Lutero – 31 de Outubro de 1517. Na celebração conjunta, será utilizado o guia de oração comum católico-luterano Common Prayer (Oração Comum).
Mais pormenores e declarações sobre a iniciativa podem ser lidos aqui, em castelhano (notícia em português aqui).

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Variações sobre o corpo e as mulheres nos Evangelhos - duas propostas em Lisboa

Variações sobre o corpo e as mulheres nos evangelhos

Agenda

Variações sobre o corpo – uma aproximação estética, erótica e ética é o título do curso livre que hoje, amanhã (terça) e quarta-feira decorre na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, orientado pelo padre jesuíta brasileiro Nilo Ribeiro Júnior.
Professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Pernambuco, Nilo Ribeiro Júnior desenvolve a sua investigação na área da Ética e Filosofia contemporânea, sobretudo em questões como a fenomenologia, alteridade, ética, responsabilidade e corporeidade.
Num texto sobre O Ser Humano como corpo e o Cristianismo, escreve: “o corpo é considerado lugar por excelência no qual o Deus dos cristãos experimenta a humanidade por dentro. Ele contrai com a humanidade uma cumplicidade corpórea tal a ponto de tornar a carne humana lugar da revelação da interioridade do próprio Deus. Na perspectiva cristã o simbolismo do corpo excede toda a significação anterior: em Jesus de Nazaré o Verbo se faz carne reconciliando o humano e o divino sem separação e sem confusão, sem contudo perder sua mundaneidade, isto é, sem qualquer traço de espiritualismo abstrato e desencarnado. Em termos antropológicos, significa dizer que o Verbo (palavra) assume a carne humana para que nossa humanidade se torne um ‘corpo de carne’, isto é, que o corpo não seja privado de transformar-se numa carnalidade humano-divina. Nesse sentido, referir o humano à carnalidade significa outrossim voltar-se a significação genuinamente humana do corpo que só a carne pode assegurar. A carne, portanto, assume a significação que transcende os aspectos meramente exteriores do corpo humano, sem contudo negar sua dimensão material.
(o texto pode ser lido aqui na íntegra; o curso implica uma inscrição paga e decorre das 18h às 20h, nos três dias; mais informações podem ser encontradas aqui)

Nas próximas duas terças-feiras (amanhã e dia 2 de Fevereiro), a Capela do Rato (Lisboa) organiza duas sessões sobre As mulheres nos Evangelhos e na Igreja, orientadas pela irmã Maria Julieta Mendes Dias, que tem feito investigação bíblica sobre o tema – é coautora, por exemplo, de A Verdadeira História de Maria Madalena (ed. Casa das Letras) e orientou já o Encontro de Reflexão Teológica do Metanoia – Movimento Católico de Profissionais, sobre A originalidade de Jesus acolhida pelas mulheres.
Nestas duas sessões da Capela do Rato, Julieta Dias propõe olhar para a atitude de Jesus para com as mulheres e perceber a reacção das mesmas à Boa Nova de Jesus, para tentar compreender a situação das mulheres na Igreja ao longo dos tempos. As sessões decorrem às 21h30, na Capela do Rato.

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Viagens, pesadelos, pobres e ricos - crónicas de Anselmo Borges, Vítor Gonçalves e Fernando Calado Rodrigues

sábado, 23 de janeiro de 2016

Viagens, pesadelos, pobres e ricos

Crónicas

No comentário aos textos da liturgia católica deste domingo, escreve Vítor Gonçalves, com o título Das origens ao “hoje”:

Contabilizar o número de pessoas que emigram, ou, dolorosamente, fogem da miséria e da guerra em busca de uma vida digna longe das suas origens não é tarefa fácil. Milhares? Milhões? Ao sabor das ondas noticiosas são lembradas de vez em quando. Não introduzo este tema por ter soluções mágicas, mas porque as origens, a “terra” em que nascemos e crescemos tem sempre alguma importância. É verdade que o P. António Vieira dizia que um português tinha “para nascer, Portugal; para morrer, o mundo inteiro”! Criamos raízes e fazemos casa em qualquer lugar onde possamos amar e ser amados. Mas esqueceremos algum dia (pelas melhores ou piores razões) a casa e a terra das nossas origens?
(Texto para continuar a ler aqui)


