quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Padre português salvou judeus em 1943/44, durante ocupação nazi de Roma

Padre português salvou antifascistas e judeus refugiados no Pontifício Colégio Português em Roma, entre 1943 e 1944, durante a ocupação nazi da capital italiana.
A lista dos refugiados do padre Joaquim Carreira esteve guardada durante todos estes anos no arquivo do Colégio e é agora revelada pelo jornalista António Marujo.
As dúvidas sobre o papel do Papa Pio XII e do Vaticano durante a II Guerra Mundial só serão esclarecidas quando o Arquivo Secreto do Vaticano permitir a consulta da documentação posterior a 1939. Mas alguns documentos pontifícios, já conhecidos, e várias investigações realizadas nos últimos anos, permitem concluir que a Santa Sé tinha, pelo menos, uma dupla diplomacia nos anos do Holocausto. A oficial, marcada pela cautela estratégica e pragmática, e a informal, que permitiu salvar milhares de judeus e opositores aos regimes fascista e nazi. 

Pode ver aqui reportagem da SIC, com entrevista ao jornalista António Marujo sobre "a lista" de refugiados salvos pelo padre português.

E pode rever aqui a Grande Reportagem SIC, emitida em Setembro. Pela primeira vez uma equipa de reportagem portuguesa teve acesso ao depósito do Arquivo Secreto Vaticano e mostrou alguns dos mais importantes documentos na história.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Músicas que falam com Deus (17) - para o tempo de Natal#4 - Lopes-Graça, o Natal e as metamorfoses


São canções originárias do Minho, das Beiras, Alentejo, Trás-os-Montes, Ribatejo, Douro e Madeira. São canções de Natal e das Janeiras. Ou criadas por Fernando Lopes-Graça para crianças a partir de textos do património cultural e religioso natalício. Este duplo disco, segundo volume da obra coral a capella do compositor, recupera as criações de Lopes-Graça para este tempo de Natal, fruto do seu trabalho a partir do património e das tradições musicais populares.

Ateu e comunista confesso, Lopes-Graça respeitava profundamente a cultura religiosa portuguesa e compôs mesmo vários Salmos e um Requiem, como recorda Sérgio Azevedo no texto de apresentação do disco. Quer no caso das duas Cantatas de Natal, dos Três Cantos dos Reis (aqui gravados pela primeira vez) e do Presente de Natal para as Crianças, evidencia-se todo o trabalho de filigrana de Lopes-Graça na recolha e preservação desse património único que a cultura portuguesa foi forjando, bem como na sua recriação.

Entre as composições que estes dois discos apresentam, incluem-se “Do varão nasceu a vara”, “Pela noite de Natal”, “Deus lhe dê cá boas noites”, “Estas casas são mui altas”, “O Menino da bandeirinha vermelha” ou ainda o “Acordai, Senhora”, que se aproxima da “Heróica” que adopta um texto de José Gomes Ferreira, “Acordai!”

Sérgio Azevedo resume: “De forma magistral, o idioma de Fernando Lopes-Graça funde o melhor do nosso património musical erudito e popular numa linguagem única, intrinsecamente ibérica, intemporal, rude e sofisticada ao mesmo tempo, uma linguagem que, desde os primeiros compassos, e seja qual for o material usado como base para a sua composição, é inequivocamente a sua.”

#4
Acerca deste disco, Manuel Vilas Boas entrevistou neste dia de Natal, na TSF, o director do Lisboa Cantat, Jorge Carvalho Alves, possibilitando também a escuta de algumas das músicas.

No Público, Alfredo Teixeira fala das metamorfoses do Natal e das suas tradições, citando, entre outros sinais, as cantatas de Lopes-Graça.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A vaca e o burro - era então verdade?


Na sua crónica “Os Dias da semana” no "Diário do Minho" deste domingo, Eduardo Jorge Madureira escreve ainda sobre a vaca e o burro do presépio, a partir de um texto de Aquilino Ribeiro.

