quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Da grande ruptura de Bento XVI às muitas moradas de Francisco




O Papa Bento XVI saindo de helicóptero do Vaticano, em direcção a Castelgandolfo, 
a 28 de Fevereiro de 2013, dando início ao período de sede vacante 
(foto da Fondazione Joseph Ratzinger, reproduzida da página da Fundação no Facebook)


A 11 de Fevereiro de 2013, pouco depois de ter sido conhecida a notícia da resignação do Papa Bento XVI e sob o título A grande rupturaescrevi neste mesmo blogue:
O grande teólogo, o intelectual que ficaria na história da Igreja apenas como Papa de transição, o homem que não tinha jeito para o governo da Igreja e teve que lidar com mão de ferro na questão dos abusos sexuais do clero, acaba por introduzir uma grande ruptura no catolicismo: ao dizer que deixará o governo da Igreja no final deste mês, Bento XVI introduz um precedente (mesmo se já houve resignação de um Papa na história do catolicismo): a partir de agora, nada será como dantes.

Cinco anos depois, muita coisa mudou. Para muitos, a mudança foi demasiada. Para outros, ela é ainda curta. Hoje, no DN, sob o título Tudo mudou com Francisco. Mas esta Igreja é a mesma morada de Bento XVI, num trabalho de Miguel Marujo sobre o que mudou no papado e na Igreja Católica nestes cinco anos, escreve-se:
“Há cinco anos, quando o Papa Bento XVI resignou, o seu gesto inesperado apanhou a Igreja Católica de surpresa – é preciso recuar seis séculos, a 1415, para encontrar idêntica atitude em Gregório XII.
Os cardeais que escutavam (a 11 de fevereiro de 2013) o seu discurso em Latim não acreditavam no que ouviam - e só uma jornalista da agência italiana Ansa percebeu o texto original. Cansado da Cúria Romana, frágil para forçar alterações necessárias ao governo do Vaticano, Bento XVI retirou-se, oficializando a abdicação a 28 de fevereiro.”
(o texto pode ser lido aqui na íntegra)

No mesmo trabalho fala-se de como o Papa emérito tem vivido esta última fase da sua vida, admitindo o declínio físico na sua peregrinação para “Casa”

Também nas mesmas páginas do DN, o bispo Carlos Azevedo, delegado no Conselho Pontifício da Cultura, escreve num comentário:
Grave será que alguns transformem a obediência ao Papa, defendida na sua lógica, em um concordismo autocentrado e seletivo de opões a seu gosto e não em autêntico acatamento do único Bispo de Roma que existe e se chama Francisco. Confundem sensibilidades de pequenos grupos com o bem da Igreja. Não entenderam a fé cristã como peregrinação, disponível ao confronto com novas questões. Para ser fiel à sua missão a Igreja deve renovar-se continuamente, em diálogo com outras religiões, confissões cristãs e com a cultura contemporânea. Assim, pode contribuir para uma abertura aos valores perenes da Transcendência.

No Crux, John Allen escreve sobre a desconstrução do forte “papado imperial” como uma das mais fortes marcas do Papa Francisco, na sequência do que se passou no último século (para ler na íntegra, aqui, em inglês)


Nova Ágora: Olhares sobre a ecologia, a cidadania e o envelhecimento

Agenda

O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e o dirigente da Associação Zero, Francisco Ferreira, participam esta sexta-feira, dia 2, no primeiro debate do ciclo de conferências 2018 Nova Ágora, que a diocese de Braga promove, substituindo as conferências quaresmais.
O debate de depois de amanhã, Olhares sobre a ecologia, conta também com Sofia Guedes Vaz, que trabalhou na Agência Europeia do Ambiente, e será moderado por Manuel Carvalho, jornalista do Público.
Na próxima semana, dia 9, o tema será a Cidadania e Responsabilidade Social. Participam o ex-reitor da Universidade de Lisboa e candidato presidencial, António Sampaio da Nóvoa, o historiador Pacheco Pereira e Isabel Estrada Carvalhais, professora da Universidade do Minho.
Na última sessão, dia 16, o tema é o Envelhecimento e Qualidade de Vida e terá a participação do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, Sobrinho Simões, fundador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, e Manuel Lopes, coordenador da reforma do Serviço Nacional de Saúde para a Área dos Cuidados Continuados Integrados.
As sessões decorrem sempre às 21h, no Auditório Vita, em Braga. Cada um dos debates terá ainda uma participação musical, a cargo dos coros Artave, João Paulo II e Teresiano. A entrada é livre, mas sujeita a inscrição prévia, que pode ser feita aqui.
Mais informação sobre os objectivos da iniciativa, que o arcebispo de Braga pretende que seja uma porta aberta a todos os interessados em construir um mundo melhor, pode ser lida aqui.


