Nem
as minorias são um bloco monolítico perante a maioria católica nem esta pode
ser apreendida “numa suposta homogeneidade”.
Já
fazia falta um livro assim, que retratasse o Portugal religioso em
transformação. A obra “Identidades Religiosas em Portugal” será apresentada
publicamente esta quinta-feira, dia 20 (18h30, Arquivo Fotográfico Municipal,
Rua da Palma, 246, em Lisboa), com uma intervenção do historiador António Matos
Ferreira. O livro (ed. Paulinas) cruza a história, a sociologia e a
antropologia para nos oferecer uma vasta e profunda cartografia contemporânea da
pluralidade e diversidade religiosa num país que, até há pouco, era
marcadamente monolítico.
Alfredo
Teixeira, que coordena o estudo, recorda alguns debates e questões que se vêm
afirmando como nucleares na recomposição do tecido religioso: “a necessidade de
uma ‘cultura religiosa’ como condição de aprofundamento da cidadania
democrática” é um desses factores, traduzido por exemplo no debate sobre o
lugar da religião na escola. A propósito, recorda o coordenador que um
relatório de 2002, pedido pelo então ministro francês da Cultura, Jack Lang, a
Régis Debray (autor de “Deus, Um Itinerário”, ed. Âmbar) evidenciou a
necessidade de estudar os códigos religiosos como forma de ajudar a “ler muitas
das produções culturais das sociedades – pensamento, arte, modos de vida,
representações sociais, etc.”
Outro
factor a ter em conta na mudança religiosa é a imigração, muitas vezes
convocada a par de uma “determinada mundividência religiosa”.
Num
tempo de modernidade radicalizada, nota ainda Alfredo Teixeira, “a narrativa da
autonomia do sujeito moderno – a mesma que antes justificou as teorias do fim
da religião – pode explicar agora, afinal, as recomposições do religioso na
cena pública”. É que “o reinvestimento nas funções sociais do religioso
alimenta-se dos valores da liberdade individual, em particular a liberdade de
consciência”.
O
estudo recorda ainda que Habermas sublinhava que a identidade religiosa não
pode ficar entre parêntesis na vida dos cidadãos, antes deve exprimir-se como
“fonte possível de sabedoria, válida para a construção de consensos” sociais.
Do
estudo surgem ainda as noções de rede ou bricolage para explicitar o fenómeno
religioso contemporâneo. E apresentam-se estudos específicos seja sobre o campo
católico (entre o território e a rede), seja sobre o protestantismo, desde cedo
dividido em diversas correntes, ou ainda sobre grupos como o islão, o hinduísmo
e outros.
Para
complementar o tema do livro, vale a pena (re)ler a entrevista que Alfredo Teixeira me concedeu em Maio passado, a propósito do estudo sobre Identidades
Religiosas em Portugal, bem como o texto de opinião do investigador, em que ele
propõe um “átrio” para o encontro com os “não pertencentes”.
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