quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Manuela Silva: Reduzir os horários para acomodar jovens desempregados


Já saiu no domingo, no Público, mas não perdeu atualidade: trata-se de uma entrevista com a economista e professora Manuela Silva, coordenadora do grupo Economia e Sociedade da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Igreja Católica. Os seus pontos de vista e o seu pensamento  podem ser lidos AQUI.
Fica aqui a sua posição sobre o que poderia e deveria ser feito quanto ao desemprego juvenil:
"Não se justifica que nas nossas sociedades, que atingiram níveis de produtividade elevados, que asseguram lucros de capital elevados em grande parte dos sectores, se continuem a praticar horários como os que vigoraram na civilização industrial. Defendo uma redução drástica de horários de trabalho, para acomodar a situação dos jovens desempregados. Evidentemente isto supõe que se aceite na empresa uma repartição mais equitativa dos salários e que o total das remunerações seja atribuído aos trabalhadores numa proporção que relacione o salário mínimo com o salário do topo. Hoje temos remunerações de quadros superiores que são manifestamente desproporcionadas. Sem alterar os custos de pessoal da empresa seria possível, e a meu ver desejável, não só por ser mais equitativo, mas por ser um elemento dinamizador da própria economia, que se introduzissem regras de proporcionalidade nos salários. Depois haveria todo um conjunto de medidas que se podem tomar, como o trabalho a meio tempo, a dois terços do tempo... Acho fundamental dar lugar aos mais novos".

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O amor, a ternura e o cuidado, um texto de Leonardo Boff


“O segredo maior para cuidar do amor reside no singelo cuidado da ternura.  A ternura vive de gentileza, de pequenos gestos que revelam o carinho, de sacramentos tangíveis, como recolher uma concha na praia e levá-la à pessoa amada e dizer-lhe que, naquele momento, pensou carinhosamente nela”.
É o que sustenta no seu blog o teólogo Leonardo Boff, autor de  O Cuidado Necessário (Vozes 2012). Ele prossegue:
Tais “banalidades” tem um peso maior que a mais preciosa jóia. Assim como uma estrela não brilha sem uma atmosfera ao seu redor, da mesma forma, o amor não vive  sem um aura de enternecimento, de afeto e de cuidado.
Amor e cuidado formam um casal inseparável. Se houver um divórcio entre eles, ou um ou outro morre de solidão. O amor e o  cuidado constituem uma arte. Tudo o que cuidamos também amamos. E tudo o que amamos também cuidamos.
Tudo o que vive tem que ser alimentado e sustentado. O mesmo  vale para o amor e para o cuidado. O amor e  o cuidado se alimentam da afetuosa preocupação de um para com o outro. A dor e a alegria de um é a alegria e a dor do outro.
Para fortalecer a fragilidade natural do amor precisamos de Alguém maior, suave e amoroso, a quem sempre podemos invocar. Daí a importância dos que se amam, de reservarem algum tempo de abertura e de comunhão com esse Maior, cuja natureza é de amor, aquele amor, que segundo Dante Alignieri da Divina Comédia “move o céu e as outras estrelas”  e nós acrescentamos: que comove os nossos corações.

domingo, 27 de outubro de 2013

Os muito ricos e os muito pobres

A coluna "Os Dias da semana" que dominicalmente Eduardo Jorge Madureira tem do Diário do Minho intitula-se hoje "Os muito ricos e os muito pobres".

Uma das histórias que se contavam repetidamente a seguir ao 25 de Abril de 1974 era sempre apresentada como verídica. Pouco importava, no entanto. O que contava era a clareza com que servia para expor dois projectos políticos distintos, um, social-democrata; outro, muito mais à esquerda. Os protagonistas eram Olof Palme, na altura primeiro-ministro da Suécia e líder do Partido Social Democrata e Otelo Saraiva de Carvalho. O enredo praticamente não existe e a versão mais curta pode resumir-se a uma brevíssima troca de palavras.
O essencial é isto: Otelo vai à Suécia explicar o que pretendem os militares portugueses que derrubaram o fascismo. Quando encontra Olof Palme, depois das iniciais palavras de circunstância, diz-lhe que o objectivo da revolução portuguesa é acabar com os ricos. O primeiro-ministro sueco testemunha-lhe um programa diferente: “Nós, os sociais-democratas suecos, queremos acabar com os pobres. O que mais nos incomoda é a pobreza”.
Olhando, hoje, para grande parte dos dirigentes políticos europeus, é difícil não julgar que o que desejam com a sua acção é, sobretudo ou apenas, manter-se no poder, permanecendo nas graças dos muito ricos que, zelosamente, servem e de quem, de facto, dependem. O que promovem é o empobrecimento cada vez mais generalizado, designadamente das pessoas mais ou menos remediadas, o reverso, afinal, do projecto social-democrata, que tinha em Olof Palme um generoso inspirador.
Ao mesmo tempo que se empreendem políticas para empobrecer a maioria dos cidadãos, é fabricado e difundido um imaginário ideológico que apresenta os pobres como um grupo parasitário, absolutamente avesso ao que prescreve a doxa vitoriosa dos doutrinários do empreendedorismo. Estranha gente, que fabrica pobres e lhes destrói a reputação.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Da evangelização da África à África evangelizadora