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sociedade Bíblica e difusão da Bíblia na construção da liberdade religiosa em Portugal



  A carroça da Bíblia. “Bible Van. Built of style of cart from Alemtejo province”. [s/d]. 
(In Photographs. Portugal – BSA/F2/5/2/7/7 – BFBS Archives – Cambridge University Library)

O papel da Sociedade Bíblica na construção da liberdade religiosa em Portugal durante a Monarquia Constitucional e a I República é o título do trabalho de Rita Mendonça Leite, vencedor do Prémio Liberdade Religiosa 2017, que ontem foi entregue no Ministério da Justiça, em Lisboa.
No trabalho (cuja conclusão se reproduz mais à frente), a investigadora do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), da Universidade Católica Portuguesa, pretende mostrar como a consolidação institucional da Sociedade Bíblica em Portugal e a sua integração nas dinâmicas religiosas e culturais do país, ao longo do século XIX e XX, se estruturaram sobre a actividade da divulgação bíblica. Um trabalho cujo início coincidiu com  a Guerra Peninsular e as Invasões Francesas.
Uma tal actividade, resume a investigadora, “definiu a instituição como um agente de mudança na sociedade portuguesa”, quer na “dinamização do processo de diferenciação religiosa em curso no país”, quer também na “promoção de um debate amplo, onde elementos antropológicos, teológicos e políticos se cruzaram”.
O projecto de difusão da Bíblia, liderado pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE) em Portugal, reflectia também “um conflito” que traduzia “o modo como a instituição progrediu no país enquanto expressão da modernidade contemporânea”. Reflectia também o modo como a Bíblia era “um espaço de confrontação onde os conceitos de Autoridade e de Liberdade, na sua variedade semântica, detinham um protagonismo fundamental”.
“Colocando o problema fundamental da Autoridade da Bíblia, a SBBE acabou inevitavelmente por se ver confrontada com o problema da autoridade no seu sentido mais estrito e concreto”, escreve ainda a investigadora do CEHR. Ou seja, esse confronto chegou também à relação “com as diferentes autoridades que, no seio da sociedade portuguesa, intervinham nos campos da regulamentação do religioso e, num sentido mais lato, na discussão sobre a liberdade religiosa e na ordenação societária”.
O prémio, que ainda atribuiu duas menções honrosas, é promovido pela Comissão de Liberdade Religiosa, que em breve promoverá a publicação do texto vencedor. Na acta do júri, destaca-se que o processo de selecção teve em conta, essencialmente, aspectos como “a focagem no problema da liberdade religiosa na sociedade portuguesa; o grau de pericialidade das metodologias utilizadas; o contributo para a construção do conhecimento; e o impacto social da investigação/reflexão”.
Na mesma resolução, o trabalho de Rita Mendonça Leite é considerado como “original e minucioso sobre fontes primárias”. Mas o júri destaca ainda “a competência da sua abordagem multiscópica a um fenómeno de diversificação religiosa na sociedade portuguesa”, como se pode ler na acta do júri.
Reproduz-se a seguir o capítulo de conclusão do trabalho vencedor:

A dinâmica de circulação bíblica como parte integrante e instância ativa na construção da liberdade religiosa em Portugal

Texto de Rita Mendonça Leite

Inevitavelmente condicionada pela agitação social e dificuldades financeiras que o país enfrentou durante a primeira fase da República, a atividade de circulação bíblica acabaria por conhecer na década de 20 [do século XIX] um verdadeiro ponto de viragem, conjugando a capacidade de trabalho e eficácia da equipa de colaboradores com o potenciamento de um processo de recomposição sócio-religiosa que procurou precisamente contrariar aquele ciclo de turbulência política continuada e que resultou num crescimento exponencial das vendas da SBBE em Portugal (A Agência da SBBE em Portugal fez circular desde o ano do seu estabelecimento, em 1864, e até 1940, 2 951 211 volumes bíblicos, sendo que se juntar a este número a circulação pré-Agência, se atingem os 2 976 979 exemplares difundidos. Entre 1920 e 1940 foram feitos circular 2 089 356 daqueles volumes, isto é, 70% do total).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Legislação capciosa, alegrias do amor, subidas e descidas


No DN de sexta-feira passada, 23, Anselmo Borges fala do que considera Legislação capciosa, para se referir a diversas medidas legislativas aprovadas ou em curso no Parlamento:
Aqui, a argumentação tem de ser racional e não religiosa. De qualquer modo, mesmo do ponto de vista religioso, sei que, na perspectiva cristã, autonomia e teonomia coincidem, que Deus é misericórdia e não nos criou para sofrer, existe a autonomia e a vida é um bem, um direito, e não um fardo, que pode tornar-se insuportável. Mas o problema é outro. Trata-se de uma questão civilizacional, e é preciso estar bem consciente dos perigos dramáticos e temíveis que se corre. Por exemplo, com uma lei aberta à eutanásia e ao suicídio medicamente assistido (lembra um oxímoro), não surgirá depois uma pressão disfarçada e subtil sobre os doentes e os velhos, que acabará por ser interiorizada por eles, para que exerçam o direito à eutanásia "voluntária"?
(texto na íntegra aqui)

