domingo, 23 de dezembro de 2012

Na madrugada do Solstício


Os dias hão-de assumir o calor e a clarividência. O sol vai mostrar-se em plenitude, mas é na escassez da noite que a Luz se revela, quando a alma se despe de preconceitos para ser neblina na manhã do solstício.
Chamem-lhe ritmo, ciclo, mudança, renovação. O poeta há-de encontrar no deslumbramento das palavras essa Luz que se faz loucura e Procura. Uma e outra, desejo e fraqueza, fraqueza e desejo.
Como quem olha para ver, o poeta há-de implorar e desabar, desabar e implorar. "Ensina-me a ver, só aprendi a olhar."
"Ensina-me a ver", talvez a margem, o espelho, o ritmo do vento, o ciclo do tempo, a esquadria, a melancolia. Talvez o sino, a torre, o nascer do dia. Talvez a noite, a mudança no céu, a constelação, o silêncio aqui à mão.
"Ensina-me a ver", talvez a cal, a cigarra, o chão da lua, o cão que ladra, o deus que dorme, o fim da rua. Talvez o recorte, a planície, a penumbra do monte. Talvez o cante, talvez a fonte.
"Ensina-me a ver", talvez a pedra, o cheiro, talvez tudo, um vazio que é tudo, a renovação do abismo.
O abismo é tudo na métrica do poeta. Na Procura insondável de um Encontro, volta ao eterno retorno de um Sol forte. E o Sol é cegueira e fogo, fogo e dúvida, dúvida e Vida, Vida e morte. E o poeta há-de suplicar. "Ensina-me a ver, só aprendi a olhar".

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