Música - Concerto
«Sol, meu filho, como vou cobrir-te de panos? Como vou amamentar-te, tu que nutres toda a criatura? Como vou ter-te nas mãos, tu que conténs todas as coisas?» (Analecta Sacra)
«Sol, meu filho, como vou cobrir-te de panos? Como vou amamentar-te, tu que nutres toda a criatura? Como vou ter-te nas mãos, tu que conténs todas as coisas?» (Analecta Sacra)
Visitar algumas tradições musicais portuguesas centradas no Natal
é a proposta para este domingo à tarde, na Igreja de Santa Isabel. Com
comentários do padre José Tolentino Mendonça, o grupo coral Discantus, dirigido
por Alfredo Teixeira, dá um concerto em que apresentará obras criadas ou harmonizadas
por Fernando Lopes-Graça, Eurico Carrapatoso e Manuel Simões, entre outros.
O programa propõe um total de 15 peças em quatro partes distintas: Vinde já ao mundo; Em palhas deitado; A Virgem lavava, José estendia; e Um lugarinho no Céu. Da lista de compositores propostos, fazem parte ainda Manuel Luís, J. Croner de Vasconcelos, Joel Canhão, Maria de Lourdes Martins.
O programa propõe um total de 15 peças em quatro partes distintas: Vinde já ao mundo; Em palhas deitado; A Virgem lavava, José estendia; e Um lugarinho no Céu. Da lista de compositores propostos, fazem parte ainda Manuel Luís, J. Croner de Vasconcelos, Joel Canhão, Maria de Lourdes Martins.
Alfredo
Teixeira – que também é autor de algumas harmonizações – escreve o seguinte
texto de apresentação do concerto::
Visitar as diversas tradições musicais
portuguesas, desenvolvidas no contexto das festas da natividade cristã, é
descobrir um Natal vincadamente diferente daquele que vemos representado na
cena mediática. Nas tradições portuguesas, encontramos o que se poderia apelidar
de «mística do sul». Os imaginários e as narrativas centram-se na figura do
Menino Jesus, na Sagrada Família, nos Pastores e nos chamados Reis Magos.
Esta figuração, materializada nos presépios, permite uma fácil identificação entre a história sagrada e a experiência social, e fornece o material simbólico para a celebração da vida, do futuro, da família e do mistério crente de um «Deus humanado». Este traço particular do cristianismo, a humanização de Deus, favoreceu uma permanente aculturação, permitindo que as representações do divino facilmente se ancorassem na escala do humano – a «humanização do divino» favorece novas formas de aliança entre a história santa e o drama humano, da dor à alegria mais expressiva.
Os cantos da Natividade dão corpo a uma cultura que olha a história e o cosmos como lugares de hospitalidade para Deus – o canto de embalo do Menino é talvez a figura mais eloquente. Na espiritualidade destes cantos, narra-se a entrada de Deus na história humana, sem aparato, em silêncio, à margem da cidade, com protagonistas inesperados. Da linguagem do Deus absoluto, passamos à imagem do Deus frágil – o Natal transforma as linguagens sobre Deus. Na música da natividade, recolhida etnograficamente ou recriada por vários compositores portugueses, podemos encontrar alguma coisa deste Natal ao sul – miniatural, porque à escala do humano.
A recolha de Giacometti e Lopes Graça apresenta-se como a mais frequentemente visitada. Ela descobre-se nas duas cantatas de Natal de Lopes Graça, nas recriações de Maria de Lurdes Martins, mas também em boa parte do trabalho, mais recente, de Eurico Carrapatoso – a sua recriação do reportório ligado à festa da Natividade encontra-se distribuída em diversos ciclos, como «O que me diz o vento mirandês».
Para além de outros cancioneiros – como o de Resende, visitado aqui por Joel Canhão –, é necessário ter em conta as recolhas feitas por eclesiásticos, de modo pontual ou de forma mais sistemática, como o clássico cancioneiro alentejano do Pe. António Marvão, o arquivo do Pe. Manuel Simões, ou a coleção de Mons. Pereira dos Reis de cantos do Advento oriundos da zona oeste do Patriarcado – o Pe. Manuel Luís usou textos e melodias desta recolha para a sua coletânea «Hinos para a Liturgia I».
No final dos anos 90, João Arnaldo Rufino da Silva organizou a edição de um arquivo de canto religioso do Natal madeirense. Dessa coleção fazem parte criações para a novena de Natal, as «Missas dos Parto» - o presente programa recolhe a recriação de dois exemplares. O ciclo «Oito cantos de Natal» de Jorge Croner Vasconcelos conta-se, talvez, entre o reportório menos conhecido. Originalmente escritos para vozes femininas, as miniaturas selecionadas apresentam-se numa transcrição para vozes mistas.
Esta figuração, materializada nos presépios, permite uma fácil identificação entre a história sagrada e a experiência social, e fornece o material simbólico para a celebração da vida, do futuro, da família e do mistério crente de um «Deus humanado». Este traço particular do cristianismo, a humanização de Deus, favoreceu uma permanente aculturação, permitindo que as representações do divino facilmente se ancorassem na escala do humano – a «humanização do divino» favorece novas formas de aliança entre a história santa e o drama humano, da dor à alegria mais expressiva.
Os cantos da Natividade dão corpo a uma cultura que olha a história e o cosmos como lugares de hospitalidade para Deus – o canto de embalo do Menino é talvez a figura mais eloquente. Na espiritualidade destes cantos, narra-se a entrada de Deus na história humana, sem aparato, em silêncio, à margem da cidade, com protagonistas inesperados. Da linguagem do Deus absoluto, passamos à imagem do Deus frágil – o Natal transforma as linguagens sobre Deus. Na música da natividade, recolhida etnograficamente ou recriada por vários compositores portugueses, podemos encontrar alguma coisa deste Natal ao sul – miniatural, porque à escala do humano.
A recolha de Giacometti e Lopes Graça apresenta-se como a mais frequentemente visitada. Ela descobre-se nas duas cantatas de Natal de Lopes Graça, nas recriações de Maria de Lurdes Martins, mas também em boa parte do trabalho, mais recente, de Eurico Carrapatoso – a sua recriação do reportório ligado à festa da Natividade encontra-se distribuída em diversos ciclos, como «O que me diz o vento mirandês».
Para além de outros cancioneiros – como o de Resende, visitado aqui por Joel Canhão –, é necessário ter em conta as recolhas feitas por eclesiásticos, de modo pontual ou de forma mais sistemática, como o clássico cancioneiro alentejano do Pe. António Marvão, o arquivo do Pe. Manuel Simões, ou a coleção de Mons. Pereira dos Reis de cantos do Advento oriundos da zona oeste do Patriarcado – o Pe. Manuel Luís usou textos e melodias desta recolha para a sua coletânea «Hinos para a Liturgia I».
No final dos anos 90, João Arnaldo Rufino da Silva organizou a edição de um arquivo de canto religioso do Natal madeirense. Dessa coleção fazem parte criações para a novena de Natal, as «Missas dos Parto» - o presente programa recolhe a recriação de dois exemplares. O ciclo «Oito cantos de Natal» de Jorge Croner Vasconcelos conta-se, talvez, entre o reportório menos conhecido. Originalmente escritos para vozes femininas, as miniaturas selecionadas apresentam-se numa transcrição para vozes mistas.
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