No Público de Domingo, 25, frei Bento Domingues fala da Amoris Laetitia e dos recentes debates a propósito do acesso aos sacramentos dos católicos divorciados que voltaram a casar. Porque será que a alegria do amor dá tanta tristeza?, pergunta o título:
Como tinham sido muitas as tentativas de neutralização do caminho aberto por esse Concílio, o Papa Francisco resolveu escancarar portas e janelas. A Igreja não é para a Igreja, não pode ser auto referente. Introduziu, por isso, a linguagem e a prática de uma Igreja de saída para as periferias. Deseja que os cardeais da cúria, os bispos das dioceses, os párocos e os teólogos das universidades abandonem a sua auto contemplação e passem a ser pastores, a terem o cheiro das ovelhas, porque são estas as importantes. Os cristãos são um reino de sacerdotes. Pertence-lhes a missão de oferecer a sua vida para a alegria do mundo todo.
A desgraça deste Papa é não ser, apenas, palavras e bons conselhos. É o primeiro a viver e fazer aquilo que propõe aos outros.
(texto na íntegra aqui)

Já na semana anterior, frei Bento Domingues tinha escrito sobre o mesmo tema, sob o título A família nasce de uma bênção divina.

Vítor Gonçalves escreve na última edição do jornal Voz da Verdade sobre Subir para descer, a propósito do episódio da transfiguração de Jesus:
Nenhuma revelação acontece para que tudo fique na mesma. Abre caminhos onde abismos ou muros pareciam intransponíveis, oferece meios para novos passos, sacia e desperta novas sedes. Não desistamos de subir aos montes onde se vê, respira e ouve melhor. Mas não esqueçamos que a vida acontece na renovação dos caminhos da planície, na conversão das escolhas e nas batalhas quotidianas. Não vemos como Deus faz resplandecer tudo quando descemos ao encontro dos outros?
(texto na íntegra aqui)

Ilustração: Viens a mon secours (Vem em meu socorro), de Bernadette Lopez (Berna), reproduzida daqui


Cáritas Europa: Os jovens precisam de um futuro


Agenda


(foto reproduzida daqui)

Promover níveis salariais dignos, prevenir a precariedade laboral, as irregularidades e a evasão fiscal nos contratos laborais são algumas das recomendações de um relatório europeu que a Cáritas Portuguesa apresenta, nesta terça-feira, 27 de Fevereiro, a partir das 10h30, no auditório Mário Murteira, no ISCTE-IUL (Av. das Forças Armadas 376), em Lisboa.
As recomendações, diz uma informação da Cáritas, “resultam de um trabalho de auscultação da realidade nacional, através das Cáritas diocesanas, organizações/instituições nacionais que trabalham com jovens e na relação com os dados oficiais”. Também a análise do impacto das políticas nacionais de combate à pobreza e à exclusão social entre os jovens foi tida em conta.
Uma das principais conclusões do relatório Os jovens precisam de um futuro aponta para o facto de as políticas adoptadas na última década não terem conseguido quebrar os ciclos de pobreza geracional. Em Portugal, por exemplo, o desemprego juvenil chega aos 20,8 por cento (6,1 mais do que a média da União Europeia) e 14 por cento dos jovens abandonaram a escola (4 por cento acima da média da UE).
O relatório, da responsabilidade da Cáritas Europa, debruça-se de forma mais pormenorizada para os jovens estudantes, trabalhadores, desempregados e portadores de algum tipo de deficiência. O estudo conclui que esta é a primeira geração de jovens a enfrentar o risco de empobrecimento em relação à geração dos seus pais. E acrescenta que se pode pressentir um novo tipo de pobreza juvenil: a dos jovens casais trabalhadores que dificilmente conseguem suportar as despesas e construir uma família. A situação destas pessoas deve ser levada a sério. “Se a tendência se tornar normal, isso provocará sérias consequências para a coesão social da Europa, modelos sociais e sistemas de protecção social. Corremos o risco de ser uma sociedade que se afunda se nenhuma medida for tomada agora", comenta Jorge Nuño Mayer, secretário-geral da Cáritas Europa, na informação divulgada.
A iniciativa assinala o início da Semana Nacional Cáritas que decorre, em todo o país, até ao dia 4 de Março, com cuja iniciática a instituição pretende evidenciar a sua actividade no combate à pobreza e exclusão social. No primeiro semestre de 2017, a Cáritas atendeu mais de 68 mil pessoas. Problemas relacionados com o rendimento, o trabalho e o sobre-endividamento continuam a ser as principais razões pelas quais as pessoas procuram a instituição, seguindo-se os encargos com a saúde que têm subido progressivamente.
Uma informação mais completa pode ser encontrada aqui.