“Muito se tem ventilado também se no estábulo assistiam a burra e a vaca”. A constatação não surgiu por causa do que, desde o mês passado, tem sido dito na sequência da publicação de A infância de Jesus, o mais recente livro Joseph Ratzinger. A afirmação, de facto, não evidencia a perplexidade de um leitor da imprensa portuguesa recente, em resultado de ter encontrado numa primeira página do Correio da Manhã a notícia de uma sentença inapelável: “Papa afasta burro e vaca do presépio” e no topo de uma página interior do Diário de Notícias a informação de uma decisão de sentido inverso: “Vaca e burro continuam no presépio”. Também não resulta da audição de um spot sobre “um presépio sem vaca nem burro”, a anunciar uma entrevista emitida pela TSF ontem e hoje de madrugada.
Quem disse que “muito se tem ventilado também se no estábulo assistiam a burra e a vaca, como ideou S. Francisco no primeiro presépio, e, após ele, quantos poetas souberam pegar em pincéis, e quantos rapsodos vazaram a rude palavra do romance nas ledas estancias dos autos e dos mistérios” foi Aquilino Ribeiro, um dos mais relevantes escritores portugueses do século XX. 
Num artigo intitulado “Controvérsias à margem da Natividade”, publicado há cinquenta anos, no Diário de Lisboa de 24 de Dezembro de 1962, o autor de, entre muitas outra obras, S. Banaboião, anacoreta e mártir, A casa grande de Romarigães, Quando os lobos uivam e O romance da raposa, notando que “no Natal tudo é mistério, embora florido com roseirais de esperança”, fazia uma espécie de ponto da situação sobre certos desencontros a propósito de alguns pormenores históricos. Referia as opiniões em confronto e dizia com quais se encontrava mais em conformidade. Entre as “controvérsias”, citava, por exemplo, a de Maria ir ou não a cavalo num burrinho e a de no presépio haver ou não “a burra e a vaca”.
Se veio de burra, não admira que o animal apareça “a bafejar o inocentinho intanguido nas palhas nuas”, escreve Aquilino Ribeiro, perguntando: “Mas donde saiu a vaca?”. A resposta vai o autor de O Malhadinhas buscá-la ao que diz a religiosa Maria de Jesus de Agreda, considerada uma das mais importantes figuras espirituais da Espanha do século XVII. “A admirável vidente de Agreda resolve o problema sem dificuldade de maior: Vino luego por voluntad divina de aquellos campos un buey, y entrando en la cueba, se junto al jumentillo, que la misma reyna avia llevado. Tal asserto tem o entusiástico aplauso das almas crentes”. Na verdade, questiona Aquilino: “Que custava ao poder de Deus, tocar para ali um bezerro dos campos limítrofes ou das lezírias do Nilo?”.
O escritor enumera, a seguir, quem concorda com esta opinião e quem dela discorda. “O doutíssimo Ayala defende este ponto de vista com irada e altiva facúndia. E quase se não compreende que espíritos pautados de teólogos como Calmet, Tillemont, Serry, expulsem do presépio a boa bicharada e remetam com desdém antropocêntrico ás fábulas de Esopo”. Por fim, alinha o que pensa: “Sendo assim, ficaria inane e vã a profecia de que nessa noite prodigiosa o boi conheceria o seu dono, o asno a cara do azemel, só o homem se envergonharia de servir e conhecer àquele servem e conhecem os brutos”.
Com, pois, o burro ou burra e a vaca presentes, “enfaixou a mãe ao seu Menino nos panos de baetilha com que viera preparada e chegou-o ao peito. Foi mamando, agora já de beicinhos roxos pelo frio, que os pastores o vieram encontrar com as oferendas”. Afirma Aquilino que “traziam queijinhos de seus bardos. Braçadas de flores, fruta e aves de capoeira. É com a natureza da dádiva que argumenta este ácido e peguilhento Escalígero quando pretende sustentar que o Natal foi imprópriamente fixado na quadra de Inverno. Os pastores entraram de surrão, com as suas mocas debaixo do braço, seus chapeirões contra o sol, a gaita a espreitar da algibeira. E, dobrando o joelho, o adoraram”.
Repartido entre a primeira página e a segunda, o texto, que acabaria por ser um dos derradeiros escritos de Aquilino Ribeiro, que morreria poucos meses depois, em consequência de uma doença repentina, cita a voz de um vulto que, na noite, incentiva: “Ide á corte dos gados, á entrada de Belém no caminho da cisterna de David, que nasceu lá o Messias!”. O anúncio inspira ao escritor quatro perguntas: “Era então verdade? Os coxos e os trôpegos iam saltar como cervos? Ia raiar o sol da justiça para todos? Nunca mais o forte espancaria o fraco, nem o rico poderia jantar duas vezes enquanto ao pobre só restava o direito de morrer a louvar o Senhor?”.
“Era então verdade?” A resposta é também dada, continuamente, no coração de cada um. Afirmativa, impõe que nunca o forte abuse do fraco; reclama “justiça para todos”.