Agenda

O Colóquio Internacional Da evangelização da África à África evangelizadora, que se iniciou esta manhã no Porto, tem amanhã um dos seus momentos altos, com a intervenção de Paul Freston. O investigador norte-americano é autor de várias obras, entre as quais Evangelicals and Politics in Asia, Africa and Latin America, sobre a presença dos grupos evangélicos no sul do mundo.




sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A casa onde agora mora D. António Marcelino

In Memoriam. D. António Marcelino (1930-2013)



É difícil distinguir, num momento destes, entre as memórias pessoais e as profissionais. Na última conversa que tivemos, aproveitámos para pôr a escrita em dia em ambos os âmbitos. Mas o tom principal foi o seu grande entusiasmo com o Papa Francisco: o Concílio Vaticano II está a ser retomado em vários aspectos em que tinha ficado parado ou bloqueado – tal era a sua convicção profunda.
O homem de quem falo, entusiasmado sempre, hiperactivo por feitio, desmesuradamente preocupado com tudo o que o rodeava, é D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro, depois de ter sido coadjutor (1983-1988) e titular (1988-2006) da diocese. D. António morreu esta quarta-feira no Hospital Infante Dom Pedro, naquela cidade, poucos dias depois de completar 83 anos. O seu funeral será esta sexta-feira na Sé de Aveiro, às 15h.
Há meses, impressionara-me uma alusão, na sua crónica semanal no Correio do Vouga, ao seu retiro na “cela de monge”. Foi apenas, confidenciou-me há um mês, quando falámos, a maneira que encontrou de chamar a atenção para a forma como, na Igreja como na sociedade, muitas vezes se atiram as pessoas para um canto, só porque deixam se servir para determinadas tarefas.
Não era o seu caso, mesmo se ele sentia que podia dar mais, muito mais, ainda. Assim houvesse quem o convidasse, que ele estava disponível para animar debates, fazer celebrações ou presidir até às liturgias dos dias de finados. Mas, por mais que o convidassem, nunca estava satisfeito, porque essa era a sua têmpera.
Tendo apanhado o Concílio enquanto jovem padre, António Marcelino contava, na sua última crónica no Correio do Vouga (que pode ser lida no sítio da diocese de Aveiro na net, de onde também se reproduz a foto), que emoções lhe sobrevieram com o acontecimento e os documentos conciliares: “Senti ao vivo a urgência de uma Igreja outra e do Povo de Deus como o grande obreiro do Reino; descobri o significado do Colégio Apostólico e da hierarquia como serviço; acordei mais para o dever de reconhecer e promover os leigos cristãos na sua dignidade e missão própria, na Igreja e no mundo; tomei consciência de que a santidade é vocação universal e dever de todos; vi com clareza a condição normal da Igreja peregrina,  evangelizadora e missionária por sua natureza e sempre em caminho de conversão:; agradeci a visão nova da liturgia, a descoberta da Palavra de Deus para os cristãos e as comunidades; vivi a novidade das novas relações da Igreja – Mundo; rejubilei com a abertura ecuménica e com a declaração sobre a Liberdade Religiosa; agradeci a Deus os Papas João XXIII pelo seu gesto corajoso, e Paulo VI pela sua lucidez e coragem…”
Não é de estranhar que, nas suas crónicas do Correio do Vouga o Concílio Vaticano II, a urgência de renovação na Igreja e a preocupação com os mais pobres e desprotegidos da sociedade fossem marcas de água constante. Vários textos sobre o Concílio foram, depois, reunidos no livro Vaticano II ao Alcance de Todos (ed. Paulinas).
A sua última crónica, lida por muitas pessoas como um testamento espiritual, é uma afirmação de como ele sempre sentira “a necessidade de ler melhor a realidade e a [sua própria] vida”. Insatisfeito permanente, exigente consigo e com os outros, não queria uma Igreja acomodada em adquiridos de teias de aranha. Por isso rasgou horizontes no âmbito social, desafiando permanentemente a novos campos de acção e à intervenção dos cristãos, como a Cáritas Portuguesa recordou em comunicado.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A violência da crise e a proliferação das armas

