Crónicas
Neste
fim-de-semana, os cronistas da imprensa generalista tratam a questão da
pedofilia, a propósito do caso do Seminário do Fundão, a relação entre ciência
e religião e as (in)capacidades do ser humano.
No
CM de sexta-feira, Fernando Calado Rodrigues diz que “a atitude dos bispos para
com os casos de pedofilia na Igreja parece ter mudado” e que isso muito “deve
ao empenhamento de Bento XVI nessa causa”.
Sábado, no DN, Anselmo Borges cita o jesuíta George Coyne, director emérito do Observatório do
Vaticano, que numa entrevista à US Catholic, defende que, mesmo que a Igreja
nem sempre tenha sido dessa opinião, entre a ciência e a religião não há
conflito, mas um desafio. E, a propósito das perguntas “E nós, como aparecemos
nós? Isto aconteceu por acaso ou num processo necessário? Tudo foi por acaso ou
por necessidade?”, responde: "Segundo a ciência moderna, pelas duas coisas
ao mesmo tempo: somos o resultado do acaso e da necessidade num universo
fértil."
No Domingo, no Público (podendo ser lido aqui) frei Bento Domingues pergunta se “o ser humano será uma causa perdida?”, para falar da bondade,
incapacidades e paradoxos do ser humano e de como Jesus mostrou que Deus deixou
de ser propriedade de alguns.
Já o comentário do padre Vítor Gonçalves às leituras da liturgia
católica de domingo passado, o III do Advento, fala da alegria em gestos. Eis o texto:
Confundimos
muitas vezes a alegria com o prazer e com a felicidade. Estando intimamente ligados,
estes três conceitos são muitas vezes mal interpretados. Quem nunca ouviu os
lugares comuns: “o que dá prazer ou é
pecado ou faz mal à saúde”, “muito
riso, pouco siso”, “feliz?... só um
dia…no céu”! Não podemos negar que somos herdeiros de uma perspectiva
fatalista da vida em que as dimensões da alegria são de segundo plano, perante
a seriedade da existência. E a fé cristã tem-se ressentido desse cinzentismo
com que tudo é pintado, esquecendo as admiráveis cores e as mais profundas
sensações com que Deus tudo criou.
João
Baptista parece contrastar neste domingo dedicado à alegria, mas talvez isso
seja um preconceito em relação à austeridade das suas vestes e ao convite à
conversão que ecoa da sua boca. Não existe uma grande alegria na possibilidade de
mudar as nossas vidas e sintonizar com o projecto feliz de Deus? Claro, precisamos acreditar que tal projecto
é feliz, não é? E a imagem do “deus castigador das alegrias e dos prazeres
humanos” ainda tem muita força. Quando perceberemos que o prazer só não traz
felicidade quando é egoísta e fechado, quando isola e não se multiplica em dom
para outros? Mas as palavras de João Baptista surpreendem. À pergunta “que devemos fazer?”, expressão de quem
busca a felicidade, não responde com propostas radicais de abandono daquilo que
se faz, mas propõe pequenas mudanças: partilhar o pouco que se tem com quem tem
ainda menos, mostrar humanidade e compaixão para com os que estão sob a nossa
autoridade. Mudar a vida não é apenas ter entusiasmos de generosidade ou pôr
luzes e decorações natalícias para lembrar que é Natal, e que Jesus nasceu
pobrezinho e nuzinho há dois mil anos. O empobrecimento involuntário deste
tempo de crise demanda um outro, voluntário, em que damos o que não
necessitamos para viver. Que alegria nascerá dessa opção?
O
dedo de João Baptista aponta aquele que é maior do que ele, e em quem podemos
alegrar-nos. Alegramo-nos habitualmente com coisas, com experiências, com a
vinda e o encontro de alguém querido. Mas São Paulo convida-nos a alegrar-nos
“em Jesus”. Quer dizer, a encontrar n’Ele a alegria que não passa nem se gasta,
a alegria da vida em união com Ele, da nossa vida transformada pelo seu amor. E
a felicidade deixa de ficar dependente daquilo que nos falta (às vezes tantas
coisas inúteis!) e torna-se o agradecimento daquilo que somos e de tanto amor
que recebemos. É a felicidade de “fazermos
o que devíamos fazer”, para lá da vitória ou da derrota. E a alegria é o
seu fruto mais visível, o seu gesto mais eficaz!
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