(Nota: As citações respeitam a grafia do texto de Aquilino Ribeiro)

Estatísticas da fé e duas perguntas sobre Jesus e o Natal


Crónicas

Nas crónicas de fim-de-semana, Calado Rodrigues trata das estatísticas sobre a religião enquanto Bento Domingues pergunta se JesusCristo é uma causa perdida (a crónica de Anselmo Borges no DN de sábado já antes tinha sido referida neste blogue)
No seu comentário semanal, “À procura da Palavra”,  aos textos da liturgia católica de domingo passado (o IV domingo do Advento), o padre Vítor Gonçalves fala do que pode ser o melhor presente:

O melhor presente

Logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio” (Lc 1, 44)
     
O tempo não está para prendas. Só se forem promoções, ou coisas indispensáveis!” Quem não ouve e não sente este desabafo que sobe dos magotes de gente que vão aos centros comerciais, simplesmente “ ver as montras”, para desespero dos logistas. Mas nem a crise abala os desejos de inúmeros miúdos, como os daquelas turmas de um amigo meu, que pedem de prenda para este Natal um “tablet”! O professor ainda brinca e diz: “querem tabletes de chocolate?” Mas não se brinca com o que é sério: “Não! Tablets verdadeiros e com ligação à internet.” E entristece-se o meu amigo pois sabe que muitos os vão ter, como já têm telemóveis de última geração, principalmente aqueles que beneficiam de apoio social. Os mesmos que os pais dizem que não conseguem fazer nada deles! 
É antiga a conversa de que é mais fácil substituir o tempo, o amor, o “não” em hora certa, por coisas que se dão aos filhos. Mas é cada vez mais premente reflectir porque se dão coisas que não são verdadeiramente necessárias Para compensar a pouca paciência com eles? Para que não cresçam frustrados por não terem o que lhes apetece? O investimento no ter acaba por ser o caminho mais fácil e imediato. Mas são presentes envenenados. Porque uma criança, ou um adulto, mais do que “gadgets” electrónicos, e de ligações à internet, precisa de tempo, de carinho, de amizade. Precisa do presente da presença de quem diz que o ama. (Pois também se chega a ouvir um pai ou uma mãe dizer que não gosta do seu filho!) Mais do que a sociologia dos números de nascimentos no nosso país, importa saber como estamos a educar os nossos filhos. Saber que presente lhes estamos a proporcionar, e em primeiro lugar, como lhes damos o presente de nós mesmos?! 
A mãe de Jesus não ficou muito preocupada em arranjar o enxoval do Filho de Deus que crescia dentro de si. Lá percebeu que era mais urgente ir ter com Isabel. O fruto mais belo da fé é sempre a caridade. O que é dom de Deus multiplica-se em quem recebe e dele, transborda para outros. Maria leva o melhor presente: o Deus Menino a crescer nela. Leva-se a si mesma, e a alegria do encontro das duas mães tem sido pintada e esculpida por inúmeros artistas. O melhor presente nunca são “coisas”, por mais caras e valiosas que sejam. Cada um de nós é o melhor presente. E quando sabemos que em nós e nos outros também está o próprio Deus, a alegria pode ser plena.
A dois passos do Natal será possível rever o valor dos nossos presentes? Sem precisar de embrulho nem de fitas, podemos pensar em quem amamos e inventar modos de sermos o seu melhor presente? Com ou sem palavras, podíamos dizer: “Aqui estou! Para ti, com o meu tempo, o meu carinho, a minha alegria de estares comigo, de tanto querer que sejas feliz, de vivermos juntos alegrias e dores, de seres tão importante para mim! Sou o teu melhor presente! E este é o melhor Natal ”. Cá para mim, imagino Jesus a dizer-nos algo parecido! 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Na madrugada do Solstício


