Na
apresentação deste disco, afirmou João Gil que ele pretende contribuir “para que haja
mais tolerância, para que praticantes e não-praticantes se entendam”. E
acrescentou: “Se calhar li os tempos, se calhar senti necessidade de criar
pontes entre as pessoas, criar laços na sociedade que está longe do ato
litúrgico, que não pratica – como eu, apesar da minha educação” católica,
afirmou.
Esta Missa Brevis, acrescentava o seu autor,
pretende “dar leveza, porque há mais qualquer coisa [além das] dificuldades [e
da] sobrevivência. Se calhar está na altura de começarmos a criar novas
leituras da vida. Afinal de contas, o que estamos aqui a fazer, quem somos,
quem habita em nós, quem deixamos neste mundo para o futuro?”
Contava o
compositor (ex-Trovante e Ala dos Namorados) que, em Janeiro, quando pensou
nesta obra, ocorreu-lhe escrevê-la em latim: “E foi uma inquietação. O latim
obriga-me a um rigor estético diferente e a uma elasticidade musical diferente
e maior.” Sem essa inquietação “constante” e sem a “interrogação das coisas”
não haveria “música, arte e esperança”, dizia ainda.
O resultado é uma
obra que, assumindo esse ar de mistério que o latim lhe dá, fundamenta a sua
inspiração na música litúrgica tradicional europeia e na música portuguesa (por
exemplo, através da guitarra). O canto final, com texto do salmo 105 (104) é a
peça que mais se destaca, ficando-se com pena que o Gloria, Aleluia, Sanctus
não voem também para lá da melodia dominante. Mas, apesar deste pequeno senão,
esta é uma bela missa e este é um disco diferente e importante para a renovação
da música sacra portuguesa.
(texto publicado no Mensageiro de Santo António, Dezembro 2012)
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