sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Paixão de um homem torturado (uma Via-sacra de Botero em Lisboa)


Exposição

Esta é uma Paixão fora de época. Mas é de todos os tempos. E é uma Paixão por vezes dramática, por vezes interrogativa, mas sobretudo uma Paixão serena, que remete para as cenas do quotidiano e a vida dos homens e mulheres – nesse sentido, remete para a ideia da encarnação que o natal também celebra. Fernando Botero (n. 1932), o mais conhecido artista colombiano contemporâneo, traz a Lisboa esta exposição da Via Crucis – A Paixão de Cristo, com personagens de formas redondas e sensuais como é característica da sua obra.
A Paixão é talvez o tema mais importante da história da pintura do século XIII ao século XVI. Por isso, explicou o próprio Botero na apresentação da mostra, o artista decidiu aproximar-se dele, mesmo se não se entende como crente. “É um tema de grande profundidade, da grande tradição da pintura”, justifica Botero. Para o artista, esta é uma história de um homem torturado, uma história de enorme “nobreza”. “Inconscientemente, a tortura preocupa-me”, admite o artista.
No conjunto das 27 telas e 24 obras sobre papel (que apenas foi exposto antes em Nova Iorque e Medellín), destacam-se as cenas do beijos de Judas, da crucificação (três episódios diferentes, na realidade) e do enterro de Cristo. E ainda o quadro que representa Jesus e a multidão, uma grande interrogação de olhares e rostos onde cada pessoa pode descobrir o seu olhar e o seu rosto. Numa das cenas da crucificação, Cristo é colocado diante de um cenário que remete para Nova Iorque e o Central Park, onde apenas uma mãe e o seu filho parecem parar para ver a cena. Uma metáfora das vidas que continuam, sem se deterem perante todos os torturados deste e de outros tempos.
Via Crucis – A Paixão de Cristo;
Palácio Nacional da Ajuda, Galeria do rei D. Luís I; Domingo a sexta-feira, 10h-18h; sábado 10h-20h; encerra à quarta-feira; até 27 de Janeiro
(Nas imagens: O beijo de Judas; e Jesus e a multidão)

(texto publicado no Mensageiro de Santo António, Dezembro 2012)

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