Crónicas
Nas crónicas de fim-de-semana, Calado
Rodrigues trata das estatísticas sobre a religião enquanto Bento Domingues pergunta se JesusCristo é uma causa perdida (a
crónica de Anselmo Borges no DN de sábado já antes tinha sido referida neste
blogue)
No seu comentário semanal, “À procura da Palavra”, aos textos da liturgia católica de domingo
passado (o IV domingo do Advento), o padre Vítor Gonçalves fala do que pode ser
o melhor presente:
O melhor presente
“Logo que chegou aos meus ouvidos a voz da
tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio” (Lc 1, 44)
“O tempo não está para prendas. Só se forem
promoções, ou coisas indispensáveis!” Quem não ouve e não sente este
desabafo que sobe dos magotes de gente que vão aos centros comerciais,
simplesmente “ ver as montras”, para desespero dos logistas. Mas nem a crise
abala os desejos de inúmeros miúdos, como os daquelas turmas de um amigo meu,
que pedem de prenda para este Natal um “tablet”! O professor ainda brinca e
diz: “querem tabletes de chocolate?”
Mas não se brinca com o que é sério: “Não!
Tablets verdadeiros e com ligação à internet.” E entristece-se o meu amigo
pois sabe que muitos os vão ter, como já têm telemóveis de última geração,
principalmente aqueles que beneficiam de apoio social. Os mesmos que os pais
dizem que não conseguem fazer nada deles!
É
antiga a conversa de que é mais fácil substituir o tempo, o amor, o “não” em
hora certa, por coisas que se dão aos filhos. Mas é cada vez mais premente
reflectir porque se dão coisas que não são verdadeiramente necessárias Para
compensar a pouca paciência com eles? Para que não cresçam frustrados por não
terem o que lhes apetece? O investimento no ter acaba por ser o caminho mais
fácil e imediato. Mas são presentes envenenados. Porque uma criança, ou um
adulto, mais do que “gadgets” electrónicos, e de ligações à internet, precisa
de tempo, de carinho, de amizade. Precisa do presente da presença de quem diz
que o ama. (Pois também se chega a ouvir um pai ou uma mãe dizer que não gosta
do seu filho!) Mais do que a sociologia dos números de nascimentos no nosso
país, importa saber como estamos a educar os nossos filhos. Saber que presente
lhes estamos a proporcionar, e em primeiro lugar, como lhes damos o presente de
nós mesmos?!
A
mãe de Jesus não ficou muito preocupada em arranjar o enxoval do Filho de Deus
que crescia dentro de si. Lá percebeu que era mais urgente ir ter com Isabel. O
fruto mais belo da fé é sempre a caridade. O que é dom de Deus multiplica-se em
quem recebe e dele, transborda para outros. Maria leva o melhor presente: o
Deus Menino a crescer nela. Leva-se a si mesma, e a alegria do encontro das
duas mães tem sido pintada e esculpida por inúmeros artistas. O melhor presente
nunca são “coisas”, por mais caras e valiosas que sejam. Cada um de nós é o
melhor presente. E quando sabemos que em nós e nos outros também está o próprio
Deus, a alegria pode ser plena.
A
dois passos do Natal será possível rever o valor dos nossos presentes? Sem
precisar de embrulho nem de fitas, podemos pensar em quem amamos e inventar
modos de sermos o seu melhor presente? Com ou sem palavras, podíamos dizer: “Aqui estou! Para ti, com o meu tempo, o meu
carinho, a minha alegria de estares comigo, de tanto querer que sejas feliz, de
vivermos juntos alegrias e dores, de seres tão importante para mim! Sou o teu
melhor presente! E este é o melhor Natal ”. Cá para mim, imagino Jesus a
dizer-nos algo parecido!
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