Agenda



O aumento dos crimes contra as pessoas é um dos factos que serve como pano de fundo à Conferência de Outono do Observatório sobre a Produção, Comércio e Proliferação das Armas Ligeiras, dedicada ao tema “A violência da crise e a proliferação das armas”. A iniciativa decorre este sábado, 12 de Outubro, entre as 9h30 e as 18h00, no Fórum Picoas, em Lisboa. A entrada é livre.
Entre Abril e Junho deste ano, o Observatório concluiu, através da análise de notícias dos media, que os crimes contra pessoas representaram 22 por cento do total de crimes praticados no país. No trimestre anterior, eles tinham sido apenas por 16 por cento.
No contexto que Portugal atravessa, o Observatório nota que as consequências da crise se fazem sentir com violência na vida de muitos cidadãos. “Diversas têm sido as reacções da sociedade e as manifestações de cidadãos inconformados com as medidas que vão sendo impostas e o crescendo de dificuldades que tendem a apagar do seu horizonte a esperança”, diz o Observatório, na apresentação da iniciativa. “Se é certo que os protestos têm sido em geral comedidos e as manifestações decorrido de forma ordeira, há que admitir que essa ordem poderá ser ultrapassada com o prolongamento da crise e das duras condições que pesam sobre as pessoas, até ao ponto de se assistir a violência na rua e a comportamentos de grande agressividade.”
 Estas são razões para que o assunto se debata, diz ainda a convocatória da iniciativa, com o objectivo de debelar essa violência. “É necessário perceber o que poderá desencadear respostas violentas que levem ao recurso às armas que proliferam na sociedade portuguesa, de que modo esta se foi armando, de forma legal e ilegal, e como esta potencialidade de violência se poderá reduzir a dimensões minimamente controláveis.”
No debate, cujo programa completo pode ser consultado aquiparticipam, entre outros, Isabel Guerra, Manuel Carvalho da Silva, os jornalistas Jorge Wemans e Helena Garrido, responsáveis da PJ e da PSP, bem como José Manuel Pureza, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que procurará apontar formas concretas para prosseguir a acção.

O debate de sábado pode ser acompanhado em directo via internet, através do endereço http://directo.telecom.pt. O Observatório das Armas espera publicar também, dentro de semanas, um conjunto de reflexões e propostas de acção.

Deus ainda tem futuro?

Agenda


O que aconteceria se a simples palavra “Deus” deixasse de existir? Esta pergunta de Karl Rahner serve de mote para mais uma edição dos colóquios Igreja em Diálogo, promovidos pela Sociedade Missionária da Boa Nova, no seu seminário de Valadares (Gaia).
De novo coordenado pelo padre e professor de Filosofia Anselmo Borges, o colóquio deste ano – um dos mais destacados debates de teologia em Portugal – decorre no próximo fim-de-semana (sábado e domingo) e tem por título “Deus ainda tem futuro?”.
O programa, que pode ser consultado na íntegra aquiconta com um leque de participantes deveras apelativo, entre os quais: Jean-Paul Willaime, um dos nomes de topo da sociologia religiosa contemporânea, que irá descrever a situação espiritual do mundo; o físico Carlos Fiolhais, que tratará da relação entre a ciência e o divino; o jesuíta Juan Masiá, que vive há décadas no Japão e irá destrinçar “o Deus do Oriente e o Deus do Ocidente”; o também jesuíta Paul Valadier, ex-director da revista Études, que tem investigado as relações entre fé, política e moral; Isabel Gómez-Acebo, um dos mais importantes nomes das teologias feministas; e Andrés Torres Queiruga, um dos teólogos contemporâneos mais importantes.
“A morte absoluta da palavra ‘Deus’ uma morte que eliminasse até o seu passado, seria o sinal, já não ouvido por ninguém, de que o Homem morreu”, escrevia ainda Rahner, citado por Anselmo Borges na apresentação do tema.
O coordenador do colóquio acrescenta: “Václav Havel, o grande dramaturgo e político, pouco tempo antes de morrer surpreendeu muita gente ao declarar que ‘estamos a viver a primeira civilização global’ e ‘também vivemos na primeira civilização ateia, numa civilização que perdeu a ligação com o infinito e a eternidade’, temendo, também por isso, que ‘caminhe para a catástrofe’”. Daí que, “no contexto de uma crise global do mundo – crise financeira, económica, social, política, moral – é preciso perguntar se a crise de Deus não ocupa lugar central”.

