domingo, 25 de maio de 2003

"Aqui, um caminho leva à evidência, à telepatia, aos extraterrestres, às ciências ocultas, à magia. Acolá, adivinhais ramos retorcidos da reincarnação, do karma, das auras, das energias e outras hipóteses extravagantes.

"Avançai no mato e não tardareis a descobrir a arborescência ramalhuda das famosas técnicas da nova era onde se cultiva o desenvolvimento pessoal, a autorização, a expansão da consciência.

"É uma geografia complexa que mistura a meditação, a psicologia, as técnicas de alteração dos estados da consciência, as terapias suaves, as práticas corporais, a dietéctica...

"Ao lado está a luxuriante vegetação das ciências onde especulações sobre a Gaia e a cibernética planetária se entrelaçam com a física das partículas, a cosmologia, tudo sobre um fundo de crise ecológica e de interrogação sobre o destino futuro da humanidade.

"Continuando o caminho, ireis cair, de certeza, sobre raízes linguísticas sábias e retorcidas, como 'holismo', 'novo paradigma', 'holograma', 'Uno', 'múltiplo', 'não-separabilidade'. Esta floresta encantada tem mil rostos."

Michel Lacroix, La Spiritualité Totalitaire. New Age et les Sectes, Plon: Paris, 1995.


Comentário de Bento Domingues, no Público de hoje (de onde o trecho anterior foi retirado):

" (...) Nas sociedades secularizadas - como verificava a última Congregação Geral dos Jesuítas - a vida espiritual dos seres humanos não morreu. Desenvolve-se, porém, fora da Igreja e, deve-se acrescentar, em muitos casos, fora das religiões.

Mattew Fox vai ao ponto de sustentar que o programa para o terceiro milénio passa por "despir as religiões até à experiência espiritual", desenvolvendo formas de devoção que despertem as pessoas, em vez de as aborrecer.

Como diz o jornalista Michel Brown, no seu livro "O Turista Espiritual", a espiritualidade tornou-se num chavão. Nas suas deambulações ouviu muitas vezes as expressões: "Estou a tentar cultivar o meu lado espiritual" ou "estou a aprender a entrar em contacto com o meu lado espiritual". Geralmente, é mais uma falta que se sente do que uma realidade que se vive.

Muitos dos movimentos espirituais cintilam e extinguem-se como anúncios comerciais. À semelhança do que acontece no emprego e no casamento, também já não há religião ou espiritualidade para toda a vida. A religião ou a espiritualidade "à la carte" são facilmente descartáveis.(...)".

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