Os dias hão-de assumir o calor e a clarividência. O sol vai mostrar-se em plenitude, mas é na escassez da noite que a Luz se revela, quando a alma se despe de preconceitos para ser neblina na manhã do solstício.
Chamem-lhe ritmo, ciclo, mudança, renovação. O poeta há-de encontrar no deslumbramento das palavras essa Luz que se faz loucura e Procura. Uma e outra, desejo e fraqueza, fraqueza e desejo.
Como quem olha para ver, o poeta há-de implorar e desabar, desabar e implorar. "Ensina-me a ver, só aprendi a olhar."
"Ensina-me a ver", talvez a margem, o espelho, o ritmo do vento, o ciclo do tempo, a esquadria, a melancolia. Talvez o sino, a torre, o nascer do dia. Talvez a noite, a mudança no céu, a constelação, o silêncio aqui à mão.
"Ensina-me a ver", talvez a cal, a cigarra, o chão da lua, o cão que ladra, o deus que dorme, o fim da rua. Talvez o recorte, a planície, a penumbra do monte. Talvez o cante, talvez a fonte.
"Ensina-me a ver", talvez a pedra, o cheiro, talvez tudo, um vazio que é tudo, a renovação do abismo.
O abismo é tudo na métrica do poeta. Na Procura insondável de um Encontro, volta ao eterno retorno de um Sol forte. E o Sol é cegueira e fogo, fogo e dúvida, dúvida e Vida, Vida e morte. E o poeta há-de suplicar. "Ensina-me a ver, só aprendi a olhar".