Para debater sábado e domingo, em Valadares.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pode amar-se um computador?


(vídeo - Luís A. Santos)

O director da revista jesuíta La Civiltà Cattolica, padre Antonio Spadaro, começa por contar uma história de um aluno nigeriano: ele ama o seu computador “porque lá dentro estão todos os [seus] amigos”.
Foi sexta-feira passada, em Fátima, nas Jornadas das Comunicações Sociais da Igreja Católica, dedicadas ao tema da evangelização em ambiente digital. Spadaro, responsável directo pela recente entrevista do Papa Francisco às revistas jesuítas – entre as quais a portuguesa Brotéria – sublinhou por diversas vezes a ideia de que a internet e as redes sociais são um ambiente e não um instrumento. O que muda tudo, na forma como se olha e se actua. Há distinções a abolir: o online e o offline, o real e o virtual... O ambiente digital é um ambiente ordinário de experiência de vida, não um ambiente de casulo ou paralelo, dizia, recordando a mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano.
“Evangelizar em rede não é criar um perfil facebook e colocar um anjinho”, ironizou Spadaro, recordando as palavras do Papa Francisco, nessa mesma manhã, em Assis, apelando a que ninguém seja “cristão de pastelaria”.
Spadaro, de quem as Paulinas acabaram de editar Ciberteologia - Pensar o Cristianismo na Era da Internetdefende que, se a internet altera o nosso modo de ver a realidade, então ela terá também influência sobre o modo de pensar a fé – já que a teologia é precisamente um modo de pensar a fé. Por isso, a tecnologia não é apenas um conjunto de instrumentos, mas uma parte do viver, acrescentou.
O também autor do blogue CyberTeologia recordou ainda um discurso de Paulo VI aos jesuítas, em 1964 quando o Papa Montini disse que “o cérebro mecânico vem em ajuda do cérebro espiritual”.  Por isso, acrescentou, “o campo para compreender a fundo a tecnologia é a teologia espiritual” e “ a experiência religiosa exprime-se também no ambiente digital”.
A proposta de Spadaro como que torna ultrapassada a ideia do decreto Inter Mirifica, do Concílio Vaticano II sobre a comunicação social, que considerava estes meios como instrumentos. Mesmo o nosso modo de fazer a pesquisa mudou, disse: “Na Idade Média, o homem orientava-se para o norte, que era Deus; na II Guerra Mundial, passou a ser um radar, à procura de um sinal [Karl Rahner falava do homem que procura Deus, que procura um sentido]; hoje, o homem não está à procura, mas está à espera de um sinal que o ligue ao mundo; o homem actual tem é de permanecer ligado; é um descodificador; já não é a busca que caracteriza o homem.”

sábado, 5 de outubro de 2013

Reforma da Cúria Romana em marcha

Os oito cardeais do conselho de consultores tiveram a sua primeira reunião, em Roma, entre 1 e 3 de Outubro, com o Papa Francisco. Em debate, esteve a reforma da Cúria. O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, afirmou que haverá novas regras de funcionamento da estrutura central da Igreja Católica, o que implica uma nova Constituição e não apenas a mudança de alguns pormenores da Pastor bonus. A reportagem da SIC, aqui, com alguns comentários recolhidos durante as jornadas de comunicação social, que decorreram quinta e sexta-feira, em Fátima.
Na sequência deste primeiro encontro do “G-8” – os oito cardeais nomeados pelo Papa para discernir sobre a reforma –, Francisco foi a Assis no dia de S. Francisco e, entre outras coisas, voltou a condenar a morte o alheamento europeu perante a morte de imigrantes, que na quinta tivera mais um episódio trágico ao largo de Lampedusa.

Com a visita do Papa a Assis como pano de fundo, o frade franciscano capuchinho Fernando Ventura comenta o ambiente de reforma e faz, na SIC Notícias, um balanço destes primeiros meses do novo pontificado. A entrevista pode ser vista aqui