Livro
As fotografias de Helena Silva Costa mostram um olhar de quem perscruta o mundo, com serenidade, mesmo se entende a urgência de tanto que há a fazer. No texto que serve de pórtico a este "Maria de Lourdes Pintasilgo – Retratos Sem Moldura", Guilherme d’Oliveira Martins evoca esse mesmo sentimento: “Não esqueço uma das últimas conversas que tivemos. Senti-lhe a angústia de não ter tempo, e a serena revolta pelo facto de as burocracias serem cegas perante a necessidade de agir no sentido da justiça.”
As fotografias de Helena Silva Costa mostram um olhar de quem perscruta o mundo, com serenidade, mesmo se entende a urgência de tanto que há a fazer. No texto que serve de pórtico a este "Maria de Lourdes Pintasilgo – Retratos Sem Moldura", Guilherme d’Oliveira Martins evoca esse mesmo sentimento: “Não esqueço uma das últimas conversas que tivemos. Senti-lhe a angústia de não ter tempo, e a serena revolta pelo facto de as burocracias serem cegas perante a necessidade de agir no sentido da justiça.”
Pintasilgo
nunca foi entendida em Portugal. Desassossegada, ainda hoje muitos não lhe
perdoam a independência, a originalidade e a criatividade. Menos ainda, a
capacidade de sonhar cidades futuras, como diz o título de outra livro que a
evoca. A sua casa e a sua família era o mundo. Queria que acabasse a fome e a
miséria, que as mulheres tivessem um lugar digno nas sociedades, que a riqueza
fosse melhor distribuída por todos, que o ambiente fosse respeitado, que as
novas gerações não vissem o seu futuro hipotecado.
A
tudo isso, ela passou a chamar “cuidar o futuro” – título do relatório da
Comissão Independente População e Qualidade de Vida, a que ela presidiu, e que
tão bem sintetiza a complexidade dos problemas a resolver e a urgência de lutar
nas várias frentes. Porque tudo tem a ver com tudo, e Pintasilgo era capaz de
rasgar horizontes mesmo onde os problemas pareciam insolúveis.
Animava-a
esse olhar de mulher e cristã, profundamente enraizado na esperança. “Como
cristã, agiu sempre tendo presente esta preocupação fundamental, a de entender
a humanidade a partir da compreensão do infinito, a de haver um ‘Deus por nós’”,
escreve ainda Oliveira Martins., que recorda o tempo justo em que surge este
livro: “Num tempo em que o meio ambiente está ameaçado e em que as
desigualdades agravadas reforçam o perigo dos efeitos da crise económica e
financeira, importa continuar a ouvir a lição de Maria de Lourdes Pintasilgo, a
dizer-nos que à indiferença temos que contrapor a atenção e o cuidado.”
Além
das fotos de Helena Silva Costa, que dão o mote para o livro (belíssimo título,
belíssima homenagem a uma mulher que nunca se deixou emoldurar em nenhum
rótulo), a obra compõe-se de um conjunto de textos de diferentes personalidades
da vida portuguesa. Como o de Manuel António Pina, que recorda precisamente o
que movia Lourdes Pintasilgo: “Quando os outros tinham interesses, ela tinha um
sonho e por ele é que ia, e exemplos assim são hoje (e já eram então) motivo de
esperança. E, mais do que nunca, todos nós precisamos desesperadamente de
esperança.”
Também
Maria José Nogueira Pinto resume: “Era incómoda? Muito. Ousou ter um pensamento
político próprio, ousou estar sozinha, ousou manejar a dimensão temporal que, não
raras vezes, a colocou à frente dos tempos do seu tempo.”
Num
poema também incluído no livro (“Folhas: em horizonte e coisas dadas”), Ana Luísa
Amaral escreve:
“Mesmo
na teimosia do olhar,
uma
crença maior que fazia das folhas:
novos
brilhos
e
dos tempos daqui:
coisas
maiores”
É
de uma pessoa maior que nos falam estes retratos.
(O
livro, edição da Bertrand, é apresentado hoje, às 18h30, na livraria Bertrand do Chiado, em Lisboa.
Leonor Beleza fará a apresentação.)
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