Hoje, no DN, Anselmo Borges escreve sobre O pesadelo do teólogo:

Afinal, ocupamos um lugar periférico no Universo. Pascal perguntava: "O que é um homem no infinito? Apavora-me o silêncio dos espaços infinitos." Mas, por outro lado, é no homem que este processo gigantesco toma consciência de si. Somos reflexivos e temos autoconsciência: desdobramo-nos e reconhecemo-nos. Sabemos do bem e do mal. E levamos connosco a pergunta inevitável e triturante do sentido, do sentido último: qual o sentido de tudo?, porque há algo e não nada?, o que vale a minha vida?, existimos porquê e para quê? Transportamos connosco a questão da morte e de Deus, a dupla face do Absoluto.


Ontem no CM, Fernando Calado Rodrigues refere a carta do Papa ao Fórum Económico Mundial, que hoje termina na Suíça. Sob o título Os pobres em Davos, escreve:

O Papa aproveitou ainda para apelar aos mais ricos e poderosos do mundo que não esqueçam os mais pobres. E mais uma vez ergueu a sua voz para denunciar a “cultura do descarte” e da indiferença perante a exclusão e o sofrimento de tantas pessoas, em todo o mundo. “Não devemos permitir jamais que a cultura do bem-estar nos anestesie” Desafiou os que têm nas mãos os destinos do mundo “a garantir que a vinda da ‘quarta revolução industrial’, os efeitos da robótica e das inovações científicas e tecnológicas não levem à destruição da pessoa humana – ao ser substituída por uma máquina sem alma – nem à transformação do nosso planeta num jardim vazio para deleite de poucos escolhidos”.

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Terceiros Sábado: missas, amizades e conspirações contra a guerra colonial e a ditadura - reconstituição inédita de uma rede católica de oposição ao Estado Novo


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Terceiros Sábados: Missas, amizades e conspirações contra a guerra colonial e a ditadura

Os católicos na luta contra a ditadura (15)

A 22 de Agosto de 2015, publiquei no Expresso/Revista E, um texto reconstituindo a rede dos Terceiros Sábados, que existiu em Portugal antes do 25 de Abril de 1974 e foi dinamizada por Nuno Teotónio Pereira e pela sua mulher, Natália Duarte Silva. No dia do funeral do arquitecto (esta sexta, às 13h30, da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que ele desenhou, com Nuno Portas, para o cemitério do Lumiar, em Lisboa), reproduzo aqui esse texto:

Eram dezenas de católicos que reuniam numa casa de freiras, em Lisboa, para celebrar a fé e se apoiar mutuamente na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Aqui se recordam contornos inéditos e nomes da rede dos Terceiros Sábados, uma história referida em muitas memórias mas nunca antes reconstituída de modo sistemático.