A vaca e o burro e o Jesus "simbólico" do Papa


Livro - Teologia

Comecemos pela vaca e pelo burro: não, o Papa não disse que eles têm que desaparecer do presépio. O que se passou quando “Jesus de Nazaré – A Infância de Jesus” foi publicado, a 20 de Novembro, traduz um grave problema mediático: agências noticiosas e jornais internacionais passaram a informação, depois repetida e em alguns casos acrescentada, de que o Papa afirmava que o burro e a vaca não fazem parte do presépio; alguns chegavam ao ponto de escrever que o Papa afirmava que aquelas figuras são invenção.
E no Telejornal da RTP, desta noite, passou mais uma peça da qual se depreende que a jornalista nem sequer teve o trabalho de ler os 3-parágrafos-3 em que o Papa fala do assunto. E só uma leitura apressada ou sensacionalista terá retido as pessoas apenas na primeira frase desses três parágrafos (25 linhas!) onde o tema é tratado: “Aqui, no evangelho, não se fala de animais”, escreve Bento XVI. Para acrescentar logo a seguir: “mas a meditação guiada pela fé (...) não tardou a preencher esta lacuna.” (pág. 61-62) E para terminar peremptoriamente: “Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento.”
O Papa atém-se, para chegar a esta conclusão, ao significado simbólico e bíblico da representação destas duas figuras na cena do nascimento de Jesus. Tal como sucede quando fala dos magos, que deu origem a outra “descoberta” mirabolante de jornais espanhóis: Bento XVI “afirmava” que os magos foram da Andaluzia, por causa desta frase: “Se a promessa contida nestes textos estende a proveniência destes homens até ao Extremo Ocidente (Társis = Tartessos, na Espanha), a tradição encarregou-se de desenvolver ainda mais a universalidade dos reinos destes soberanos, interpretando-os como reis dos três continentes então conhecidos: África, Ásia, Europa.”
Um disparate mediático, portanto, a juntar a tantos outros que, no domínio da informação religiosa, tantas vezes se verificam (sendo certo que, neste caso, muito do que se publicou tinha por fonte primeira um erro das agências e imprensa internacional e, por isso, a culpa principal não foi dos media nacionais; mas nada disso retira responsabilidade a que se confirme a informação).
Arrumadas no seu sítio as duas simpáticas figuras do presépio e aquilo que o Papa (não) diz, podemos então olhar para este novo livro de Joseph Ratzinger/Bento XVI, que completa a trilogia “Jesus de Nazaré”. E perguntamos: fosse este livro da autoria de outra pessoa que não o Papa e teria ele o sucesso mediático que teve, tal como já aconteceu com os dois anteriores volumes? Seguramente que não. Até porque nem o teólogo Joseph Ratzinger era um nome popular antes de ser Papa, nem os seus livros são fáceis de entender pela maioria dos crentes.
Este terceiro tomo (na realidade, o prólogo à obra) de “Jesus de Nazaré” volta a ser uma obra que acentua a dimensão simbólica da leitura do texto bíblico. Ratzinger faz tábua rasa de toda a exegese histórica dos evangelhos; para ele, tudo o que contam Lucas e Mateus sobre a infância de Jesus é verdade, mesmo se as duas narrativas são diferentes e não coincidentes em muita coisa. O Papa chega a escrever que ambos os autores dos evangelhos queriam escrever “história real”. Belém, os magos, a estrela, as aparições do anjo, os sonhos de José, a matança dos inocentes, as duas genealogias de Jesus – tudo isso “confirma” as profecias do Antigo Testamento e é narrativa histórica, na leitura de Ratzinger.
Na sua preocupação de “justificar” os textos dos evangelhos, o Papa chega a dizer, referindo-se a Augusto, que “sem o saber, o imperador contribui para o cumprimento da promessa” do nascimento de Jesus (p. 58). Se a afirmação se entende enquanto simbólica, ela pode parecer que está a falar-se de um Deus que dispõe das pessoas como se se tratassem de marionetas. E, noutro passo, diz que uma profecia do ano 733 a.C., segundo a qual uma virgem daria à luz um Emanuel se cumpriu “no momento da concepção de Jesus Cristo” (p. 47).
Ora, para lá de saber que pormenores dos evangelhos têm ou não fundamento histórico (questão importante, embora não decisiva para a compreensão do texto bíblico), há uma outra questão de fundo: toda a Bíblia é uma releitura permanente da relação de Deus com o seu povo. O Novo Testamento cristão é, também ele, uma releitura do Antigo Testamento judaico a partir da centralidade que Jesus passa a ter para os cristãos. Não por acaso, o livro começa por dizer que os evangelhos foram escritos para responder a essas “duas perguntas inseparavelmente unidas” sobre “quem é Jesus e donde vem”.
O valor principal do livro é, assim, a sua leitura simbólica – e ele inclui passagens notavelmente bem escritas, timbre deste Papa, como são por exemplo as passagens que se referem a José como o “justo” (p. 38/39), as referências à alegria como “dom próprio do Espírito Santo” (p. 29) ou a ideia segundo a qual “ao criar a liberdade, de certo modo Deus tornou-se dependente do homem; o seu poder está ligado ao ‘sim’ não forçado duma pessoa humana” (p. 36).
Mas este prólogo de “Jesus de Nazaré” decepciona ao não propor um retrato de Jesus e dos evangelhos da infância que seja significativo para os tempos de hoje e que se limita, por vezes, a repetir o que se diz desde há séculos.
O livro de Ratzinger foi objecto da entrevista que o padre e biblista Joaquim Carreira das Neves deu neste sábado à TSF. Nela, o exegeta defende que a obra faz uma “história teológica”, que pretende “preencher o vazio da infância de Jesus”. E recorda que os relatos da infância nasceram porque os cristãos dos finais do primeiro século (quando foram escritos os textos de Mateus e Lucas) se perguntavam sobre as origens de Jesus – sendo, por isso, respostas teológicas a essa pergunta.