Os dias hão-de assumir o calor e a clarividência.
O sol vai mostrar-se em plenitude, mas é na escassez da noite que a Luz se
revela, quando a alma se despe de preconceitos para ser neblina na manhã do
solstício.
Chamem-lhe ritmo, ciclo, mudança, renovação. O
poeta há-de encontrar no deslumbramento das palavras essa Luz que se faz
loucura e Procura. Uma e outra, desejo e fraqueza, fraqueza e desejo.
Como quem olha para ver, o poeta há-de implorar e
desabar, desabar e implorar. "Ensina-me a ver, só aprendi a olhar."
"Ensina-me a ver", talvez a margem, o
espelho, o ritmo do vento, o ciclo do tempo, a esquadria, a melancolia. Talvez
o sino, a torre, o nascer do dia. Talvez a noite, a mudança no céu, a
constelação, o silêncio aqui à mão.
"Ensina-me a ver", talvez a cal, a cigarra,
o chão da lua, o cão que ladra, o deus que dorme, o fim da rua. Talvez o
recorte, a planície, a penumbra do monte. Talvez o cante, talvez a fonte.
"Ensina-me a ver", talvez a pedra, o cheiro,
talvez tudo, um vazio que é tudo, a renovação do abismo.
O abismo é tudo na métrica do poeta. Na Procura insondável de um
Encontro, volta ao eterno retorno de um Sol forte. E o Sol é cegueira
e fogo, fogo e dúvida, dúvida e Vida, Vida e morte. E o poeta há-de suplicar.
"Ensina-me a ver, só aprendi a olhar".
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