Foi já depois de 25 de Abril de 1974 e os dias eram de liberdade e entusiasmo. Mas aquele baptizado de cinco crianças foi em conjunto, porque aqueles cinco casais tinham cimentado laços, em conjunto, na luta pela liberdade, contra a ditadura e a guerra colonial, antes da revolução: nos terceiros sábados de cada mês, na casa das irmãs Franciscanas Missionárias de Maria (FMM), ao Campo Pequeno, em Lisboa, dezenas de pessoas encontravam-se para reflectir, trocar informação clandestina sobre a luta contra o regime e a guerra colonial, debaterem a fé e celebrar a eucaristia. Era a forma de se apoiarem mutuamente.
O baptizado, a 13 de Julho de 1974 – dois meses e meio depois da revolução – foi presidido pelo padre Joaquim Teles de Sampaio, que regressara no início de 1973 do Macúti (Moçambique), por denunciar massacres das tropas portuguesas na guerra colonial e já não se sentir em segurança. Isabel Pinto Correia e José Pereira Neto recordam que o seu filho, Pedro Neto, foi baptizado com, pelo menos, mais três crianças, enquanto a filha de Vitória e Joaquim Pinto de Andrade teve o rito de apresentação prévio ao baptismo.
A rede dos Terceiros Sábados reuniu durante perto de três anos, entre o final de 1970 ou início de 1971, até 1973. No Verão e Outono deste ano, uma vaga de prisões de pessoas ligadas ao BAC (Boletim Anti-Colonial) – Nuno Teotónio Pereira, Luís Moita, Maria da Conceição Moita, Luiza Sarsfield Cabral, entre outros – terá tornado arriscada a continuação da iniciativa.
Nos Terceiros Sábados, cruzavam-se percursos, objectivos e estratégias diferentes. Cada participante aparecia por convite ou por um empenhamento concreto. Mas o carácter de rede informal, em que o objectivo era a celebração da eucaristia, a reflexão sobre a fé e a partilha de informação, só permite reconstruir a experiência a partir de memórias, nem sempre coincidentes e necessariamente fragmentadas
É como um puzzle onde algumas peças já não encaixam bem umas nas outras, pelo desgaste do tempo ou pelas diferentes origens. E faz-se, na impossibilidade de reconstituir todo o grupo, através de memórias de pessoas, que, em alguns casos, dizem que tiveram uma participação residual, mas que aquele espaço as marcou para a vida.
É isso mesmo que diz Luiza Sarsfield Cabral, professora de português já na época, presa por causa do seu apoio ao grupo do BAC: os Terceiros Sábados foram uma experiência fundamental no fortalecimento do apoio mútuo entre católicos e da amizade entre pessoas.

A ideia: um suporte de fé para a luta contra o regime

Terá sido a insistência de Natália e uma conversa dela e do marido, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, com o padre Adriano Botelho, que levou à criação dos encontros. O padre Botelho estivera exilado na Argentina e era, então, capelão no Hospital da Parede. Adriano Botelho, que morreu em 1980, tinha sido pároco de Alcântara entre 1940 e 1960, criando várias iniciativas de apoio aos mais necessitados, numa zona de Lisboa onde predominavam operários e famílias pobres. As suas homilias e, em 1960, o facto de ter testemunhado em favor de dois envolvidos na “revolta da Sé”, forçaram-no ao exílio na Patagónia, durante cerca de três anos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O arquitecto que se despediu de Lisboa antes de cegar

Nuno Teotónio Pereira (1922-2016)

A 29 de Julho de 2012, a propósito da entrega do Prémio Árvore da Vida, do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Igreja Católica) ao arquitecto Nuno Teotónio Pereira, publiquei no Público um texto sobre o autor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus (o funeral de Teotónio Pereira, cujo corpo está a ser velado na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, sai amanhã, sexta-feira, às 13h30, para o cemitério do Lumiar): 



Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, 
da autoria de Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas 
(Foto reproduzida daqui)

Cinco dias depois de ter deixado de ver de um dos olhos, em Maio de 2009, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, hoje com 90 anos, acordou a sentir que a outra vista estava com sintomas semelhantes. Levantou-se, saiu de casa, no bairro de São Miguel, em Lisboa, e, como habitualmente, apanhou os transportes públicos atravessando a cidade para se dirigir ao ateliê, na Rua da Alegria. Ali, arrumou todas as suas coisas.
Antes de deixar o gabinete, o arquitecto telefonou para a mulher, explicando o que se passava e dizendo que tinha que voltar ao oftalmologista. Ela pediu-lhe que apanhasse um táxi e viesse depressa. Mas Teotónio Pereira fez de novo como todos os dias: apanhou os transportes públicos. Ao entrar em casa, disse: "Despedi-me de Lisboa." À hora de jantar, perdera completamente a visão.
É um apaixonado pela cidade. Viveu sempre na capital e é em Lisboa que estão alguns dos edifícios mais marcantes que projectou: o "Franjinhas", a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, os prédios de habitação das Águas Livres, o plano e edifícios do bairro do Restelo ou o prédio de habitação social dos Olivais Norte, que lhe deu o prémio Valmor 1968.
Foi também a partir de Lisboa que se empenhou em questões como a habitação social e as rendas controladas, na criação e dinamização do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR) e na actividade cívica e política de oposição à ditadura do Estado Novo.
(texto para continuar a ler aqui)

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Coisas que o Nuno talvez não saiba... - uma evocação de Nuno Teotónio Pereira, por Jorge Wemans