sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Músicas que falam com Deus (14) - Uma missa breve de João Gil


Na apresentação deste disco, afirmou João Gil que ele pretende contribuir “para que haja mais tolerância, para que praticantes e não-praticantes se entendam”. E acrescentou: “Se calhar li os tempos, se calhar senti necessidade de criar pontes entre as pessoas, criar laços na sociedade que está longe do ato litúrgico, que não pratica – como eu, apesar da minha educação” católica, afirmou.

Esta Missa Brevis, acrescentava o seu autor, pretende “dar leveza, porque há mais qualquer coisa [além das] dificuldades [e da] sobrevivência. Se calhar está na altura de começarmos a criar novas leituras da vida. Afinal de contas, o que estamos aqui a fazer, quem somos, quem habita em nós, quem deixamos neste mundo para o futuro?”

Contava o compositor (ex-Trovante e Ala dos Namorados) que, em Janeiro, quando pensou nesta obra, ocorreu-lhe escrevê-la em latim: “E foi uma inquietação. O latim obriga-me a um rigor estético diferente e a uma elasticidade musical diferente e maior.” Sem essa inquietação “constante” e sem a “interrogação das coisas” não haveria “música, arte e esperança”, dizia ainda.

O resultado é uma obra que, assumindo esse ar de mistério que o latim lhe dá, fundamenta a sua inspiração na música litúrgica tradicional europeia e na música portuguesa (por exemplo, através da guitarra). O canto final, com texto do salmo 105 (104) é a peça que mais se destaca, ficando-se com pena que o Gloria, Aleluia, Sanctus não voem também para lá da melodia dominante. Mas, apesar deste pequeno senão, esta é uma bela missa e este é um disco diferente e importante para a renovação da música sacra portuguesa. 

(texto publicado no Mensageiro de Santo António, Dezembro 2012)

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