quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O pluralismo na recomposição da identidade religiosa em Portugal


Livro - Ensaio

Nem as minorias são um bloco monolítico perante a maioria católica nem esta pode ser apreendida “numa suposta homogeneidade”.
Já fazia falta um livro assim, que retratasse o Portugal religioso em transformação. A obra “Identidades Religiosas em Portugal” será apresentada publicamente esta quinta-feira, dia 20 (18h30, Arquivo Fotográfico Municipal, Rua da Palma, 246, em Lisboa), com uma intervenção do historiador António Matos Ferreira. O livro (ed. Paulinas) cruza a história, a sociologia e a antropologia para nos oferecer uma vasta  e profunda cartografia contemporânea da pluralidade e diversidade religiosa num país que, até há pouco, era marcadamente monolítico.
Alfredo Teixeira, que coordena o estudo, recorda alguns debates e questões que se vêm afirmando como nucleares na recomposição do tecido religioso: “a necessidade de uma ‘cultura religiosa’ como condição de aprofundamento da cidadania democrática” é um desses factores, traduzido por exemplo no debate sobre o lugar da religião na escola. A propósito, recorda o coordenador que um relatório de 2002, pedido pelo então ministro francês da Cultura, Jack Lang, a Régis Debray (autor de “Deus, Um Itinerário”, ed. Âmbar) evidenciou a necessidade de estudar os códigos religiosos como forma de ajudar a “ler muitas das produções culturais das sociedades – pensamento, arte, modos de vida, representações sociais, etc.”
Outro factor a ter em conta na mudança religiosa é a imigração, muitas vezes convocada a par de uma “determinada mundividência religiosa”.
Num tempo de modernidade radicalizada, nota ainda Alfredo Teixeira, “a narrativa da autonomia do sujeito moderno – a mesma que antes justificou as teorias do fim da religião – pode explicar agora, afinal, as recomposições do religioso na cena pública”. É que “o reinvestimento nas funções sociais do religioso alimenta-se dos valores da liberdade individual, em particular a liberdade de consciência”.
O estudo recorda ainda que Habermas sublinhava que a identidade religiosa não pode ficar entre parêntesis na vida dos cidadãos, antes deve exprimir-se como “fonte possível de sabedoria, válida para a construção de consensos” sociais.
Do estudo surgem ainda as noções de rede ou bricolage para explicitar o fenómeno religioso contemporâneo. E apresentam-se estudos específicos seja sobre o campo católico (entre o território e a rede), seja sobre o protestantismo, desde cedo dividido em diversas correntes, ou ainda sobre grupos como o islão, o hinduísmo e outros.
Para complementar o tema do livro, vale a pena (re)ler a entrevista que Alfredo Teixeira me concedeu em Maio passado, a propósito do estudo sobre Identidades Religiosas em Portugal, bem como o texto de opinião do investigador, em que ele propõe um “átrio” para o encontro com os “não pertencentes”.

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